A crise do mercado automotivo já era suficiente para assustar as fabricantes de sedãs médios no Brasil. Mas um fator decisivo ameaçou ainda mais alguns modelos desta categoria: a proliferação de SUVs compactos. Com a aposta crescente em utilitários esportivos menores para mirar nos consumidores que buscavam veículos familiares, restou à categoria de três volumes médios se reinventar. A Honda sabia que já estava na hora de renovar o Civic. E, na décima geração do carro, lançada no final de agosto no Brasil, tratou de promover uma mudança substancial. Em tudo. E essa transformação se expressa principalmente na versão de topo Touring, que até motor novo estreou: um 1.5 turbo. Deu certo: o Civic pulou das 1.235 unidades mensais registradas nos primeiros oito meses de 2016 para 2.742 emplacamentos por mês entre setembro e dezembro do ano passado. Um aumento surpreendente de 122% nas vendas.

Honda Civic Touring

O novo motor 1.5 turbo com intercooler só aceita gasolina e rende 173 cv a 5.500 rpm e 22,4 kgfm de torque entre 1.700 e 5.500 giros. Ele trabalha em conjunto com uma transmissão continuamente variável que simula sete velocidades e é preparada para trabalhar com alto torque. O propulsor é exclusivo da variante mais cara – todas as outras são movidas pelo já conhecido 2.0 flex de 155 cv e 19,5 kgfm de torque da geração passada. 

O visual já destaca que o Civic agora é outro. Na dianteira, as linhas das entradas de ar, dos conjuntos óticos e dos vincos do capô convergem para o logo da marca, no centro da grade. O capô extenso insere uma ideia de “muscle car” e ajuda na percepção de esportividade que a marca busca transmitir com o novo design. Na lateral, linhas sinuosas destacam os para-lamas, que contornam as caixas de rodas. O caimento alongado do teto em direção à traseira, semelhante a um cupê, adiciona boa dose de charme ao perfil. Já a traseira está mais alta e com lanternas em leds, num formato parecido com o de um bumerangue.

Honda Civic Touring

A nova plataforma, segunda a marca, apresenta 25% a mais de rigidez torcional. A suspensão foi mexida e leva MacPherson com buchas hidráulicas na frente e traseira multilink também com buchas hidráulicas. E a variante Touring é bem fornida de tecnologia. Do sedã maior Accord, herdou o sistema LaneWatch, que projeta na tela da central multimídia a imagem da faixa da direita quando a seta é acionada. A central multimídia, além de câmara de ré, tem também GPS com alerta de tráfego e conexões com smartphones através de Apple Car Play e Google Android Auto. Sistemas como controle de estabilidade e tração, com vetorização de torque, e o chamado Agile Handling Assist, que controla de forma preventiva o eixo dianteiro para evitar subesterço ou saídas de frente, também estão presentes. Além disso, a direção elétrica varia a relação entre o esterçamento e o ângulo do volante de acordo com a velocidade atingida.

A lista de itens de série engloba ainda seis airbags, revestimentos em couro, teto solar, faróis full led e diversos outros itens de luxo. O preço, no entanto, assusta: são R$ 124.900. Mesmo assim, a marca japonesa tem uma expectativa alta em relação à versão Touring: espera que, ao longo de 2017, a versão de topo responda por cerca de 30% dos emplacamentos totais do modelo. 

Ponto a ponto

Desempenho – A versão “top” do Honda Civic, a Touring, é a única que recebe o novo motor a gasolina 1.5 turbo com intercooler de 173 cv e 22,4 kgfm de torque, gerenciado por um câmbio CVT para alto torque. As acelerações são vigorosas e o torque máximo já aparece aos 1.700 giros. Na prática, há bastante força para empurrar o modelo desde as arrancadas e ultrapassagens e retomadas são feitas com bastante tranquilidade. Nota 9

Estabilidade – A suspensão é nova e controla bem o carro, com sistema MacPherson na frente com buchas hidráulicas e traseira multilink também com buchas hidráulicas – estas últimas presentes apenas nesta configuração. É difícil sentir qualquer insegurança ao volante do Civic Touring, mesmo em velocidades elevadas e caminhos sinuosos. Tanto que os controles dinâmicos de aceleração e tração até estão presentes, mas raramente dão as caras. O carro ainda traz o Agile Handling Assist, que controla de forma preventiva o eixo dianteiro para evitar subesterço ou saídas de frente. Nota 9.

