Até para justificar os valores pedidos, em geral as fabricantes buscam entregar uma certa exclusividade às suas versões de topo. No caso da configuração Rallye do Gol, a tática da Volkswagen foi a de estrear nele – e na picape Saveiro Cross – o novo propulsor 1.6 16V. Da mesma família EA211, do 1.0 de três cilindros do Up e do motor 1.4 Turbo do Golf, este motor entrega 15% mais potência que o velho 1.6 8V, da famíla EA111, usado em todos os demais veículos produzidos no Brasil. Com a mudança, o Gol Rallye passou dos 104 cv máximos para 120 cv, sempre com etanol. Com com gasolina, agora são 110 cv contra os 101 cv anteriores. Uma diferença que não chega a mudar profundamente o comportamento do modelo, mas o deixa um pouco mais condizente com a esportividade sugerida pelo “guarda-roupas” lameiro.
O trem de força pode ser completado pela transmissão manual de cinco velocidades ou pelo câmbio automatizado de cinco marchas, batizado de I-motion. Bloco e cabeçotes são feitos em alumínio e as bielas pesam cerca de 26% menos, contribuindo para uma melhor eficiência energética. Outro ponto que favorece a economia de combustível é o comando de admissão variável – o que também melhora as respostas em baixas rotações.
Externa e internamente, o Gol Rallye 2015 é basicamente igual ao modelo anterior. O carro é 28 milímetros mais alto que suas versões “civis” – 23 mm deles são resultado de molas e amortecedores distintos, os outros 5 mm vêm dos pneus 195/50. As rodas de liga leve escurecidas saem de fábrica com 16 polegadas. Junto com o para-choque com a parte central inferior em plástico pintado de prata fosca e os avantajados faróis de neblina, transmitem um ar mais enfurecido à configuração. A grade mantém o formato de colmeia, mas agora traz a inscrição “Rallye” do lado direito. Nas laterais, os para-lamas têm molduras escuras, as carcaças dos retrovisores são prateadas e adesivos que simulam respingos de lama adornam a parte inferior das portas. E um aerofólio se destaca na traseira.
A lista de itens de série não chega a ser extensa. O modelo sai de fábrica com freios ABS com EBD, computador de bordo, sensor de estacionamento traseiro com visualizador gráfico, airbags frontais, ar-condicionado, direção hidráulica, retrovisores elétricos com função tilt-down no lado do passageiro e luzes de seta integradas, sistema de som com rádio AM/FM, CD-Player, Bluetooth, MP3 player e entradas USB e auxiliar, vidros e travas elétricos e volante multifuncional.
Com isso, seu preço parte de R$ 50.820. Novidade nesta versão, a cor Laranja Canyon – ou a já conhecida Amarelo Solaris – adiciona mais R$ 1.688, enquanto as opções metálicas acrescentam R$ 1.140. Para ter as laterais dos bancos e os revestimentos das portas parcialmente em couro é preciso desembolsar mais R$ 671. Além disso, há disponível o kit Tecnologia, que engloba controle de velocidade de cruzeiro, retrovisor interno eletrocrômico, limpador do para-brisa com temporizador e sensores de chuva e crepuscular, pelo qual a Volkswagen cobra R$ 762. A marca vende o Gol Rallye completo por R$ 53.941. Quem opta pela transmissão I-motion paga mais R$ 2.970, totalizando R$ 56.911. Seja pela quase exclusividade do motor ou pela “roupa” aventureira, investir no apelo off-road do Gol pode até ser divertido. Mas é uma brincadeira bem cara.
Ponto a ponto
Desempenho – A grande novidade da linha 2015 do Gol Rallye é mesmo o motor EA211 1.6 16V. Ele entrega mais vigor ao carro e seus 120/110 cv, com etanol/gasolina, se traduzem em um desempenho de fato mais instigante que os 104/101 cv do propulsor antigo. O torque máximo de 16,8/15,8 kgfm só aparece a 4 mil rpm, mas 85% dele já se mostra a 2 mil giros. Ou seja, o hatch entrega boa agilidade nas ultrapassagens e retomadas. O câmbio manual de cinco marchas tem engates precisos e trabalha em boa sintonia com o motor. Nota 8.
Estabilidade – O apelo off-road da versão Rallye deixa o modelo 28 milímetros mais elevado que a versão convencional do Gol. Com isso, as rolagens de carroceria parecem mais perceptíveis, embora sutis. A suspensão tem uma calibragem mais rígida, o que favorece o condutor nas estradas. O resultado é um veículo bem ajustado e na mão do motorista. Nota 8.
Interatividade – O Gol não é um carro recheado de recursos. Seu quadro de instrumentos é relativamente simples. Todos os comandos estão ao alcance das mãos e são bem intuitivos. O volante multifuncional entrega conforto e praticidade. Nota 7.
