O Honda HR-V é um verdadeiro fenômeno no Brasil. O modelo foi lançado há quase três anos, no primeiro trimestre de 2015, e desde então é o líder das vendas de SUVs compactos do país. Chegou a ser o melhor em vendas entre todos os utilitários esportivos disponíveis, mas perdeu o posto para o Jeep Compass, que não é seu rival direto, já que atua entre os SUVs médios. Na época, a expectativa da marca japonesa era vender 4 mil unidades mensais, meta que foi superada na maior parte dos meses pelo modelo. Hoje, com quatro versões disponíveis, é nessa média que ele se encontra, ainda distante de seus principais concorrentes. Para tanto, o modelo ostenta uma lista de itens de série que, apesar de não ser a mais completa, é boa. E um visual moderno, esportivo e elegante. Traços que se materializam mesmo na configuração topo de linha, a Touring, que peca mesmo é no custo/benefício desfavorável, já que os preços da Honda são tradicionalmente altos, uma espécie de prêmio cobrado pela marca em função da sua confiabilidade.
Todas as versões do SUV são movimentadas pelo mesmo motor, um 1.8 litro de 140 cv, que trabalha em conjunto com uma transmissão CVT. Para aplacar um pouco a falta de uma pegada mais esportiva, há “paddle shifts” junto ao volante para as trocas entre as sete marchas simuladas pelo câmbio. O torque chega a 17,3 kgfm em 4.800 giros com gasolina e 17,4 kgfm a 5 mil rpm com etanol no tanque.
O crossover da Honda é mais baixo e tem linhas mais agudas do que as que se notam em um SUV normal. Os vincos deixam o carro “musculoso” e, ao mesmo tempo, transmitem uma imagem de velocidade. A frente tem conjunto ótico pontiagudo e esticado, para-choques encorpados e, de lado, a linha de cintura alta e o teto com um caimento forte, como o de um cupê, identificam o HR-V. Para reforçar essa semelhança, as maçanetas das portas de trás são “ocultas” na coluna traseira.
O HR-V Touring não chega a ser mal equipado, mas também não se trata do SUV compacto mais bem recheado no Brasil. Freio de estacionamento elétrico, volante multifuncional, revestimento em couro, controle eletrônico de estabilidade e tração, direção elétrica progressiva e sistema multimídia com Bluetooth, câmara de ré e até GPS estão entre os itens disponíveis. Mas o preço é bem salgado, ultrapassando a barreira dos seis dígitos: parte de R$ 107.900. Essa conta ainda pode chegar a R$ 109.400, caso seja escolhida a cor branca perolizada da unidade testada, que acrescenta R$ 1.500 à conta.
Ponto a ponto
Desempenho – O motor 1.8 do HR-V Touring é o mesmo utilizado em todas as versões, que entrega 140 cv e tem torque de 17,3 kgfm com gasolina. São números até bons, mas a versão topo de linha recebe transmissão CVT que anestesia demais o propulsor. O trem de força é agradável na cidade, favorecendo a economia de combustível, mas deixa a desejar quando são necessárias retomadas mais urgentes, por exemplo, em ultrapassagens. Nota 7.
Estabilidade – A suspensão é firme o suficiente para garantir um comportamento seguro em curvas – com rolagens de carroceria quase imperceptíveis – e não há sensação de insegurança. O SUV compacto se mostra o tempo todo equilibrado e, além disso, seu trem de força não instiga tanto uma tocada mais esportiva. De maneira geral, nesse quesito, o carro se sai muito bem. Nota 9.
Interatividade – Todos os comandos são fáceis de serem entendidos e um dos principais destaques do HR-V Touring é seu sistema multimídia. Ele tem tela sensível ao toque, GPS e até wi-fi, ou seja, está bem alinhado com a tendência de conectividade que reina no universo automotivo. Freio de estacionamento elétrico é mais um ponto a favor do HR-V Touring, além da direção elétrica extremamente suave em manobras. Mas a ausência de chave presencial é notável, visto que alguns modelos de categoria e preços inferiores já contam com esse recurso. Nota 7.