Honda Civic Touring

Interatividade – Há uma série de recursos eletrônicos que facilitam o contato do motorista com o sedã médio. O sistema LaneWatch projeta na tela a imagem da faixa da direita quando a seta é acionada, facilitando as trocas de faixa. Há câmara de ré, central multimídia com GPS e alerta de tráfego, compatibilidade com Apple Car Play e Google Android Auto e o freio de estacionamento elétrico tem destravamento automático e função brake-hold, que segura o veículo parado até que o acelerador seja acionado. O banco do motorista também agrada, com ajustes elétricos. Nota 9.

Consumo – O Civic Touring ganhou nota “A” no selo de eficiência energética do InMetro tanto em sua categoria quanto no geral. Movido apenas com gasolina, ele registrou média de 12 km/l na cidade e 14,6 km/l na estrada. Nota 10.

Honda Civic Touring

Conforto – O entre-eixos cresceu 3 cm – de 2,67 m para 2,70 m – e, entre outras mudanças, ajudou a ampliar o espaço interno. Quatro ocupantes viajam com bastante conforto. A suspensão é firme, mas não compromete tanto o bem-estar dos passageiros. O isolamento acústico é tão bom que, a não ser que se pise com bastante vontade o pedal do acelerador, o barulho do motor se mantém apenas do lado de fora do carro. Nota 8.

Tecnologia – Além do visual, o Civic evoluiu bastante em todos os sentidos. Na versão Touring, desde a plataforma e suspensão, passando pelo motor, tudo é novo. A rigidez torcional aumentou em 25% e a configuração, além dos controles de estabilidade e tração, traz ainda sistema que evita o subesterço e saídas de frente. E câmara que exibe a lateral direita quando a seta é acionada – um recurso de segurança bastante funcional. Nota 9.

Honda Civic Touring

Habitabilidade – Há bons nichos e porta-objetos para guardar tudo que precisa estar à mão do motorista durante uma viagem. O porta-malas carrega fartos 519 litros, o suficiente para carregar bastante bagagem em uma viagem em família. O teto solar ajuda a ampliar ainda mais a sensação de espaço no habitáculo. Nota 8.

Design – É muito difícil ser indiferente ao novo desenho do Honda Civic. O visual está bem contemporâneo, com um caimento alongado do teto que virou quase “modinha” entre os sedãs médios – semelhante a um cupê. O capô alongado dá um ar de “muscle car” e a traseira alta, com vidro bem inclinado e lanternas em leds com formato de bumerangue, transmitem ideia de requinte e, ao mesmo tempo, de esportividade. Nota 9.

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Acabamento – Nesse aspecto, os japoneses são mais racionais. O Civic não faz feio, mas também não se destaca – apesar da etiqueta de preço salgada. Como o segmento dos sedãs médios serve de porta de entrada, pelo menos em suas versões de topo, para modelos premium das marcas, a preocupação com o acabamento poderia ser maior. Nota 7.

Custo/Benefício – A Honda já costuma cobrar cerca de 10% a 15% a mais que a concorrência em seus modelos, em função da credibilidade conquistada no mercado nacional. O Civic Touring custa R$ 124.900. Embora seja bem equipado, está muito acima das configurações mais caras dos concorrentes. O Ford Focus sedã de topo sai a R$ 109.400, o Chevrolet Cruze LTZ completo fica em R$ 111.890, o Nissan Sentra 2.0 SL é vendido por R$ 102.900, o Toyota Corolla chega a R$ 110.990 e um Volkswagen Jetta 2.0 TSI, com 211 cv e tudo que tem direito, é entregue por R$ 130.994 – mais que o Civic, mas o motor é bem mais forte. O Civic é bem caro e sua escolha não se justifica tanto na versão Touring. Nota 4.

Total – O Honda Civic Touring somou 82 pontos em 100 possíveis.

Impressões ao dirigir

Sem fazer alarde

Mesmo parado, o Honda Civic Touring já chama atenção. A décima geração deixou o sedã médio com um visual mais imponente e chamativo, que mistura traços de elegância a um desenho agressivo que inspira uma veia esportiva. E é nesse aspecto que a configuração de topo se destaca de verdade. Não há detalhes avermelhados ou adereços que expressem essa esportividade. Mas basta sair da inércia e movimentar o carro para perceber que ele é capaz de divertir seu condutor.

