Nos últimos meses, o Fiat Palio Fire voltou aos holofotes do mercado brasileiro. Atualmente, é o modelo que concentra a maior parte da verba publicitária da marca. Tanta atenção ocorre por dois motivos. O primeiro foi a “aposentadoria” do Mille, decidida quando a marca italiana achou melhor tirar o veterano compacto da linha do que incluir ABS e airbags, obrigatórios desde janeiro. O segundo foi a chegada do Volkswagen Up!. Antes do lançamento, ventilou-se que o novo carrinho da marca alemã custaria R$ 25 mil em sua configuração mais barata – o que não foi confirmado em fevereiro último, quando o ultrabásico Take Up! de duas portas foi anunciado por R$ 26.900. Como fabricante que mais vende carros no Brasil, a Fiat resolveu contra-atacar previamente. Um mês antes do lançamento do Up!, colocou o Palio Fire para brigar pelo título de carro mais barato do Brasil, com preço inicial de R$ 23.990 – na versão duas portas. Para isso, adotou no seu hatch básico pequenas mudanças no visual, mas manteve o semblante de 2004 – que fez mais sucesso. Sob o capô, o econômico motor Fire 1.0 8V, que puxa um modelo que vem de série com pouquíssimos equipamentos. Na medida certa para abaixar o peso – e o preço.
Depois de alguns reajustes no valor, o carro agora parte de R$ 24.490 – R$ 26.520 na versão quatro portas. A elevação do preço reduziu a diferença para a concorrência, mas manteve o carro na disputa da posição de “queridinho dos pão-duros”. Ainda só oferecendo a versão quatro portas, a Volkswagen pede iniciais R$ 28.900 pelo Take Up!. A Renault tem o Clio, que começa em R$ 24.690 e R$ 25.700, nas versões de duas e quatro portas. No caso da Nissan, o valor inicial pedido pelo March – que só possui a configuração com quatro portas – é de R$ 27.990. Já na Chevrolet, o Celta passou a ser comercializado somente na versão quatro portas, o que subiu o preço inicial do carro para R$ 31.390. E o chinês Chery QQ anda sendo oferecido por R$ 24.490.
Os R$ 26.520 do Palio Fire de quatro portas não contemplam nenhum item de conforto. A proposta racional predomina. De série, apenas os obrigatórios airbags dianteiros e freios ABS, apoios de cabeça dianteiros com regulagem de altura, banco traseiro rebatível, bancos com assento anti-submarining, bancos dianteiros reclináveis, barra de proteção nas portas e brake light. Para tornar o carro um pouco mais interessante, itens como direção hidráulica, ar-condicionado, rádio e rodas de liga leve de 14 polegadas, vidros elétricos dianteiros, travas elétricas, faróis de neblina, retrovisores na cor do veículo e limpador traseiro podem ser adquiridos como opcionais. Mas, com todos esses equipamentos, o preço da versão quatro portas sobe para R$ 32.334. Outras comodidades banais, como ajuste do volante e de altura do banco, ou vidros traseiros e retrovisores com ajuste elétricos, sequer aparecem nessa lista.
As proporções do hatch permanecem as mesmas. São 3,82 m de comprimento, 1,63 m de largura, 1,43 m de altura e 2,37 m de entre-eixos. A Fiat promoveu discretas alterações no visual, como a grade frontal junto ao para-choque dianteiro na cor do veículo e também uma nova pintura nos faróis com biparábolas – que foram 100% metalizados. Já o interior exibe alterações mais significativas. A ergononia não mudou, mas o novo painel traz um remodelado quadro de instrumentos, onde “sumiu” o conta-giros e “apareceu” a função Econômetro – já presente em outros modelos da marca. O mostrador indica ao motorista se a condução está eficiente em termos de consumo de combustível – cor verde – ou não – cor vermelha. O habitáculo ainda traz novo volante, console central com porta-copos integrado, novos tecidos para os bancos e painéis das portas.
A Fiat não alterou a mecânica do Palio. Optou por manter o motor 1.0 8V Fire que rende 73 cv com gasolina e 77 cv com etanol, sempre a 6.250 rpm – outra opção seria adotar o propulsor 1.0 Evo do Uno. O torque é de 9,5/9,9 kgfm com gasolina ou etanol no tanque, respectivamente, a 4.500 giros. Com a transmissão manual de cinco marchas, o Palio demora pouco mais de 15 segundos para chegar aos 100 km/h. Já a velocidade máxima é de 164 km/h, de acordo com os dados da Fiat. Outro atrativo do Palio Fire é a economia de combustível. O propulsor Fire 1.0 litro obteve nota “A” no Programa Brasileira de Etiquetagem do InMetro – algo que soa como música aos ouvidos dos consumidores mais apegados ao dinheiro. Exatamente os que acompanham com maior interesse a dura disputa na qual o Palio Fire está envolvido.
