Não tem saída. Carro esportivo sempre apela muito mais para a emoção do que qualquer outra coisa. O preço é mais alto, a suspensão mais dura e, em muitos casos, o espaço interno é limitado. Além disso, a própria potência maior muitas vezes não tem grande utilidade no “mundo real” – e ainda acaba levando a um consumo de combustível desproporcional. Só que, dentro da “raça” dos esportivos, existem modelos que fogem – mesmo que ligeiramente – desta ideia. O Fiat Bravo T-Jet é um deles. Ele promete as premissas básicas do esportivo: motor forte e bom comportamento dinâmico. Mas não deixa de fora a praticidade, oferece um consumo decente e, principalmente, não eleva tanto a etiqueta de preço.

Fiat Bravo T-Jet

A versão esportiva do hatch médio parte de R$ 68.030. A configuração imediatamente inferior é a Absolute Dualogic, por R$ 62.530, valor apenas 8% menor que a T-Jet. Sem falar que a variante esportiva ainda adiciona o teto solar panorâmico, opcional de R$ 4.500. Na concorrência, essa diferença de preço é consideravelmente maior. Na própria Fiat, o Punto T-Jet é 16% mais caro que a versão anterior, enquanto que a Volkswagen cobra mais de 20% a mais pelo Jetta turbo em relação ao aspirado. Um dos principais rivais, o também hatch Peugeot 308 THP, é 10,6% mais caro que o modelo imediatamente inferior.

A versão esportiva responde por cerca de 10% das vendas do hatch. Mesmo com um percentual de participação relativamente expressivo para uma configuração esportiva, o T-Jet não basta para fazer o Bravo finalmente emplacar no Brasil. Em 2013, a média mensal de vendas está em 850 unidades. Dessa forma, o Bravo fica atrás de Ford Focus, Chevrolet Cruze hatch, Volkswagen Golf e Peugeot 308 e abocanha o quinto lugar no ranking. Mais abaixo aparecem Citroën C4 e Hyundai i30 – o francês vai receber nova geração este ano, enquanto o sul-coreano passou pela troca nestre primeiro quadrimestre.

Além do preço competitivo entre os hatches esportivos, o Bravo T-Jet agrada pelo competente conjunto dinâmico. O trem de força, por sinal, vem importado da Itália. O motor é o turbinado 1.4 T-Jet, com 152 cv a 5.500 rpm e 21,1 kgfm entre 2.250 e 4.500 giros. Ainda há a função Overbooster que eleva o torque para 23,0 kgfm nas 3 mil rotações. A transmissão é sempre manual com seis velocidades. Os dois alavancam o hatch de 1.370 kg a 100 km/h em 8,2 segundos e até uma velocidade máxima de 206 km/h. 

Por cumprir uma função de topo de linha, o T-Jet também vem bem equipado. Traz ar-condicionado dual zone, rodas de 17 polegadas, controle de estabilidade e tração, airbag duplo, ABS e o teto solar panorâmico. A lista de opcionais inclui faróis de xenon, rádio/GPS com tela 6,5 polegadas, airbags laterais, de cortina e de joelho e revestimento parcial em couro. Só que com tudo isso, a conta sobe para mais de R$ 80 mil. Um valor que compromete bastante o custo/benefício.

Fiat Bravo T-Jet

Ponto a ponto

Desempenho – Mesmo não sendo dos motores mais potentes entre os hatches esportivos, o 1.4 turbo vai muito bem na tarefa de acelerar o Bravo. Há algum “turbo lag”  – demora do turbocompressor para reagir – em giros baixos. Mas a partir das 3 mil rpm, o propulsor enche e empurra o médio com grande vitalidade. É fácil e instigante superar os 100 km/h. A sensação de esportividade é ampliada com o importado câmbio manual de seis marchas, com escalonamento correto e engates precisos. Nota 9.

Estabilidade – O Bravo já é um hatch com bom comportamento dinâmico. O acerto ligeiramente mais rígido da suspensão só melhora este aspecto. O médio segura bem nas curvas e passa uma ótima sensação de segurança. Os pneus 215/45 R17 – os mesmos das versões Absolute e Sporting – oferecem aderência e contribuem para o balanço dinâmico do carro. Nota 8.

