Ninguém tem dúvidas que a redução do IPI em diversos setores da economia brasileira foi algo benéfico. Afinal de contas, o brasileiro está entre os povos que mais pagam impostos no mundo, encarecendo boa parte dos itens que nos países desenvolvidos são bem mais baratos. Com esta redução do IPI muitos brasileiros correram para dentro das concessionárias para comprar os carros novos pagando menos, mas isso acabou tendo consequências para um outro setor do mercado automobilístico, o de venda de carros seminovos. Com a desvalorização dos modelos usados e com os estoques cada vez mais cheios, concessionárias estão fechando as portas.

Carros usados cada vez mais desvalorizados no Brasil

De acordo com as informações que foram anunciadas esta semana em relação ao desempenho do mercado automotivo como um todo, o desconto no Imposto sobre Produtos Industrializados para os carros novos este foi um dos segmentos que ajudou o crescimento da economia em 0,6% no terceiro trimestre do ano se comparado ao mesmo período no ano passado. Mas o grande problema é que este crescimento não acabou sendo promovido em todos os setores devido a decisões do governo que, por exemplo, não oferece nenhum tipo de incentivo para a venda dos carros seminovos, ignorando este importante setor do mercado dentro deste segmento da economia.

De acordo com uma pesquisa que foi feita recentemente junto aos lojista sde concessionárias ficadas na venda dos seminovos em São Paulo, a desvalorização dos carros seminovos ficou entre 10% e 20%. Poderia ser considerado uma boa notícia caso houvesse um aumento nas vendas deste tipo de carro que compensasse o valor mais baixo, mas isso não aconteceu. O mercado se mostrou menor do que grande parte dos economistas previam no Brasil, já que ao invés do preço baixo ajudar as pessoas a comprarem os carros usados, simplesmente empurraram todos para a compra dos novos e deixando os vendedores dos carros já rodados a ver navios.

De acordo com o depoimento de empresários de lojas multimarcas e concessionárias de seminovos, muitas empresas estão passando por sérias dificuldades ao longo deste ano, e o governo acabou simplesmente fechando os olhos para este nicho de mercado. Muitos reclamam que empresas simplesmente tiveram que fechar as portas e encerrar as atividades porque simplesmente não conseguiam mais pagar as despesas fixas mensais com a queda nas vendas dos carros.

Todos eles reclamam que as ações do governo podem até ter criado um cenário positivo para a venda de carros, mas acabou criando um racha no mercado levand a quebra das empresas. E o resultado quando um setor vai mal sempre é aumento nas taxas de desemprego. Os dados que foram divulgados recentemente pela Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) confirmam que o setor de seminovos está passando por grandes apuros. Este ano, mais de 4,5 mil lojas de seminovos fecharam as portas nos últimos 90 dias.

De acordo com os dados da pesquisa, a média de queda de movimento nas grandes concessionárias e lojas multimarcas com foco na venda de seminovos foi de 50%. Muitas lojas que conseguiam vender 30 carros por mês este ano passaram a vender menos de 15. Geralmente novembro é um mês forte neste segmento porque as pessoas já estão planejando o gasto de ganhos extras como o décimo terceiro salário e as férias, mas está se mostrando o mês mais fraco em termos de vendas.

Concessionárias com estoque cheio neste final de ano.

A Fenabrave, em contrapartida, argumenta que na verdade este e um ajuste natural do mercado que pode ser visto como um movimento que acaba tirando fora da jogada empresários que não estavam levando o negócio a sério. Mesmo assim, o impacto está sendo grande até mesmo nas cadeias de lojas com diversas unidades.

De olho no desconto

Alguns especialistas também afirmam que muitas pessoas estão se deixando levar pela grande propaganda que o governo conseguiu fazer dos descontos que estão sendo dados para o mercado automotivo de carros novos e fazendo negócios ruins. Muitas concessionárias estão aproveitando a grande procura de consumidores para reduzir o valor que estão aceitando de entrada no carro antigo do cliente. E isso faz muitas vezes com que a pessoa esteja pagando um valor muito parecido com o que pagaria antes da redução do IPI. Mesmo assim, as pessoas continuam de olho apenas no desconto que está sendo oferecido em cima dos carros novos.

Problemas no crédito

Um outro problema que o setor está enfrentando está relacionado a forma com os clientes pagam os veículos seminovos. Nos dois anos anteriores, com o aumento da oferta de crédito logo depois que o vendaval da crise econômica mundial desapareceu completamente, a oferta de crédito era grande e variada. Mas hoje em dia ela acabou se tornando mais seletiva, e no mercado automobilístico os bancos e financeiras estão preferindo oferecer mais linhas de crédito para as empresas que vendem os carros novos, já que terão mais garantis de que realmente vão receber de volta o dinheiro investido.

Presidenta Dilma anunciando a prorrogação do IPI reduzido

Um outro problema é que muitas pessoas que conseguiram pegar crédito fácil acabaram aumentando o índice de inadimplência. Portanto, as pessoas que estão tentando comprar um carro antigo estão tendo dificuldades de conseguir fazer um financiamento, e quando conseguem ainda encontram as taxas de juros maiores do que as praticadas nas vendas de carros novos.

Novos atrativos

Para tentar fugir da crise e tentar chamar mais consumidores para dentro das lojas, as empresas de venda de seminovos estão pensando em algumas alternativas e diferencias para oferecer aos consumidores. Por exemplo, algumas concessionárias passaram a oferecer veículos com garantia de um ano sem nenhum acréscimo por isso. Geralmente as garantias oferecidas para carros seminovos não passavam de três meses devido ao alto risco.
Além disso, estas empresas estão mudando os critérios de compras e de seleção de veículos que serão comprados para serem revendidos, o que permite que os carros tenham mais qualidade e o que também pode dificultar um pouco a vida dos motoristas que estão tentando se livrar do carro antigo.