A JAC Motors fez história no Brasil. Primeiro, ao desembarcar por aqui em 2011 com dois carros compactos, motorização 1.3 litro, uma extensa lista de equipamentos de série – como airbags e freios ABS – e preços abaixo dos R$ 40 mil. Segundo, quando a marca chinesa emplacou 2 mil carros/mês naquele ano. No período posterior, as vendas foram profundamente afetadas com o advento do Inovar-Auto e do “super-IPI” de 30% para automóveis importados. Porém, o J3 redefiniu conceitos ao oferecer “mais por menos” no disputado segmento de compactos. E fez outras marcas repensarem as estratégias com seus respectivos produtos. Em maio desse ano, a fabricante “abrasileirou” o compacto com um motor 1.5 flex mais potente. E o batizou de J3 S. Das 338 unidades da linha J3 vendidas em julho, 186 foram da versão hatch e 152 do sedã Turin. E a participação dos modelos 1.5 litro flex já responde por 88% da linha J3. Nessa motorização mais forte, 55% dos carros vendidos são da versão hatch. Os seja, o J3 1.5 S hatch foi o modelo mais vendido da JAC Motors no Brasil em julho – superou até o subcompacto J2, o JAC mais emplacado nos meses anteriores.
A grande novidade do J3 S não chega a ser tão nova assim. O propulsor 1.5 é o mesmo do sedã J5 a gasolina, mas foi retrabalhado para “beber” dois combustíveis – daí a explicação do “marketeiro” nome Jet Flex. Ele ainda surgiu no próprio hatch em fevereiro de 2013, quando a JAC tratava – e ainda trata – o J3 S como um esportivo. Além de flex, o motor elimina o “tanquinho” para partida a frio – já em vias extinção nos bicombustíveis atuais. Com gasolina, os 125 cv e 15,5 kgfm de torque foram mantidos – a 6 mil rpm. Já com etanol, os números marcam 127 cv de potência e 15,7 kgfm de torque – sempre a 4 mil giros. A força é gerenciada exclusivamente por uma transmissão manual de cinco marchas. Vale lembrar que o J3 S vai conviver com o equipado com motor 1.3 litro a gasolina – que na verdade é de 1.332 cm³. Já o “novo” motor 1.5 litro tem 1.499 cm³.
Na proposta chinesa de oferecer um carro “completo” e com preço competitivo, o J3 S traz itens de série como direção hidráulica, ar-condicionado, rádio com CD/MP3/USB, sensor de estacionamento, volante multifuncional revestido em couro e com regulagem de altura, travas e retrovisores elétricos, porta-revistas, porta-copos e chave canivete com destravamento remoto das portas. Pelo hatch, a JAC cobra R$ 39.990. Por mais R$ 1 mil, o motorista pode ter modernidades como central multimídia com tela sensível ao toque, que traz DVD, GPS e TV digital.
Do lado de fora, a JAC fez questão de explicitar que se trata do J3 S. Há faixas laterais decorativas, rodas exclusivas da versão, além dos emblemas “J3S” e “Jet Flex” na traseira. Fora isso, o J3 é o mesmo que ganhou um face-lift ano passado. A frente foi bastante renovada, com capô redesenhado e os faróis modificados. A grade frontal também ganhou novo formato e ostenta detalhes cromados. A entrada de ar sob o para-choque e os faróis de neblina completam o visual.
Ponto a ponto
Desempenho – Com o motor 1.5 flex com comando de válvulas variável, o J3 S ganha quase 20 cv a mais que o hatch equipado com o propulsor a gasolina 1.3 litro, de 108 cv. Não sobra força – principalmente com o ar-condicionado ligado –, mas o hatch mostrou ser razoavelmente “atlético”. O zero a 100 km/h é cumprido em menos de 10 segundos. Nota 7.
Estabilidade – A aderência do compacto ao solo é apenas adequada no caso de manobras mais agressivas. Nas curvas, o J3 S não é um carro para se abusar. Quando isso acontece, ele trata logo de mostrar o limite. Em ritmo mais civilizado, o comportamento é amigável. Nota 6.
Interatividade – Tudo é muito simples no J3. Os comandos vitais estão nos lugares certos. Ar-condicionado e o rádio são intuitivos. Os engates do câmbio manual de cinco marchas estão mais precisos. O único “senão” é o volante. Ele tem diâmetro um pouco grande, que foge da esportividade suposta da letra “S” no nome do modelo. A luz vermelha de fundo do rádio também não ajuda muito em dias de sol. Nota 8.
Consumo – O InMetro não recebeu nenhuma unidade do JAC J3 S Jet Flex para medição. A JAC Motors também não anuncia os números oficiais e o computador de bordo do hatch não mostra a média de consumo. Calculando pelo hodômetro e autonomia, o J3 S acusou média de 7,4 km/l com etanol no tanque e em trajeto predominantemente urbano. Nota 5.
Conforto – O J3 tem 2,40 metros de entre-eixos. Os passageiros que viajam atrás dependem da “boa vontade” do motorista e do carona para não ficarem espremidos. A suspensão cumpre o seu papel de filtrar os desníveis do piso, mas não evita os sacolejos em buracos. Nota 7.
Tecnologia – O J3 é um carro recente. Chegou ao Brasil em 2011 e foi atualizado em 2013. O motor 1.5 litro usado no sedã médio J5 ganhou tecnologia flex. O hatch ainda usa suspensão independente na dianteira e na traseira, além de trazer rádio com CD/MP3/USB, volante multifuncional e sensor de estacionamento. Para tecnologias mais sofisticadas, como tela sensível ao toque, é preciso abrir o bolso. Nota 7.
