Aufrecht, Melcher e Großaspach. As primeiras letras dessas três palavras traduzem umas das principais divisões esportivas hoje no mundo. Na gênese da AMG estão os ex-engenheiros da Mercedes-Benz Hans Werner Aufrecht e Erhard Melcher, que em 1967 apelidaram de AMG o motor de corrida que produziram – o G é em homenagem à cidade natal de Aufrecht, Großaspach. Em 1993, a AMG passou a ser oficialmente a “preparadora” dos modelos da marca alemã. Nestes 48 anos desde a fundação, a empresa se transformou em uma das mais respeitadas e seus modelos modificados uns dos mais desejados do mundo. Nessa lista está o sedã E63 AMG. Além da última reestilização no fim de 2013, a versão mais nervosa do Classe E ainda traz uma novidade. O tradicional motor V8 5.5, com dois turbos, agora é vendido no Brasil com tração integral. Mas não será fácil encontrar um modelo desses por aí. O preço é dolarizado e com a alta da moeda norte-americana nos últimos tempos, o valor do E63 AMG por aqui alcança astronômicos R$ 660 mil – ou US$ 245.900, como especifica a tabela.

Mercedes-Benz E63 AMG
Mercedes-Benz E63 AMG / Créditos: Reprodução

Como um autêntico AMG, o E63 tem como destaque o que está oculto sob o capô. E lá repousa um possante V8 5.5 litros biturbinado. A divisão esportiva da Mercedes-Benz apenas aperfeiçoou o que já tinha. Após uma recalibração, o propulsor passou a render 557 cv a 5.500 rpm e 73,4 kgfm de torque entre 1.750 e 5.250 rotações. Para oferecer o sistema integral na Classe E sem deixar de entregar a tradicional sensação de esportividade de se guiar um AMG, a preparadora estabeleceu que a força é distribuída em 67% para o eixo traseiro e 33% para o dianteiro. De acordo com executivos da marca, apesar do peso extra, o E63 AMG 4Matic é mais rápido do que a versão com tração apenas traseira – que se mantém em produção na Alemanha.

Mercedes-Benz Classe E AMG
Mercedes-Benz Classe E AMG / Créditos: Reprodução

O zero a 100 km/h é feito em 3,7 segundos no integral – contra 4,7 segundos do modelo anterior, que só tinha tração traseira e contava com “apenas” 525 cv. A transmissão é sempre automática de sete marchas. Na Europa, ainda há a versão S, que deixa a mistura ainda mais apimentada. A potência sobe para 585 cv e o torque para absurdos 81,5 kgfm nos mesmos regimes. Nesse caso, o sedã é catapultado até 100 km/h em apenas 3,6 segundos. A velocidade máxima é sempre limitada eletronicamente em 250 km/h.

As melhorias técnicas foram acompanhadas de uma leve reestilização. O E63 não tem o visual tão “anabolizado” de outros carros “mexidos” pela AMG. Os faróis dianteiros agora são feitos em uma peça só – antes eram formados de duas partes diferentes –, o para-choque tem novo formato, mais curvilíneo, assim como a imponente grade dianteira. Atrás, as mudanças são mais sutis e se resumem a novas lanternas e a para-choque mais abaulado. O perfil é marcado por um grande vinco e pelas rodas de 19 polegadas em tom negro. Mas nada chama mais atenção que a inscrição cromada “V8 Biturbo” na lateral. Além de toda força bruta e visual contido, o E63 AMG ainda é munido de um arsenal tecnológico. Programa eletrônico de estabilidade, quatro modos de condução, três ajustes de suspensão e o sistema de torque direcional, que executa intervenções freando as rodas seletivamente para manter a alta agilidade do carro nas curvas. Nas mais fechadas, a atuação específica do freio da roda traseira do lado interno ajuda de forma incisiva o carro a executar sua trajetória. Nada disso, porém, interfere na diversão a bordo.

Interior da Classe E AMG
Interior da Classe E AMG / Créditos: Reprodução

Ponto a ponto

Desempenho – O grande e pesado sedã da Mercedes acelera de maneira brutal. É realmente difícil de acreditar que os 4,89 metros e quase 2 toneladas do E63 AMG possam se mover de maneira tão arrebatadora. O motor V8 5.5 biturbo tem um monumental torque de 73,4 kgfm, que, sua maior parte, está disponível já a 1.750 rpm. A tradução são acelerações e retomadas sensacionais. Com o aditivo da tração integral, são necessários apenas 3,7 segundos para atingir os 100 km/h. Nota 10.

