A Peugeot já viveu tempos mais gloriosos no Brasil. Desde 2010, fez vários lançamentos por aqui – a picape Hogar, 3008, RCZ, 508, 408, 208, 308 e 308 CC. Mas, apesar de alguns deles terem bastante prestígio na Europa, nenhum passou nem perto de se tornar sucesso de vendas no país. Seu “best seller” atualmente é o hatch compacto 208 que, com suas 1.815 unidades vendidas em abril, ocupa a 28ª posição no ranking brasileiro. O resultado disso é que a participação da marca francesa decresce a cada ano no mercado nacional. Em 2010, vendeu 90.331 unidades e tinha 2,71% de “share”. No ano passado, emplacou 57.511, ou 1,61% do mercado. No primeiro quadrimestre, 16.027 unidades e 1,52 de “share” – números que não prometem um 2014 muito animador. Novos modelos – como o sedã compacto 301 e o SUV compacto 2008 –, voltados para segmentos de alta vendagem, estão cotados para produção na fábrica da PSA Peugeot Citroën em Porto Real, no Rio de Janeiro. Enquanto os “reforços” não chegam, os franceses aproveitam para atualizar a estética da linha no Brasil. Agora, chegou a vez do “face-lift” do crossover 3008 desembarcar no país.
O 3008 não traz expectativas de se tornar um grande campeão de vendas. Quando chegou ao Brasil, no final de 2010, era um sucesso tão grande na Europa que a Peugeot só conseguia trazer poucas unidades – e o crossover chegou a ter fila de espera em algumas concessionárias. Ou seja, até o sucesso da Peugeot europeia atrapalhou a performance da filial brasileira. No ano passado, o 3008 vendeu 1.308 unidades – 109 por mês. Esse ano, com o modelo já com o visual obviamente “antigo” em relação aos seus companheiros de vitrine, as vendas caíram para 59 carros/mês.
Em comparação com o modelo que chegou aqui em outubro de 2010, as mudanças são apenas estéticas e seguem o padrão visual dos mais recentes carros da marca. Grade, faróis de neblina e conjuntos óticos ganharam molduras cromadas e faróis e lanternas têm seu contorno sublinhado com luzes em leds. O leão frontal perdeu a antiga moldura e agora é cercado apenas por dois vincos. Na tampa do porta-malas, o felino aparece sublinhado pela inscrição “Peugeot”. As rodas diamantadas também são novas. No interior, mudanças quase imperceptíveis. Apenas o Head Up Display, que passa a ser colorido, e as novas padronagens dos bancos. Ainda existem muitos porta-objetos e o acabamento permanece de padrão elevado. A área envidraçada se mantém ampla, reforçada pelo imenso teto panorâmico de vidro de 1,60 m².
Sutilezas de design à parte, o 3008 segue o mesmo. A plataforma é derivada do 308 e a grande estrela continua a ser o moderno motor 1.6 litro 16 V Turbo High Pressure a gasolina, com bloco de alumínio, comando de admissão variável e balancins roletados. Foi desenvolvido em parceria com a BMW e equipa o esportivo RCZ e o sedã 508, além de versões do 308 e 408, modelos da marca alemã e também da inglesa Mini. Gera 165 cv a 6 mil giros e torque de 24,5 kgfm já a partir das 1.440 rotações. O câmbio é o mesmo automático de seis velocidades, com opção de acionamento sequencial.
De resto, o 3008 continua a incorporar interessantes tecnologias automotivas. Dentre elas, estão o Head Up Display, que projeta as informações do velocímetro numa lâmina translúcida que fica na parte baixa do vidro dianteiro. Permite que o motorista tenha a informação sobre a velocidade sem ter de tirar os olhos da pista. Há também o freio elétrico de estacionamento, acionado automaticamente quando o motor é desligado. Já o Hill Assist facilita o arranque em rampas, ao fazer que o carro se mantenha imóvel por dois segundos nos aclives, quando o motorista tira o pé do freio. O ar-condicionado é com duas zonas e pode refrigerar de forma diferenciada cada lado do veículo. E o sistema multimídia inclui GPS e conectividade por Bluetooth, com uma tela de 7 polegadas rebatível eletricamente.
O 3008 chega em junho às concessionárias brasileiras apenas na versão “top”, denominada Griffe THP. A “de entrada” Allure, que custava R$ 89.990, não existe mais. O preço fica em R$ 99.990, redondos R$ 2 mil acima dos R$ 97.990 cobrados pela configuração “top” Griffe do modelo anterior. Com a atualização do modelo, a marca provavelmente espera retomar a “fase áurea” do 3008 por aqui. Foi em 2011, logo após o lançamento do crossover no Brasil, quando foram 2.410 carros vendidos – média de 200 por mês. Dessa vez, a Peugeot garante que irá trazer todos os 3008 que forem necessários para abastecer a demanda local.