Honda Civic Touring

O novo motor turbinado 1.5 mostra sua força já nas arrancadas. O bom torque de 22,4 kgfm, disponíveis a partir dos 1.700 giros, faz com que o carro se mostre vigoroso em qualquer faixa de rotação. Nem mesmo a transmissão continuamente variável chega a anestesiar o comportamento – pelo menos não a ponto de tirar a emoção de pisar fundo e sentir o corpo colar no banco. Uma exclusividade da versão Touring, a única a carregar o propulsor auxiliado por turbocompressor. 

Não faltam equipamentos de segurança para garantir um pouco mais de liberdade para o motorista explorar a esportividade do novo Civic Touring. A direção de esterçamento variável e o sistema AHA, que previne as saídas de frente, se unem aos controles dinâmicos de estabilidade e tração. A suspensão também foi renovada e, na configuração de topo, traz buchas hidráulicas à frente a atrás. Não sobra espaço para inseguranças.

Honda Civic Touring

Outro ponto positivo da variante mais cara do Civic é seu consumo. O InMetro classificou a versão Touring com nota A inclusive na avaliação geral, o que fez com que o modelo ganhasse o Selo Conpet de Eficiência Energética. Por outro lado, o propulsor novo só roda abastecido com gasolina. É claro que quem gasta R$ 125 mil em um carro não está muito preocupado em economizar. Mas, em tempos de crise, um abatimento maior na taxa de IPVA não deve ser desperdiçado à toa.

Ficha técnica

Honda Civic Touring

MotorGasolina, dianteiro, transversal, 1.498 cm³, quatro cilindros em linha, quatro válvulas por cilindro, turbocompressor, comando variável de válvulas e comando simples no cabeçote. Injeção direta e acelerador eletrônico
Potência máxima173 cv a 5.500 rpm
Torque máximo22,4 kgfm entre 1.700 e 5.500 rpm
Diâmetro e curso73 mm x 89,5 mm
Taxa de compressão10,6:1
TransmissãoCVT (transmissão continuamente variável). Tração dianteira. Controle eletrônico de tração
SuspensãoDianteira independente do tipo MacPherson com buchas hidráulicas. Traseira independente do tipo multilink com buchas hidráulicas. Oferece controle eletrônico de estabilidade
Pneus215/50 R17
FreiosDiscos ventilados na frente e sólidos atrás. Oferece ABS com EBD
CarroceriaSedã em monobloco com quatro portas e cinco lugares. Com 4,64 metros de comprimento, 2,08 m de largura, 1,43 m de altura e 2,70 m de distância entre-eixos. Tem airbags frontais, laterais e de cortina
Peso1.326 kg
Capacidade do porta-malas519 litros
Tanque de combustível56 litros
ProduçãoSumaré, São Paulo
Lançamento mundial1972
Lançamento no Brasil1992
Itens de sérieAlarme, freios ABS com EBD, assistente de frenagem de emergência, controle eletrônico de tração e estabilidade, assistente de partida em rampas, luzes de frenagem de emergência, airbags frontais, laterais e de cortina, luzes diurnas de leds, sistema Isofix para fixação de cadeirinhas infantis, câmara de ré, rodas de liga leve de 17 polegadas, lanternas em leds, luz de placa em leds, brake light, trio elétrico, chave presencial, controle de velocidade de cruzeiro, volante com regulagem de altura e profundidade, ar-condicionado automático, dual zone e digital, volante e manopla do câmbio revestidos em couro, bancos, portas e console central em couro, retrovisores com luzes de setas em leds e rebatimento elétrico, sensor crepuscular, central multimídia com tela de sete polegadas com GPS com informações de trânsito, controles de ar-condicionado, wi-fi, comandos de voz e compatibilidade com Apple CarPlay e Google Android Auto, Honda LaneWatch (mostra a imagem da câmara sob o retrovisor externo na tela da multimídia), sensores de estacionamento dianteiros e traseiros, maçanetas cromadas, faróis e luzes de neblina em leds, sensor de chuva, teto solar elétrico, para-brisa acústico, retrovisor interno fotocrômico e banco do motorista com ajustes elétricos. 
PreçoR$ 124.900

Honda Civic Touring

Autor: Márcio Maio (Auto Press)
Fotos: Jorge Rodrigues Jorge/CZN