Nos últimos anos, a Fiat pareceu até desinteressada do segmento de compactos no Brasil. Já imbuída do espírito FCA – Fiat Chrysler Automobile –, se dedicou a segmentos em que não atuava, como o de utilitários esportivos, com os Jeep Renegade e Compass, de picapes médias, com a Toro, e subcompactos, com o Mobi. Nesse tempo, o Uno se manteve relativamente bem nas vendas, mas o antigo campeão de vendas, o Palio, sentiu o abandono. Por isso, o compacto Argo chega com uma dupla função: aposentar o injustiçado Punto, que sempre vendeu pouco, e rebaixar o Palio a carro de entrada – a partir de agora, terá apenas motorização 1.0. Enquanto isso, o Argo desafia Chevrolet Onix e Hyundai HB20 para tentar voltar a ter um modelo no topo do ranking e, quem sabe, até reconquistar a liderança perdida para a Chevrolet nos últimos anos.

Fiat Argo HGT 1.8 Automático
Fiat Argo HGT 1.8 Automático / Créditos: Reprodução

Mas não vai ser pelo preço que a Fiat vai tentar reconquistar o mercado. O Argo chega com mais tecnologia que os rivais diretos, mas a tabela reflete esta condição. O Argo mais barato, Drive 1.0, que só existe com câmbio manual, começa em salgados R$ 46.800. E além do desenho estiloso e do projeto moderno, oferece muito pouco: ar, direção, travas e vidros dianteiros elétricos. Completo, com kit multimídia, vidros traseiros e retrovisores elétricos, pintura metálica e câmara de ré com sensor traseiro, fica em R$ 52.790. Logo acima vem a versão Drive 1.3, que acrescenta de série o kit multimídia, volante multifuncional e monitoramento dos pneus e custa R$ 53.800.

Toda a primeira linha de frente do Argo utiliza os motores Firefly – 1.0 de 72/77 cv e 1.3 de 101/109 cv –, mas os itens mais tecnológicos só passam a ser oferecidos na versão Drive 1.3 GSR – sigla para Gear Smart Ride, que rebatizou a antiga transmisão automatizada Dualogic. De série, são acrescentados controle de cruzeiro, paddle-shifts, vidros traseiros e espelhos elétricos e os sistema de auxílio dinâmico, como controle de estabilidade e tração e assistente de partida em rampas. A versão custa a partir de R$ 58.900.

Fiat Argo HGT 1.8 Automático
Fiat Argo HGT 1.8 Automático / Créditos: Reprodução

O lado mais glamouroso do Argo só começa a aparecer quando sob o capô está o motor 1.8 de 139 cv – caso das versões Precision e HGT. A Precision com câmbio manual custa R$ 61.800 e acrescenta de relevante à versão Drive 1.3 GSR rodas de liga leve aro 15, alarme, lanternas dianteiras em led e faróis de neblina. A versão com câmbio automático de seis marchas recebe ainda paddle-shifts e controle de cruzeiro e o preço sobe R$ 6 mil, para R$ 67.800. A partir desta versão, uma série de equipamentos passam a ser disponibilizados como opcionais. Casos dos sensores de luz e chuva, sidebags, quadro de instrumentos com tela TFT de 7 polegadas, chave presencial para travas e ignição, câmara e sensor de ré, retrovisor eletrocrômico e revestimento em couro vegetal e rodas de liga leve aro 16 – que, sabe-se lá porque, é incompatível com a câmara de ré. Completa, a versão fica em R$ 76.600, com câmara de ré, ou R$ 77.600, com rodas aro 16.

A topo de linha do novo compacto da Fiat é a versão HGT. Ela tem detalhes visuais para ganhar um ar mais esportivo, como ponteira cromada, detalhes em vermelho no para-choque dianteiro, spoiler traseiro e moldura nas caixas de roda. Ele já vem de série com rodas aro 16, volante de couro com base reta e tele TFT de 7 polegadas no quadro de instrumentos. A versão manual parte de R$ 64.600. A versão HGT AT6, a mais cara, começa em R$ 70.600. Com todos os opcionais – chave presencial, sidebags, ar digital, rodas 17, revestimento em couro vegetal, etc –, chega a espantosos R$ 81.200.

