Os dois primeiros integrantes da linha DS, da Citroën, que chegaram ao Brasil chamaram atenção pela ousadia. O DS3 é um pequeno “abusado”, com comportamento agressivo e divertido. Já o DS5 parece uma nave espacial – por dentro e por fora. O último a chegar foi o DS4. De cara, ele parece o mais “normal” da gama . Há boas ideias no design e no acabamento, mas a proposta é muito mais “social”. Longe da “ferocidade” do primeiro e da suntuosidade do segundo, o DS4 é, basicamente, um hatch médio premium – como o atual Mercedes-Benz Classe A e o BMW Série 1. É um carro mais aplicável ao uso diário que seus companheiros de showroom, mas com peculiaridades suficientes para caracterizá-lo como um legítimo DS.

Citroën DS4

Assim como nos outros DS, o design tem nele um papel central. A intenção declarada da Citroën foi fazer um hatch com ares de cupê. Para isso, a principal modificação ficou na traseira. A maçaneta saiu da porta e foi parar na coluna, onde fica bem escondida enquanto o teto tem caimento bem acentuado. Fica óbvia a intenção da equipe de design em “sumir” com a porta de trás. No resto do desenho, o DS4 se assemelha bastante ao C4 francês, modelo no qual é baseado. Por dentro, o tom “inusitado” fica por conta da iluminação do painel de instrumentos, que pode mudar de cor, e pelo som da seta de direção, que também pode ser alterado pelo motorista.

O resto da composição do hatch é mais ortodoxa. A parte mecânica, por sinal, é mais uma reedição do conjunto formado pelo motor 1.6 THP – originário de uma parceria com a BMW – e pela transmissão automática de seis velocidades. Como em todos os carros da PSA Peugeot Citroën vendidos por aqui – incluindo os DS –, este quatro-cilindros turbo gera 165 cv a 6 mil rpm e 24,5 kgfm a partir de 1.400 giros. No hatch, isso é suficiente para acelerar até os 100 km/h em 8,6 segundos e chegar à máxima de 212 km/h. A plataforma, a PF2, é a mesma da segunda geração do C4 e dos atuais Peugeot 308, 408 e até do próprio DS5.

Citroën DS4 - Frente estilosa

A lista de equipamentos atende o que se espera em um carro dentro da faixa de preços do DS4, de R$ 99.965. Ar-condicionado dual zone, sistema de som com GPS/Bluetooth e entradas auxiliares, câmera de ré e revestimento de couro estão lá. Por outro lado, bancos dianteiros com ajustes elétricos ficam de fora. Na parte de segurança, seis airbags, ABS e controles de estabilidade e tração também não chegam a surpreender. Os grandes diferenciais são o massageador para o motorista e o head-up display, itens geralmente restritos a modelos de alto luxo.

O valor próximo aos R$ 100 mil é semelhante ao pedido pelo Mercedes Classe A de entrada e ao BMW 118i, ambos com configuração mecânica equivalente, mas com menos luxo. Por enquanto, o Citroën vem acumulando bons números de mercado. De acordo com dados da Fenabrave, no primeiro quadrimestre o hatch emplacou cerca de 90 unidades por mês. A Classe A foi recentemente lançada e ainda não teve entregas e vendas estabilizadas. Já o modelo da BMW vai melhor, com mais de 100 emplacamentos mensais quando somadas as versões 118i e 116i.

A tal proposta “mais social” do modelo também também o posiciona bem em relação aos outros DS. Na média mensal, o DS4 é o veículo mais vendido da linha DS, com DS3 em segundo e DS5 logo em seguida. A praticidade, muitas vezes, prevalece sobre o inusitado. Mesmo em segmentos de luxo.

Citroën DS4 - Visão geral

Ponto a ponto

Desempenho – O motor 1.6 THP se encaixa muito bem na proposta do DS4. Fornece um desempenho acima da média, com acelerações e retomadas vigorosas, porém, sem grandes arroubos ou trancos. O arranque de zero a 100 km/h é feito em 8,6 segundos, por exemplo. Marca interessante em comparação com outros veículos da categoria. O destaque do quatro cilindros turbo é a ótima entrega de torque, já presente em sua totalidade a partir dos 1.400 giros. A transmissão automática de seis marchas é eficiente e faz uma bela sincronia com o propulsor. Nota 8.