Estabilidade – Há quem prefira tração traseira para mais esportividade. Mas a tração integral não tira a graça do E63 AMG. O sedã “gruda” no chão de maneira formidável e permite uma tocada mais entusiasmada sem causar insegurança a quem dirige. Apesar do tamanho e massa, o modelo é bastante ágil. Quando o modo Sport+ é acionado, os amortecedores ficam mais duros e, aí, o comportamento fica mais agressivo. Os largos pneus aderem ainda mais ao chão e fica difícil tirar o E63 AMG da trajetória. Nota 10.

Máquina com motor V8 devora asfalto
Máquina com motor V8 devora asfalto / Créditos: Reprodução

Interatividade – A quantidade de comandos é enorme. Controles elétricos do banco e da coluna de direção com memória, câmbio com diversos programas, ajuste da suspensão, persianas laterais e traseira, entre outros. Ao menos, quase todos têm uso simples e intuitivo. Destaque para os bancos com almofadas infláveis que literalmente “prendem” o corpo e deixam o condutor e carona completamente estáveis no habitáculo. As borboletas para trocas de marcha manuais também têm bom tamanho. Nota 9.

Consumo – A Mercedes E63 AMG não está no Programa Brasileiro de Etiquetagem do Inmetro. Durante a avaliação, o computador de bordo do sedã nunca marcou uma média melhor que 6,5 km/l de gasolina. Considerando o quanto o carro instiga a pressionar o acelerador, não é tão ruim. Nota 6.

Conforto – Apesar de ser um sedã superesportivo, o E63 AMG oferece muito conforto. O entre-eixos de 2,89 metros proporciona excelente espaço para dois ocupantes se instalarem atrás. O couro é de alta qualidade e a espuma dos bancos tem densidade correta entre o conforto e sustentação. Para um AMG, a suspensão não é muito dura – nem no modo mais “hardcore”. Assim, o rodar é suave o suficiente e não há pancadas secas. Nota 9.

Visão da traseira do sedã de luxo
Visão da traseira do sedã de luxo / Créditos: Reprodução

Tecnologia – Além da extensa lista de equipamentos de série, que inclui controle eletrônico de estabilidade e tração, controle de largada, assistente de partida em rampa, nove airbags, som premium Harman Kardon, sistema de entretenimento traseiro, a AMG atualizou o possante motor V8 5.5 litros biturbo. Lançado no fim de 2010, ele conseguiu ficar mais forte e econômico que o seu antecessor. Nota 9.

Habitabilidade – O bom ângulo de abertura das portas facilita o acesso aos bancos dianteiros e traseiros. Os portas-objetos são numerosos, com destaque para o profundo nicho central sob o apoio de braços. Atrás, três passageiros podem ser demasiados. O porta-malas é dos mais espaçosos e engole 540 litros. Nota 9.

Acabamento –  A configuração AMG melhorou um acabamento que já era de alto nível. Bancos, apoios de braços e painéis das portas são revestidos de couro napa. O volante AMG tem a base e a parte superior achatadas e as áreas de contato forradas de couro Alcântara, além das borboletas de trocas de marchas em alumínio. O toque final fica por conta do relógio suíço analógico da marca IWC entre as entradas de ar centrais no painel. Nota 10.

Detalhe da lanterna traseira com LED
Detalhe da lanterna traseira com LED / Créditos: Reprodução

Design – O E63 AMG não é extravagante. Exibe um porte elegante sem extrapolar em apêndices aerodinâmicos. O desenho está alinhado com o público-alvo. Os únicos traços esportivos são as rodas escurecidas de 19 polegadas e para-choques mais bojudos com generosas entradas de ar. Uma discreta plaqueta na lateral avisa sobre a “aberração” que reside sob o capô. Nota 9.

Custo/benefício – O E63 AMG é um carro de alto padrão e a Mercedes cobra muito bem por isso: R$ 660 mil. A concorrência direta, sempre, é com um BMW. No caso, a M5 com seu motor V8 4.4 litros de 560 cv, que custa  R$ 529.950. Já a Jaguar pede R$ 554 mil pelo XFR-S de 550 cv. Porém, ambos os modelos levam 4 décimos de segundo a mais que o E63 AMG no zero a 100 km/h. Em performance, o Audi RS7 Sportback com seus 560 cv extraídos de um motor 4.0 TSFI é o que melhor se compara. São necessários exatos 3,7 segundos para chegar aos 100 km/h. E é o de menor preço: R$ 589.360. Qualquer um deles tem péssima relação custo/benefício, mas a do E63 AMG consegue ser a pior. Nota 3.

Total – O Mercedes-Benz E63 AMG somou 84 pontos em 100 possíveis.