Fiat Argo HGT 1.8 Automático
Fiat Argo HGT 1.8 Automático / Créditos: Reprodução

Esta combinação de design, conteúdo e habitabilidade faz a Fiat acreditar em uma trajetória crescente para o compacto. A ideia é que inicialmente saiam da unidade de Betim, em média, 5 mil unidades mensais. Isso apenas para abastecer o mercado brasileiro, pois ao longo deste ano, o Argo será apresentado nos mercados latino-americanos. Com as linhas mais azeitadas, o projeto é ultrapassar os 10 mil emplacamentos mensais no país e ir para o topo do ranking de modelos. Depois será a vez da configuração sedã, que será produzida ainda este ano na fábrica da FCA em Córdoba, Argentina e deve ser apresentada em dezembro.

Ponto a ponto

Desempenho – O Fiat Argo entrega respostas muito diferentes de acordo com o trem de força que o empurra. A versão testada, HGT 1.8 AT6, mostra o que de melhor a linha pode oferecer e o conjunto demonstrou extrema facilidade para movimentar o hatch de 1.279 kg. Afinal, são 340 kg a menos que a picape Toro 1.8 Freedom, que utiliza o mesmo motor e câmbio. As arrancadas, o ganho de velocidade e as retomadas são feitas de forma extremamente ágil e a transmissão trabalha com suavidade. Mas os números da engenharia da montadora mostram que é um pouco de exagero designar a versão como HGT, de High Grand Turismo: zero a 100 km/h em 10,4 segundos e máxima de 191 km/h. Nota 9.

Estabilidade – O conceito da suspensão do Argo não foge ao padrão do segmento: McPherson da frente e eixo de torção na traseira. No limitado test drive de lançamento, o conjunto mostrou boa capacidade de evitar as rolagens laterais e efeito gangorra nas acelerações e frenagens. O que muda neste compacto, segundo a Fiat, é a arquitetura bem-amarrada, que usa aços de alta resistência. O que faz a nova plataforma MP1 ter uma rigidez torcional 7% maior que a do antecessor Punto. Nota 7.

Fiat Argo HGT 1.8 Automático
Fiat Argo HGT 1.8 Automático / Créditos: Reprodução

Interatividade – A engenharia da marca italiana buscou facilitar ao máximo a interface entre motorista e veículo. São três formas de acessar as funções. A primeira é por comando vocal. Outra é através da tela “touch” de 7 polegadas que emerge o console central e fica bem na altura dos olhos do motorista. Ela ainda dá acesso à central multimídia, que espelha smartphones Android e iPhones. A terceira é pelo volante multifuncional, que permite navegar por informações do computador de bordo, do som ou do veículo, através de uma tela de TFT configurável que fica entre o velocímetro e conta-giros. Nas versões Drive e Precision ela é de 3,5 polegadas enquanto na HGT é de 7 polegadas. Além disso, os comandos são fáceis de manusear e bem acessíveis. Nota 9.

Consumo – Na avaliação do InMetro, o Argo foi de muito ruim a muito bom. Os motores Firefly conseguiram sempre nota A. A versão Drive 1.0 manual, a mais econômica, apresentou consumo urbano de 9,9/10,7 km/l e rodoviário de 14,2/15,1 com etanol/gasolina. Já o 1.8 AT6 HGT testado ficou com uma nota D, com consumo urbano de 7,0/9,9 km/l e rodoviário de 9,9/12,8 km/h. Isso nas melhores condições de temperatura e pressão. Nota 6.

Fiat Argo HGT 1.8 Automático
Fiat Argo HGT 1.8 Automático / Créditos: Reprodução

Conforto – A suspensão é firme – em especial, a da versão HGT–, mas não transmite as imperfeições do pavimento para os passageiros. Já os bancos têm boa ergonomia e acomodam bem o corpo. O isolamento acústico, pelo menos nas versões superiores, é dos melhores. Mas é preciso levar em conta que o Argo HGT AT6 tem 184 kg a mais que a Drive 1.0 e parte desse peso é em material fonoabsorvente. Nota 8.