Interatividade – A interação com a parte dinâmica do Bravo é interessante. O câmbio tem ajustes precisos, assim como a direção com assistência elétrica. Os pedais com acabamento em alumínio são adequados à proposta do T-Jet. O sistema de som que destoa do resto. Apesar de ser completo, tem funcionamento confuso demais. A tela não é sensível ao toque e nem tem interface intuitiva. Nota 7.

Fiat Bravo T-Jet

Consumo – O InMetro não tem medições de nenhuma versão do Fiat Bravo. O computador de bordo apontou média de 8,7 km/l de gasolina em um trajeto misto. Nota 7.

Tecnologia – O motor T-Jet não é dos turbinados mais modernos do mercado nacional. Mas entrega desempenho e consumo na medida certa. O câmbio importado da Itália é outro que agrada. A lista de equipamentos já é completa de série, com direito a ar dual zone e controles de tração e estabilidade. Ainda há na lista de opcionais itens como faróis de xenon, teto solar panorâmico e rádio com tela de 6,5 polegadas. O sistema de som, por sinal, é o que destoa, com funcionamento confuso. Nota 8.

Conforto – A suspensão mais rígida pouco afeta o conforto ao rodar do Bravo. Isso significa que o hatch continua respondendo com pancadas secas em alguns buracos mais fundos. Na cabine, o médio acomoda quatro pessoas com sobras. O único problema é a linha de cintura ascendente, que deixa os ocupantes do banco traseiro um tanto afundados. Nota 7.

Fiat Bravo T-Jet

Habitabilidade – A vida a bordo do Bravo é tranquila. Há boa quantidade de porta-objetos e todos bem localizados. Entrar na parte de trás do hatch é mais complicado por causa do caimento acentuado do teto. Nada grave, no entanto. O porta-malas leva razoáveis 400 litros. Nota 7.

Acabamento – É um dos destaques do Bravo. O painel é todo em plástico emborrachado com uma textura que lembra a usada em cintos de segurança. O volante e parte dos bancos são revestidos em couro de qualidade. A versão T-Jet ainda adiciona tempero à mistura com os pespontos vermelhos. Nota 8.

Design – O Bravo é um carro que preza mais pela elegância no design do que propriamente a esportividade. Talvez pensando nisso a Fiat praticamente não tenha feito mudanças estéticas para a versão T-Jet. Só as rodas mais esportivas diferenciam o T-Jet dos outros Bravo, além de alguns discretos decalques na carroceira. Nota 8.

Custo/beneficio – O preço inicial do Bravo T-Jet agrada bastante. Por R$ 68.030, ele é consideravelmente mais barato que o Peugeot 308 THP, seu principal rival. O problema é a lista de opcionais, que elevam o preço do Bravo para mais de R$ 80 mil. Ao menos, lá estão equipamentos interessantes como os sete airbags e faróis de xenon. Outro concorrente importante é o Punto T-Jet, que compartilha o mesmo motor e parte de R$ 57.160. Nota 6.

Total – O Fiat Bravo T-Jet somou 75 pontos em 100 possíveis.

Fiat Bravo T-Jet

Impressões ao dirigir

Uma das maiores qualidades do Bravo T-Jet é surpreender seu motorista. O visual pacato não denuncia que se trata de um carro realmente esportivo. Só as rodas com desenho exclusivo e meia dúzia de adesivos na carroceria diferenciam este de um Bravo comum. O desempenho, por outro lado, é completamente diferente. O T-Jet é instigante de dirigir. O motor 1.4 turbo não é dos melhores da classe, mas traz gosto de ser explorado. A partir dos 3 mil giros e com a função Overbooster ligada ele fica “animado”. Traz força de sobra para o hatch médio e não reclama de atingir giros elevados. Aliado a ele está a bela transmissão de seis marchas. Com engates precisos e relações próximas, nem parece ser feita pela mesma empresa que produz os “borrachudos” câmbios que estão nos compactos brasileiros da Fiat.

