Em 2011, quando lançou o utilitário esportivo Freemont no Brasil, a Fiat precisava “convencer” o mercado. Fruto da incorporação da Chrysler à Fiat, o modelo é uma versão da marca italiana para o Dodge Journey, vendido no Brasil desde 2008. A Fiat nunca tinha oferecido um carro deste porte e, por isso, os clientes do segmento não possuiam qualquer relação com a marca. Tanto é que a estratégia de vendas do Freemont passava diretamente pela boa relação custo/benefício – mesma tática usada pelos fabricantes chineses para vencer as eventuais desconfianças do consumidor. Hoje, dois anos depois do lançamento do SUV, a Fiat acha que já tem “cacife” para apostar mais nos atributos do próprio produto. A linha 2014 do Freemont chegou às concessionárias no começo do mês com preços bem menos atrativos – agora são alinhados com os da concorrência. Mas traz uma nova transmissão e mais equipamentos, que deixam o carro com apelo mais moderno. Mudanças feitas com a autoconfiança de quem já começa a se sentir mais à vontade no novo mercado.

A principal novidade no novo Freemont está no trem de força. Sai de cena a obsoleta caixa automática de quatro marchas – que certamente contribuia para manter os preços menores – para dar lugar a uma mais atual, com seis velocidades e já usada em alguns outros carros da Chrysler. O maior número de marchas permitiu um encurtamento das cinco primeiras relações, enquanto a sexta faz um papel de overdrive para economizar combustível em rodovias. Mesmo assim, o ganho em desempenho é pequeno: a aceleração de zero a 100 km/h caiu de 12,9 para 12,3 segundos. O propulsor 2.4 com duplo controle variável de válvulas de 172 cv e 22,5 kgfm se manteve inalterado.

Fiat Freemont

O utilitário continua com duas versões: a Emotion como modelo de entrada e a Precision no topo da linha. A configuração básica ganhou rodas de liga leve de 17 polegadas e sensor de estacionamento traseiro. Itens que se juntam ao airbag duplo, ABS, ar dual zone, controles de tração e estabilidade, rádio com tela de 4,3 polegadas sensível ao toque, partida sem chave, volante e alavanca de câmbio com revestimento de couro. A “top” ainda agrega airbags laterais e de cortina, banco do motorista com ajustes elétricos, terceira fileira de bancos e – a novidade – sistema de entretenimento e GPS com tela de 8,4 polegadas. Rodas de 19 polegadas, bancos de couro e teto solar continuam como opcionais. Com as mudanças, a diferença de preço entre as duas versões aumentou. Em 2011, a Emotion valia R$ 81,9 mil, contra R$ 86 mil da Precision. Hoje, a de entrada custa R$ 95 mil, enquanto a topo vale R$ 102 mil.

É claro que a escalada de preços do Freemont de dois anos para cá não tem a ver somente com uma percepção de possibilidade de ampliação das margens de lucro por parte da Fiat. A incorporação de novos equipamentos, a valorização do dólar e a própria inflação também contribuíram para o acréscimo na ordem de 20% nos preços. Mas o fato é que o SUV feito na fábrica de Toluca, no México, se aproximou expressivamente do que a concorrência cobra por Honda CR-V, Hyundai ix35 e Kia Sportage, entre outros. 

As novidades, além de discretas, são pontuais. Apesar disso, embalam a esperança da Fiat de ver o Freemont voltar à sua boa fase, quando chegou a emplacar quase mil unidades por mês. Esse ano, com a instabilidade nas vendas que normalmente antecede a chegada de uma nova linha, o utilitário andava beirando os 400 exemplares por mês. Na percepção da Fiat, retomar as melhores vendas agora será uma tarefa mais simples. Afinal, a marca já conquistou uma certa visibilidade entre os utilitários esportivos. E passou a ser considerada por quem busca os modelos do segmento. Coisas que somente com o tempo é possível conquistar.

Fiat Freemont

Ponto a ponto

Desempenho – O maior número de marchas nos regimes mais baixos de fato fornece uma agilidade ligeiramente superior para o utilitário, principalmente em retomadas e em situações cotidianas na cidade. Mas não chega a ser uma alteração marcante. O motor de 172 cv ainda sofre para tirar os 1.809 kg da inércia. E como o torque máximo só aparece em 4.500 rpm, para conseguir um desempenho satisfatório é preciso usar bastante o acelerador. Nota 6.

