A Jaguar Land Rover já bateu o martelo. O Discovery Sport – lançado em outubro no Salão de Paris e exibido, logo depois, no Salão de São Paulo – vai ser o primeiro produto da fábrica do grupo inglês que será inaugurada em 2016 na cidade fluminense de Itatiaia. Mas o novo utilitário esportivo, que acaba de ser apresentado à imprensa especializada internacional em um teste na Islândia, estreia no Brasil ainda no primeiro semestre desse ano. Inicialmente virá importado da fábrica de Liverpool, na Inglaterra, para se posicionar em um segmentoabaixo do Discovery. No Salão de São Paulo, os executivos da Land Rover adiantaram que o preço inicial do produto ficará em R$ 179.900. Ou seja, abaixo dos R$ 220 mil onde começa o Range Rover Evoque, atual best seller da marca no Brasil – e no mundo.
O novo produto segue o processo de “evoquização” que contagiou os designers da marca inglesa desde o Evoque se tornou um sucesso instantâneo de vendas – no seu lançamento mundial, em agosto de 2011. A traseira do Discovery Sport, apesar das proporções mais avantajadas, segue um estilo rebaixado e dinâmico, que remete aos cupês. O mesmo detalhe estético que ajuda a dar o charme jovial do menor dos Range Rover – que formam a linha mais requintada da Land Rover.
Mas o Discovery Sport não é um Range Rover. Ou seja, não se propõe a oferecer os mesmos padrões de requinte do Evoque – criado para brigar com os SUVs compactos de marcas de luxo, como BMW, Mercedes-Benz e Audi. A função do novato é ganhar mercado numa faixa de preços mais baixa que os Range Rover, para encarar os utilitários esportivos “top” de marcas generalistas como Dodge/Jeep, Hyundai e Volkswagen. Para essa tarefa, o Discovery Sport não se vale apenas da enorme tradição off-road da Land Rover. O marketing da marca valoriza a robustez do conjunto e sua capacidade lameira, mas dá particular ênfase na versatilidade de seu novo produto. Tal característica de fácil adaptação às necessidades é explicitada na configuração “5 + 2”, com dois bancos extras abrigados sob o assoalho do porta-malas. Esse opcional permite ao modelo transportar até sete pessoas. A fila central de bancos também pode ser rebatida, deixando o assoalho reto. Configurado desse modo, com apenas os dois lugares frontais, a capacidade de carga do Discovery Sport sobe para impressionantes 1.810 litros – espaço digno de uma minivan. Com 5 pessoas a bordo, o utilitário esportivo já transporta generosos 829 litros de bagagem.
O novo modelo adota o mesmo trem de força do Evoque. O motor a gasolina 2.0 litros turbinado, que gera a potência de 240 cv a 5.500 rpm e o torque de 38,7 kgfm a 1.750 rotações. Trabalha conjugado ao câmbio automático de 9 velocidades, com acionamento manual das marchas através de aletas no volante, desenvolvido pela ZF. Mas existe também uma motorização turbodiesel de 2.2 litros de 190 cv, que estará disponível no mercado brasileiro. Para a versão diesel, há uma opção de câmbio manual de seis velocidades, que não virá para o Brasil. Os habituais sistemas eletrônicos off-road dos Land Rover também estão presentes, como o Terrain Response, o Roll Stability Control e o Hill Descent Control, entre muitos outros. Afinal, uma boa reputação – como a da Land Rover – é algo que se demora a adquirir. Quem tem, não deve abrir mão dela.
Ponto a ponto
Desempenho - Tanto a versão movida pelo motor a gasolina Si4 2.0 turbo quanto a impulsionada pelo propulsor SD4 turbodiesel de 2.2 litros movem com bastante destreza o novo Land Rover, que ganha velocidade de forma consistente e vigorosa. Segundo a Land Rover, o Discovery Sport faz de zero a 100 km/h em 8,9 segundos na verão diesel e em 8,4 segundos na versão a gasolina – bem rápido para um SUV de tal porte. Ainda segundo o fabricante, a velocidade máxima fica em 200 km/h (gasolina) e 188 km/h (diesel). Nota 9.