Consumo – O InMetro não recebeu nenhuma unidade do Gol Rallye para medição. Durante a avaliação, o carro conquistou média combinada (entre cidade e estrada) de 8,3 km/l com etanol no tanque. Nota 7.
Conforto – O entre-eixos de 2,47 metros não confere ao Gol um espaço generoso. Para quem vai à frente, é fácil se acomodar bem sem se preocupar com o comprimento das pernas, por exemplo. Mas os ocupantes de trás dependem da “generosidade” dos passageiros dianteiros para desfrutarem de algum conforto. O motor mais propício a trabalhar em giros elevados – o torque máximo só aparece aos 4 mil giros – implica em um isolamento acústico menos eficiente. E a suspensão firme não absorve com competência as irregularidades do asfalto brasileiro. Nota 6.
Tecnologia – O Gol Rallye é feito a partir de uma simplificação da plataforma usada no hatch Polo, com 13 anos de vida. Já o motor é o novo EA211 1.6 16V, que com bloco e cabeçote em alumínio e sistema variável de válvulas na admissão, só é utilizado, até o momento, nesta configuração do Gol e na Saveiro Cross. Em relação à segurança, o Gol oferece o mínimo exigido por lei. Não estão disponíveis nem airbags laterais, nem controle de estabilidade, por exemplo. Nota 7.
Habitabilidade – As portas têm um bom ângulo de abertura e há muitos porta-objetos espalhados pelo carro capazes de atender às necessidades dos passageiros. A posição de dirigir é facilmente encontrada, pelas regulagens nos bancos simples e eficientes. Mas a altura baixa do teto prejudica principalmente os ocupantes mais altos que tentam se acomodar no assento traseiro. E em função do entre-eixos de 2,47 m, não há muito espaço para pernas e joelhos. O porta-malas tem capacidade de 285 litros, na média da categoria. Nota 7.
Acabamento – Os arremates são precisos, sem rebarbas aparentes. Os materiais plásticos parecem de boa qualidade, mas sem requinte. O volante multifuncional tem desenho interessante e o rádio recebe um acabamento em preto brilhante em seu contorno. Mesmo assim, o interior do Gol Rallye é simples demais, levando-se em consideração sua faixa de preço. Não há qualquer atmosfera de sofisticação em seu habitáculo. Nota 6.
Design – A linha 2015 do Gol Rallye mantém o mesmo design do ano anterior. Alinhado à identidade visual da Volkswagen, o carro ganha charme extra com os apliques estéticos “lameiros”, enormes faróis de neblina na frente e rodas de 16 polegadas escurecidas. É sem dúvida mais interessante que as configurações sem apelo aventureiro da marca alemã, mas poderia ter se renovado esteticamente para marcar a mudança. Nota 7.
Custo/benefício – Com o câmbio manual da versão avaliada, o Gol Rallye se situa em uma faixa de preço que começa nos R$ 50.820. Completo,na cor especial laranja, chega a R$ 53.941 e é o mais caro entre os rivais diretos. O moderno Hyundai HB20X, que parte de R$ 49.325, chega ao máximo de R$ 53.120 na cor especial marrom, mas que tem sistema de áudio com navegação e motor mais potente. Já o Toyota Etios Cross tem preço ainda menor. Parte de R$ 48.240, mas não tem muitos recursos – sequer um simples computador de bordo – e é bem menos potente. Completo vai a R$ 50.590. De qualquer forma, o Gol Rallye é o mais caro de todos. Nota 6.
Total – O Volkswagen Gol Rallye somou 69 pontos em 100 possíveis.
Impressões ao dirigir
Pitada de agressividade
No primeiro momento, o contato com o Gol Rallye 2015 causa uma inequívoca sensação de “déjà vu”. Afinal, o carro é absolutamente igual ao anterior. Só a inscrição “Rallye” presente na fina grade dianteira mudou de lado – foi para a direita – e o mesmo nome que identifica a versão deixou de ser em adesivo plástico na traseira e agora é em letras cromadas. De resto, tudo é igual. A “roupagem” lameira se mantém intacta, com faróis de neblina avantajados e para-choques que dão certo ar robusto ao carro. Mas, é verdade, trata-se de um visual capaz de agradar quem busca a imagem off-road para desfilar seu automóvel nas estradas e ruas asfaltadas dos centros urbanos. Ainda mais na cor do modelo testado, a especial Laranja Canyon.
