Há muito tempo a categoria de sedãs médios no Brasil é dominada pelos japoneses Toyota Corolla e Honda Civic. Mas a Chevrolet sabia que, diante do potencial de vendas do segmento – apesar da proliferação de SUVS compactos – e da renovação que atingiu todos os modelos mais competitivos do mercado, era importante encurtar ao máximo o tempo entre o lançamento da nova geração do Cruze no Brasil em relação à sua chegada ao mercado americano. Esse prazo durou apenas meio ano e foi decisivo para seu sucesso de vendas. No primeiro quadrimestre de 2016, o modelo tinha média de 298 unidades mensais, nem perto das 1.333 conquistadas no mesmo período de 2017. Estabilizou-se no terceiro lugar e hoje, na sua configuração LTZ, chama atenção entre os três volumes médios de topo vendidos no país pelos R$ 112.990 pedidos pelas unidades com todos os opcionais incluídos.
Agora construído na Argentina, o Cruze LTZ ostenta uma série de novas tecnologias e também um motor menor e mais potente que o antigo 1.8 aspirado de 144 cv. O sedã recebe um propulsor 1.4 turbinado com injeção direta e duplo comando variável, capaz de entregar 150/153 cv de potência e 24/24,5 kgfm de torque com gasolina/etanol. A transmissão é a mesma de todas as configurações, automática de seis marchas. Com isso, o zero a 100 km/h do modelo passou de 9,8 segundos para exatos 9 segundos.
Além de melhorar o desempenho, a substituição do trem de força resultou em uma economia de combustível que pode chegar aos 30%. Para isso, contribui também a adoção do sistema start/stop, que desliga o motor quando se para o carro e mantém-se pressionado o pedal do freio. O sedã recebe aços mais leves, que reduziram seu peso em cerca de 100 kg, e um desenho capaz de diminuir o arrasto em 15%. Há ainda pneus de baixo atrito, que favorecem a redução do consumo.
O visual tem traços que parecem planejados para ampliar a sensação de largura, valorizando linhas horizontais a partir dos faróis e lanternas afilados e da grade. O capô ganhou uma curvatura acentuada e três vincos convergentes. A última coluna foi alongada e o caimento do teto na traseira dá ao modelo um charme de cupê de quatro portas.
A versão LTZ traz de série airbags de cortina, sensor de crepuscular e de chuva, chave presencial, retrovisor interno eletrocrômico, sensor de estacionamento dianteiro e traseiro, sistema multimídia de 8 polegadas, rodas de liga leve com acabamento escurecido e o que de costume se espera de um modelo desta faixa de preços – como ar-condicionado automático e direção, vidros e travas elétricos. O maior destaque “geek” da variante, no entanto, é o pacote opcional disponível com alerta de colisão frontal, de ponto cego e de faixa de rolamento, farol alto automático, indicador de distância do carro à frente, sistema de estacionamento automático, regulagem elétrica do banco do motorista e carregador de celular por indução. São R$ 10 mil a mais à conta original, mas que melhoram bastante o nível tecnológico do Cruze LTZ.
Ponto a ponto
Desempenho – O motor 1.4 turbo adotado no Cruze – desde a versão de entrada LT – entrega 153 cv com etanol e tem injeção direta de combustível. São 24,5 kgfm de torque máximo disponíveis integralmente já em 2 mil giros, que se traduzem em ultrapassagens e retomadas bem rápidas. As arrancadas não chegam a chamar tanta atenção, mas é inegável o novo gás que o propulsor deu ao sedã médio em sua nova geração. A transmissão automática de seis velocidades sobe e desce as rotações quando é necessário, garantindo um desempenho vigoroso ou econômico, de acordo com a vontade do condutor. Nota 9.
Estabilidade – O Cruze não pode ser considerado um sedã inseguro, longe disto. Mas a suspensão traseira por eixo de torção decepciona em função da faixa de preço em que o modelo atua. A carroceria rola um pouco nas curvas e não é difícil notar os controles de estabilidade e tração em ação. Por outro lado, eles estão presentes – e favorecem expressivamente o equilíbrio do carro. Nota 7.
Interatividade – A Chevrolet já aposta nesse quesito há algum tempo e em todas as categorias em que atua. O volante multifuncional traz comandos de áudio, de assistente de faixa e controle de distância do carro à frente. O sistema OnStar é gratuito no primeiro ano e ajuda a encontrar pontos de interesse, programar uma rota no GPS ou até mesmo a descobrir o horóscopo do dia. O sistema multimídia é bem moderno e com utilização bem simples. Nota 9.