Estabilidade - A suspensão multilink é nova e, segundo a Land Rover, proporciona agilidade no asfalto sem prejudicar as capacidades off-road. Na prática, o novo utilitário esportivo inglês se mostra mesmo um modelo bem equilibrado e versátil. Transmite sensação de segurança, seja nos trechos sinuosos percorridos em altas velocidades nas pistas ou nos altos e baixos das trilhas. Nota 9.
Interatividade - Os ajustes de posição de volante e banco não são de fácil manejo, mas funcionam. Já a ausência de um simples ajuste de altura do cinto de segurança não se justifica em um modelo que começa em R$ 180 mil. O rebatimento dos bancos da segunda e terceira fileiras não é tão simples, mas é eficiente e proporciona um espaço de cargas impressionante. O posicionamento de alguns comandos, como o do acionamento dos vidros elétricos, poderia ser aperfeiçoado. Nota 7.
Consumo - Segundo a Land Rover, o Discovery Sport a gasolina na configuração 5 + 2 obtem o consumo médio combinado de 12 km/l, enquanto a versão diesel na mesma configuração atinge 16 km/l. Os computadores de bordo das versões a gasolina e diesel, avaliadas em condições extremas na Islândia, apresentaram médias de 8,6 km/l e 9,8 km/l, respectivamente. Nota 8.
Conforto - O Discovery Sport transporta cinco pessoas de forma confortável, sem apertos. A suspensão dá conta do recado, seja no asfalto ou nas trilhas. O sexto e o sétimo lugares são apertados e de difícil acesso, por isso devem ser reservados a crianças pequenas. Adultos só devem sentar ali em viagens curtas. Nota 8.
Tecnologia - A plataforma é recente e motores e o câmbio automático de nove marchas do Discovery Sport são modernos. O modelo conta com eficientes tecnologias para o off-road, que o ajudam a oferecer uma elevada capacitação lameira. Para o uso na estrada e nas cidades, estão presentes as tecnologias necessárias, inclusive um bom sistema de info-entretenimento com GPS – que não estava habilitado para funcionar na Islândia –, Bluetooth e tela touch de 8 polegadas. Há ainda possibilidade de acessar no sistema alguns aplicativos de celular. Atrás dos apoios de cabeça dianteiros há telas de LCD para que os passageiros da traseira possam assistir um filme enquanto viajam. Nota 9.
Habitabilidade - Embora ofereça sete assentos, o Discovery Sport não se propõe a ser um carro de sete lugares. Sugestivamente, o marketing da Land Rover o apresenta como um “5 + 2”. Uma denominação que, não por acaso, lembra a dos cupês “2 + 2” – que são esportivos que até têm dois lugares traseiros, mas onde não se espera que adulto nenhum viaje neles. No caso do Discovery Sport, o acesso ao sexto é sétimo bancos é difícil. Além disso, o piso é elevado e, em um adulto, os joelhos acabam ficando bem acima da altura da bacia, o que causa desconforto em viagens longas. Para trajetos curtos ou para crianças até 12 anos, atendem àdemanda e conferem adicional versatilidade ao modelo. A opção de rebater os bancos da segunda e terceira fileira amplia efetivamente as possibilidades de utilização do veículo, que se transforma quase numa van de carga – leva até 1.810 litros de bagagem. Os porta-objetos são generosos e bem distribuídos. Há seis entradas USB e quatro entradas 12 V no habitáculo, para que todos possam carregar seus dispositivos eletrônicos ao mesmo tempo – detalhe que pode evitar alguns conflitos familiares nas viagens longas. Nota 9.
Acabamento - Os materiais adotados no Discovery Sport não têm o nível de requinte da linha Range Rover, e nem é essa a proposta. Mas as padronagens são bem elegantes e as texturas transmitem percepção de qualidade. Um padrão honesto e funcional, sem excessos nem carências. Nota 8.