Ponto a ponto
Desempenho – Os 75 cv de potência máxima do motor 1.0 litro 8V não fazem milagres. No tedioso “para e anda” das grandes cidades, o Palio até cumpre bem o seu papel. Mas dar uma “esticada” com o modelo exige paciência, já que o zero a 100 km/h é cumprido em longos 15,2 segundos – com etanol. O escalonamento da transmissão manual de cinco marchas até não desagrada, mas os encaixes poderiam ser mais precisos. Nota 6.
Estabilidade – Nas velocidades baixas cotidianas, o Palio se sai bem e mostra boa desenvoltura em curvas e manobras. Mas ,quando o ponteiro do velocímetro começa a subir, o hatch trata logo de avisar seus limites e “cantar” pneus em ligeiros abusos nas curvas. Em mudanças bruscas de direção, a carroceria rola um pouco, mas tudo de maneira “civilizada” e sem a perda da sensação de segurança. Nota 7.
Interatividade – Por ser um carro bem simples, o Palio Fire é de fácil manuseio, mas tem alguns senões. A começar pelo painel. Os números grandes facilitam a leitura, mas ele não traz o tradicional conta-giros. No lugar, a Fiat instalou um econômetro para dar uma força ao marketing ecológico. Outro ponto negativo é a localização das saídas de ar. Elas são baixas e tendem a “gelar” a mão do condutor se o ar-condicionado estiver ligado. Nota 7.
Consumo – O InMetro testou uma unidade do Fiat Palio Fire 1.0 8V na versão quatro portas. O modelo obteve duas notas “A”, tanto na classificação do segmento quanto no geral. As médias que garantiram o resultado foram de 8,8 km/l na cidade e 10,3 km/l na estrada com etanol e 12,3 km/l no trajeto urbano e 15 km/l na estrada quando abastecido com gasolina. Nota 9.
Conforto – O Palio Fire traz o tradicional acerto de suspensão do compacto da Fiat. Ela tem ajuste bem macio e absorve os desníveis do asfalto com sucesso. Os ocupantes dianteiros gozam de certo espaço. Já nos bancos traseiros, os mais altos podem sofrer um pouco e a adição de uma terceira pessoa compromete o conforto em viagens mais longas. Além disso, o apoio de cabeça no banco central traseiro também foi lamentavelmente “economizado”. Nota 6.
Tecnologia – O motor 1.0 Fire e a plataforma são basicamente os mesmos da década retrasada. E para custar o preço de R$ 24.490, a Fiat “removeu” equipamentos básicos. O carro não conta, de série, com direção hidráulica nem ar-condicionado. Mas a maioria dos carros de entrada não oferecem tais dispositivos em suas versões mais baratas. Para dar ao carro algumas poucas comodidades básicas, como rádio com USB e MP3 e vidros e travas elétricas no banco dianteiro, o futuro comprador já precisa pagar por fora. Nota 5.
Habitabilidade – Não há grandes dificuldades para acessar o interior do Palio. Tanto na frente quando atrás, as portas tem um bom ângulo de abertura. Os porta-objetos são poucos, mas eficientes. Além das portas, à frente da alavanca de câmbio há espaço para dois copos ou latas. Logo acima há um nicho para carteiras, celulares ou chaves serem armazenadas. Os vidros dianteiros têm ajuste elétrico – opcional — com a função “one touch”, mas atrás é a velha maçaneta de outrora. Já o porta-malas leva bons 290 litros. Nota 6.
Acabamento – Por ser um dos carros mais baratos à venda no mercado brasileiro, o acabamento segue algumas lógicas. Uma delas é o predomínio de plásticos rígidos e rugosos. O console central e as saídas de ar possuem um tom diferente do resto do painel . A unidade testada ainda apresentava evidente falta de controle de qualidade na montagem na área dos comandos dos vidros elétricos, com peças em diferentes níveis e algumas rebarbas. Já o novo tecido dos bancos com grafismos até agrada. Nota 5.
Design – O Palio teve alguns desenhos desde sua estreia no mercado brasileiro, em 1996. Mas a atual “cara” é basicamente a de 2004 – o que dá ao modelo um certo ar “vintage”. O estilo é tão “old fashion” que fica até difícil convencer que se trata realmente de um carro novo. Na linha 2014, a Fiat promoveu discretas modificações como uma nova grade frontal e a pintura dos faróis biparabólicos. E só. As mudanças mais significativas – mesmo assim, poucas – aconteceram no interior. Nota 5.
