A concorrência entre os sedãs médios é das mais acirradas no mercado brasileiro. Foi exatamente para recuperar a boa fatia que tinha neste segmento que a Citroën lançou, em agosto último, o C4 Lounge. Na época, sua função era reconquistar as vendas do antecessor C4 Pallas nos áureos tempos das 1.200 unidades mensais, no final da década passada, e ainda acrescentar 25% ao total. A realidade, porém, teima em desmentir projeções. O sedã da marca francesa tem cumprido a média de 900 emplacamentos por mês. Melhor que as 500 unidades do antecessor no fim de vida, mas longe das 1.500 previstas. Do total entregue até agora, 57% tem motorização 2.0 16V. Em toda a linha, a versão Tendance responde por 49%, a top Exclusive responde por outros 49% e para a básica Origine sobram apenas 2%.
Esse desequilíbrio entre as versões, a favor das mais luxuosas, tem um bom motivo: os modelos Citroën são vistos no Brasil como sofisticados. Foi essa imagem, inclusive, que sustentou o mercado para o extinto Pallas. Nesse ponto, o Lounge cumpre muito bem o papel sucessório, com a vantagem de ter um desenho bem mais equilibrado. No total, o modelo atual é 15 cm menor, mas mantém a mesma distância entre-eixos, de 2,71 metros. A frente ostenta a identidade visual global da marca usada atualmente, com grade emoldurada por frisos cromados que desenham, ao centro, os “chevrons” do logotipo da Citroën. Vincos bem pronunciados no capô e nas laterais empregam ao carro um toque mais agressivo e, ao mesmo tempo, imponente. Na frente, luzes diurnas de led formam um “L”, enquanto a traseira ostenta lanternas bipartidas com filetes de leds ligadas por um friso cromado. Tudo bem requintado.
Assim como o exterior, o interior do C4 Lounge também chama atenção pela beleza. O painel de todas as suas versões traz um material emborrachado similar usado no luxuoso hatch premium DS4. Mas além da estética refinada e do acabamento esmerado, faltam motivações tecnológicas para elevar o valor do carro a quase R$ 70 mil. Há apenas dois airbags frontais e o rádio, apesar de contar com CD player, MP3 e Bluetooth, tem um aspecto simples demais, sem muito charme. Destaca-se o ar-condicionado dual zone com saídas traseiras.
O motor é o robusto 2.0 16V flex que animava o Pallas e que empurra a versão Allure do sedã Peugeot 408. O propulsor entrega 143 cv abastecido com gasolina e 151 cv com etanol no tanque. E tem seu torque máximo em 20,2 kgfm e 21,7 kgfm com gasolina e etanol a 4 mil rpm. O trem de força se completa com a transmissão manual de cinco ou automática de seis marchas, bem superior à utilizada no C4 Pallas, que tinha apenas quatro velocidades.
Sem opcionais disponíveis, o C4 Lounge Tendance Auto 6 tem preço de R$ 68.990. O francês encontra como principais concorrentes justamente os conterrâneos, em função da proximidade de preços. O 408 Allure automático custa R$ 67.990, enquanto o Renault Fluence sai a R$ 69.899 na versão Dynamique 2.0 CVT. Mesmo assim, a liderança no segmento de sedãs médios ainda está nas mãos de Honda Civic e Toyota Corolla, que têm preços bem mais elevados e motores mais fracos. Na sequência do ranking, vem o Chevrolet Cruze – nas três primeiras posições estão os sedãs médios “made in Brazil”.
Ponto a ponto
Desempenho – Os 143/151 cv com gasolina e etanol gerados pelo motor 2.0 se mostram justos na hora de mover os 1.489 kg do C4 Lounge. A aceleração de zero a 100 km/h ocorre em bons 9,6 segundos (8,9 s na versão com câmbio manual) e a velocidade máxima é de 208 km/h. As arrancadas são bem eficientes, mas as retomadas nem tanto. Mesmo pequeno, há um “delay” perceptível entre as pisadas no acelerador e as respostas do câmbio que aparece principalmente nas ultrapassagens. Nota 7.
Estabilidade – A suspensão do C4 Lounge é firme e gerencia bem os movimentos da carroceria. Mesmo sem controle eletrônico de estabilidade, o carro não decepciona nas curvas quando está em velocidade de cruzeiro. O conjunto eficiente transmite segurança na estrada. Nota 8.
Interatividade – Os comandos essenciais são bem posicionados e têm leitura clara. O volante multifuncional chama atenção pelo tamanho exagerado, mas não chega a prejudicar a direção. Até passa a impressão de se tratar de um carro com proporções maiores que as reais. Nota 7.
Consumo – O InMetro classificou o Citroën C4 Lounge Tendance com câmbio automático como “D” tanto em sua categoria quanto na listagem geral, com média de 5,7 km/l e 8,3 km/l na cidade com etanol e gasolina e 7,9 km/l e 11,2 km/l com etanol e gasolina em ciclo rodoviário. Nota 5.
Conforto – O carro é bastante silencioso, mesmo em velocidade mais altas. A suspensão, apesar de firme, absorve razoavelmente os impactos provocados pela baixa qualidade das vias nacionais. Os bancos até são agradáveis para viagens longas, mas o lugar para o quinto passageiro não é dos mais ergonômicos. Nota 8.
Tecnologia – O C4 Lounge é feito sobre a plataforma da segunda geração do C4 hatch francês, lançado na Europa em 2010. Trata-se de uma evolução da base usada no primeiro C4 e ainda é razoavelmente moderna. Já o motor é robusto, porém antigo – já nem é utilizado na Europa. Além disso, não há maiores recursos tecnológicos no modelo. Nota 7.
