Nos últimos anos, muito se tem ouvido falar, nos jornais noticiários televisivos, uma palavra que parece uma rotina da indústria automobilística, o recall. A cada ano uma montadora convoca seus clientes para fazer um recall de um determinado modelo, fabricado em um determinado período de tempo, por conta de defeitos e de outros tipos de avarias que podem colocar em risco a segurança e a qualidade do automóvel.

Embora nos últimos anos o recall aqui no Brasil tenha diminuído consideravelmente, devido ao grande número de reclamações por parte da clientela brasileira, e por conta da maior inspeção dos organismos que cuidam da qualidade dos carros, alguns casos ficaram na memória, como é o caso do Fiat Tipo, um carro arruinado justamente pelo Recall. Outro fator importante para isso é que o recall é prejudicial para cliente, marca e para a montadora, já que faz mal em questões de publicidade, custa muito para a montadora, pois ela tem que arcar com 100% dos custos de tudo o que o recall precisa para consertar o carro e além disso é uma dor de cabeça enorme para o cliente, que tem que despender de tempo para levar seu carro a uma autorizada e esperar ele ser consertado. O recall é uma prática que deveria não existir, pois trata-se de um defeito de fábrica que foi detectado e precisa ser consertado pois coloca a vida do motorista e dos passageiros em risco. É grave, e por isso, ele está cada vez mais raro.

Como tudo começou

Aqui no Brasil, não se ouvia a palavra recall na indústria automobilística na década de 1960, 1970 e durante boa parte da década de 1980. Isso não significa que a indústria brasileira era precária, muito pelo contrário, ela estava em crescimento e numa fase de expansão, mas a grande produção de carros e de certo modo a maior aceitação da população em torno dos erros de qualidade dos carros (a produção era menor, então os erros não eram tão frequentes a ponto de ter que convocar toda uma forma de rever os carros para consertar defeitos), mas a Vokswagen foi a pioneira, em 1988, ao convocar o primeiro recall no Brasil.

No exterior, o primeiro recall ocorreu por conta da publicação do livro “Inseguro a Qualquer Velocidade”, na qual o advogado norte-americano Ralph Nader questionava a razão da morte de tantos cidadãos em acidentes automobilísticos, detalhando os defeitos dos carros fabricados no país na época. De tanta repercussão a GM convocou um recall em 1965 e foi seguida por diversas montadoras nos anos seguintes.

O caso Fiat Tipo

A Fiat entrou no segmento de luxo com o Fiat Tipo, considerado um médio de luxo, que competia a altura com o Volkswagen Golf e com o Chevrolet Astra. A versão importada era completamente amada pelos brasileiros, um carro com design típico da década de 1990, mecânica muito boa e com opções de motorização que agradavam ao gosto brasileiro. Além disso, o Tipo tinha espaço interno, mecânica e acabamento que eram muito superiores aos seus concorrentes. Um carro considerado quase que perfeito e um tiro certeiro da Fiat no mercado de luxo.

Fiat Tipo

Porém, a imagem do Fiat Tipo logo passou de carro ideal para pior carro do Brasil. Líder disparado de venda entre os importados e figurando entre os carros mais vendidos do país juntamente aos populares Gol e Uno, só perdendo para os dois. Tudo aconteceu devido a um defeito de fabricação que ocasionava incêndios no carro, os modelos 1.6 i.e. importados de 1993 e 1995 tinham um defeito na direção hidráulica, que a mangueira de alta pressão que conduz o fluido hidráulico estourava e derramava o fluido inflamável sobre o coletor de escape do motor causando os incêndios.

Geralmente isso acontecia após o motorista ter feito muitas manobras, com o uso intenso do dispositivo de direção hidráulica. A Fiat chegou a fazer dois recalls, o que ocasionou muita polêmica na época, mas de nada adiantou, já que o problema só foi descoberto no segundo recall, quando muitas vítimas já tinham perdidos seus carros. O Tipo tinha perdido mercado e manchado sua imagem, e a Fiat perdeu mercado no segmento de luxo e nunca mais conseguiu entrar com força nesse segmento.

O maior da história

Durante o período de 1995 e 2000 a indústria brasileira passou por uma crise de qualidade. A crise internacional fez com que houvessem diversas demissões e diminuição nas vendas e na produção. A qualidade dos carros também diminuiu o que é comprovado pelo maior recall feito pela indústria brasileira.

Foi no ano de 2000, quando a GM convocou o recall de 1,2 milhão de Corsas. Para se ter uma noção do tamanho do recall, o modelo vendia pouco mais de 100 mil unidades por ano, o que significava que praticamente era todos os corsas produzidos no Brasil. Foi uma humilhação para a GM, mas necessário, já que o problema era muito grave.

Chevrolet Corsa 2000

O recall foi motivado pelo cinto de segurança, que se desprendia. Na hora de acidentes, isso ocasionava acidentes graves e até mortes. Foram relatados vários acidentes, dois com vítimas fatais. A GM foi criticada por ter demorado a reconhecer o defeito, já que o primeiro acidente com vítima ocorreu em abril de 1999, o segundo em julho do ano seguinte e o recall foi anunciado apenas em outubro.

Diminuição e leis

Os recalls passaram a ser massacrados pela opinião pública e pela imprensa. Os consumidores não estavam mais dispostos a aceitar esse tipo de conduta por parte das montadoras. O recall do Volkswagen Fox, em 2008, foi outro que entrou para a lista de recalls polêmicos.

Recall Volkswagen Fox 2008

Tudo isso fez com que o Brasil criasse leis, como a portaria de número 69 do Denatran, que tem por objetivo comprovar que os proprietários fizeram o recall de forma correta. As montadoras ou importadoras de automóveis têm o prazo de até 60 dias após o início da campanha de recall para apresentar ao Denatran o relatório de atendimento, informando quantos veículos realizaram o recall.