Mas basta colocar o Gol Rallye à prova na avaliação de desempenho para ver que o grande trunfo da mudança se encontra mesmo escondido sob o capô. Presente apenas nesta configuração do hatch e na picape Saveiro Cross, o novo motor EA211 1.6 16V surpreende pela desenvoltura tanto em trajetos curtos, na cidade, quanto em viagens mais longas, em velocidade de cruzeiro. São bons 120 cv com etanol no tanque disponíveis às 5.750 rpm. Além das duas válvulas a mais por cilindro e dos 16 cv extras em relação ao EA111, o novo motor EA211 1.6 16V utiliza sistema de arrefecimento com duplo circuito e partida a frio – que dispensa o “tanquinho” de gasolina – e entrega melhor torque. Agora são 16,8/15,8 kgfm, no lugar dos 15,6/15,4 kgfm anteriores. Eles aparecem por completo apenas às 4 mil rpm, mas 85% já ficam disponíveis aos 2 mil giros. O que confere ao propulsor um bom desempenho mesmo em regimes mais baixos – característica valorizada por quem prioriza o uso urbano.
Com câmbio manual de cinco marchas – o Gol Rallye também é vendido com transmissão automatizada de cinco velocidades –, os engates são precisos e a impressão que se tem é de um trem de força que trabalha em constante sintonia. Há a indicação, no painel de instrumentos, sobre a melhor marcha a ser usada para favorecer a eficiência energética. É claro que, nesse caso, é preciso adotar uma direção menos “raivosa”, com trocas rápidas e o motor operando em rotações baixas. Com esse comportamento, o consumo de combustível é um ponto a favor. Durante a avaliação, o modelo chegou a registrar em seu computador de bordo consumo de quase 12 km/l abastecido com etanol, na estrada.
A suspensão rígida favorece o tráfego em piso liso, mas compromete o conforto dos passageiros diante das constantes irregularidades das ruas brasileiras. E seus 28 mm a mais de altura não chegam a prejudicar a estabilidade do Gol, mas tornam as rolagens de carroceria mais perceptíveis. De qualquer forma, não há sensação de insegurança. Mesmo em uma sequência de curvas e com velocidade elevada. Como a maioria dos carros com visual off-road vendidos no Brasil, o Gol Rallye foi feito mesmo para rodar no asfalto, não na terra.
Ficha técnica
Volkswagen Gol Rallye 1.6 16V
Motor | Bicombustível, 1.598 cm³, dianteiro, transversal, quatro cilindros em linha, quatro válvulas por cilindro e comando variável de válvulas. Injeção multiponto sequencial e acelerador eletrônico |
---|---|
Transmissão | Câmbio manual com cinco marchas à frente e uma a ré. Tração dianteira. Não dispõe de controle de tração |
Potência máxima | 110 cv e 120 cv a 5.750 rpm com gasolina e etanol |
Torque máximo | 15,8 kgfm e 16,8 kgfm às 4 mil rpm com gasolina e etanol |
Aceleração de 0 a 100 km/h | 9,9 e 9,5 segundos com gasolina e etanol |
Velocidade máxima | 184 km/h e 190 km/h com gasolina e etanol |
Diâmetro e curso | 76,5 X 86,9 mm |
Taxa de compressão | 11,5:1 |
Freios | A disco na frente e a tambor atrás, com ABS e EBD |
Suspensão | Dianteira independente do tipo McPherson, com braços triangulares transversais e barra estabilizadora. Traseira com eixo de torção com braços longitudinais. Não dispõe de controle de estabilidade |
Carroceria | Hatch em monobloco com quatro portas e cinco lugares. Com 3,92 metros de comprimento, 1,90 m de largura, 1,49 m de altura e 2,47 m de distância entre-eixos. Airbags frontais. Não dispõe de airbags laterais ou de cabeça |
Peso | 1.043 kg |
Capacidade do porta-malas | 285 litros |
Tanque de combustível | 55 litros |
Produção | São Bernardo do Campo/SP |
Lançamento da versão atual | 2013 |
Itens de série | Computador de bordo, sensor de estacionamento traseiro, ar-condicionado, chave com comando remoto, desembaçador traseiro, direção hidráulica, retrovisores elétricos com função tilt-down, faróis de neblina, pedaleiras esportivas, espoiler no teto, rodas de liga leve com 16 polegadas, sistema de som com rádio AM/FM, CD-Player, Bluetooth, MP3 player e entradas USB e auxiliar, vidros e travas elétricos e volante multifuncional |
Preço | R$ 50.820 |
Opcionais | Pintura laranja ou amarela, lateral dos bancos e revestimento da porta em couro, controle de cruzeiro, retrovisor interno eletrocrômico e sensores de chuva e crepuscular |
Preço completo | R$ 53.941 |
Autor: Márcio Maio (AutoPress)
Fotos: Jorge Rodrigues Jorge/Carta Z Notícias