O Brasil viveu um período em sua história recente em que as importações estavam proibidas no segmento automotivo e também alguns outros segmentos da economia brasileira, que foi entre 1976 e 1990. Durante este período, o mercado de carros no Brasil era bastante limitado, sendo que os brasileiros tinham que contentar apenas com o que era fabricado pelas consideradas quatro grandes montadoras que estavam estabelecidas aqui no Brasil, que eram Fiat, Ford, GM e Volkswagen.

Emis Art

Mas é claro que por mais que um cenário de crise sempre existe espaços para algumas coisas interessantes e inovadoras, já que é justamente durante os períodos mais complicados é que o homem consegue se tornar mais criativo para resolver os seus problemas.

Como os brasileiros tinham que se contentar apenas com o que vinha das produtoras que estavam instaladas por aqui, sendo que estas também não podiam se arriscar já que a economia brasileira da época também não tornava o clima muito amistoso para grandes experimentos, o cenário acabou se tornando favorável para o surgimento dos chamados construtores independentes. O objetivo geralmente destas pequenas montadoras era lançar novos projetos que fossem vendidos para grupos mais seletos de pessoas, que tivessem um poder aquisitivo maior.

Emis Art 1985

Foi justamente assim que surgiu um dos clássicos brasileiros que acabou ganhando fama justamente por seu formato um tanto quanto diferente para os padrões da época, o Emis Art. Para as pessoas que hoje ficam babando cada vez que passam por um modelo da Mini, este carro poderia ser a sua escolha na época se tivesse dinheiro suficiente para bancar uma “extravagância” como esta. Era um carro urbano de apenas dois lugares que foi desenvolvido por uma construtora independente chamada Alfredo Soares Veiga e produzido por Eduardo de Miranda Santos, famoso pela qualidade de seus bugues. O projeto realmente foi tão interessante que ele acabou até ficando ainda mais famosos depois que apareceu em uma novela da Rede Globo estrelado por Edson Celulari e Débora Bloch. E claro que acabou despertando a curiosidade de diversas pessoas.

Vários em um

Como era tradicional neste tipo de projeto, era possível identificar diversos elementos de outros carros em apenas um. Mas uma das grandes novidades no lançamento do veículo e que ele foi feito baseado em um chassi próprio. O carro tinha um tamanho considerado pequeno para os padrões da época, até mesmo para o Fusca, já que ele tinha apenas 3,10 metros de comprimento. O para-brisa, as portas e os vidros laterais foram pegos do Chevette e o vídeo traseiro vinha do Marajó. Já as lanternas do carro foram pegas do Fiat Panorama, e todo o resto do carro era dos modelos da Volks.

Emis Art 1986

Como o seu construtor tinha uma certa experiência na fabricação dos modelos bugues, o Emis Art também pegou algumas características empresadas deste veículo, como o material da carroceria, que era todo feito com fibras de vidro, que era imune a corrosão. Como era um veículo de linhas simples e até mesmo agradáveis, o carro despertava simpatia por onde passava.

Ele faia sucesso em qualquer lugar que chegasse, mesmo que algumas pessoas olhassem de cara feia para ele, geralmente acabavam gostando do carro depois de algum tempo se acostumando para o que estava diante da pessoa. Além disso, o modelo tinha tanta personalidade e era tão bem resolvido que o fato de ter peças de outros carros visíveis não prejudicava em nada o desenho de um modo geral do veículo. Parecia que, por mais incrível que podia parecer, todas aquelas peças foram desenvolvidas para aquele projeto.

Desempenho satisfatório

Além de apresentar um desenho interessante o carro também não decepcionava quando era testado nas pistas. Como ele era considerado um veículo leve, já que pesava apenas 730 Kg, ele fazia de 0 a 100 km/h em 13,93 segundos, apenas 0,5 mais lento que o Escort XR3. O consumo era de 10,09 km/l na cidade e 13,17 na estrada, marcas excelentes para a época. Um outro ponto interessante e a favor do Art era sua estabilidade na pista, que era muito competente e podia até mesmo deixar para trás alguns modelos de outras montadoras grandes que foram lançados na mesma época. A única dificuldade mais visível era quando o motorista precisava fazer curvas em velocidades mais altas, obrigando a reduzir.

Emis Art restaurado

Mas é claro que o carro também possuía suas limitações. A primeira de todas era que ele não tinha nenhum porta-malas, ou seja, era realmente um carro apenas para a pessoa dar uma volta na cidade, sem ter que carregar nada. O único espaço onde as pessoas poderiam levar alguma coisa era atrás dos bancos, mas mesmo assim cabia pouca coisa. Além disso, um outro problema enfrentado pelo carro e que ele fazia um grande barulho, sendo que não era recomendado para as pessoas ficarem muito tempo dentro do veículo em viagem.

Mas apesar de ter uma proposta interessante, o grande impeditivo para o Emis Art se popularizar era o alto preço. A produção acabou sendo encerrada no final da década de 80 com apenas 153 unidades produzidas.