Lleida/Espanha - A Jaguar sabe escolher bem seus rivais. A marca de esportivos britânica – que em 2002 passou a fazer parte do grupo Jaguar Land Rover e desde 2008 é controlada pela indiana Tata Motors – atravessa um meticuloso período de reestruturação. Nos últimos anos, cresceu nos principais mercados mundiais. Para evoluir nessa estratégia de expansão global, a Jaguar já elegeu o inimigo a ser batido: o Porsche 911. O emblemático esportivo alemão, lançado há meio século, vendeu em 2013 mais de 30 mil unidades em todo o mundo – apenas 99 no Brasil. Para essa tarefa de enfrentar o 911, a marca britânica escalou o F-Type Coupé. Depois de apresentar a versão conversível no Salão de Paris de 2012 – no Brasil, chegou às concessionárias em agosto de 2013 –, a versão de teto fechado do esportivo acaba de ser lançada mundialmente. A estreia brasileira está prevista para o início do segundo semestre desse ano.
Apesar das óbvias similaridades com a versão conversível, que marcou a volta da Jaguar ao segmento de esportivos de dois lugares 38 anos após o fim do clássico E-Type, a marca afirma que o F-Type Coupé é “um outro carro”. Exageros de marketing à parte, a arquitetura do cupê investiu na intensa utilização de alumínio e na incorporação do teto rígido para obter a rigidez torcional de 33.000 Nm/grau – é o Jaguar mais resistente às torções de todos os tempos. Os motores são os mesmos do cabriolet. O V6 de 3.0 litros com 340 cv na versão básica, que cresce para 380 cv na versão S. Já no V8 com compressor mecânico, enquanto no conversível S atinge 495 cv, no cupê – que recebeu mapeamento diferente – a potência máxima da versão R chega a 550 cv. Todos os propulsores da linha transmitem movimento às rodas traseiras através de uma caixa automática Quickshift de oito velocidades, que pode ser controlada de modo manual através das “borboletas” no volante ou da alavanca de câmbio no console central.
Já a suspensão do cupê – principalmente na versão “top” R, com motor V8 – foi especificamente calibrada e incorpora novas tecnologias dinâmicas. Afinal, um ano se passou entre os lançamentos das duas versões. Nestas novas tecnologias incluem-se um diferencial ativo eletrônico de segunda geração. O sistema EAD redistribui automaticamente o torque entre as rodas traseiras para proporcionar um maior controle nas situações-limite. Sempre que necessário nas curvas, o EAD trabalha em paralelo com o controle de estabilidade em curvas, que aplica a força dos freios às rodas interiores para maximizar a agilidade. A suspensão esportiva com sistema adaptativo e o modo dinâmico configurável otimizam o potencial esportivo do F-Type R. E os poderosos freios de carbono-cerâmica – num vistoso tom de amarelo – são opcionais nas versões S e R. Na Europa, esses freios de altíssima performance custam 10 mil euros – ou pouco mais de R$ 30 mil.
Em termos estilísticos, o F-Type Coupé herda o design do coupé esportivo conceitual C-X16, apresentado no Salão de Frankfurt de 2011. A frente, com a ampla grade ovalada, é idêntica à do conversível, assim como o capô avantajado. O habitáculo bem deslocado para a traseira deixa a silhueta do novo modelo bem similar à do “alvo anunciado” – o Porsche 911. O perfil elegante do teto do cupê valoriza o aspecto aerodinâmico e fluido, enquanto a traseira tem estilo similar ao da versão cabrio. São duas saídas centralizadas de escapamento no V6 e quatro saídas – duas de cada lado – no V8. O aerofólio traseiro ativo é opcional e se eleva automaticamente aos 110 km/h. Fica incorporado à tampa do bagageiro, ladeada pelas afiladas lanternas com leds. O teto pode ser em alumínio ou com acabamento panorâmico, em vidro. Se não tem a inerente leveza dos conversíveis, o estilo do F-Type de teto rígido transmite maior percepção de esportividade e robustez. Por dentro, como no cabrio, os fartos comandos e mostradores remetem aos caças da RAF, a força aérea britânica
A versão conversível vendeu 35 unidades no Brasil desde que foi lançada – cerca de uma a cada semana – e a expectativa da Jaguar é que o modelo de teto rígido venda mais Os preços no mercado nacional ainda não foram anunciados. Na Inglaterra, onde são produzidos, partem de 51.250 libras – cerca de R$ 190 mil – e chegam a 85 mil libras – R$ 314 mil. Nas concessionárias brasileiras, devem se posicionar na faixa entre R$ 440 mil do V6 3.0 litros de 340 cv até algo além dos R$ 620 mil para o “top” R, com seu V8 5.0 litros de 550 cv.