Dinamicamente, o T-Jet só aprimora o comportamento já interessante do Bravo comum. A suspensão é um pouco mais firme e diminui algumas rolagens de carroceria. O chassi é acertado e há bastante controle do hatch tanto em mudanças bruscas de direção quanto em frenagens fortes. Os pneus são os mesmos das demais configurações do hatch e contribuem com aderência suficiente.

O ajuste mais rígido da suspensão praticamente não altera a maneira com que o Bravo se comporta no cotidiano. O conforto ao rodar é razoável e o isolamento acústico permanece satisfatório. O espaço interno é bom para quatro adultos. Um quinto fica um tanto espremido. O acabamento é mais um ponto a favor do hatch da Fiat. O painel é todo revestido de plástico emborrachado com textura semelhante a usada em cinto de segurança. Parece estranho, mas é bonito e agradável ao toque. O que destoa do bonito interior é o rádio. A tela até é vistosa. Entretanto, não é sensível ao toque e o próprio programa tem funcionamento confuso. Melhor mesmo é desligar o som e concentrar em andar rápido. Algo que o Bravo T-Jet faz realmente bem. 

Fiat Bravo T-Jet

Ficha técnica (Dados de Fábrica)

Fiat Bravo T-Jet

Motor: A gasolina, dianteiro, transversal, 1.368 cm³, quatro cilindros em linha, quatro válvulas por cilindro e comando duplo de válvulas no cabeçote. Turbocompressor, intercooler, injeção eletrônica multiponto sequencial e acelerador eletrônico. 

Transmissão: Câmbio manual de seis marchas à frente e uma a ré. Tração dianteira. Possui controle eletrônico de tração.

Potência máxima: 152 cv a 5.500 rpm. 

Aceleração 0-100 km/h: 8,7 segundos. (este é o dado fornecido pela fábrica, diferente do nosso teste)

Velocidade máxima: 206 km/h.

Torque máximo: 21,1 kgfm entre 2.250 e 4.500 rpm. Com o Overbooster ligado: 23,0 kgfm a 3 mil rpm.

Diâmetro e curso:  72 mm x 84 mm. Taxa de compressão: 9,8:1.

Fiat Bravo T-Jet - Interior

Suspensão: Dianteira do tipo McPherson com rodas independentes, braços oscilantes e barra estabilizadora. Traseira do tipo eixo de torção, com rodas semi-independentes e barra estabilizadora.

Pneus: 215/45 R17.

Freios: Discos ventilados na frente e sólidos atrás. Oferece ABS com EBD.

Carroceria: Hatch em monobloco com quatro portas e cinco lugares. Com 4,36 metros de comprimento, 1,79 m de largura, 1,48 m de altura e 2,60 m de entre-eixos. Oferece airbags frontais de série e laterais, de cortina e de joelho para o motorista como opcional.

Peso: 1.370 kg.

Capacidade do porta-malas: 400 litros.

Tanque de combustível: 58 litros.

Fiat Bravo T-Jet - Motor

Produção: Betim, Minas Gerais.

Lançamento na Europa: 2007.

Lançamento no Brasil: 2010.

Itens de série: Airbag duplo, ar-condicionado dual zone, direção elétrica rádio/MP3/USB/Bluetooth, volante multifuncional, rodas de liga leve de 17 polegadas, ABS, apoios de braço, banco do motorista com regulagem de altura, computador de bordo, controle de estabilidade e de tração, Hill Holder – que auxilia nas partidas em ladeiras –, ponteira do escapamento cromada, sensor de estacionamento traseiro e trio elétrico.

Preço: R$ 68.030.

Opcionais: Faróis de xenon, teto solar panorâmico, rebatimento elétrico dos retrovisores, sensor de chuva, sensor crepuscular, retrovisor interno eletrocrômico, sensor de estacionamento dianteiro, rádio com tela de 6,5 polegadas com GPS integrado, airbags laterais, de cortina e de joelho para o motorista e bancos revestidos parcialmente em couro.

Preço completo: R$ 82.485.

Autor: Rodrigo Machado (Auto Press)
Fotos: Pedro Paulo Figueiredo/Carta Z Notícias