Consumo – O Honda HR-V Touring foi testado pelo Programa Brasileiro de Etiquetagem Veicular e registrou médias de 7,7/11 km/l em trânsito urbano e 8,6/12,3 km/l na estrada, com etanol/gasolina no tanque. Conquistou “A” em sua categoria e “B” na classificação geral, com consumo energético de 1,87 MJ/km. Nota 8.
Conforto – A posição de dirigir é boa, assim como o isolamento acústico. O espaço é condizente com a categoria e garante a viagem de quatro ocupantes sem problemas de apertos. Ser “altinho” contribui ainda mais para a sensação de espaço e conforto. Os bancos têm a densidade correta e os corpos dos passageiros são bem recebidos. Nota 8.
Tecnologia – Motor e câmbio do HR-V são modernos e a plataforma do crossover é uma evolução da utilizada no monovolume Fit. O SUV é recheado de itens tecnológicos, com ABS de última geração, controle de estabilidade, assistente de partida em rampas, direção elétrica progressiva e sistema de entretenimento completo e prático. Por outro lado, não tem acesso ao carro e partida do motor por botão, algo que surpreende diante dos R$ 107.900 cobrados pela configuração. Nota 7.
Habitabilidade – O HR-V se assemelha bastante aos concorrentes nesse aspecto. O habitáculo garante espaço para passageiros – inclusive de estatura mais alta – e o porta-malas se destaca com 431 litros de capacidade. É fácil entrar e sair do modelo e há bons nichos para carregar objetos pessoais que precisam ficar mais à mão do motorista, como carteira, celular e chaves. Nota 8.
Acabamento – Os materiais têm boa qualidade e encaixes perfeitos, mas não há uma preocupação com luxo no interior do Honda HR-V Touring. De maneira geral, as superfícies superiores são suaves ao toque, mas os plásticos rígidos estão espalhados pela cabine. O apelo é mais racional do que estético. Nota 7.
Design – Quando foi lançado, em 2015, o HR-V chamava atenção pelas linhas extremamente contemporâneas e, ao mesmo tempo, esportivas. Hoje, quase três anos depois, o desenho com o caimento acentuado do teto na parte traseira ainda se destaca, mas já é um tanto comum nas ruas. Uma característica bem marcante e que adiciona boa dose de charme é a maçaneta da porta traseira, disfarçada. A dianteira ostenta faróis grandes, esticados e pontiagudos, que dão um ar mais elegante ao carro. Nota 8.
Custo/benefício – A Honda cobra pelo HR-V Touring R$ 107.900, um tanto alto para o que o modelo oferece. Versões intermediárias de modelos concorrentes trazem mais recursos e por preço inferior e as de topo dos rivais diretos a gasolina conseguem ser mais atraentes. O problema é que custo/benefício nunca foi uma realidade nos modelos da Honda no Brasil – eles são mais caros mesmo, em função da alta credibilidade da marca no mercado. E, a julgar pelas boas vendas do HR-V, isso não chega mesmo a ser um obstáculo. Nota 6.
Total – O Honda HR-V Touring obteve 75 de 100 pontos possíveis.
Impressões ao dirigir
O Honda HR-V é um modelo que, apesar de muito vendido e já ter quase três anos de vida no Brasil, ainda se destaca nas ruas nacionais. O visual moderno e com linha de teto característica de cupê – a maçaneta escondida das portas traseiras ajuda bastante nisso – chama atenção e as rodas de liga leve de 17 polegadas com detalhes em preto, aliadas aos vincos bem marcados, emprestam uma ideia de esportividade que nem condiz muito com o trem de força, mas agrada.
A altura do SUV compacto é boa o suficiente para garantir conforto no interior, mas não exige grande esforço para entrar no carro. O porta-malas é espaçoso tanto para uma viagem quanto para as compras de supermercado e alguns itens tecnológicos facilitam a vida do motorista na hora de lidar com o trânsito das grandes metrópoles. Outros, porém, têm sua ausência sentida e de fato fazem falta para melhorar a experiência a bordo. Caso, por exemplo, de um acabamento mais condizente com a etiqueta de preço acima de R$ 100 mil e a chave-canivete adotada, comum em modelos que custam menos da metade desse valor. Uma chave presencial que possibilitasse a abertura das portas e a partida do motor pelo toque de um botão seria esperável.