Detalhe da estrela da Mercedes
Detalhe da estrela da Mercedes / Créditos: Reprodução

Impressões ao dirigir

Diabo a quatro

Geralmente os sedãs à venda no Brasil privilegiam o conforto com suspensões macias e motores com potência suficiente apenas para fazer ultrapassagens sem problemas. Mas com o Mercedes E63 AMG tudo é diferente. A começar pelo  que se encontra sob o capô. A divisão esportiva da marca alemã segue a filosofia “um homem, um motor”. O propulsor é montado à mão na seção de acabamento da fábrica localizada em Sindelfingen, na Alemanha. No caso da unidade testada, o agradecimento especial deve ser dado a Roland Lamboni que, por causa deste motor, arranca sorrisos de quem dirige o bólido. A assinatura do responsável figura na placa de identificação do motor como um atestado de qualidade da marca e é a última peça a ser colocada no processo de montagem.

O motor 5.5 litros biturbo de 557 cv é primoroso desde a hora em que se aciona a ignição. O V8 “borbulha” e, ao mesmo tempo, eleva a adrenalina de quem está ao volante. Além da imensa potência, os 73,4 kgm de torque e a tração nas quatro rodas fazem do sedã alemão um devorador de asfalto. Não há como evitar a surpresa ao receber a “patada” que o modelo aplica nos ocupantes quando se afunda o pé direito no acelerador. Tudo ainda é acompanhado pelo viciante “ronco” que sai do sistema de escapamento, que ainda traz a inscrição AMG “talhada” na parte de cima de cada ponteira.

Mercedes-Benz E63 AMG
Mercedes-Benz E63 AMG / Créditos: Reprodução

Outro item digno de nota do E63 AMG é sua capacidade dinâmica. Nem mesmo os quase 5 metros de comprimento e as duas toneladas de peso são capazes de inibir o comportamento esportivo do sedã. A tração “compartilhando” a força entre as quatro rodas e a suspensão no acerto mais rígido – Sport plus –, fazem o modelo encarar trechos sinuosos com bastante estabilidade e sem oscilações da carroceria. O condutor tem o controle do carro em tempo integral.

Mas nem só de força vive o E63 AMG. Sem ser “instigado”, o sedã consegue cumprir o papel de carro de família. Com o ajuste suspensivo no “Comfort” e a transmissão no modo “C”, de “eficiência controlada”, o modelo tem uma postura tranquila. Os ocupantes traseiros ainda podem desfrutar do sistema de entretenimento com telas e fones de ouvido individuais. Afinal, um três volumes também preza pelo conforto.

Visão lateral do sedã
Visão lateral do sedã / Créditos: Reprodução

Ficha técnica

Mercedes-Benz E63 AMG

Motor: Gasolina, dianteiro, longitudinal, 5.461 cm³, dois turbos, oito cilindros em “V”, quatro válvulas por cilindro e comando duplo no cabeçote. Injeção eletrônica multiponto sequencial. Acelerador eletrônico.
Transmissão: Câmbio automatizado de dupla embreagem com sete marchas à frente e uma a ré, com opção de mudanças sequenciais na manopla do câmbio ou através de borboletas no volante. Tração integral. Controle eletrônico de tração.
Potência máxima: 557 cv a 5.500 rpm.
Torque máximo: 81,5 kgfm entre 1.750 e 5.250 rpm.
Aceleração 0-100 km/h: 3,7 segundos.
Velocidade máxima: 250 km/h limitada eletronicamente.
Diâmetro e curso: 98,0 mm X 90,5 mm.
Taxa de compressão: 10,0:1.
Suspensão: Dianteira independente com três braços, barra estabilizadora, molas helicoidais e amortecedores a ar de rigidez ajustável. Traseira independente do tipo multilink com amortecedores a ar de rigidez ajustável e barra estabilizadora. Controle eletrônico de estabilidade.
Pneus: 255/35 R19 na frente e 285/30 R19 atrás.
Freios: Discos ventilados na frente e atrás. Oferece ABS com EBD e assistente de frenagem de emergência.
Carroceria: Sedã com quatro portas e cinco lugares. Com 4,89 metros de comprimento, 1,87 m de largura, 1,46 m de altura e 2,87 m de entre-eixos. Oferece airbags frontais, laterais dianteiros e traseiros, cortina e de joelho para o motorista.
Peso: 1.940 kg.
Capacidade do porta-malas: 540 litros.
Tanque de combustível: 66 litros.
Produção: Sindelfingen, Alemanha.
Lançamento: 2013.
Lançamento no Brasil: 2013.
Preço: US$ 245.900, o equivalente a R$ 660 mil.

Sob o capô, o V8 de 557 cv
Sob o capô, o V8 de 557 cv / Créditos: Reprodução


Autor: Raphael Panaro (Auto Press)