O Chevrolet Onix é um “case” de sucesso no mercado brasileiro de automóveis. Lançado em novembro de 2012, o hatch compacto caiu rápido no gosto do público. Os números mostram isso. O modelo fechou 2014 como o terceiro carro de passeio mais vendido em território nacional. Foram exatas 150.829 unidades emplacadas. Ficou atrás apenas do Fiat Palio – 183.741 – e do Volkswagen Gol – 183.356. E 2015 aponta para mais um ano de êxito. Em janeiro, o Onix subiu um posto e registrou o segundo lugar nas vendas, atrás apenas do hatch da Fiat. E ao contrário de outras fabricantes, a marca norte-americana não criou logo de cara uma variante aventureira – como tornou praxe no segmento – para tentar alavancas os números. A General Motors remou contra a maré e optou por explorar primeiro a esportividade. Em novembro de 2014, contemplou o Onix com a versão Effect.
Assim como nos descontinuados Sonic e Agile – os primeiros a receberem esse mesmo pacote de personalização esportiva –, a GM fez apenas mudanças estéticas no Onix Effect. A grade dianteira e os retrovisores ganharam um tom preto – e os faróis, máscara negra. Há ainda luzes de neblina, lanternas com detalhes escurecidos, rodas de 15 polegadas em tom grafite calçadas em pneus 185/65, além de decalques coloridos no capô, nas laterais e na tampa do porta-malas. A versão ainda é identificada pela inscrição “Effect” na lateral. Outro destaque é o teto totalmente em preto brilhante destoando da carroceria, que pode vir em branco “Summit” ou vermelho “Pepper”. Na traseira, uma espécie de difusor também pode ser visto.
A imagem esportiva do Onix Effect continua no habitáculo. O volante é emprestado do finado Agile e tem uma empunhadura mais espessa e também a base reta, além de ser multifuncional. O interior conta com uma previsível cor vermelha – que está sempre associada à ideia de esportividade. O tom está presente no volante, as molduras das saídas de ar no painel, as costuras do couro da alavanca de câmbio e também dos bancos. Há ainda tapetes bordados e quadro de instrumento com grafismo alusivo à versão.
Toda esportividade encontrada no Onix fica restrita ao design. Sob o capô, está o modesto motor bicombustível 1.4 litro. Ele produz máximos 106 cv a 6 mil rpm e 13,9 kgfm a 4.800 giros de torque com etanol. Abastecido com gasolina, os números caem para 98 cv e o torque fica em 13 kgfm – nos mesmos regimes. O propulsor vem exclusivamente acoplado a uma transmissão manual de cinco marchas. Isso ajuda na hora de cumprir o zero a 100 km/h, que fica em 10,4 e 10,5 segundos com etanol e gasolina, respectivamente. A velocidade máxima é de 180 km/h, independentemente do combustível no tanque.
O visual “nervosinho” do Onix Effect não reflete no desempenho, e nem na tabela de preço. Mesmo com os apliques estéticos, o hatch custa os mesmos R$ 50.330 da versão em que se baseia, a topo de linha LTZ. Traz de série ar-condicionado, direção hidráulica, banco do motorista com regulagem de altura, alerta para esquecimento do cinto de segurança, travas e vidros elétricos dianteiros com comando na chave e a central multimídia My Link.
Ponto a ponto
Desempenho – O motor 1.4 litro com potência máxima de 106 cv e torque de 13,9 kgfm consegue mover o Onix Effect sem grandes dificuldades. Mas não a ponto de dar uma performance digna que todo incremento visual da versão sugere. Em determinadas situações – acelerações e retomadas –, a baixa litragem do propulsor fica evidente. É preciso recorrer ao câmbio manual que, pelo menos, tem bons engates. Nota 7.
Estabilidade – O Onix Effect é bem resolvido nessa questão. A aderência do hatch nas curvas é suficiente para manter a sensação de segurança de quem vai ao volante. A direção é bem direta, mas a suspensão macia desestimula uma “tocada” mais encorajada. Mais uma vez a esportividade fica só a cargo da estética. Nota 7.
Interatividade – A maior vedete do Onix é o sistema multimídia My Link, que é fácil de usar e tem comandos autoexplicativos. Já a localização dos botões dos vidros e dos puxadores das portas é excessivamente recuada e difícil de “achar” sem olhar. A do ajuste dos retrovisores elétricos na coluna é muito à frente. Um sensor de estacionamento seria bem-vindo, mas não é disponível de série na versão. Nota 7.
Consumo – A Chevrolet não participa do Programa Brasileiro de Etiquetagem do Inmetro. No entanto, o computador de bordo do Onix Effect acusou uma boa média de 11,7 km/l de gasolina em circuito predominantemente urbano. Nota 8.
Conforto – Espaço não é ponto forte de qualquer hatch compacto. Mas o Onix Effect tem uma boa área para quatro passageiros – a adição de um quinto elemento causa apertos. Os bancos são condizentes com a proposta e o isolamento acústico deixa o habitáculo silencioso mesmo em velocidades maiores. A suspensão é macia e eficiente ao livrar os ocupantes de batidas secas e das imperfeições das ruas brasileiras. Nota 8.
Tecnologia – A plataforma Global Small Vehicle (GSV) – compartilhada com Cobalt, Spin, Prisma e Sonic – é moderna e garante o espaço interno. Além disso, o carro traz o popular sistema multimídia MyLink, que é simples, mas funcional. O propulsor, porém, é antigo, ainda que bastante revisado, e os vidros traseiros são manuais. Nota 7.