Habitabilidade – O interior do J3 é um ambiente agradável e o entra-e-sai é facilitado pelo bom ângulo de abertura das portas. Há poucos nichos disponíveis para levar objetos, mas suficientes para celular, carteira e chave. O porta-malas engole 350 litros. Uma capacidade razoável para um hatch compacto. Nota 8.
Acabamento – Houve melhorias nesse quesito. Nada de muito requinte, mas em algumas partes, como volante, alavanca de câmbio e painel central, detalhes cromados. As maçanetas internas, saídas de ar e o entorno dos comandos do rádio são cromados. Bancos e volante têm uma bonita costura vermelha. Um habitáculo recheado de plásticos duros, mas sóbrio e sem exageros. Nota 7.
Design – A linha J3 chegou ao Brasil em 2011. No final do ano passado, os carros receberam um pequeno face-lift. No hatch, a dianteira deixou o modelo com uma “cara” ligeiramente mais ocidental, com faróis menores – com máscaras pretas – e menos “puxados” para as laterais. Atrás, as grandes lanternas mantiveram o formato. São linhas conservadoras, mas com aspecto contemporâneo – embora seja um estilo indefectivelmente chinês. Nota 7.
Custo/benefício – Pelo J3 S, a JAC Motors pede R$ 39.990. São apenas R$ 2 mil a mais que o hatch com motor 1.3 litro. O compatriota Chery Celer é equipado à altura e custa R$ 33.390, mas usa um propulsor flex 1.5 litro de 108 cv – mesma potência do J3 “normal”. A Fiat pede pouco mais de R$ 45 mil pelo Palio Essence 1.6 de 117 cv com bons dispositivos. O Volkswagen Gol 1.6 Comfortline de 104 cv com os mesmos equipamentos sai por R$ 46.200. Para quem não deseja “grife”, o J3 S pode se tornar uma opção interessante. Nota 7.
Total – O JAC J3 S somou 69 pontos em 100 possíveis.
Impressões ao dirigir
O J3 vem evoluindo gradativamente desde que chegou ao país, três anos atrás. O visual passou por mudanças em 2013 e esse ano o carro ganhou um motor mais potente. Porém, ainda carece de melhorias. O propulsor 1.5 Jet Flex dá conta do recado. Os máximos 127 cv com etanol funcionam bem em trechos de estrada com retomadas bem robustas. No suposto “habitat” natural do J3, a cidade, o desempenho é convincente, mas muito menos do que as faixas laterais esportivas sugerem.
De acordo com a JAC, nada mudou na suspensão. Com o ajuste um pouco firme, buracos as pancadas secas são inevitáveis. Já o volante poderia ter uma proposta mais esportiva, com um diâmetro menor. O hatch também mostrou uma direção muito “anestesiada”. Em velocidades mais elevadas, o J3 é instável e exige correções na trajetória.
Maior “calcanhar-de-aquiles” dos automóveis chineses, o habitáculo do J3 ficou mais agradável. Ainda há uma porção de plásticos duros, mas há partes revestidas em couro, cromadas e prateadas. A qualidade na montagem das peças evoluiu e não há mais rebarbas ou encaixes fora do lugar. A cor vermelha nas costuras do banco, volante e da coifa do câmbio e os novos pedais e soleiras da portas são o “sopro” de esportividade do J3. E até o cheiro do interior do J3 – que lembrava óleo de cozinha nas primeiras unidades importadas – também foi devidamente aprimorado.
Ficha técnica
JAC J3 S 1.5
Motor | A gasolina e etanol, dianteiro, transversal, 1.499 cm³, com quatro cilindros em linha, quatro válvulas por cilindro e comando variável de válvulas na admissão. Injeção multiponto sequencial |
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Transmissão | Câmbio manual com cinco marchas à frente e uma a ré. Tração dianteira |
Potência máxima | 125 cv e 127 cv a 6 mil rpm com gasolina e etanol |
Diâmetro e curso | 78,0 mm X 84,9 mm |
Taxa de compressão | 10,5:1 |
Aceleração 0-100 km/h | 9,7 segundos |
Velocidade máxima | 196 km/h |
Torque máximo | 15,5 kgfm e 15,7 kgfm a 4 mil rpm com gasolina e etanol |
Suspensão | Dianteira independente, do tipo McPherson com molas helicoidais e barra estabilizadora. Traseira independente, com braços duplos e molas helicoidais. Não oferece controle de estabilidade |
Pneus | 185/60 R15 |
Freios | Dianteiro a disco ventilado e traseiro a tambor com sapatas auto-ajustáveis. Oferece ABS e EBD |
Carroceria | Hatch compacto em monobloco com quatro portas e cinco lugares com 3,96 metros de comprimento, 1,65 m de largura, 1,46 m de altura e 2,40 m de distância entre-eixos. Oferece airbag duplo de série |
Peso | 1.060 kg |
Capacidade do porta-malas | 350 litros |
Tanque de combustível | 48 litros |
Produção | Hefei, China |
Lançamento no Brasil | 2014 |
Itens de série | freios ABS, airbag duplo, vidros, travas e retrovisores elétricos, direção hidráulica, ar-condicionado, rádio com CD e entrada USB, seis alto-falantes, volante multifuncional, chave canivete com destravamento remoto das portas, abertura interna da tampa do tanque de combustível e sensor de estacionamento |
Preço | R$ 39.900 |
Autor: Raphael Panaro (Auto Press)
Fotos: Isabel Almeida/Carta Z Notícias