Estabilidade – Mesmo sendo mais alto que seus concorrentes, o DS4 é um hatch com dirigibilidade muito bem-acertada. Fruto de uma suspensão dura e de um chassi rígido. O dois volumes encara com vontade uma sequência de curvas e mantém uma alta dose de estabilidade. Nas retas e altas velocidades, a precisão da direção também é absoluta. Nota 8.

Interatividade – O DS4 é um tanto discrepante neste aspecto. O sistema de som, por exemplo, é completo, mas os controles no painel são confusos de operar. Selecionar uma música para tocar no pen drive, por exemplo, é um martírio. O painel de instrumentos tem uma disposição futurista e pode mudar de cor entre tons de azul e branco. A ideia é boa, mas a visibilidade é prejudicada em alguns acertos. E mesmo com a proposta ligeiramente esportiva do carro, não há borboletas para trocas de marcha no volante – que já conta com diversos outros botões. Nota 7.

Citroën DS4 - Lateral

Consumo – De acordo com dados do InMetro, o DS4 faz 8,7 km/l na cidade e 11,5 km/l na estrada. Números que garantem a pior nota possível dentro do segmento, a E. No geral, o hatch ficou com a avaliação C. Nota 5.

Conforto – Os bancos são revestidos com alta qualidade e abraçam bem o corpo. Para melhorar, o motorista tem massageador na lombar, equipamento que melhora bastante o conforto a bordo. O DS4 até tem espaço para cinco ocupantes. Mas o melhor mesmo é levar no máximo quatro adultos. E, atrás, é melhor que não sejam muito altos com risco de esbarrar a cabeça no teto. A suspensão rígida paga a conta na hora de enfrentar estradas esburacadas como as brasileiras. O hatch da Citroën dá pancadas secas e não poupa os ocupantes de fortes trancos. Nota 7.

Tecnologia – Em um segmento que dá bastante importância para a tecnologia embarcada, o DS4 fica basicamente na média. O motor 1.6 THP é moderno e casa bem com a transmissão. O ponto negativo é o consumo de combustível, que fica acima do esperado. O recheio fica na média da concorrência, com rádio/GPS, seis airbags e controles de estabilidade e tração. O grande diferencial do DS4 é o massageador de lombar e a possibilidade de personalizar o interior com diversas cores do painel de instrumentos e até o som emitido ao acionar as setas de direção. Nota 8.

Citroën DS4 - Traseira

Habitabilidade – Na frente, a vida a bordo do DS4 é descomplicada. Tudo está onde deveria estar e o acesso ao interior é simples. O para-brisa é panorâmico, mas não chega a ser tão amplo quando o do C3. Na traseira a situação muda. O desenho dos arcos de roda e, consequentemente das portas, dificulta bastante o acesso ali. É preciso algum contorcionismo para não esbarra as pernas ao tentar entrar no carro. Pior, pelo formato das portas, não é possível abaixar os vidros de trás. O porta-malas leva 360 litros, condizente com o resto do segmento. Nota 7.

Acabamento – É o principal item em que a Citroën tenta se diferenciar de seus concorrentes. Realmente, o cuidado na construção do painel do DS4 impressiona. Tudo é bem encaixado e os materiais são de ótima qualidade. Detalhes como o banco de couro com “gomos” e os diversos cromados no volante e nas portas são o grande destaque. Nota 9.

Citroën DS4 - Traseira esportiva

Design – O DS4 tem um proposta de ser um “super hatch”. Mantém as proporções características de um dois volumes, porém, mais agressivo. As caixas de rodas são maiores e as maçanetas traseiras são escondidas para dar um aspecto cupê ao modelo. No final, é um conjunto interessante e bem diferente do que se vê por aí atualmente. Nota 9.

Custo/benefício – Por R$ 99.965 o DS4 fica em preço bem semelhante a de seus principais rivais. Mercedes Classe A e BMW Série 1 menos equipados também rondam os R$ 100 mil. Pesa para o lado do Citroën recursos de conforto, acabamento e design acima da média. Os alemães gozam de prestígio, dirigibilidade mais apurada e qualidade construtiva comprovada. Nota 6.

Total – O Citroën DS4 somou 74 pontos em 100 possíveis.

Citroën DS4 - Traseira e detalhe da lanterna e rodas

Impressões ao dirigir

A maior aplicação do DS4 em relação aos outros DS é óbvia assim que se põe os olhos nele. Não há um tom de inusitado, como no DS5, ou a imagem de agressividade, como no DS3. O DS4 é bonito, mas sem exageros. A tentativa de esconder a porta traseira dá certo e, de longe, o hatch realmente fica parecendo um cupê. O problema é que o acesso aos bancos traseiros fica bem precário. A caixa de roda é pronunciada e o formato da parte inferior da porta dificulta a entrada. Atrás, por sinal, um adulto de mais de 1,80 metro fica com a cabeça roçando no teto.