O motor 1.8 de 140 cv é forte o suficiente para movimentar o modelo com certo vigor na cidade. A transmissão CVT, porém, desanima um pouco na hora de exigir mais força do SUV. Retomadas e ultrapassagens ficam um tanto insossas e, mesmo ao recorrer ao modo esportivo do câmbio, que simula sete marchas, não há sobras. A única diferença é que a transmissão cria pontos fixos em uma relação que é contínua, mas seu desempenho não chega a ser substancialmente alterado.
A direção elétrica é digna de elogios. Seu comportamento se adequa a cada situação: nas manobras de estacionamento, é tão leve que se gira o volante com apenas um dedo, mas conforme a velocidade aumenta, se torna mais firme para garantir a precisão. Nas curvas, o HR-V se sai bem com seu acerto de suspensão mais para rígido. As rolagens de carroceria até aparecem, mas são tão sutis que chegam a passar despercebidas pelos passageiros. Porém, convém lembrar que a proposta do modelo não é a esportividade e também que não se trata de um trem de força que instigue tanto o motorista a levar o carro aos seus limites.
Ficha técnica
Honda HR-V Touring
Motor | Gasolina e etanol, dianteiro, transversal, 1.799 cm³, quatro cilindros em linha, quatro válvulas por cilindro, comando variável de válvulas e comando simples no cabeçote. Injeção eletrônica multiponto sequencial e acelerador eletrônico |
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Transmissão | Câmbio tipo CVT. Tração dianteira com controle eletrônico de tração |
Potência máxima | 139 cv a 6.300 rpm com etanol e 140 cv a 6.500 giros com gasolina |
Torque máximo | 17,3 kgfm a 4.800 rpm com gasolina e 17,4 kgfm a 5 mil giros com etanol |
Diâmetro e curso | 81 mm x 87,3 mm |
Taxa de compressão | 11,5:1 |
Suspensão | Dianteira independente do tipo McPherson. Traseira com barra de torção. Oferece controle eletrônico de estabilidade |
Pneus | 215/55 R17 |
Freios | Discos ventilados na frente e atrás. Oferece ABS com EBD |
Carroceria | Utilitário em monobloco com quatro portas e cinco lugares. Com 4,29 metros de comprimento, 1,77 m de largura, 1,58 m de altura e 2,61 m de distância entre-eixos. Tem airbags frontais, laterais e de cortina de série |
Peso | 1.279 kg |
Capacidade do porta-malas | 431 litros |
Tanque de combustível | 51 litros |
Produção | Sumaré, São Paulo |
Lançamento no Brasil | 2015 |
Itens de série | Luzes diurnas, lanternas em led, sensores de chuva, crepuscular e de estacionamento traseiro, câmara de ré, farol de neblina, retrovisores elétricos com indicador de direção, rebatimento elétrico dos retrovisores e função tilt down no lado do passageiro, rack de teto, ar-condicionado digital, freio de estacionamento elétrico, banco traseiro reclinável e bipartido, display multimídia com tela de 7 polegadas touchscreen com navegador GPS, entrada HDMI e duas conexões USB, computador de bordo, controle de cruzeiro, revestimento dos bancos em couro, sistema de áudio AM/FM com CD player CD/MP3/WMA, volante multifuncional, retrovisor interno com antiofuscamento, alarme, controle remoto na chave para travamento das portas e fechamento dos vidros elétricos, assistente de partidas em aclive, sistema de fixação de cadeirinha de bebê |
Preço | R$ 107.900 |
Opcional da unidade testada | cor branca perolizada (R$ 1.500) |
Preço total | R$ 109.400 |
Autor: Márcio Maio (Auto Press)
Fotos: Jorge Rodrigues Jorge/CZN