Custo/benefício – Ser mais barato é o melhor argumento de vendas do Palio. O hatch vem totalmente “pelado” de série e custa R$ 24.490 e R$ 26.420, nas versões duas e quatro portas, respectivamente. A versão testada era quatro portas e com alguns opcionais como direção hidráulica, ar-condicionado, vidros elétricos dianteiros, travas elétricas, rodas de liga leve de 14 polegadas – série são de aço e 13 polegadas –, faróis de neblina, retrovisores na cor do veículo, rádio com MP3 e entrada USB no porta-luvas e limpador traseiro. Com tudo isso a etiqueta sobe para R$ 32.334, na configuração com quatro portas. A Chevrolet agora só oferece o Celta com quatro portas e o preço parte de R$ 31.390. Já a Renault cobra R$ 33.357 pelo Clio Expression quando equipado à altura. O Volkswagen Take Up! também ultrapassa os R$ 33 mil e o Nissan March quase bate R$ 34 mil. Nota 8.
Total – O Fiat Palio Fire 1.0 8V somou 64 pontos em 100 possíveis.
Impressões ao dirigir
Frentista correndo atrás do carro, “porquinho” de dinheiro sendo quebrado e uma leveza absoluta. É assim que a Fiat mostra o Palio Fire 2014 por meio dos comerciais na tevê. Porém, o carro testado – que é o mais facilmente encontrável nas concessionárias – não chega a ser tão “basicão”. E nem tão barato – custa R$ 32.334. Ele conta com comodidades como direção hidráulica, ar-condicionado, rádio e vidros dianteiros elétricos. Na hora de regular espelhos retrovisores externos, o motorista precisa se esticar para mexer no comando manual do espelho do carona. No painel renovado, a novidade é o vistoso Econômetro, que ajuda o condutor a ter uma noção se está dirigindo de forma eficiente ou não. Já o medidor de combustível é digital e de fácil leitura, por meio de “barrinhas”
No aspecto geral, o interior do Palio Fire não disfarça a idade do projeto. Os plásticos estão espalhados por todos os lados e os encaixes na área das portas da unidade testada mereciam melhor atenção. A forração das portas foi removida e a falta de um material fonoabsorvente é nítida, já que o baixo ruído do motor invade a cabine sem pedir licença. No novo volante, o revestimento é até agradável, mas a peça é “rechonchuda” demais e atrapalha a pegada. O ar-condicionado – que custa sozinho elevados R$ 2.406 – é eficiente e “gela” o habitáculo rapidamente. Já o som ambiente custa apenas R$ 184, com o simples rádio com MP3/WMA e entrada USB no porta-luvas.
Em movimento, o Palio Fire não prega surpresas ao condutor. As movimentações transcorrem sempre de forma gradativa e na maior calmaria. As prestações do motor 1.0 litro de 75 cv são justas para tirar do lugar os 935 kg do hatch e andar no trânsito caótico das grandes cidades. Mas se o carro da frente resolver “esticar”, fica difícil para o Palio acompanhar. Para entregar seu mais otimista desempenho, o torque de 9,9 kgfm só aparece em altas 4.500 rotações. Na maioria das vezes, o giro lá em cima deixa o econômetro sempre no vermelho. Em ladeiras mais íngremes, o modelo passa por outro momento difícil. Se não for no embalo, o Palio sofre para subir e o condutor precisa recorrer às reduções. Em ladeiras fortes, mesmo em segunda marcha, o carro só sobe a muito custo. Para os mais impacientes, o jeito é respirar fundo e engatar a primeira.
Ficha técnica
Fiat Palio Fire 1.0 8V
Motor | Gasolina e etanol, dianteiro, transversal, 999 cm³, quatro cilindros em linha, duas válvulas por cilindro. Injeção multiponto e acelerador eletrônico |
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Transmissão | Manual de cinco marchas a frente e uma a ré. Tração dianteira |
Potência | 73 cv com gasolina e 75 com etanol a 6.250 rpm |
Torque | 9,5 kgfm com gasolina e 9,9 kgfm com etanol a 4.500 rpm |
0-100 km/h | 15,2 segundos com etanol e 15,8 segundos com gasolina |
Diâmetro e curso | 70,0 mm X 64,9 mm. Taxa de compressão: 12,1:1 |
Suspensão | Dianteira independente do tipo McPherson e braços oscilantes inferiores transversais. Traseira com eixo de torção. |
Peso | 935 kg em ordem de marcha |
Capacidade do porta-malas | 290 litros |
Tanque de combustível | 48 litros |
Reestilização | 2003, 2004 e 2007 |
Itens de série | airbags dianteiros, freios ABS, rodas de aço de 13 polegadas, apoios de cabeça dianteiros com regulagem de altura, banco traseiro rebatível, bancos com assento anti-submarining, bancos dianteiros reclináveis, barra de proteção nas portas e brake light |
Opcionais | ar-condicionado, direção hidráulica, vidros dianteiros elétricos, trava elétrica, rádio com suporte MP3/WMA e entrada USB integrada no porta-luvas, rodas de liga leve de 14 polegadas, limpador traseiro e faróis de neblina |
Autor: Raphael Panaro (Auto Press)
Fotos: Jorge Rodrigues Jorge/Carta Z Notícias