Quando foi lançado, em 2003, o Agrale Marruá atendia especialmente às necessidades das Forças Armadas. Por isso, já chegou “alistado” no Exército Brasileiro. Só depois é que se tornou um veículo disponível para outras finalidades – a maioria delas, profissional. Agora, com a segunda geração do modelo, apresentada em abril último na LAAD Defence & Security 2015 – Feira Internacional de Defesa e Segurança, no Rio de Janeiro, a Agrale faz o caminho inverso. As mudanças chegam primeiro no modelo civil para, no futuro, transferir as melhorias para a vertente militar. E por mais que as vendas realizadas diretamente ao consumidor final sejam irrisórias perto do total – das 4 mil unidades emplacadas até hoje do Marruá, cerca de 3.500 foram para o Exército –, a Agrale tratou de inserir itens no grandalhão que o tornam menos distante de um modelo de passeio. Caso da versão AM 200, a de entrada, que agora recebe como opcional até uma central multimídia.
A explicação para investir primeiro no modelo civil é bem simples. Para certificar um veículo militar, o processo dura, em média, de três a quatro anos. Ou seja, o dobro do que a marca levou para homologar a nova geração do Marruá. Por isso, entende-se que em mais ou menos dois anos ele já estará disponível para ambos os segmentos. Mas, com isso, a versão caminhonete deixa de ser oferecida por enquanto, dando vez apenas às picapes cabine simples e dupla e à versão chassi-cabine. Considerando todas as variações, o Marruá chega a 15 configurações. Os preços vão de R$ 170 mil, para a versão chassi-cabine simples, a R$ 220 mil, para a picape cabine dupla com todos os opcionais. Há ainda a opção de pré-disposição para blindagem.
O motor segue sendo o 2.8 diesel da Cummins, que gera 150 cv de potência a 3.200 rpm e 36,7 kgfm de torque entre 1.800 e 2.700 giros. O câmbio é sempre manual de cinco marchas, mas uma das principais novidades agora é a possibilidade de colocar, opcionalmente, a caixa de transmissão reduzida no AM 200 – na configuração de topo, a AM 300, isso é de fábrica. O tanque de combustível passou a armazenar 28 litros a mais, totalizando agora 100 litros. De série, já chegam computador de bordo, piloto automático e direção hidráulica. Quem priorizar o conforto pode incluir ainda ar-condicionado, central multimídia com GPS e tela “touch”, guincho elétrico, retrovisor elétrico, vidro elétrico, trava elétrica, câmara de ré e sensor de estacionamento.
Completo, o Marruá expressa a versatilidade que a Agrale tanto buscou quando começou a projetar essa segunda geração. A capacidade aventureira e, principalmente, para trabalhos severos fora de estrada sempre foi um chamariz para o modelo. Mas o problema estava em quem precisava trafegar no asfalto para chegar até os locais onde o utilitário dava expediente profissional ou lameiro. Daí a preocupação em garantir que, fosse esse o caso, houvesse uma lista de opcionais que, além de garantir uma margem de lucro melhor, seria capaz de solucionar a questão.
Na parte estética, o design segue com a imagem robusta, mas levemente suavizado. Há novas portas, capô do motor, tampa traseira e apliques plásticos nos arcos de roda maiores, paralamas com degraus na lateral para facilitar o acesso à caçamba, cabine mais espaçosa e novo painel. As lanternas traseiras ganharam leds e o chassi foi redesenhado para suportar melhor as cargas e torções. Além disso, a suspensão traseira recebeu novos amortecedores, mais fortes e reposicionados. As mudanças priorizaram também o uso em áreas alagadas, com o aumento na capacidade de atravessar, sem o uso de snorkel, até 800 milímetros – antes eram 600 milímetros. Com o equipamento, a capacidade chega a 1,70 metro. Ou seja, fica com apenas um palmo de carroceria fora d’água.
Primeiras impressões
Caxias do Sul/RS – Nada de requinte, delicadeza ou suavidade no Agrale Marruá. Basta abrir a porta do modelo para perceber que tudo nele expressa brutalidade e robustez. Quem não está acostumado a trafegar com o veículo pode até, de cara, expressar certa decepção. Afinal, os confortos se resumem à direção hidráulica e aos opcionais ar-condicionado, trio elétrico e central multimídia. Mas é só encarar uma sessão “off-road” para perceber que todas as escolhas da marca têm um propósito: assegurar que o Marruá é capaz de encarar as mais impressionantes situações, desde lama a trajetos com pedregulhos e inclinações capazes de meter medo em aventureiros de primeira viagem.
