O Brasil tem um dos trânsitos mais violentos do mundo. E quando se trata de caminhões, o cenário é bastante preocupante. Estatísticas de entidades e empresas ligadas ao setor de transporte de cargas estimam que anualmente ocorrem cerca de 100 mil acidentes com o envolvimento de veículos de carga nas rodovias brasileiras. Calcula-se ainda que estes desastres acarretam a morte de aproximadamente 8 mil pessoas a cada ano, sendo 4 mil só de caminhoneiros. É nesse panorama que o Grupo Volvo realizou em setembro o Seminário de Tecnologias de Segurança e Comportamento Seguro, em São Paulo. A empresa sueca – que produz caminhões, ônibus, equipamentos de construção, motores marítimos e industriais – trouxe ao Brasil seu diretor global de segurança, Carl-Johan Almqvist, que traçou planos e perspectivas para um transporte de cargas mais seguro nas estradas brasileiras. Segundo ele, o caminho será a mistura de novas tecnologias com mudança de comportamento dos envolvidos.

O executivo escandinavo foi taxativo e revelou um importante objetivo que a Volvo busca. “Alguns dizem que é impossível, mas o único número aceitável de mortes e ferimentos no trânsito é zero”, determinou Almqvist. O diretor da Volvo comparou os registros brasileiros com outros países para mostrar que os índices por aqui são alarmantes. Segundo o levantamento feito pela marca sueca, são 19 mortes a cada 100 mil habitantes. Esse nível é bem maior do que o registrado na Alemanha, de quatro em 100 mil pessoas, e superior ao da Suécia, onde o indicador é de apenas três. No lado econômico, somente em acidentes no transporte rodoviário de carga, estimam-se aproximadamente R$ 10 bilhões em prejuízos anuais.

Seminário de Segurança e Comportamento no Trânsito da Volvo

E para minimizar mortes e prejuízos, a Volvo aposta na tecnologia. Não na criação de dispositivos mirabolantes, mas sim na expansão do uso de equipamentos já existentes e principalmente os de segurança ativa. Almqvist conta que na Europa, a partir de 2015, algumas tecnologias – que já equipam modelos premium – vão se tornar obrigatórias. A legislação naquele continente exigirá que os caminhões saiam de fábrica com o LKS – Monitoramento da Faixa de Rodagem –, um dispositivo que emite um sinal sonoro quando o veículo cruza a faixa sem sinalizar. A lei europeia também obrigará a instalação do AEBS, um sistema avançado de freios de emergência.

Mas a Volvo foi além e já trabalha pensando no futuro. A marca sueca fez um estudo com uma frota de 30 caminhões equipados com GPS e câmeras que mostram o movimento do motorista – pés, face, mãos – e o entorno do caminhão. “Agora a Volvo quer descobrir o que acontece nos momentos que antecedem um acidente e saber como evitá-lo”, disse o diretor. As milhares horas de gravação geraram um relatório completo que, por sua vez, mostrou que 90% dos incidentes estão relacionados com os motoristas. E que, além disso, 75% dos impactos são frontais. “Existem os problemas das estradas ruins, o caminhão pode apresentar um problema, mas nossa grande preocupação é o motorista”, aponta Almqvist.

Para auxiliar esses caminhoneiros e evitar tragédias, a Volvo possui sistemas como o ACC – controle de cruzeiro adaptativo. O motorista programa a velocidade que deseja andar e, caso um veículo em velocidade menor entre na frente, o caminhão reduz a velocidade automaticamente para manter a distância. Se o veículo da frente frear, o pesado acompanha a frenagem. Segundo a fabricante sueca, esse equipamento reduz em até 80% o número de situações críticas. O ACC, inclusive, é a próxima tecnologia cotada para vir de série nos caminhões da Volvo.

Outro apêndice tecnológico no intuito de salvar os motoristas e os lapsos de atenção é o alerta de colisão com frenagem emergencial – que também será obrigatório na Europa a partir de 2015.  O dispositivo combina um radar e uma câmera que trabalham juntos para identificar e monitorar os veículos da frente. Quando o sistema detecta o perigo, uma luz vermelha é ativada no para-brisa para voltar a atenção do motorista à estrada. No entanto, se o caminhão não receber nenhum comando de freio do motorista, o sistema passa a piscar uma luz vermelha no para-brisa e libera um aviso sonoro. Se ainda assim não houver reação, o sistema aciona, de forma moderada, os freios. E finalmente, em casos mais extremos, ele ativa o freio de mão e toma todas as ações necessárias para que o caminhão pare completamente de forma segura. Por enquanto, o novo sistema está presente apenas no novo Volvo FH, lançado na Europa.

Para a Volvo, toda essa parafernália tecnológica é parte da solução do problema. A figura do motorista continua a ser a peça fundamental na visão da fabricante. “Nossa principal tarefa é apoiar o motorista e, dentro do possível, facilitar o seu trabalho. Mas a tecnologia não pode e nem deve nunca assumir a responsabilidade por dirigir um caminhão”, destaca o executivo. No Brasil, a Volvo promove treinamentos para os caminhoneiros com o Projeto Transfomar, que já formou quase mil motoristas. O curso de 42 horas é voltado para o comprometimento dos motoristas com um trânsito mais seguro nas estradas, mas também orienta para uma condução mais eficiente.


Autor: Raphael Panaro (Auto Press)
Ilustração: Afonso Carlos/Carta Z Notícias