Tecnologia – O Argo tem uma nova plataforma, que utiliza aços especiais, como vem acontecendo com todos os projetos novos da indústria. A tecnologia embarcada também é atualizada e oferece recursos eletrônicos de auxílio dinâmico, como controle de tração e estabilidade, que aos poucos começam a ser oferecidos nos modelos compactos no Brasil – nos países centrais, já estão presentes há muitos anos. O modelo tem ainda recursos de conectividade, que também são cada vez mais comuns e quase obrigatórios. Na própria apresentação, foi destacado que a única vantagem da central multimídia do Argo sobre o do Chevrolet Onix, modelo lançado cinco anos atrás, era ter tela HD. Ou seja: apesar de lançado agora, o Argo não apresentou nenhuma tecnologia inédita no segmento de compactos superiores. Perdeu, inclusive, a chance de transformar a lanterna dianteira em led em uma DRL – daytime running lights ou luzes de rodagem diurna. Isso desobrigaria os motoristas a terem de lembrar de acender o farol nas rodovias federais. Nota 7.

Fiat Argo HGT 1.8 Automático
Fiat Argo HGT 1.8 Automático / Créditos: Reprodução

Habitabilidade – O espaço interno é um dos pontos altos do Argo. Embora o habitáculo seja estreito, como todos os modelos da categoria, a extensão longitudinal impressiona. Há espaço para as pernas no banco traseiro, sem que os ocupantes da frente precisem se espremer. Já o acesso ao banco traseiro não é dos melhores. Embora não chegue a ser um típico “design victim”, o Argo tem um caimento acentuado na coluna traseira que fica no caminho da cabeça de quem entra – ainda mais de for uma pessoa de maior volume. O porta-malas tem a mesma capacidade dos melhores da categoria, como Citroën C3 e Hyunday HB20. Nota 8.

Acabamento – Este é um ponto favorável ao carrinho da Fiat. Embora todas as superfícies sejam sempre de materiais rígidos, as texturas e revestimentos são agradáveis e de bom gosto. Na versão avaliada, HGT, não tinha frestas ou rebarbas e todos os encaixes eram bem feitos. E ainda havia o revestimento em couro vegetal opcional, que melhora a vida a bordo. Nota 8

Fiat Argo HGT 1.8 Automático
Fiat Argo HGT 1.8 Automático / Créditos: Reprodução

Design – É a maior aposta da Fiat para o sucesso do Argo. Ele segue o estilo Wrap Around já aplicado à Toro e ao Mobi, com boa aceitação nos dois casos, e tem características bem atraentes. A frente tem aspecto robusto, com uma grade bem encorpada e os faróis afilados. De lado, a musculatura dos vincos é valorizada e as linhas do perfil são bem angulosas, o que empresta um ar esportivo ao modelo. A traseira, parte mais feliz do design, traz lanternas encaracoladas em alto relevo que dão muita personalidade ao carro. Nota 9.

Custo/benefício – A Fiat mirou nos líderes do segmento, Chevrolet Onix e Hyundai HB20. Por isso, o preço em relação ao conteúdo é muito semelhante. A tabela do Argo começa em R$ 46.800, para a versão Drive 1.0 sem kit multimídia – o equipamento encarece o modelo em quase R$ 2 mil – e vai num crescente até alcançar os R$ 70.600, da versão HGT 1.8 AT6, sem opcionais. O preço, definitivamente, não é um fator de atração do novo compacto da marca italiana. Nota 6.

Total – O Fiat Argo somou 77 pontos em 100 possíveis.

Primeiras impressões

São Paulo/SP – As ruas travadas da capital paulistana não são um bom lugar para se testar as virtudes dinâmicas de um carro. Mas ficar enclausurado dentro de um carro é uma forma eficiente para se avaliar a habitabilidade. E nesse ponto o Argo foi muitíssimo bem. As medidas longitudinais do modelo são generosas, com uma área respeitável para pernas. Do mesmo modo, a boa altura da carroceria, de 1,51 metro, cria espaço de sobra para a cabeça. Apenas lateralmente haverá um certo aperto se forem embarcados cinco passageiros.