Ponto a ponto
Desempenho – O motor 1.6 litro 16 V Turbo High Pressure é um dos mais versáteis e interessantes disponíveis na atualidade, embora tenha perdido o "ar de exclusividade" que tinha em 2010, quando o 3008 foi lançado por aqui. Hoje, o mesmo propulsor move as versões esportivas de diversos modelos da Peugeot, como o 408 THP e o RCZ. Mas não esconde o toque de excelência de sua origem BMW. Fica até dificil crer que sob o capô do 3008 está um propulsor tão compacto, de apenas 1.6 litro. O turbo de alta pressão consegue fazer o torque máximo de elevados 24,5 kgfm estar disponível já em 1.400 rotações, o que se traduz em boa disposição em qualquer faixa de giros. A potência de 165 cv também fica na medida para quem aprecia um desempenho esportivo. A transmissão automática de seis marchas, com opção de trocas manuais, é uma parceira eficiente desse propulsor. Segundo a Peugeot, o zero a 100 km/h é feito em 9,5 segundos e a velocidade máxima é de 202 km/h. Nota 9.
Estabilidade – Mesmo com a carroceria elevada, o crossover da Peugeot se comporta de forma surpreendentemente equilibrada quando encara estradas sinuosas. Pouco aderna nas curvas e reage quase como se fosse um cupê esportivo. A direção eletricamente assistida também é precisa e atua de forma progressiva, trasmitindo leveza nas manobras de estacionamento e se tornando mais firme à medida em que se ganha velocidade. Nas retas, durante a avaliação, não foi possível observar flutuações. E nas frenagens bruscas, sempre que requisitado, o carro parou de forma rápida e estável, sem "rebolar". Nota 9.
Interatividade – O 3008 é um crossover bem equipado. Traz até "firulas" como o Head Up Display, que projeta sobre uma placa de policarbonato, próximo ao para-brisa, a velocidade e as informações do cruise control - agora com algarismos coloridos. O console central é bem posicionado em relação ao motorista, o que favorece a visualização e o uso dos equipamentos instalados ali, como o sistema multimídia Wip Nav RT6 com GPS e os controles de climatização. As teclas sob a entrada de ar, que lembram comandos de avião, dão um charme extra ao interior. Nota 8.
Consumo – O 3008 é Categoria D na avaliação de consumo do Proconve. Durante o teste, o Peugeot 3008 Griffe conseguiu a média de 10 km/l em um percurso misto urbano e estrada. Nota 6.
Conforto – Um crossover é, por definição, um veículo que mistura características de dois ou mais segmentos distintos. Em termos de conforto, o 3008 deixa aflorar o seu lado minivan. O espaço interno é farto e bem aproveitado, gerando um ambiente agradável para até cinco ocupantes. Os bancos são confortáveis, mas não trazem regulagens elétricas nem para o motorista, algo que seria bem-vindo em um carro nessa faixa de preço. A suspensão absorve com eficiência as irregularidades da pista e isolamento acústico faz bonito. Nota 8.
Tecnologia – A plataforma do 3008 é a mesma do 308, que deriva da arquitetura do 307. Em termos de segurança, o carro vem de série com seis airbags – frontais, laterais e de cortina –, além do ABS e do ESP. O suficiente para dar ao modelo as cobiçadas 5 estrelas no Euro NCap, que avalia a segurança dos automóveis europeus. O sistema multimídia incorpora GPS e tem conectividade Bluetooth e comandos na coluna de direção. A Peugeot ficou devendo uma prosaica câmera de ré – há apenas um sensor de estacionamento. Mas a inegável estrela tecnológica do 3008 é mesmo o compacto e espertíssimo motor 1.6 THP, de 165 cv, desenvolvido em parceria com a BMW. É ele quem continua a fazer a diferença no crossover da Peugeot em relação à concorrência. Nota 8.
Habitabilidade – O 3008 é um carro alto e espaçoso. E a Peugeot aproveitou de forma inteligente a área disponível. Há uma quantidade razoável de porta-objetos. O maior deles é o que fica sob o apoio do braço, que é amplo e refrigerado. Os bancos continuam rebatíveis e moduláveis. A porta dupla – a parte inferior também se abre - do porta-malas facilita bastante o uso. As portas são generosas e não criam dificuldades no acesso. O teto solar panorâmico ajuda a dar ao modelo um interessante componente de interatividade e amplia a sensação de espaço interno. Nota 9.
Acabamento – A Peugeot optou por passar a importar apenas a versão de topo do 3008, agora denominada Griffe THP. Nela, o console central é em black piano, com aspecto requintado. A parte superior do painel é emborrachada e agradável ao toque, assim como a alça que fica no console do lado do passageiro, que é revestida com o mesmo couro dos bancos, que transmite uma sensação tátil e visual de qualidade. Os botões abaixo das saídas de ar, inspirados em comandos de aviões, são simpáticos e reforçam a esportividade. Nota 8.