O quadro de instrumentos é completo – tem até computador de bordo – e o desenho do interior segue uma lógica funcional que exclui qualquer preocupação estética. Os bancos são firmes e o espaço interno é bem amplo – é possível deixar o assento do motorista e passar para o banco traseiro sem precisar sair do modelo. Em movimento, a impressão que se tem é de que o conforto ficou bem longe da lista de prioridades. A direção hidráulica só alivia mesmo o peso em baixas velocidades, para manter a boa manobrabilidade. A pegada do volante é agradável, mas o câmbio é duro e com engates bem secos. Além disso, ao contrário do que se vê na maioria dos carros, a primeira marcha é para baixo, a segunda para cima e assim sucessivamente.
Mas é no meio da lama, entre pedras, buracos, valões, rios e barrancos, que o Marruá parece encontrar seu “habitat”. Ainda mais com a inclusão da caixa de transmissão com reduzida nesta segunda geração, opcional na versão AM200, a testada, e de fábrica na AM300. A capacidade off-road é extrema. São 57º graus de ângulo de entrada, 30º de saída e capacidade de rampa de 60%. De acordo com a própria Agrale, o veículo pode atravessar trechos com até 80 cm de água sem a utilização de um snorkel. De fato, depois de uma manhã pondo à prova o Agrale Marruá, fica difícil imaginar que obstáculo seria capaz de detê-lo.
Ficha técnica
Agrale Marruá AM200 CD
Motor | Diesel, dianteiro, longitudinal, 2.800 cm³, com quatro cilindros em linha, turbo com intercooler, duas válvulas por cilindro. Injeção direta de combustível do tipo common-rail |
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Transmissão | Câmbio manual de cinco marchas à frente e uma a ré. Tração 4X2 com roda livre e 4X4 acionada por alavanca |
Potência máxima | 150 cv a 3.200 rpm |
Velocidade máxima | 96 km/h |
Torque máximo | 36,7 kgfm a entre 1.800 e 2.700 rpm |
Diâmetro e curso | 94 mm x 100 mm |
Taxa de compressão | 17,5:1 |
Suspensão | Dianteira com barras longitudinais e transversais com barra Panhard e molas helicoidais. Traseira por eixo rígido com molas semi-elípticas. Não oferece controle eletrônico de estabilidade |
Pneus | 265/75 R16 |
Freios | Discos sólidos na frente e tambores atrás. ABS com EBD |
Carroceria | Picape cabine dupla sobre longarinas com quatro portas e cinco lugares. Com 5,30 m (com caçamba e quebra-mato), 5,34 m (com caçamba e sem quebra-mato ou sem caçamba e sem quebra-mato) e 5,38 m (sem caçamba e com quebra-mato) de comprimento, 1,87 m (sem espelhos) e 2,52 m (com espelhos) de largura, 1,97 m de altura e 3,35 m de distância entre-eixos. Não oferece airbags frontais nem como opcional |
Peso | 2.910 kg com 1.390 kg de carga útil com caçamba e 1.590 kg de carga útil sem caçamba |
Tanque de combustível | 100 litros |
Capacidade off-road | Ângulo de ataque 57° com quebra-mato e 60° sem quebra-mato, ângulo de saída 30°, capacidade de subida de rampa de 60% e altura livre do solo de 23 cm |
Produção | Caxias do Sul, Brasil |
Lançamento no Brasil | 2003 |
Lançamento da segunda geração | 2015 |
Itens de série | Ar quente, direção hidráulica, computador de bordo, piloto automático, peito de aço, protetor de lanternas traseiras e estribos |
Preço | R$ 197 mil |
Opcionais | Ar-condicionado, relação do diferencial 4,1:1 com caixa de transferência reduzida a 50% para 8,2:1, snorkel, guincho elétrico, quebra-mato, faróis de neblina, retrovisor elétrico, vidro elétrico, trava elétrica, alarme, kit multimídia com GPS, câmara de ré e sensor de estacionamento traseiro, inclinômetro, engate para reboque e kit com pneus ATR 285/75 R16 ou MTR 285/75 R16 |
Preço completo | R$ 220 mil |
Autor: Márcio Maio (Auto Press)
Fotos: Márcio Maio/Carta Z Notícias e Divulgação