Ponto a Ponto - Jaguar F-Type Coupé R
Desempenho - O F-Type Coupé R honra as melhores tradições da Jaguar e do segmento de superesportivos, do qual é o mais novo membro. Com seus 550 cv de potência e 69,3 kgfm de torque, o V8 Supercharged do R entrega uma força descomunal em qualquer faixa de giros. E o câmbio de 8 marchas, com possibilidade de acionamento manual pela manopla ou através de paletas no volante, ainda potencializa as possibilidades esportivas. Permite performances realmente dignas dos carros de corridas. Nota 10.
Estabilidade - A suspensão privilegia a esportividade. Ou seja, foi desenvolvida para permitir que o F-Type R possa aproveitar integralmente o brutal torque de 69,3 kgfm e a insana potência de 550 cv. E o conjunto cumpre tal tarefa com maestria. Basta pressionar o pedal da direita e o carro “voa”, sem jamais fazer menção de sair do chão. A estabilidade do cupê nas retas e curvas em alta velocidade, incrementada por diversos dispositivos eletrônicos, é impressionante. É um belo representante da moderna engenharia automotiva. Nota 10.
Interatividade - Tal como já acontecia no clássico E-Type que o inspirou, o F-Type tem mostradores e comandos que lembram os aviões de caça. No console, o botão laranja de acionamento do modo Dynamic remete àquela trava que é desacionada quando se está prestes a disparar um foguete. Apesar dessa estética “emprestada” da aviação, tudo parece estar onde deveria. Talvez pelo excesso de funções disponibilizadas, acessar algumas das informações do computador de bordo dá mais trabalho do que seria necessário. Seus comandos poderiam ser mais intuitivos. Nota 9.
Consumo - A Jaguar informa uma demanda de combustível de 5,9 km/l na cidade e de 12 km/l na estrada, com consumo combinado de 9 km/l – bem razoável para um superesportivo com um motorzão V8 de 550 cv. Mas a gasolina europeia usada no teste é bastante diferente da que o modelo terá de “digerir” no Brasil, o que também irá influir no gasto de combustível. Nota 6.
Conforto - O F-Type Coupé é um superesportivo. Ou seja, a suspensão prioriza a performance dinâmica, e não o conforto. Mas, para um superesportivo, até que o F-Type não maltrata seus ocupantes – no máximo dois, o motorista e um “carona”. O conjunto suspensivo é bem acertado e conta com o apoio dos ótimos bancos, de primorosa ergonomia. Nota 8.
Tecnologia - Não seria nesse quesito que a Jaguar haveria de economizar no F-Type Coupé. Tecnologias comuns em modelos de luxo, como sistemas de entretenimento sofisticados e ajustem personalizados para os bancos – memoriza três diferentes ajustes de banco e volante –, estão presentes. Mas os destaques tecnológicos mais efetivos são os que permitem aproveitar ao máximo a força produzida pelo V8 sobrealimentado – que, por sí só, já é um elemento de sofisticada tecnologia. Nessa categoria estão o EAD, o controle de estabilidade em curvas, a suspensão esportiva com sistema dinâmico adaptativo e o modo dinâmico configurável, a injeção direta com pulverização direcionada (SGDI), e a distribuição variável dupla independente (DIVCT), além dos freios de carbono-cerâmica opcionais. É o “conjunto da obra” que torna o F-Type Coupé R o veículo sedutor que ele é. Nota 10.
Habitabilidade - A tradicional cartilha da aerodinâmica automotiva recomenda veículos de baixa estatura para quem pretende atingir elevadas velocidades. O mais novo cupê britânico segue esse princípio e, portanto, a acessibilidade fica um tanto sacrificada. Entrar em um carro tão baixo requer algum contorcionismo. Mas, uma vez instalado, o motorista praticamente “veste” o carro. O desenho dos bancos esportivos ajuda a manter o corpo no lugar mesmo na direção mais radical, com curvas em alta velocidade. Para sair, também é necessário “despir” o carro – e mais algum contorcionismo. Os nichos a bordo são poucos, mas funcionais. E o porta-malas leva 407 litros – é bem decente para o segmento. Nota 8.