Consumo – O Cruze ganhou nota “A” no selo de eficiência energética do InMetro em sua categoria, com média de 11,2 km/l na cidade e 14 km/l na estrada com gasolina e 7,6 km/l e 9,6 km/l, respectivamente, com etanol. Está cerca de 30% mais econômico que a geração anterior – para isso, contribui a adoção do sistema start/stop. Nota 9.
Conforto – O espaço interno é suficiente para transportar, sem apertos, quatro ocupantes. A suspensão não chega a filtrar tanto as imperfeições das ruas e estradas brasileiras, o que incomoda em caminhos com piso desnivelado. O isolamento acústico é bom e garante uma cabine silenciosa e propícia para uma boa música ou papo. Nota 8.
Tecnologia – Plataforma e motor da nova geração do Cruze são modernos e o uso do turbo segue a atual tendência de downsizing – redução do tamanho dos propulsores com ganho de potência – vista ao redor do globo terrestre. A central multimídia é bem completa, há sistema de carregamento de celular por indução e o OnStar eleva o nível de conectividade do carro, já que é possível até programar o GPS por meio da central telefônica que liga os passageiros diretamente aos atendentes do serviço – eles enviam as coordenadas ao aparelho, caso seja a vontade do condutor. Nota 9.
Habitabilidade – Há bons nichos e porta-objetos para guardar tudo que precisa estar à mão do motorista. A curvatura do teto – que faz o modelo ganhar um desenho próximo ao de um cupê – faz o vão das portas ficarem mais baixos, o que atrapalha o acesso. O porta-malas carrega 440 litros, ou seja, é bom para viagens em família ou para as compras. Nota 7.
Design – O Cruze mistura linhas elegantes a um traço mais esportivo – que se justifica pela adoção do motor turbinado. A frente é mais agressiva e o perfil se beneficia do caimento acentuado do teto. Na configuração de topo, as rodas de liga leve de 17 polegadas têm acabamento escurecido. Já a traseira cai no lugar-comum da marca e não traz grandes ousadias. Nota 8.
Acabamento – De maneira geral, os sedãs médios vendidos no Brasil pelas marcas generalistas não chegam a impressionar nesse ponto – Citroën e Peugeot são as únicas que ainda capricham um pouco mais. Há o que se vê na maior parte dos concorrentes – muito plástico, alguns revestimentos em couro e nada que justifique a etiqueta de preço que ultrapassa os R$ 100 mil. Nota 6.
Custo/Benefício – O Chevrolet Cruze LTZ completo custa R$ 112.990 e briga com as configurações mais caras dos líderes Toyota Corolla e Honda Civic, mas com recheio tecnológico mais interessante. Com isso, seu rival mais próximo acaba sendo o Ford Focus Fastback, que sai a R$ 110.840 na versão mais cara, mas tem motor 2.0 aspirado de 178 cv. Para quem deseja mais potência, pode ser uma opção melhor. Já quem prefere a economia de um 1.4 turbo – que não deixa a desejar no desempenho –, o Cruze se destaca. Nota 7.
Total – O Chevrolet Cruze LTZ somou 79 pontos em 100 possíveis.
Impressões ao dirigir
Na pressão da demanda
Não tem muito para onde correr: na busca pela redução de emissões de poluentes e pela economia de combustível, as fabricantes acabam correndo para os propulsores turbinados. O Chevrolet Cruze estava mesmo precisando de uma modernizada e, além do avanço estético – inegável, diga-se de passagem –, ganhou um novo trem de força que mudou completamente a experiência dos motoristas do sedã médio.
O três volumes está mais arisco em movimento e isso se traduziu também em uma imagem mais agressiva. Seu desenho ganhou linhas e contornos mais condizentes com a proposta esportiva do motor 1.4 com turbocompressor e diversos recursos eletrônicos foram incluídos na lista de itens de série e de opcionais da versão de topo, a LTZ. Por dentro, no entanto, o acabamento ainda destoa de sua faixa de preço e categoria. Há muito plástico, apesar de trazer materiais aparentemente de boa qualidade.
Basta ligar o carro – a partir do botão, com a chave presencial guardada no bolso – e pisar no acelerador para perceber que, no caso do Cruze LTZ, a denominação “nova geração” de fato se cumpre. O motor tem boa aceleração e entrega ultrapassagens e retomadas seguras e convincentes. O ganho na economia de combustível também é visível facilmente pelos dados do computador de bordo. Mesmo com o vigor que o carro demonstra em praticamente todas as faixas de atuação do motor, o consumo surpreende quando não se exige demais o auxílio do turbo.