Design – A Peugeot fez apenas uma adequação do 3008 à atual identidade visual da marca, com o leão dianteiro sem moldura e filetes cromados em torno dos conjuntos óticos. Os filetes de leds que emolduram os conjuntos óticos deram um ar mais moderno ao conjunto. Nas lanternas traseiras, três linhas grossas remetem a arranhões feitos por uma garra afiada - afinal é a "marca do leão". No crossover, alguns desses detalhes não ficaram tão leves e elegantes quanto em outros modelos da fabricante. Mas o 3008 continua a ser um veículo vistoso e que não passa despercebido nas ruas. E, agora, parece ser contemporâneo de seus "companheiros de vitrine" nas concessionárias Peugeot. Nota 7.
Custo/Benefício – A opção por passar a trazer apenas a versão "top" tornou o 3008 mais elitista. Mesmo com a boa oferta de equipamentos, o preço cobrado pelo modelo é R$ 99.990 – e a Peugeot jura que é a melhor relação custo/benefício do segmento. Nota 6.
Total – O Peugeot 3008 Griffe THP somou 78 pontos em 100 possíveis.
Primeiras impressões
Mistura fina
Itatiba/SP - O modelo avaliado, que rodou na apresentação cerca de 200 km entre a capital paulista e a cidade de Itatiba, era na nova cor marrom, a chamada "cor de lançamento", que os marketeiros da Peugeot batizaram de Marron Rich Oak. Com a proposta de juntar a robustez de um utilitário esportivo com a praticidade de uma minivan e a dirigibilidade de um hatch, o 3008 se arrisca. Afinal, algumas características desses veículos - como a altura elevada das minivans e a esportividade dos hatches - podem se tornar contraditórias num mesmo carro. Mas, no 3008, a mistura funciona. O teto alto, a posição de dirigir elevada, a cabine espaçosa e o porta objetos refrigerado são óbvias heranças do "lado minivan" do 3008. Soluções como a dos bancos traseiros, que correm sobre trilhos para ampliar o espaço dos ocupantes de trás, também remetem aos monovolumes tipicamente familiares. Mas, quando o motorista pisa firme pela primeira vez no pedal do acelerador, qualquer impressão de que se trata de um daqueles carros para a mãe levar os filhos na escola fica para trás.
Nessa hora, quando o 3008 começa a ganhar velocidade, não é difícil imaginar que se está a bordo de um esportivo. O "powertrain" tem um comportamento fora de série. O 1.6 THP gera 165 cv de potência e torque de 24,5 kgfm já a 1.400 rpm - ou seja, basta pressionar o pedal da direita que o carro ganha velocidade - e ganha rápido. O equilíbrio do carro nas curvas de alta velocidade também impressiona bem. Na verdade, poucos detalhes deixam a desejar no 3008. Um deles é a ausência de câmera de ré, injustificável num modelo de R$ 100 mil. O outro é o fato dos equipamentos que ficam sobre o tablier - Head Up Display e a tela retrátil do dispositivo mutimídia - serem refletidos no parabrisas quando se dirige no sol, o que prejudica a visibilidade. De resto, continua a ter atributos para ser uma vitrine tecnológica da marca francesa.
Ficha técnica
Peugeot 3008 Griffe 1.6 THP
Motor | Gasolina, dianteiro, transversal, 1.598 cm³, alimentado por turbina de hélice dupla, quatro cilindros em linha, quatro válvulas por cilindro. Comando duplo de válvulas no cabeçote com sistema de variação de abertura na admissão e escape. Injeção direta de combustível e acelerador eletrônico |
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Transmissão | Câmbio automático de seis velocidades à frente e uma a ré. Tração dianteira. Oferece controle eletrônico de tração |
Potência máxima | 165 cv a 6 mil rpm |
Torque máximo | 24,5 kgfm a 1.400 rpm |
Diâmetro e curso | 77,0 mm X 85,8 mm |
Taxa de compressão | 11,0:1 |
Suspensão | Dianteira com rodas independentes pseudo McPherson, com barra estabilizadora. Traseira com rodas independentes, barra de dois braços deformável e barra estabilizadora |
Freios | A discos ventilados na frente e discos sólidos atrás. Com ABS e EBD |
Carroceria | Crossover médio em monobloco, de quatro portas e cinco lugares, com 4,36 metros de comprimento, 1,83 m de largura, 1,63 m de altura e 2,61 m de entre-eixos. Airbags frontais, laterais e do tipo cortina |
Peso | 1.459 kg em ordem de marcha |
Capacidade do porta-malas | 432 litros; 1.008 litros com o banco rebatido |
Tanque de combustível | 60 litros |
Produção | Sochaux, França |
Lançamento mundial | 2009 |
Lançamento desse facelift na Europa | 2013 |
Lançamento no Brasil | 2010 |
Lançamento desse facelift no Brasil | 2014 |
Preço | R$ 99.990 |
Autor: Luiz Humberto Monteiro Pereira (Auto Press)
Fotos: Luiz Humberto Monteiro Pereira/Carta Z Notícias