Buenos Aires/Argentina – A criação do Mercosul gerou algumas distorções. No caso do mercado automotivo, o peso do Brasil é bem maior que o da Argentina, mas é lá que muitas novidades surgem primeiro. A explicação está nas regras para homologação de novos veículos, que são bem mais simplificadas no país vizinho e facilitam a importação de pequenas quantidades de qualquer modelo. Isso ajuda a explicar porque tantos carros com estreia agendada para o Brasil nos próximos meses fizeram sua "avant-première" no 6º Salão Internacional do Automóvel de Buenos Aires, que se realiza de 20 a 30 de junho no centro de exposições La Rural, na capital argentina.

6º Salão Internacional do Automóvel de Buenos Aires

As expectativas dos organizadores do evento são muito otimistas. Esperam que 800 mil pessoas percorram os estandes dos mais de 100 expositores, incluindo empresas de autopeças, serviços automotivos, caminhões – MAN, Iveco, Mercedes-Benz e Scania estão presentes – e até motocicletas – as da marca italiana Ducati, controlada pela Audi, que cedeu para elas parte do seu estande. Mas as novidades que atraem mais atenção estão mesmo nas áreas das 20 marcas de automóveis presentes. Muitas das novidades apresentadas no evento são de automóveis de passeio com motores diesel, proibidos no Brasil, mas bastante populares no mercado argentino. Modelos como o tecnológico Peugeot 508 RXH Full Hybrid Diesel certamente irão atrair a atenção do consumidor argentino. Para os brasileiros, é bem mais interessante a chance de conhecer algumas novidades que em breve ajudarão a engrossar os engarrafamentos nacionais.

A configuração que mais concentrou lançamentos regionais no Salão de Buenos Aires 2013 foi a de sedãs. Vários três volumes que serão lançados no Brasil nos próximos meses já estão lá, de todos os tamanhos e categorias. Do básico Renault Logan, que apresentou aos portenhos o "new look" que só chegará ao mercado regional no primeiro trimestre de 2014, ao requintado Mercedes-Benz Classe E, com sua nova geração já agendada para o mês que vem. Entre os médios, a grande novidade é o argentino Citroën C4 Lounge, que substituirá o compatriota C4 Pallas no último trimestre desse ano. Na mesma época deve chegar o concorrente Ford Focus de terceira geração, também presente ao evento portenho. Produzida na Argentina, a nova geração do médio chega em versões sedã e hatch. Entre os médio-grandes, foi antecipada em Buenos Aires uma briga que em breve estará nas ruas nacionais. O novo Honda Accord, que chega ao Brasil em julho, disputa a atenção no evento portenho com o Nissan Altima, que chega às concessionárias brasileiras no último trimestre do ano.

Salão do Automóvel de Buenos Aires

Mas nem só de sedãs vive o Salão de Buenos Aires. Entre os hatches, além da versão dois volumes do novo Ford Fusion, marcou presença no evento o Volkswagen Golf VII, que deve chegar ao Brasil ainda esse ano. Outro que também deve desembarcar no segundo semestre é o Chevrolet Tracker, que pretende entrar na briga dos utilitários esportivos compactos com Ford EcoSport e Renault Duster. Entre os esportivos, a novidade para o mercado brasileiro é o facelift do Peugeot RCZ, que desembarca no Brasil em julho. Já o monovolume compacto Fiat 500L não será importado para o Brasil, segundo a marca italiana. Mas continua cotadíssimo para virar "made in Brazil", seja em Betim ou na futura fábrica pernambucana da marca.

Entre tantos gigantes multinacionais da indústria automotiva, a pequena, mas centenária Scuderia Bucci defende o inabalável orgulho cívico argentino. Em seu estande num pavilhão menos badalado, dedicado a réplicas e modelos clássicos, o próprio presidente da empresa, Pablo Bucci, apresenta o belo Bucci Special, com um motor V12 de 650 cv. O superesportivo argentino ainda é um protótipo, mas seu presidente sonha alto. "Se encontrarmos algum grande fabricante de automóveis que queira realizar uma parceria conosco, o Bucci Special pode começar a ser produzido rapidamente", avisa Pablo. Em meio a um mercado automotivo regional tão impregnado de realidade e competitividade, o Bucci Special representa uma instigante pitada de sonho.

Destaques do 6º Salão Internacional do Automóvel de Buenos Aires

Bucci Special – É o grande xodó argentino do evento. O Special é o resultado de um projeto idealizado por Clemar Bucci, argentino ex-piloto de Formula 1, e seu sobrinho neto, Pablo. Quando Clemar morreu em 2011, ainda no início do desenvolvimento, Pablo continuou com a ideia. O modelo chega agora à sua forma final no Salão de Buenos Aires, mas ainda longe de chegar às lojas. O atual presidente da marca, Pablo Bucci, admite que o Special só será produzido se alguma grande empresa automotiva se interessar pelo projeto e ajudar na fabricação. O protótipo leva o motor do Mercedes-Benz SL 600, um V12 de 650 cv, acoplado a um câmbio de sete marchas.