Estabilidade – O porte e as dimensões não ajudam o Freemont a ser um utilitário de alma esportiva. É um carro comprido, alto, pesado e que sofre com as transferências laterais de peso. Um ponto positivo é a largura de 1,87 metro, que assenta bem o modelo no chão. A suspensão macia também não inspira uma tocada mais agressiva. Por outro lado, também não existe sensação de falta de segurança, principalmente em retas. Nota 7.

Interatividade – A versão Precision conta com um excelente sistema de entretenimento com tela de 8,4 polegadas sensível ao toque. O programa é intuitivo, cheio de funções e contribui bastante para deixar a convivência com o carro mais agradável. A visibilidade para a frente e lados é boa, fruto da altura do modelo. Atrás, se os bancos da terceira fileira estiverem levantados, a área envidraçada visível fica minúscula – ao menos os retrovisores laterais são imensos. A direção é bem leve e um tanto anestesiada. A transmissão de seis marchas é melhor que a antiga de quatro velocidades. Mas não é ainda o que há de mais eficiente no segmento. Nota 8.

Interior do Novo Fiat Freemont

Consumo – O novo câmbio não mudou a “voracidade” do utilitário da Fiat. Com o pé leve, o Freemont marcou média de 6,5 km/l em ciclo misto. O InMetro ainda não testou o carro com a nova transmissão. Nota 6.

Conforto – É, disparado, o principal apelo do Freemont. Para começar, o espaço interno é elogiável. Na terceira fileira só cabem crianças ou adultos de pequeno porte, mas os outros cinco assentos levam gente grande com conforto. Os bancos, aliás, são um destaque. Eles tem formato extremamente anatômico, apoiam bem o corpo e contam com couro de ótima qualidade. A suspensão é macia e os pneus têm perfil alto para ajudar a absorver a buraqueira. Apenas o isolamento acústico deixa um pouco a desejar, principalmente relativo ao ruído do motor. Nota 9.

Tecnologia – O Freemont não é exatamente um carro que impressiona pela modernidade. O trem de força oferece desempenho razoável e consumo de combustível elevado. A plataforma é de 2005, mas ainda tem qualidades, como a generosa oferta de espaço e conforto. O grande apelo tecnológico, contudo, está no completo sistema de entretenimento interno com tela sensível ao toque, GPS e Bluetooth. Nota 8.

Frente do Novo Fiat Freemont

Habitabilidade – A Fiat – a Dodge, para ser mais exato – aproveitou bem o grande espaço da cabine. Há diversos porta-objetos, todos grandes, com acesso fácil e úteis – inclusive sob os bancos e no fundo do assoalho. A modulação das três fileiras de assentos é simples. Basta apertar um botão ou puxar uma haste para rebater ou levantar um banco. Ainda há a facilidade de criar um apoio para crianças no próprio banco, sem a necessidade de cadeirinha. O espaço para bagagens varia entre limitados 145 litros e exagerados 2.301 l. Nota 9.

Acabamento – A herança da Dodge fez bem ao utilitário. O acabamento é muito bom, principalmente no banco e nas portas, que são revestidos de couro de qualidade sobre uma grossa espuma. O painel é mais “modesto”, com plástico emborrachado macio ao toque, mas que tem um visual menos sofisticado. Nota 8.

Design – O Freemont herdou a aparência do Dodge Journey, vendido por aqui desde 2008. Isso significa que o design já está bem batido. São linhas conservadoras, que expressam bem o estilo norte-americano de fazer SUVs. Mas, de uma maneira geral, ainda são veículos imponentes e tem seus admiradores. Nota 7.

Fiat Freemont

Custo/benefício – Quando foi lançado por aqui em 2011, o preço era um dos principais atributos do Freemont. Custando R$ 86 mil na versão topo e bom recheio, ficava longe dos principais rivais. Com o tempo, no entanto, a Fiat foi encarecendo seu modelo. A linha 2014, com a adição do câmbio de seis marchas, atinge R$ 102 mil na versão topo de linha. O principal apelo agora passa a ser o ótimo espaço interno com facilidade de rebater os bancos e criar um ambiente personalizável. Nota 5.

Total – O Fiat Freemont Precision 2014 somou 73 pontos em 100 possíveis.

Detalhe da Lanterna do Fiat Freemont

Impressões ao dirigir

O Freemont já está no mercado brasileiro há dois anos. E mesmo assim, ainda é impressionante a quantidade de pessoas que se surpreendem com a logo da Fiat em um carro com este porte e proposta. Outro ponto de estranhamento é o fato de o desenho do utilitário não ter absolutamente qualquer relação com a identidade visual da fabricante italiana. As linhas retas e sisudas do SUV definitivamente não passaram pelas mesmas mãos que desenharam o arredondado e simpático Uno.