Design - Alguma hora, a Land Rover precisará criar algo inovador em relação ao padrão estilístico criado pelo Evoque, em 2011. Mas, como o Evoque aparentemente ainda não cansou os consumidores e vende tudo que é produzido, essa hora ainda não chegou. Seguindo a mesma tendência visual, o Discovery Sport é um SUV bem elegante, de aspecto robusto, dinâmico e moderno. Por dentro, domina um estilo sóbrio, com detalhes e equipamentos que lembram bastante outros modelos da marca. Nota 8.
Custo/benefício - O preço inicial do Discovery Sport foi anunciado em R$ 180 mil. Não é nada barato. Mas, pelo conjunto da obra e pelos atributos que apresenta dentro do segmento onde concorre, o novo Land Rover pode até posar de “racional” – a concorrência também não oferece preços baixos. Nota 8.
Total - O novo Land Rover Discovery Sport somou 83 pontos em 100 possíveis.
Primeiras impressões
Reykjavik/Islândia - Fazer um passeio de carro na Islândia, em janeiro, é uma iniciativa ousada. Coberta pela neve e pelo gelo nessa época do ano, a ilha nórdica é conhecida pelo tempo instável, que costuma mudar radicalmente de um momento para o outro. Além disso, os dias de janeiro duram apenas das 10:30 às 16:30 horas – as outras 18 horas diárias são noturnas. O trecho inicial do teste de apresentação do Discovery Sport previa ventos moderados e alguma névoa no trajeto de 104 km entre o Aeroporto de Kevlafik e a região de Selfoss, que seria realizado ao anoitecer. Em virtude de um problema técnico em um dos modelos a gasolina avaliados, a travessia acabou ocorrendo com noite fechada. Só que, em lugar de ventos moderados, foi acompanhada de uma impressionante tempestade de neve, com uma ventania acima de 80 km/h.
Com a reviravolta climática, o cenário da estrada ganhou ares de ficção científica – poderia perfeitamente fazer parte de produções como “Star Wars” ou “Star Trek”. O que era para ser um circuito off-road ganhou um aspecto “off-world” – o caminho efetivamente parecia estar sendo percorrido em outro planeta, bem mais inóspito que a Terra. O vento gélido e brutal, que certamente teria arrastado qualquer carro compacto que se arriscasse por ali, foi encarado com galhardia pelo mais novato dos Land Rover, com seus 1.863 kg. Mas o robusto Discovery Sport certamente precisou usar de forma intensiva vários de seus recursos eletrônicos para manter a trajetória em uma estrada coberta de gelo e neve, com baixíssima aderência.
O segundo período do teste foi no dia seguinte e a bordo da versão diesel, também com acabamento HSE Luxury, num trajeto de 290 km entre Selfoss a capital islandesa, passando pelo sugestivo Cold Valley e pelos litorâneos fiordes Whale – de onde é comum avistar baleias. A nevasca da noite anterior deu lugar a uma chuva persistente e ventos fortes, com algumas tréguas. O que tornou a viagem ainda mais perigosa, já que as poças d'água, em temperaturas abaixo de 0º C, rapidamente se transformam em escorregadias lâminas de gelo. Tornou-se recomendável reduzir a velocidade, manter uma aceleração constante e evitar freadas bruscas, que levassem a indesejáveis derrapagens. Sobre o gelo fino, a aderência é quase nula e todos os modernos recursos eletrônicos automotivos têm pouca influência. Uma perspectiva pouco tranquilizadora em um trajeto com diversos aclives, declives, valões, barrancos e alguns despenhadeiros cercados de rochas magmáticas.
As “travessuras” meteorológicas islandesas elevaram o nível de dificuldade previsto para o teste e deram chances ao Discovery Sport de exibir ainda mais seus atributos para o off-road. Trechos que já seriam normalmente difíceis tornaram-se radicais. Mas o novo produto da Land Rover saiu-se bem e nenhum acidente foi registrado durante o percurso – apenas alguns sustos sem maiores consequências. Para felicidade geral, o airbag para pedestres não precisou ser testado. Mesmo porque, pedestre era coisa raríssima naquelas trilhas. Dispositivos como Hill Descent e Roll Stability Control deram conta do recado, de acordo com a intensa demanda. Os bons ângulos de entrada – 25º – e de saída – 31º – facilitam a travessia. Houve até a oportunidade de atravessar um rio de águas glaciais. Como a profundidade era menor que os 60 centímetros que a Land Rover afirma que o Discovery Sport atravessa sem riscos, o SUV inglês passou pela água como se ela não existisse.