Acabamento - Todos os materiais do interior aparentam ser de primeira qualidade e o padrão de montagem, apesar da estudada rusticidade inerente aos superesportivos, é simplesmente irretocável. Sobra elegância e bom gosto em todos os cantos. Nota 10.
Design - O F-Type Coupé é um dos modelos mais instigantes da atualidade. Seja por fora, com seu agressivo perfil de “Porsche 911 do futuro”, ou por dentro, com sua inspiração aeronáutica – com os comandos lembram os dos aviões de caça –, fica difícil encontrar “senões” ao modelo no aspecto estético. Assim como fizeram no Land Rover Evoque, os designers britânicos realmente “acertaram a mão” no Jaguar F-Type. Nota 10.
Custo/Benefício - O preço do F-Type Coupé R no Brasil não está definido, mas deverá ficar em torno dos R$ 620 mil. Para a imensa maioria das pessoas, é um completo absurdo. Mas, para o público a que se destina esse tipo de produto, tais cifras não assustam. Tanto que a versão conversível, oferecida por preços entre R$ 436.300 e R$ 608.900, encontrou um comprador por semana desde que foi lançada por aqui. Como dá para crer que boa parte do público desse tipo de modelo não ache prudente circular pelas grandes cidades brasileiras com os cabelos ao vento, é provável que o cupê tenha uma performance de vendas ainda melhor. Além disso, o concorrente Porsche 911 é ainda mais caro – vai dos R$ 629 mil do Carrera S Coupe aos R$ 1.149 mil do Turbo S. Apesar de todos os atributos do F-Type Coupé R, R$ 620 mil não deixa de ser dinheiro demais para se pagar por um carro. A própria versão S, que deve custar em torno de R$ 500 mil, com seus 380 cv de potência e 46,9 kgfm de torque, é menos “irracional” e terá uma relação custo/benefício melhor que a da R. Mas que o R é bem mais divertido, é mesmo. Um brinquedo muito caro. Nota 4.
Total - O Jaguar F-Type Coupé R somou 85 pontos em 100 possíveis.
Primeiras Impressões
Voar sem sair do chão
Nas sinuosas estradinhas periféricas da embandeirada Catalunha – envolvida em um processo de separação da Espanha que pode deflagarar um plebiscito ainda esse ano –, o F-Type Coupé pôde ser avaliado em duas de suas versões: a S de 380 cv e a R de 550 cv. O R, com seu motor V8 Supercharged, também pode ser acelerado de forma ainda mais inclemente no autódromo de Motorland, na cidade de Áragon – inclusive com pista molhada, para avaliação dos sistemas de estabilidade. O F-Type mais “básico”, de 340 cv, não foi disponibilizado na apresentação.
Na versão R, o torque máximo de 69,3 kgfm do V8 aparece já aos 2,500 giros e fica disponível até os 5.500 giros. Já aos 6.500 rpm é possível atingir a potência máxima de 550 cv. Como comparação, a potência dos atuais motores da Fórmula 1 é apenas 10% maior – em torno de 610 cv. Quando se acelera forte no modo Dynamic, até o som do motor sobrealimentado do R é muito similar ao dos carrinhos guiados por Sebastian Vettel, Lewis Hamilton & Cia – que ainda são “vitaminados” pelos sistemas de recuperação de energia (ERS). Mas a percepção dinâmica do F-Type topo de linha não fica muito atrás. A boa rigidez torcional, a suspensão bem equilibrada e a providencial assistência eletrônica permitem que se entre nas curvas de forma nem um pouco recomendável nos automóveis convencionais.
Segundo a Jaguar, dá para fazer o zero a 100 km/h em apenas 4,2 segundos. O R ganha velocidade de forma avassaladora e simplifica as ultrapassagens – vai dos 80 km/h aos 120 km/r em 2,5 segundos. A velocidade máxima é limitada eletronicamente em 300 km/h. E, quando é necessário parar, os freios de carbono-cerâmica – que são opcionais – incrementam de forma efetiva o potencial de frenagem do modelo. Algo que viabiliza performances ainda mais “abusadas” nas entradas das curvas. Em todas as circunstâncias, o “handling” do superesportivo é admirável.
O mais interessante é que, guiado de forma civilizada, o cupê da Jaguar esconde seu “lado selvagem” e assume um aspecto dinâmico bem mais discreto, sem tantos arroubos ou roncos excessivos. Dá para usar o F-Type R para incursões mais pacatas sem maior alarde – basta manter o comedimento na pressão ao pedal do acelerador.