Fiat Freemont - LateralA singularidade do Freemont em relação aos outros Fiat se mantém na parte de dentro. O acabamento do utilitário é acima da média quando comparado com outros SUVs de seu segmento. E, mais uma vez, fica longe dos simples interiores dos carros compactos feitos pela fabricante italiana no Brasil. O conforto da cabine, por sinal, é impressionante. Os bancos são macios e extremamente anatômicos. Dá para dirigir de maneira relaxada, com lombar, cabeça e os dois braços descansados em largos apoios revestidos de um couro e espuma de qualidade. O aproveitamento do interior, com grande quantidade de porta-objetos também é impressionante.

Em movimento, o Freemont também valoriza o conforto. Como é norma nos modelos de origem norte-americana, a suspensão é macia e dá aquela sensação de “banheirão”. As dimensões nada compactas do utilitário e o alto peso também não contribuem para qualquer sensação de agilidade dinâmica. Ao menos, o comportamento fica de acordo com a proposta do interior de fornecer muito conforto.

A grande alteração na linha 2014 do Freemont foi a adoção do câmbio de seis marchas no lugar da antiga de quatro velocidades. De uma certa maneira, ele deixou a convivência com o SUV mais amigável. Principalmente em velocidades baixas. A maior quantidade de relações significa que é mais fácil explorar o motor 2.4 de 172 cv e atingir giros maiores. Algo extremamente importante, já que o carro só fica realmente esperto acima dos 4 mil giros. Só que mesmo com a clara evolução em relação à transmissão antiga, a nova caixa ainda não o que de mais moderno existe no segmento. As trocas são sempre sentidas e os “soluços” são comuns. E não melhorou muito o elevado consumo de combustível.

Ficha técnica - Fiat Freemont Precision 2.4

Motor: A gasolina, dianteiro, transversal, 2.360 cm³, com quatro cilindros em linha, quatro válvulas por cilindro e duplo comando no cabeçote e duplo comando variável de válvulas. Acelerador eletrônico e injeção eletrônica multiponto sequencial.

Transmissão: Câmbio automático de seis marchas à frente e uma a ré. Tração dianteira.

Potência máxima: 172 cv a 6 mil rpm.

Aceleração 0-100 km/h: 12,3 segundos.

Velocidade máxima: 190 km/h.

Torque máximo: 22,5 kgfm a 4.500 rpm.

Diâmetro e curso: 88 mm X 97 mm. Taxa de compressão: 10,5:1.

Motor do Fiat Freemont

Suspensão: Dianteira independente do tipo McPherson, com rodas independentes, braços oscilantes, molas helicoidais e barra estabilizadora. Traseira independente do tipo Multilink, com barra estabilizadora e molas helicoidais. Oferece controle eletrônico de estabilidade.

Pneus: 225/65 R17.

Freios: Discos ventilados na frente e discos sólidos atrás. Oferece ABS com EBD.

Carroceria: Utilitário esportivo em monobloco com quatro portas e sete lugares. Com 4,88 metros de comprimento, 1,87 m de largura, 1,75 m de altura e 2,89 m de distância entre-eixos. Oferece airbags frontais, laterais e do tipo cortina de série na versão.

Peso: 1.809 kg.

Capacidade do porta-malas: 580 litros, 2.301 com a segunda fileira de bancos rebatida. 

Tanque de combustível: 77,6 litros.

Produção: Toluca, México.

Itens de série: Ar-condicionado de três zonas, ABS, EBD, BAS, airbags dianteiros, laterais e de janela, banco do motorista com regulagem elétrica, sistema keyless, controle de estabilidade e de tração, direção hidráulica, faróis de neblina, rádio/CD/MP3/USB/AUX/Bluetooth com tela sensível ao toque de 8,4 polegadas, cruise control, rodas de liga leve de 17 polegadas, sensor de estacionamento, sensor de chuva e luminosidade e volante revestido em couro. 

Preço inicial: R$ 102 mil.

Itens opcionais: Teto solar, bancos revestidos em couro e rodas de 19 polegadas.

Preço do completo: R$ 109.106.

Autor: Rodrigo Machado (Auto Press)
Fotos: Pedro Paulo Figueiredo/Carta Z Notícias