Habitabilidade – Com portas grandes e bom ângulo de abertura, a entrada no sedã é fácil mesmo para ocupantes acima de 1,85 m. O espaço interno é generoso e o porta-malas tem boa capacidade de 450 litros. Falta uma quantidade maior de porta-objetos. O espaço abaixo do apoia-braço dianteiro é pequeno, assim como o localizado à frente do câmbio. Nota 8.
Acabamento – A cabine causa boa impressão. O painel é revestido com material emborrachado e o tecido das portas tem um toque suave. Os materiais plásticos usados também transmitem a sensação de qualidade. Há uma certa atmosfera de requinte no interior. Nota 8.
Design – Os vincos acentuados do capô transmitem uma imagem imponente à visão frontal do C4 Lounge, assim como os laterais inseridos nas caixas de rodas traseiras. A grade dianteira é harmoniosa, com frisos cromados de um farol a outro que formam os “chevrons” da Citroën, e a traseira, também de bom gosto, foge do lugar-comum. Mas é no desenho do perfil que mora a elegância do sedã francês, com sua muscultaura muito bem entalhada. Um conjunto que chama atenção nas ruas. Nota 9.
Custo/benefício – Na farta disputa do mercado de sedãs médios, o C4 Lounge Tendance tem uma lista de equipamentos que não chega a impressionar, mas também não decepciona. E sai das concessionárias por R$ 68.990. Um Peugeot 408 com o mesmo conjunto mecânico é ligeiramente mais barato, por R$ 67.990, enquanto o terceiro franco-argentino do segmento, o Renault Fluence, vai a R$ 69.899 na versão Dynamique 2.0 CVT, com seis airbags. Na Toyota, um Corolla custa cerca de R$ 9 mil a mais, diferença que em um Honda Civic, cai para R$ 6 mil. Nota 7.
Total – O Citroën C4 Lounge 2.0 Auto6 Tendance somou 74 pontos em 100 possíveis.
Impressões ao dirigir
O Citroën C4 Lounge chama a atenção nas ruas. Entre os sedãs médios, é um dos que mais esbanja beleza por onde passa. E o mesmo pode se dizer de sua cabine, que recebe um revestimento emborrachado luxuoso. Mesmo o volante de grandes dimensões, que causa certo estranhamento à primeira vista, tem seu charme. E não prejudica a busca pela melhor ergonomia em função da eficiente regulagem de altura e profundidade.
O motor 2.0 litros surpreende nas arrancadas, mas não é tão bom nas retomadas. Principalmente por conta de uima certa lentidão do câmbio automático. O tempo entre a solicitação no pedal do acelerador e a resposta do trem de força é longo. No uso urbano, essa lentidão nem é tão perceptível, mas no ambiente rodoviário causa incômodo. Impressiona o bom isolamento acústico do veículo: pouco se escuta do propulsor, de ruídos aerodinâmicos e arrasto dos pneus dentro da cabine.
O C4 Lounge tem detalhes que valorizam a vida a bordo. Caso do ar-condicionado automático, que é dual zone e conta com saídas traseiras, o que torna a climatização de todo o interior mais eficiente. O espaço interno é bom para quatro passageiros viajarem. O quinto passageiro, além de sofrer com um aperto na área de ombros, enfrenta um encosto mal desenhado – já que na verdade é o apoio de braços rebatido. Pelo menos a suspensão, apesar de firme, filtra razoavelmente as irregularidades do piso, tão familiares aos motoristas brasileiros.
Ficha técnica
Citroën C4 Lounge 2.0 Auto6 Tendance
Motor 2.0 | A gasolina e etanol, dianteiro, transversal, 1.199 cm³, quatro cilindros em linha, com quatro válvulas por cilindro. Injeção eletrônica multiponto e acelerador eletrônico |
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Transmissão | Câmbio automático de seis marchas à frente e uma a ré. Tração dianteira |
Potência máxima | 143 cv e 151 cv com gasolina e etanol a 5.250 rpm |
Aceleração 0-100 km/h | 9,6 segundos |
Velocidade máxima | 208 km/h |
Torque máximo | 20,2 kgfm e 21,7 kgfm com gasolina e etanol a 4 mil |
Diâmetro e curso | 77,0 mm x 78,9 mm |
Taxa de compressão | 10,5:1 |
Suspensão | Dianteira tipo Pseudo McPherson, independente, molas helicoidais, amortecedores hidráulicos telescópicos e barra estabilizadora. Traseira de travessa deformável, molas helicoidais, amortecedores hidráulicos telescópicos e barra estabilizadora. Não possui controle de estabilidade |
Pneus | 225/45 R17 |
Freios | Discos ventilados na frente e sólidos atrás. Oferece ABS com EDB |
Carroceria | Sedã em monobloco, com quatro portas e cinco lugares. 4,62 metros de comprimento, 1,79 m de largura, 1,50 m de altura e 2,71 m de entre-eixos. Oferece airbags frontais |
Peso | 1.414 kg em ordem de marcha |
Capacidade do porta-malas | 450 litros |
Tanque de combustível | 60 litros |
Produção | El Palomar, Argentina |
Lançamento no Brasil | 2013 |
Itens de série | ar-condicionado automático dual zone com saídas traseiras, volante multifuncional, computador de bordo, freios ABS com EBD, trio elétrico, airbags frontais, faróis de neblina, direção eletro-hidráulica, rádio/CD/MP3/Bluetooth, sensores de estacionamento traseiro, crepuscular e de chuva, retrovisor interno eletrocrômico e coluna de direção ajustável em altura e profundidade |
Preço | R$ 68.990 |
Autor: Márcio Maio (Auto Press)
Fotos: Luiza Dantas/Carta Z Notícias