Sem chamar tanta atenção quando o R, o F-Type S, com seus 380 cv, também anda muito. Tem força mais do que suficiente para permitir uma tocada bastante esportiva ao cupê. Mas não atinge a performance exuberante e quase espalhafatosa que dá graça extra ao V8. O certo é que, seja na versão S ou na R, o F-Type Coupé é um modelo que realmente entrega aquilo a que promete. E olha que, da estética à motorização, do preço à tecnologia, o novo cupê da Jaguar promete bastante coisa.
Ficha técnica
Jaguar F-Type Coupé
Motor V6 | A gasolina, dianteiro, longitudinal, 2.995 cm³, seis cilindros em V, quatro válvulas por cilindro e compressor mecânico. Injeção direta de combustível e acelerador eletrônico |
---|---|
Potência máxima | 340 cv a 6.500 rpm (380 cv na versão S) |
Torque máximo | 45,9 kgfm entre 3.500 e 5 mil rpm (63,6 kgfm na versão S) |
Diâmetro e curso | 84,5 x 89,0 mm |
Taxa de compressão | 10,5:1 |
Aceleração 0-100 km/h | 5,3 segundos (4,9 s na versão S) |
Velocidade máxima | 260 km/h (275 km/h na versão S) |
Peso | 1.577 kg (1.594 kg na versão S) |
Pneus | 245/45 R18 na frente e 275/40 R18 atrás |
Motor V8 | A gasolina, dianteiro, longitudinal, 5.000 cm³, oito cilindros em V, quatro válvulas por cilindro e compressor mecânico. Injeção direta de combustível e acelerador eletrônico |
---|---|
Potência máxima | 550 cv a 6.500 rpm |
Torque máximo | 69,34 kgfm entre 2.500 e 5.500 rpm |
Diâmetro e curso | 92,5 mm X 93,0 mm |
Taxa de compressão | 9,5:1 |
Aceleração 0-100 km/h | 4,2 segundos |
Velocidade máxima | 300 km/h limitada eletronicamente |
Transmissão | Câmbio automático com oito marchas à frente e uma a ré. Tração traseira. Oferece controle de tração |
Suspensão | Dianteira independente com triângulos sobrepostos. Traseira independente com triângulos sobrepostos. Oferece controle eletrônico de estabilidade de série |
Peso | 1.650 kg |
Pneus | 255/35 R20 na frente e 295/30 R20 atrás |
Freios: Discos ventilados na frente e atrás. Oferece ABS com EBD.
Carroceria: Cupê, com duas portas e dois lugares. Com 4,47 metros de comprimento, 1,92 m de largura, 1,30 m de altura (1,32 m na versão R) e 2,62 m de entre-eixos. Oferece airbags frontais e de cabeça de série.
Capacidade do porta-malas: 407 litros.
Tanque de combustível: 72 litros.
Produção: Birmingham, Inglaterra.
Lançamento mundial: 2014.
Itens de série
Versão Coupé | Controle de estabilidade e tração, faróis bi-xenon, lanternas traseiras de leds, aerofólio traseiro com acionamento elétrico, trio elétrico, capota com acionamento elétrico, airbags frontais e laterais com proteção de cabeça, keyless, sensor de estacionamento dianteiro e traseiro, câmera de ré, bancos de couro com ajuste elétrico, sistema de som Meridian com 10 alto-falantes e tela sensível ao toque de 8 polegadas, GPS, coluna de direção com ajustes elétricos, cruise control automático e ar-condicionado dual zone |
---|---|
Preço | 51.250 libras na Inglaterra – cerca de R$ 189 mil |
Versão S Coupé | Adiciona diferencial de escorregamento limitado, escapamento ativo, bancos performance, amortecedores adaptativos, regulagem individual modos para funcionamento para suspensão, direção e câmbio, display com informações de força G e aceleração de zero a 100 km/h |
---|---|
Preço | 60.250 libras na Inglaterra, equivalente a R$ 222 mil |
Versão R Coupé | Adiciona diferencial eletrônico ativo, rodas forjadas com detalhes em fibra de carbono e revestimento interno em couro Premium |
---|---|
Preço | 85 mil libras na Inglaterra, aproximadamente R$ 313.400 |
Autor: Luiz Humberto Monteiro Pereira (Auto Press)
Fotos externas do F-Type Coupé S (vermelho) e do F-Type Coupé R (prata): Luiz Humberto Monteiro Pereira/Carta Z Notícias e fotos do interior e do motor do F-Type Coupé R: divulgação