O banco do motorista tem ajustes elétricos na versão LTZ com o pacote de opcionais R7F – que custa R$ 10 mil – e seu desenho ajuda a segurar o corpo em uma direção mais esportiva. O isolamento acústico é eficiente até o ponto do condutor se sentir instigado a carregar com mais força o pé no pedal direito: nessa hora, o som motor invade o habitáculo de forma sedutora e charmosa. Mas convém não abusar tanto: o sedã médio aderna um pouco nas curvas e se apoia bastante nos recursos de segurança – controle eletrônico de estabilidade e tração.
Ficha técnica
Chevrolet Cruze LTZ
| Motor | Etanol e gasolina, dianteiro, transversal, 1.399 cm³, com quatro cilindros em linha, quatro válvulas por cilindro, turbocompressor, injeção direta e controle eletrônico de aceleração |
|---|---|
| Transmissão | Câmbio automático de seis marchas à frente e uma a ré. Tração dianteira. Possui controle eletrônico de tração |
| Potência máxima | 153 cv/150 cv a 5.200/5.600 rpm com etanol/gasolina |
| Torque máximo | 24,5/24 kgfm a 2 mil/2.100 rpm com etanol/gasolina |
| Taxa de compressão | 10,0:1 |
| Suspensão | Dianteira independente do tipo McPherson, com barra estabilizadora ligada a hastes tensoras e molas helicoidais com carga lateral. Traseira do tipo eixo de torção, semi-independente e molas helicoidais |
| Pneus | 215/50 R17 |
| Freios | Discos ventilados na frente e sólidos atrás. Oferece ABS com EBD |
| Carroceria | Sedã em monobloco com quatro portas e cinco lugares. Com 4,66 metros de comprimento, 1,81 m de largura, 1,48 m de altura e 2,70 m de entre-eixos. Airbags frontais, laterais e de cortina |
| Peso | 1.321 kg |
| Capacidade do porta-malas | 440 litros |
| Tanque de combustível | 52 litros |
| Produção | Rosário, Argentina |
| Lançamento mundial | 2008 |
| Lançamento no Brasil | 2011 |
| Segunda geração | 2016 |
| Itens de série | Airbags frontais, laterais e de cortina, alarme antifurto, controle de tração e de estabilidade, faróis e lanternas de neblina, indicador de nível de vida de óleo, luz de condução diurna em leds, sensores de estacionamento traseiros e dianteiros, sistema Isofix de fixação de cadeiras para crianças, freios com ABS, sistema de distribuição de frenagem e assistência de frenagem de urgência, sistema de monitoramento de pressão dos pneus, rodas de liga leve de 17 polegadas, abertura do porta-malas por controle remoto, ar-condicionado com controle eletrônico de temperatura e sistema automático de recirculação, assistente de partida em aclive, câmara de ré, chave tipo canivete, coluna de direção com regulagem em altura e profundidade, computador de bordo, controlador de velocidade de cruzeiro, direção elétrica, retrovisores externos elétricos e aquecidos, navegação por setas com comando de voz, sistema Start/Stop, travas e vidros elétricos, volante multifuncional, banco traseiro bipartido e rebatível, central multimídia com de 8 polegadas com espelhamento de smartphones através do Android Auto e Apple CarPlay, Radio AM/FM, Entrada USB e Aux-in, Função Audio Streaming, GPS, Conexão Bluetooth para Celular e configurações do veículo, sistema premium de áudio com 4 alto-falantes e 2 Tweeters, regulagem de altura dos faróis, grade frontal com detalhes cromados, abertura das portas e alarme antifurto através de sensor de aproximação na chave, sensor crepuscular, botão de partida sem chave, retrovisores externos com rebatimento elétrico, retrovisor interno eletrocrômico, sensor de chuva com ajuste automático de intensidade e sistema de partida do motor por controle remoto com acionamento do ar-condicionado |
| Preço | R$ 102.990 |
| Opcionais | alerta sonoro e visual de possibilidade de colisão frontal, indicador de distância do veículo da frente, sensor de ponto cego, sistema de aviso de saída involuntária de faixa com acionamento do sistema de permanência em faixa, console central com carregador wireless para celular, banco do motorista com regulagem elétrica de altura, distância, inclinação do encosto e do assento |
| Preço completo | R$ 112.990 |
Autor: Márcio Maio (Auto Press)
Fotos: Isabel Almeida/CZN