Fiat Argo HGT 1.8 Automático
Fiat Argo HGT 1.8 Automático / Créditos: Reprodução

A versão testada, HGT AT6, ainda tinha um capricho especial no acabamento e nos equipamentos. Os revestimentos são agradáveis ao toque, embora não haja superfícies macias, com alguns rivais oferecem. De qualquer forma, o ambiente é bonito, agradável, com grande conforto acústico e térmico. A suspensão da versão mais esportiva é um pouco mais rígida que as outras. Ainda assim, as famigeradas valetas paulistanas foram transpostas sem maiores incômodos.

Fiat Argo HGT 1.8 Automático
Fiat Argo HGT 1.8 Automático / Créditos: Reprodução

Para poder fazer uma avaliação dinâmica um pouco mais coerente, foi preciso buscar trajetos alternativos, menos congestionados, coisa difícil de achar em São Paulo. As acelerações e retomadas são feitas com grande facilidade pelo compacto. A potência de 139 cv, com torque de 19,3 kgfm, são mais que suficientes para animar o compacto de 1.279 kg – uma relação peso/petência de 9,20 kg/cv. Com câmbio manual, o peso cai a 1.243 kg e a relação fica em 8,94 kg/cv. É um bom índice, mas o escalonamento do câmbio não explora o motor de forma muito agressiva. Tanto que o zero a 100 km/h, queimando etanol, é feito em bem comportados 10,4 segundos – ou 9,4 segundos na versão manual. Por outro lado, o conforto de rodagem é absoluto. Mal se percebe as mudanças de marcha. O Argo HGT se mostrou um carro confortável e com ótima habitabilidade, a despeito do visual esportivo.

Ficha técnica

Fiat Argo HGT 1.8 AT6

Motor 1.8: Gasolina e etanol, dianteiro, transversal, 1.747 cm³, quatro cilindros em linha, quatro válvulas por cilindro e comando simples no cabeçote. Coletor de admissão variável, injeção eletrônica multiponto e acelerador eletrônico. 
Transmissão: Câmbio automático de seis velocidades à frente e uma a ré nas versões. Tração dianteira. Oferece controle de tração.
Potência: 135 cv com gasolina e 139 cv com etanol a 5.750 rpm. 
Torque máximo: 18,8 kgfm com gasolina e 19,3 kgfm com etanol a 3.750 rpm. 
Aceleração 0-100 km/h: 11,1 segundos com gasolina e 10,4 s com etanol. 
Velocidade máxima: 189 km/h com gasolina e 191 km/h com etanol. 
Diâmetro e curso: 80,5 mm x 85,8 mm.
Taxa de compressão: 12,5:1. 
Suspensão: Dianteira independente do tipo McPherson, braços oscilantes inferiores com geometria triangular e barra estabilizadora, amortecedores hidráulicos e pressurizados e molas helicoidais. Traseira semi-independente por eixo de torção com molas helicoidais e amortecedores de duplo efeito. Oferece controle eletrônico de estabilidade de série. 
Pneus: 195/55 R16. 
Freios: Discos sólidos na frente e a tambor atrás. Oferece ABS com EBD. 
Carroceria: Hatch em monobloco, com quatro portas e cinco lugares. Comprimento de 4,00 metros com 1,75 m de largura, 1,51 m de altura e 2,52 m de entre-eixos. Possui airbags frontais de série. Airbags laterais opcionais. 
Peso: 1.279 kg. 
Capacidade do porta-malas: 300 litros. 
Tanque de combustível: 48 litros. 
Lançamento no Brasil: 2017. 
Produção: Betim, Minas Gerais.

Fiat Argo HGT 1.8 Automático
Fiat Argo HGT 1.8 Automático / Créditos: Reprodução


Autor: Eduardo Rocha (Auto Press)
Fotos: Eduardo Rocha/CZN e Divulgação