Nos circuitos off-road nas montanhas geladas, entre vulcões e geisers, o teste de apresentação do Discovery Sport parecia quase surreal. Mas felizmente haviam trechos mais prosaicos, próximos da realidade do consumidor comum. Nas estradas asfaltadas, sem gelo ou neve, o Discovery Sport mostrou que ambos os trens de força – o a gasolina e o a diesel – são bastante eficientes e oferecem boa capacidade de aceleração, com retomadas vigorosas. Na versão diesel, a elasticidade do motor e o baixo nível de ruído e trepidação tornam o modelo difícil de diferenciar da versão a gasolina. As borboletas no volante dão ao motorista a oportunidade de controlar as marchas para melhorar a performance. E conjunto suspensivo também colabora com a esportividade do modelo. Ele confere ao Discovery Sport um caráter quase “camaleônico” – oferece conforto para um uso mais pacato e familiar, sem deixar de apresentar firmeza para quem busca um desempenho mais ágil no asfalto ou robustez para quem quer ser ousado nas trilhas.
Ficha técnica
Land Rover Discovery Sport
| Motor 2.0 gasolina | dianteiro, transversal, 1.999 cm³, com quatro cilindros em linha, quatro válvulas por cilindro, duplo comando no cabeçote e turbocompressor. Acelerador eletrônico e injeção direta de combustível |
|---|---|
| Potência máxima | 240 cv a 5.500 rpm |
| Torque máximo | 38,7 kgfm a 1.750 giros |
| Aceleração 0 a 100 km/h | 8,4 segundos |
| Velocidade máxima | 200 km/h |
| Diâmetro e curso | 87,5 mm X 83,1 mm |
| Taxa de compressão | 10:1 |
| Motor 2.2 diesel | dianteiro, transversal, 2.179 cm³, com quatro cilindros em linha, quatro válvulas por clindro, injeção direta de combustível e turbocompressor. Acelerador eletrônico |
|---|---|
| Potência máxima | 190 cv a 3.500 rpm |
| Torque máximo | 42,8 kgfm a 1.750 giros |
| Aceleração 0 a 100 km/h | 8,9 segundos |
| Velocidade máxima | 188 km/h |
| Diâmetro e curso | 85 mm X 96 mm |
| Taxa de compressão | 15,8:1 |
| Transmissão | Câmbio automático com nove marchas à frente e uma a ré. Tração integral e possui controle eletrônico de tração |
|---|---|
| Suspensão | Dianteira independente do tipo McPherson. Traseira independente do tipo Multilink. Oferece controle de estabilidade |
| Freios | Discos ventilados na dianteira e sólidos na traseira |
| Pneus | 225/65 R18 |
| Carroceria | Utilitário esportivo em monobloco quatro portas e cinco ou sete lugares. Com 4,59 metros de comprimento, 2,06 m de largura, 1,72 m de altura e 2,74 metros de entre-eixos |
| Peso - Gasolina 5 lugares | 1.744 kg |
| Peso - Gasolina 7 lugares | 1.841 kg |
| Peso - Diesel 5 lugares | 1.775 kg |
| Peso - Diesel 7 lugares | 1.863 kg |
| Capacidade do porta-malas | de 829 litros a 1.810 litros |
| Tanque de combustível | 70 litros (versão gasolina) e 65 litros (versão diesel) |
| Ângulo de ataque | 25° |
| Ângulo de saída | 31° |
| Produção | Halenwood, Inglaterra |
| Lançamento | 2015 |
| Preço | a partir de R$ 179.900 |
Autor: Luiz Humberto Monteiro Pereira (Auto Press)
Fotos: Luiz Humberto Monteiro Pereira/Carta Z Notícias