Tecnologias que alteram a forma de se conduzir um veículo sempre enfrentam alguma resistência. Para conquistar os consumidores, principalmente europeus, as marcas de automóveis se dedicaram a criar câmbios automáticos que simulassem os manuais, com as trocas sequenciais, que garantiam um certo controle para o motorista. Agora, nesses tempos de controle sobre emissões, quem tem escalado o mercado é o câmbio CVT. A transmissão continuamente variável dá o conforto do câmbio automático e é tão eficiente em relação ao consumo quanto um câmbio manual. O problema é o tal “efeito scooter”, aquela sensação de patinação e de lentidão no ganho de velocidade que aparece quando o acelerador é espremido. Mas era questão de tempo para a indústria começar a equacionar esta questão. O CVT que a Renault adotou no Captur 1.6 é um ótimo exemplo. O câmbio, produzido pela Jacto no Japão, foi refinado pela engenharia da marca francesa no Brasil para ter respostas mais rápidas. E o resultado faz a Renault acreditar que o novo conjunto vá responder por 60% das futuras vendas do Captur, que passarão a ser o dobro das atuais mil unidades mensais médias.
A Renault considera o Captur um bom exemplo de como a aliança Renault-Nissan pode criar sinergias. A marca francesa, que encabeça a aliança, pegou o motor e o câmbio, de origem Nissan, e refinou a tecnologia. No caso do motor, adotou algumas tecnologias surgidas na Fórmula 1, como revestimento em DLC (Diamond Like Carbon), que reduz o atrito entre as peças. Em relação ao câmbio, ele já tinha um sistema de irrigação por jato de óleo que evitava que as engrenagens ficassem mergulhadas, o que reduziu em 30% o atrito. Ele ainda foi retrabalhado para responder mais prontamente às solicitações de aceleração. A reação ocorre entre 100 e 150 milissegundos, metade do tempo normal para um câmbio CVT.
Outro ponto em que o crossover feito no Paraná se valeu dos recursos da aliança foi na parte de design. As linhas do Captur são importadas da segunda fase do modelo francês. Só que por lá ele utiliza a plataforma do Clio de 4ª geração. Como por aqui a plataforma compacta dos modelos Renault é baseada na arquitetura do Duster, criado pela romena Dacia – outra marca da aliança –, o centro de estilo da Renault desenvolveu uma carroceria específica. No final, ela teve de ser ligeiramente ampliada – ficou com 25 cm a mais no comprimento e 7 centímetros a mais de entre-eixos – o que acabou gerando uma vantagem competitiva para o Captur diante dos SUVs compactos rivais.
O Captur 1.6 CVT X-Tronic chega para as duas versões já existentes do crossover: Zen e Intense, com preços de R$ 84.900 e 88.400, respectivamente. Estes valores fazem as duas novas configurações ocuparem o espaço entre a versão Zen com câmbio mecânico, que sai a R$ 78.900, e a Intense 2.0 Automática, que custa 91.900. Como o trem de força é o mesmo, a diferença entre as duas estreantes se restringe aos equipamentos, já que em relação a acabamento, são idênticas.
De série, a Zen vem com ar, chave-cartão com ação presencial para a trava, trio, direção eletro-hidráulica, controle de estabilidade e tração, airbags laterais, rodas de 17 polegadas e luzes diurnas em led, entre outros. De relevante, a Intense adiciona ar automático, rodas com acabamento diamantado, sistema multimídia com tela touch de 7 polegadas com câmara de ré traseira e GPS integrado, sensores de chuva e de luminosidade e farol de neblina em led com iluminação lateral. O nível de tecnologia embarcada, aliada a conteúdo, design e preço certamente contribuem para o otimismo com que a Renault encara o futuro próximo por aqui.
