Considerando os impactos ambiental e econômico, nunca foi tão importante reduzir o consumo de combustível gasto em automóveis, tanto quando transitando em estradas, quanto rodando no trânsito das cidades, sobretudo nos grandes centros urbanos. Ambientalmente, a redução do consumo de combustível está diretamente ligada à redução de emissões dos poluentes do ar atmosférico e dos gases do efeito estufa, que impactam diretamente a saúde da população e contribuem para o aquecimento global. Economicamente, a "conta combustível", tanto do país quanto do cidadão, tem aumentado a cada dia, pesando significativamente no orçamento de ambos. Para tornar o quadro ainda mais crítico, ao perscrutar-se o noticiário dos meios de comunicação, conclui-se que haverá em breve um aumento nos preços dos combustíveis e a possibilidade de desabastecimento não está totalmente descartada.

Tanque cheioA poderosa indústria automobilística mundial está buscando arduamente uma solução para o desafio que a "conta combustível" tem colocado a nível planetário. Neste ano de 2013, de 14 a 27 de janeiro, o North American International Auto Show (NAIAS), ou simplesmente “Salão de Detroit”, está apresentando diversos automóveis nas categorias de veículos elétricos e de veículos híbridos, que consomem nenhum ou muito pouco combustível, com o objetivo exatamente de mitigar os efeitos deletérios ao meio ambiente e à economia.

Segundo o Programa Brasileiro de Etiquetagem Automotiva do Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia), também conhecido como "Ranking de Consumo", divulgado em 8 de janeiro, que testou o consumo de combustíveis dos carros que estão, ou estarão, disponíveis nas lojas brasileiras, os três carros híbridos testados atingiram os menores valores de consumo de combustível. Na estrada, o consumo dos carros híbridos está na faixa de 14,5 a 17,0 quilômetros por litro de gasolina, sendo que esses automóveis não usam etanol. Um destaque é que o custo de aquisição desses veículos está acima de R$ 100.000,00 e não se sabe o custo e a dificuldade de manutenção dos mesmos. Para os veículos elétricos e híbridos atingirem o patamar de consumo da grande maioria da população, é necessário ainda que a tecnologia envolvida avance, sobretudo nos quesitos de simplicidade e de redução de custos.

Existe uma maneira simples da maioria dos cidadãos contribuírem para a redução da "conta combustível"? Sim, existe e ela pode ser colocada em prática sem dificuldades, bastando que haja uma mudança no modo de conduzir nossos automóveis.

A mudança que se propõe é que, sempre que possível, os automóveis sejam conduzidos conscientemente, nas estradas, em uma velocidade média de 70 km/h em quinta marcha. A condição sempre que possível deve ser avaliada em função das condições do tráfego, por exemplo, se a velocidade proposta não é tão baixa a ponto de colocar em risco a condução do veículo. A quinta marcha implica que a rotação do motor seja a mais baixa possível, um pouco acima da rotação de marcha lenta. Nos declives das estradas não se deve acelerar o automóvel além da velocidade de embalo decorrente da ação da força da gravidade, ou seja, não se deve pisar no acelerador, deixando que o veículo arraste o motor (condição conhecida como freio motor).

Economize no bolsoA medida de limitar a velocidade nas estradas já foi obrigatória no passado, logo depois da primeira crise do petróleo de 1973, primeiramente nos EUA e depois no Brasil. Por ter sido obrigatória, tornou-se impopular e não teve vida muito longa. Há que se considerar que os controles de operação dos motores automotivos da época eram totalmente diferentes dos modernos controles eletrônicos de operação da atualidade, implicando que hoje a economia de combustível a baixa velocidade pode ser muito maior. Além do mais, os motores atuais não se comparam em desempenho com os motores da década de setenta. O que se propõe é que a medida seja colocada em termos de recomendação, não de obrigação. Os usuários seriam exortados a rodarem em baixa velocidade, sempre que possível, a partir do esclarecimento de que trafegar a 70 km/h economiza combustível, além de contribuir para uma maior segurança, uma vez que o excesso de velocidade é a segunda causa de acidente s nas estradas, ficando atrás somente das ultrapassagens perigosas.

A título de comprovação da eficácia da mudança na maneira de conduzir sugerida, um teste preliminar mostrou que um veículo sub compacto popular, que utiliza um motor 1.0-8V, que no "Ranking de Consumo" do INMETRO apresenta uma média de consumo de etanol entre 9,5 a 10 km/l, nas condições de direção consciente recomendadas apresentou um consumo de 18,34 km/l, quer dizer, um consumo de etanol da ordem de duas vezes menor. Vale observar que esse consumo é ainda menor que o consumo dos veículos híbridos avaliados pelo INMETRO, desconsiderando que os veículos híbridos são da categoria dos veículos grandes.

A direção consciente, a uma velocidade média de 70 km/h, traz alguns inconvenientes que precisam ser levados em consideração, para a tomada de decisão. O tempo de viagem aumenta da ordem de 57%, se comparada com uma velocidade anterior de 110 km/h. O fluir do trânsito, ou as condições de segurança podem requerer uma velocidade maior. Por outro lado, a vida útil de outros sistemas do veículo serão beneficiados, tais como pneus e freios.

A Equipe de Eficiência Energética da Engenharia Mecânica da UFJF, formada por dois professores e nove alunos, está empenhada em demonstrar a real economia de combustível obtida com o tráfego de automóveis nas estradas, em uma velocidade média de 70 km/h em quinta marcha, e para tanto está planejando um série de testes na BR040, no trecho de Juiz de Fora a Petrópolis. Diferentes automóveis populares serão testados, com gasolina e com etanol, e a economia comparativa entre o consumo com deslocamento a velocidade de 70 km/h e a velocidade a 100 km/h será quantificada. O consumo reduzido de 18,34 km/l de etanol, obtido preliminarmente, com um veículo sub compacto popular, que utiliza um motor 1.0-8V, será ratificado e generalizado para outros veículos nacionais.

A equipe espera que o resultado desse trabalho contribua de maneira significativa para o equacionamento da "conta combustível" do país, reduzindo custos ambientais e financeiros. Não se deve obrigar a economizar combustível, mas é dever da engenharia oferecer alternativas para as pessoas atuarem conscientemente.


Autor: Marco Alves
Prof. Adjunto Dep. de Engenharia de Produção e Mecânica
Faculdade de Engenharia
Universidade Federal de Juiz de Fora
marco.alves@engenharia.ufjf.br

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