Segmento de picapes médias no Brasil

O segmento de picapes médias no Brasil vive um verdadeiro cabo de guerra. A racionalidade que guiava o setor, quando as picapes eram aplicadas principalmente no trabalho, foi ofuscada por uma briga de egos. Nos últimos anos, todos os fabricantes mexeram na motorização atrás de oferecer modelos mais potentes. No topo estão as arquirrivais Chevrolet S10 e Ford Ranger, que trazem 200 cv sob o capô. Essa faixa de potência é raramente utilizada no habitat natural dessas picapes, mas definitivamente funcionam no marketing. Em zonas lameiras o que realmente importa é o torque. 

Toda esta guerra começou com a Nissan Frontier e seus debochados “pôneis malditos”. Foi em 2011 que a marca japonesa fez uma campanha divertida ironizar a suposta falta de força dos concorrentes no fora-de-estrada e promover os 172 cv de potência e 41,2 kgfm de sua picape – na época a mais potente do mercado. O “reinado”, porém, não durou muito. No início de 2012, Chevrolet e Volkswagen botaram no mercado as duas picapes mais potentes da categoria até então. A marca norte-americana lançou a atual geração da S10 com motor 2.8 turbodiesel de 180 cv de potência e 51 kgfm de torque. Já a fabricante alemã trouxe a novidade da transmissão automática de oito marchas na Amarok e aproveitou o embalo para recalibrar o motor 2.0 biturbodiesel, que saltou dos 163 cv para os mesmos 180 cv da S10, com  42,8 kgfm de torque. Quem ficou para trás na história foi a japonesa Toyota Hilux, que mantém a racionalidade de seus 171 cv e 36,7 kgfm.

A Nissan respondeu na mesma moeda e com a adequação às normas de emissões Proconve L6 mexeu no propulsor da Frontier. Ela trouxe da Espanha um novo 2.5 diesel turbinado, que elevou a potência a 190 cv, com 45,8 kgfm de torque. Ainda assim, não conseguiu galgar posições no ranking do segmento. A Frontier neste ano mantém a média de 1.300 vendas mensais. O que ajudou a ofuscar o modelo da Nissan foi a Ford, que em julho do ano passado passou a produzir em General Pacheco, na Argentina, a nova e moderna geração da Ranger. Na caçamba, o custo de US$ 1,1 bilhão no desenvolvimento e sob o capô um novo propulsor 3.2 litros diesel de cinco cilindros em linha da própria Ford – a geração anterior usava motores MWM. Ele tem números robustos: 200 cv de potência, com 47,9 kgfm de torque. Com a troca de geração, o modelo norte-americano fechou 2012 na sexta posição, com média de 1.270 unidades mensais. Em 2013 o panorama melhorou um pouco. A média da Ranger subiu 1.815 unidades/mês, o que a deixa no quarto posto, atrás de S10, Hilux e Amarok – que têm médias mensais de 4.440, 3.480 e 2.020 unidades, respectivamente.

  • Chevrolet S10
    Chevrolet S10
  • Ford Ranger Limited
    Ford Ranger Limited
  • Mitsubishi L200 Triton
    Mitsubishi L200 Triton
  • Nissan Frontier
    Nissan Frontier
  • Toyota Hilux SRV
    Toyota Hilux SRV
  • Volkswagen Amarok TDI
    Volkswagen Amarok TDI

Um fato curioso ronda a Toyota Hilux. A picape reestilizada em 2012 traz até hoje o mesmo motor 3.0 litros turbodiesel que rende 171 cv a 3.600 rpm e o torque de 36,7 kgfm a baixos 1.400 giros. Esses números fazem dela a picape a diesel menos potente e com o menor torque do mercado. Este posicionamento à margem da “marquetagem” em torno da potência não tirou o fôlego de vendas. Em 2013, a Hilux ocupa a segunda posição sem ser importunada no segmento com mais de 38 mil unidades vendidas no ano – o que garante uma participação de 23% no setor.

Em setembro último, a Chevrolet S10 se moveu no sentido de manter sua histórica liderança. Para isso, deu à picape o maior poder da categoria, com 200 cv de potência e impressionantes 51 kgfm de torque. A renovação vai ajudar a S10 a fechar mais uma vez o ano na liderança da categoria, com participação de quase 30%. A Mitsubishi L200 Triton, que fechou 2012 como a terceira picape do mercado, perdeu espaço em 2013 e caiu para o quinto lugar, com média de 1.760 unidades mensais. Para tentar retomar o posto, o modelo foi atualizado em novembro e o motor diesel 3.2 litros agora entrega 180 cv e 38 kgfm de torque – contra 170 cv e 35 kgfm anteriores.

Com o passar do tempo, a percepção sobre picapes mudou e elas conquistaram outro tipo de público, que sequer passa perto de áreas off-road e só usa a caçamba para carregar as malas na hora de viajar. O mercado agora valoriza conforto a bordo para encarar o trânsito das grandes cidades, alto nível de equipamentos e visual atraente – tudo, de preferência, aliado a um motor diesel forte. As fabricantes também se preocuparam em rechear as picapes e oferecer dispositivos iguais aos encontrados em carros de passeio. Atualmente boa parte delas conta com sistema multimídia com GPS integrado, conexão Bluetooth, transmissão automática, bancos com ajustes elétricos, câmera de ré, volante multifuncional e diversos itens de segurança como airbags e controles eletrônicos de estabilidade e tração. Ter grande capacidade de carga e disposição para enfrentar uma estrada de terra a caminho da fazenda já não bastam.


Autor: Raphael Panaro (Auto Press)
Fotos: da Volkswagen Amarok, da Ford Ranger e Nissa Frontier: Jorge Rodrigues Jorge/Carta Z Notícias. Foto da Chevrolet S10 e da Toyota Hilux: Luisa Dantas/Cartaz Z Notícias. Foto da Mitsubishi L200 Triton: Luiz Huberto Monteiro Pereira/Carta Z Notícias