Habitabilidade – O fácil acesso é garantido pelo amplo ângulo de abertura das portas. O Onix Effect oferece bons espaços para o motorista e passageiros repousarem seus objetos pessoais. A pegada do volante também agrada. Mas para um carro com proposta esportiva, a posição de condução é um tanto quanto “altinha”, mesmo com a regulagem de altura do banco na posição mais baixa. O porta-malas leva o padrão da categoria: 280 litros. Nota 8.
Acabamento – Versões esportivas costumam ter no habitáculo cores chamativas no painel e cintos de segurança ou detalhes que fazem o habitáculo ficar exagerado. Mas a Chevrolet acertou na dose e colocou apenas um tom de vermelho – quase vinho – no volante, nas molduras das saídas de ar, bancos e costuras da alavanca da transmissão. Combinando com plásticos pretos já existentes, com materiais justos e bons arremates, a receita ficou balanceada. Nota 8.
Design – O visual do Onix já era interessante, mas comportado. Na versão Effect, a Chevrolet tentou dar mais personalidade ao carro com adesivos, saias laterais, para-choques com desenhos mais esportivos, um pequeno spoiler e até um extrator traseiro. Nada de exageros e o resultado é uma estética de acordo com a proposta. Nota 8.
Custo/benefício – O Chevrolet Onix Effect custa R$ 50.330 – o mesmo valor da versão LTZ com design “civil”. Na mesma lógica, o Fiat Uno Sporting parte de R$ 41.650 equipado com motor 1.4, porém de máximos 88 cv e 12,5 kgfm de torque. Já o Palio Sporting começa em R$ 48.373, mas vem com motor 1.6 de 117 cv. Mas os carros da Fiat não trazem nenhuma espécie de central multimídia com o My Link presente no Onix Effect. Nota 6.
Total – O Chevrolet Onix Effect somou 74 pontos em 100 possíveis.
Impressões ao dirigir
Para compor o personagem esportivo do Onix, a Chevrolet instalou saias laterais, para-choques mais robustos e uma espécia de difusor na traseira. A GM aproveitou e escureceu as rodas, os retrovisores, a grade, o teto e os faróis ainda adotam máscara negra. A “rebeldia” resultou ainda em “tatuagens”, que podem ser vistas no capô, portas e porta-malas.
Como em toda mudança de conceito, uma preparação interna precisa ser feita. E no Onix Effect resultou em um acabamento com toques de vermelho em diversos pontos do habitáculo, mas sem exageros. O volante, proveniente do Agile, é de melhor pegada e a base reta dá maior segurança ao efetuar curvas mais fechadas. Ele ainda traz botões que controlam o sistema My Link e permitem o condutor mudar as estações do rádio e fazer ou aceitar ligações telefônicas.
Porém, essa composição do Onix Effect não é nada radical. A dinâmica do acertado hatch segue intacta. O “manjado” motor 1.4 litro de máximos 106 cv e 13,9 kgfm de torque é honesto, mas não garante ao motorista se sentir dentro de um dos filmes da série “Velozes e Furiosos”. A suspensão é outro item que joga contra a esportividade. Ela é ótima para filtrar as lunáticas ruas do Brasil, mas fica devendo em uma tocada mais entusiasmada. Para um uso pacato, o propulsor e a transmissão manual de cinco marchas são suficientes para encarar o trânsito nas cidades. A direção tem peso correto e a embreagem é sutil, assim como os engates do câmbio. O Onix Effect é um cordeiro em pele de lobo.
Ficha técnica
Chevrolet Onix Effect
Motor | A gasolina e etanol, dianteiro, transversal, 1.389 cm³, quatro cilindros em linha, duas válvulas por cilindro e comando simples no cabeçote. Injeção multiponto sequencial e acelerador eletrônico |
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Potência máxima | 106 e 98 cv a 6 mil rpm com etanol e gasolina |
Torque máximo | 13,9 e 12,9 kgfm a 4.800 rpm com etanol e gasolina |
Aceleração de 0 a 100 km/h | 10,4 e 10,5 segundos com etanol e gasolina |
Velocidade máxima | 180 km/h |
Diâmetro e curso | 77,6 mm X 73,4 mm |
Taxa de compressão | 12,4:1 |
Pneus | 185/65 R15 |
Peso | 1.063 kg |
Transmissão | Câmbio manual de cinco à frente e uma a ré. Tração dianteira. Não oferece controle de tração |
Suspensão | Dianteira independente do tipo McPherson, com molas helicoidais com carga lateral, amortecedores telescópicos e barra estabilizadora. Traseira semi-independente com eixo de torção, molas helicoidais e amortecedores telescópicos hidráulicos |
Freios | Discos na frente e tambor atrás. ABS de série |
Carroceria | Hatch em monobloco com quatro portas e cinco lugares. Com 3,93 metros de comprimento, 1,70 m de largura, 1,48 m de altura e 2,52 m de distância entre-eixos. Oferece airbag duplo de série. |
Capacidade do porta-malas | 280 litros |
Tanque de combustível | 54 litros |
Produção | Gravataí, Rio Grande do Sul |
Itens de série | Airbags frontais, freios ABS, banco do motorista com ajuste de altura, direção hidráulica, chave canivete, direção com ajuste de altura, vidros, travas e retrovisores elétricos, alarme, faróis com máscara negra, lanternas escurecidas, rodas de liga leve em 15 polegadas, ar-condicionado, faróis de neblina, My Link, controlador de velocidade de cruzeiro e computador de bordo. |
Preço | R$ 50.330 |
Raphael Panaro (Auto Press)
Fotos: Isabel Almeida/Carta Z Notícias