Bucci Special

Chevrolet Tracker – É a aposta da Chevrolet para a briga com Ford EcoSport e Renault Duster nos utilitários compactos. O modelo chega agora ao mercado argentino com motor 1.8 16V – o mesmo do médio Cruze – e com boa lista de equipamentos. A venda no Brasil já chegou a ser dada como certa, mas os executivos da marca presentes no Salão admitiram apenas que existe um grande interesse. Alegam que, em virtude das cotas de importação entre Brasil e México, é preciso checar a viabilidade da importação da fábrica mexicana da marca, de onde já chegam o Sonic e a Captiva. Tudo só para criar algum suspense – o Tracker vem mesmo para o Brasil e deve custar na faixa dos R$ 60 mil.

Chevrolet Tracker

Citroën C4 Lounge – O sedã médio chega para aposentar o C4 Pallas, lançado por aqui em 2008. E promete ter alguns avanços importantes. Principalmente na parte mecânica. O motor 2.0 de 151 cv vai continuar, mas agora passa a ser aliado a uma transmissão automática de seis velocidades contra a antiga e ultrapassada de quatro relações. Na versão topo ainda vai aparecer o motor 1.6 THP de 165 cv. O sedã deve chegar ao Brasil no final do ano, provavelmente em novembro, com preços na casa dos R$ 60 mil.

Citroën C4 Lounge

Fiat 500L – A Fiat usou o motorshow portenho para lançar oficialmente o 500L por lá. O monovolume usa plataforma do Punto, mas com visual derivado da família 500. Fabricado na Sérvia, ele tem preço na ordem de R$ 60 mil na Argentina e traz motor 1.4 16V MultiAir de 105 cv. Durante a coletiva oficial, a Fiat aproveitou para afirmar que, ao menos por enquanto, o 500L não será vendido no Brasil. Mas o modelo está cotado para produção para Betim, em Minas Gerais, ou na nova fábrica da empresa em Goiana, Pernambuco.

Fiat 500L

Ford Focus – Demorou. Mas finalmente a terceira geração do médio será vendida no Mercosul. O modelo será fabricado em General Pacheco, próximo a Buenos Aires, e exportado de lá para o mercado brasileiro. No Brasil, a expectativa é que hatch e sedã desembarquem ainda este ano, no último trimestre. O novo Focus vai ter motorizações renovadas. O de entrada vai receber o 1.6 16V Sigma do New Fiesta com 130 cv. Já o topo vai ser equipado com uma versão atualizada do 2.0 Duratec. Equipamentos como controle de estabilidade, sistema de som com tela sensível ao toque, seis airbags e bancos com ajustes elétricos estão no pacote.

Novo Ford Focus

Mercedes-Benz Classe E – O intervalo entre o lançamento de um carro no Mercosul e na Europa está cada vez menor. O Classe E reestilizado teve vendas iniciadas no exterior em no primeiro trimestre deste ano e já desembarca por aqui no mês que vem. Primeiro vêm as versões sedã, cupê e conversível, depois virão as variantes preparadas pela AMG. O Classe E passou por uma forte modificação no visual, com direito a uma nova dianteira, sem os faróis separados.

Mercedes-Benz Classe E

Nissan Altima – A Nissan vai entrar no segmento de sedãs médios-grandes com o Altima, modelo importado dos Estados Unidos. A briga promete ser boa. A concorrência conta com Ford Fusion, Volkswagen Passat e ainda os futuros Chevrolet Malibu e Honda Accord. O modelo deve chegar aqui no final do ano com motorização única: um 2.5 quatro cilindros de 185 cv e câmbio automático CVT. A expectativa é que ele fique na faixa dos R$ 100 mil.

Nissan Altima

Peugeot RCZ – A Peugeot promoveu um leve face-lift no RCZ para deixá-lo de acordo com a atual identidade visual da marca. Assim, faróis, grades e extremidades ficaram menos “pontudas” e ganharam um formato mais suave. Previsto para chegar aqui no mês que vem, o cupê reestilizado vai manter o eficiente conjunto mecânico formado pelo motor 1.6 THP de 165 cv e pela transmissão automática de seis relações.

Novo Peugeot RCZ

Renault Logan – O Logan finalmente vai perder aquele aspecto de carro da década de 1980. A Dacia – marca romena que desenvolve e vende o carro na Europa – promoveu uma profunda reestilização no sedã que agora traz um visual bem mais agradável. Na "versão Renault", a grade agora valoriza bastante o losango da marca. Por dentro, mais melhorias. O grande espaço interno se mantém, mas o aspecto e o acabamento melhoram bastante com um desenho mais moderno. O novo Logan é esperado para o Brasil no primeiro trimestre de 2014. Já o hatch Sandero será reestilizado apenas no segundo semestre de 2014.

Novo Renault Logan

Volkswagen Golf VII – A presença da sétima geração do Golf na Argentina nem chega a ser grande surpresa. Afinal, o hatch sempre foi vendido por lá em suas versões mais caras através de importação. A grande notícia é que o Golf VII realmente vai chegar ao Brasil. O modelo deve aparecer no último trimestre, importado do México. Depois, a expectativa é que ele seja feito em São José dos Pinhais, no Paraná, acabando com o atraso de 15 anos e três gerações do atual Golf brasileiro.

Volkswagen Golf VII - 7ª geração


Autor: Luiz Humberto Monteiro Pereira (Auto Press)
Fotos: Pablo Bucci com o Bucci Special, Chevrolet Tracker, Citroën C4 Lounge, Fiat 500L, Ford Focus hatch, Mercedes-Benz Classe E, Nissan Altima, Peugeot RCZ, Renault Logan e Volkswagen Golf VII|: Luiz Humberto Monteiro Pereira