Primeiras impressões
Suave na nave
Niterói/RJ – Causa uma certa estranheza confrontar o comportamento do Captur 1.6 CVT X-Tronic com a ficha técnica. Nela está indicado que o modelo leva 13,1 segundos, quando abastecido com etanol, para ir da imobilidade aos 100 km/h. Cronômetros não costumam mentir, mas a sensação ao acelerar o Captur é a de ele ser bem mais rápido que isso. A reação à pressão no acelerador é imediata. Nas retomadas, a rapidez com que o CVT se organiza com o propulsor é impressionante. E o melhor de tudo: sem qualquer tranco. O sistema usa os 100 milissegundos – ou 0,1 segundo – que consome para ajustar as engrenagens no ponto certo para suavizar a mudança.
Obviamente, a aceleração de um carro com quase 1.300 kg animado por um motor de até 120 cv de potência não vai comprimir ninguém contra o encosto, mas a impressão é que o câmbio tira o melhor que o motor pode oferecer em cada instante. E isso acaba tornando a condução do crossover muito aprazível, mesmo que não tenha qualquer resquício de esportividade. Aliás, nada no Captur instiga o espírito de aventura. Ele é confortável, espaçoso, silencioso e suave. Difícil ter mais apelo familiar.
Ficha técnica
Renault Captur 1.6 16V CVT X-Tronic
Motor: Gasolina e etanol, dianteiro, transversal, 1.597 cm³, com quatro cilindros em linha, quatro válvulas por cilindro, comando duplo no cabeçote. Acelerador eletrônico e injeção eletrônica multiponto sequencial.
Transmissão: Continuamente varíável (CVT) com opção de trocas sequenciais de seis marchas pré-programadas à frente e uma a ré. Tração dianteira. Controle eletrônico de tração.
Potência máxima: 118 cv e 120 cv com gasolina e etanol a 5.500 rpm.
Aceleração: 0-100 km/h: 14,5 e 13,1 segundos com gasolina e etanol.
Velocidade máxima: 168 km/h e 169 km/h com gasolina e etanol
Torque máximo: 16,2 kgfm com gasolina e etanol a 4 mil rpm.
Diâmetro e curso: 78 mm X 83,6 mm.
Taxa de compressão: 10,7:1.
Suspensão: Dianteira do tipo McPherson com amortecedores hidráulicos telescópicos, triângulos inferiores e molas helicoidais e barra estabilizadora. Traseira semi-independente com molas helicoidais, amortecedores hidráulicos telescópicos e barra estabilizadora. Controle eletrônico de estabilidade.
Pneus: 215/60 R17.
Freios: Discos ventilados na frente e a tambor atrás. Oferece ABS com controle de saída em rampa.
Carroceria: Crossover em monobloco com quatro portas e cinco lugares. Com 4,33 metros de comprimento, 1,81 m de largura, 1,62 m de altura e 2,67 m de entre-eixos. Oferece airbags frontais e laterais de série.
Peso: 1.286 kg.
Capacidade do porta-malas: 437 litros.
Capacidade tanque de combustível: 50 litros.
Versão Zen: Airbags laterais, chave-cartão presencial, direção eletro-hidráulica, travas elétricas, volante com regulagem da altura, ar-condicionado, rodas aro 17 polegadas de liga leve, vidros elétricos, controle de cruzeiro, espelhos de ajustes e rebatimento elétricos, rádio com Bluetooth, USB e Aux, comando de áudio e celular na coluna de direção (satélite) e assento do condutor com regulagem de altura.
Preço - Versão Zen: R$ 84.900.
Opcionais: Sistema multimídia com câmara de ré (R$ 2.500) e pintura em dois tons (R$ 1.400).
Preço completo - Versão Zen: R$ 88.700
Versão Intense: Adiciona ar-condicionado automático, rodas aro 17 polegadas de liga leve diamantadas, sistema multimídia com tela touch de 7 polegadas com câmara de ré traseira, conexão Bluetooth, USB, Aux e GPS integrado, sensores de chuva e de luminosidade e farol de neblina em led com cornering light.
Preço - Versão Intense: R$ 88.400.
Opcionais: Bancos parcialmente em couro (R$ 1.500) e pintura em dois tons (R$ 1.400).
Preço completo - Versão Intense: R$ 91.300.
Autor: Eduardo Rocha (Auto Press)
Fotos: Eduardo Rocha/CZN