Como em qualquer fábrica de caminhões, as dimensões impressionam. O local é uma área de mais de 50 mil metros quadrados, com 16 mil m2 de área construída. Uma pista de teste para caminhões fora de estrada, ainda em construção, integra o complexo, em um terreno anexo de 70 mil m2. No prédio principal, com pé direito de mais de 20 metros de altura, pontes rolantes, com capacidade para cinco toneladas de carga, movimentam motores e cabines. O setor de peças tem 1.350 m2 e as cabines de pintura, laboratórios de tintas e centro de treinamentos também contam com amplos espaços. Tudo como em qualquer fábrica de caminhões. Mas não é uma fábrica. Trata-se da Brasdiesel de Caxias do Sul, a maior concessionária Scania do mundo. Acaba de ser inaugurada à margem da rodovia RS-453, conhecida como Rota do Sol, na serra gaúcha. “Dos anos 1990 para cá, os maiores caminhões cresceram de 18 metros para 30 metros. Nossa antiga concessionária na cidade ficou pequena”, justifica Itamar Fernando Zanette, diretor da Brasdiesel, primeira representante da marca sueca no país. Há 60 anos, a empresa atende um total de 356 cidades no Norte do Rio Grande do Sul – além de Caxias do Sul, tem lojas em Garibaldi, Lajeado, Ijuí, Vacaria e Passo Fundo.
Na nova Brasdiesel de Caxias do Sul trabalham 120 pessoas. Em tempos de forte redução nas vendas de caminhões, com revendas fechando em todas as regiões do país, o investimento total de R$ 50 milhões na nova concessionária chama a atenção. Tão vultoso que justificou a presença não apenas das autoridades municipais como também do governador gaúcho, José Ivo Sartori, ao evento de inauguração – uma megafesta que reuniu mais de 3.500 pessoas na noite de 16 de novembro, com direito a shows de samba e sertanejo e exposição de veículos antigos. Mas a ideia da Brasdiesel não é buscar retorno para o investimento apenas vendendo caminhões. Nas concessionárias Scania, a meta é que todos os custos de manutenção sejam cobertos com a venda de serviços de manutenção – assim, toda a margem de lucro com as vendas de veículos pode ser considerada como lucro líquido. “A expectativa é que, com a nova concessionária em Caxias do Sul, com mais espaço para atender melhor o pós-vendas, os nossos negócios na região cresçam mais de 30%”, calcula Zanette.
A concessionária gigante obedece aos modernos conceitos de sustentabilidade. Está equipada com um reservatório de 350 mil litros para uso e reuso da água coletada da chuva. Duas estações de tratamento de efluentes em circuito fechado se encarregam de purificar e evaporar a água que é reutilizada e não volta ao meio ambiente. A iluminação artificial do pátio e das áreas internas tem 100% de lâmpadas em leds, que reduzem o consumo de energia. E a iluminação natural, por meio de claraboias, diminui a necessidade de luz elétrica durante o dia. A água utilizada em lavatórios e rampas de lavagem de peças e veículos é aquecida através de energia solar. A água com óleos, graxas e outros contaminantes fósseis passa pelo evaporador de vácuo, que concentra estas substâncias nocivas e gera água limpa para reutilização na lavagem de peças. O reaproveitamento chega a 95%.
Em termos de equipamentos e tecnologias, o investimento na nova concessionária também foi elevado. As novas torres elevatórias com capacidade para até 8 toneladas permitem a elevação do conjunto cavalo mecânico e carreta. Um dos “xodós” dos mecânicos é o videoscópio, um equipamento que permite visualizar o desgaste interno dos cilindros do motor sem desmontá-lo. E o novo sistema de lubrificação aéreo agiliza a eficiência no abastecimento dos veículos e recolhe o óleo descartado por meio de um sistema aéreo de sucção. “O controle digital que permite a troca de cada tipo de óleo na quantidade exata indicada pelo fabricante, sem desperdício ou sujeira”, comemora Claudio Padilha, gerente geral de pós-vendas da Brasdiesel.
Além do crescimento dos caminhões nas últimas décadas, uma característica local ajuda a explicar as dimensões incomuns da Brasdiesel de Caxias do Sul. “No inverno, a temperatura na região beira zero grau, com sensação térmica negativa. Fica difícil para os mecânicos trabalhar no conserto de uma carreta de 30 metros ao ar livre, expostos a essa temperatura. É preciso ter um local coberto e aquecido onde caibam os veículos”, explica Padilha, gerente geral de pós-vendas da Brasdiesel. Mas o inverno rigoroso não foi o único regionalismo observado na construção da nova concessionária. “A maioria dos frotistas da região são de origem italiana, passionais e extremamente apegados aos seus caminhões. Assim, fizemos uma sala de espera com uma ampla área envidraçada com vista para a área das oficinas. Lá, o caminhoneiro pode aguardar o conserto e descansar, mas sem tirar o olho do caminhão!”, diverte-se o gerente geral de pós-vendas da Brasdiesel.
Autor: Luiz Humberto Monteiro Pereira (Auto Press)
Fotos: Divulgação