Na cabine, a história se confirma. O acabamento é excelente, inclusive superior aos BMW e Mercedes-Benz da faixa. Já as tentativas da Citroën para deixar o modelo mais “engraçadinho” – as mudanças de cor dos instrumentos e do som da seta – são o tipo de coisa que só impressionam na primeira semana. Depois, dá até para esquecer que estão lá. Principalmente o som da seta, que só varia entre o tradicional “tic tac” e outros esdrúxulos e irritantes com nomes pomposos, como Urban Rythmik e Jungle Fantasy.

A “sensatez” do DS4 aparece claramente também na parte dinâmica. Apesar de esperto, o médio pesa mais e por isso é mais comportado que o pequeno DS3. E mais simples de usar também. O câmbio automático de seis marchas – que deve a opção de trocas manuais no volante – facilita a vida em engarrafamentos e em longas viagens. A dupla formada com o motor 1.6 THP é bem entrosada e de fato distancia o DS4 dos medios “tradicionais” em termos de desempenho. O turbo entra em ação em giros baixos e permanece “soprando” até altas rotações. Na prática, isso significa que tanto acelerações como retomadas são feitas com agilidade.

A tração dianteira e o alto centro de gravidade não atrapalham o bom comportamento dinâmico do hatch. O DS4 é um carro que enfrenta uma sequência de curvas sem grandes problemas. A suspensão é rígida e mantém a carroceria neutra nas curvas – com algumas consequências no conforto ao rodar – e os pneus 225/45 mantêm aderência em todos os momentos. O volante, entretanto, merecia ter pegada melhor e um aro mais grosso para instigar mais a esportividade. Esta talvez seja a essência do DS4. Um carro que tenta aliar boa dirigibilidade com usabilidade e alta tecnologia. Mesmo que seja o menos emocionante da linha.

Citroën DS4 - Interior chique

Ficha técnica - Citroën DS4

Motor: Gasolina, dianteiro, transversal, 1.598 cm³, quatro cilindros em linha, quatro válvulas por cilindro, comando duplo no cabeçote e turbocompressor. Acelerador eletrônico e injeção eletrônica multiponto sequencial.

Transmissão: Câmbio automático de seis marchas à frente e uma a ré. Tração dianteira. Oferece controle de tração.

Potência máxima: 165 cv a 6 mil rpm.

Torque máximo: 24,5 kgfm a 1.400 rpm.

Aceleração 0 a 100 km/h: 8,6 segundos.

Velocidade máxima: 212 km/h.

Diâmetro e curso: 77,0 mm X 85,8 mm. Taxa de compressão: 11,0:1.

Citroën DS4 - Motor

Suspensão: Dianteira independente do tipo pseudo McPherson, com braços inferiores triangulares e barra estabilizadora. Traseira com travessa deformável com barra estabilizadora. Oferece controle de estabilidade.

Freios: Discos ventilados na dianteira e sólidos na traseira. Oferece ABS com EBD.

Pneus: 225/45 R18.

Carroceria: Hatch em monobloco com quatro portas e cinco lugares. Com 4,27 metros de comprimento, 1,81 metro de largura, 1,53 metro de altura e 2,61 metros de entre-eixos. Oferece airbags frontais, laterais e de cortina.

Peso: 1.363 kg.

Capacidade do porta-malas: 359 litros.

Tanque de combustível: 60 litros.

Produção: Mulhouse, França.

Lançamento mundial: 2010.

Lançamento no Brasil: 2013

Itens de série: Airbags frontais, laterais e de cortina, apoios de cabeça com regulagem de altura, controle de estabilidade e tração, faróis bi-xenon com acendimento automático e acompanhamento em curva, luzes diurnas de led, cruise control, freio de estacionamento elétrico, ar-condicionado dual zone, botão de partida, câmera de ré, computador de bordo, pedaleira de alumínio, trio elétrico, revestimento de couro, head-up display, bancos com ajuste elétrico, banco do motorista com massageador, rodas de liga leve de 18 polegadas e rádio/CD/MP3/Aux/Bluetooth/GPS.

Preço: R$ 99.965.

Autor: Rodrigo Machado (Auto Press)
Fotos: Pedro Paulo Figueiredo/Carta Z Notícias