A inglesa Mini é uma marca clássica. Produz desde 1959 seu pequenino hatch compacto e suas incontáveis variações. O Cooper, por sinal, é o carro britânico mais vendido da história. Mas, apesar do inegável apego à tradição, a fabricante inglesa – que desde 2000 é controlada pela alemã BMW – tem sido reconhecida pela ousadia no desenvolvimento recente de seus carros. A maior expressão desse atual arrojo é o Countryman. O utilitário até se baseia no mesmo design retrô dos outros modelos da linha. Mas em uma carroceria nada “mini”: são 4,11 metros de comprimento e 1,56 m de altura. E o maior dos Mini tornou-se a segunda variante mais vendida da marca em todo o mundo – perde apenas para o Cooper.

Lançado mundialmente em 2010, o Countryman foi um dos grandes responsáveis pelos bons resultados recentes da Mini. Em 2012, a fabricante inglesa vendeu globalmente mais de 300 mil unidades, um crescimento de 5,8% em relação ao ano anterior. Destes, 102 mil foram do utilitário. No Brasil, o Countryman faz sucesso relativo. Dos pouco mais de mil emplacamentos da Mini nos primeiros sete meses do ano, 270 são do SUV. A média de 40 vendas mensais pode parecer baixa, mas representa 25% das vendas da empresa por aqui. Significativo para um carro de nicho.

Mini Cooper S

O Countryman pega a ideia “descolada” do Cooper e expande para atender quem também precisa levar a família para passear. Apesar de quebrar a tradição ao ser o primeiro utilitário da marca, o Countryman não é um nome propriamente novo dentro da Mini. Foi usado para designar entre 1961 e 1969 as peruas de quatro portas do Mini Austin original.

Hoje, o Countryman é um legítimo utilitário. Pelo menos em termos de dimensões. Apesar de ter a mesma plataforma de todas os outros modelos da Mini, é mais comprido, com entre-eixos maior e mais alto. Em comparação com o hatch, é 250 kg mais pesado. Há até opção de tração integral sob demanda, para ajudar a superar eventuais trajetos mais enlameados.

Mini Countryman S

O que não muda em relação ao resto da família Mini é o conjunto mecânico. No Brasil, são sempre calibrações diferentes para o mesmo motor 1.6. Aspirado, ele rende 120 cv e 15,8 kgfm de torque. Na versão S, o mesmo propulsor recebe um turbo de saída dupla e passa a render animadores 187 cv e 24,5 kgfm de torque. Partindo da inércia, os primeiros 100 km/h aparecem em 7,9 segundos e a velocidade máxima é de 210 km/h.

A versão de entrada, com o acerto mais pacato do motor, é vendida por R$ 116.950. Na mais potente, a S, a conta vai para R$ 129.950 com a tração dianteira – a versão avaliada – e R$ 134.950 com a integral. Por esses valores, o Countryman acaba saindo da principal briga dos utilitários. Modelos como Honda CR-V, Hyundai ix35 e Kia Sportage são todos maiores, igualmente equipados e atingem, no máximo, R$ 110 mil. Longe de ser “figura fácil” nas ruas nacionais, o SUV “britânico” – que na verdade é produzido na cidade austríaca de Graz – reforça a proposta de exclusividade que a Mini tem no Brasil.

Mini Cooper S

Ponto a ponto

Desempenho – Os cerca de 250 kg extras em relação ao Cooper hatch são virtualmente esquecidos quando se pisa fundo no pedal da direita. O já conhecido motor 1.6 turbo – o mesmo de BMW Série 1, Peugeot 308 THP e Citroën DS3 – mostra mais uma vez suas muitas qualidades no Countryman S. Quase não existe “turbo lag” – aquele atraso na entrada em funcionamento da turbina – e as respostas são sempre imediatas. Basta pedir que o conjunto mecânico reage com agilidade, sobe os giros e “catapulta” o utilitário. Junto com a eficiente transmissão automática de seis marchas, o Mini Countryman S vai a 100 km/h em 7,9 segundos. Ótima marca, principalmente para um SUV. Nota 9.

Estabilidade – Se, na hora de acelerar, o Countryman não sente o ganho de massa, o mesmo não se aplica à capacidade do Mini em enfrentar curvas. Não que o utilitário seja um carro instável, mas perde a excelência em trechos sinuosos que caracteriza os companheiros de linha. Com ímpeto “normal”, o SUV gruda no chão, sem qualquer menção de desgarrar. Quando o ânimo aumenta, no entanto, o Countryman não acompanha. O centro de gravidade é alto e tende a manter o carro sempre em linha reta. As saídas de frente no Countryman são muito mais comuns do que nos outros Mini. Em reta, a estabilidade é constante em pisos lisos. Quando o asfalto é pior, o modelo quica um pouco. Nota 7.

Interatividade – Como nos outros Mini, o Countryman S é um carro que abraça o motorista. Volante, pedais e banco proporcionam uma dirigiblidade e ergonomia elogiáveis. Evidentemente, o utilitário é mais alto que os outros carros da marca inglesa, algo que facilita o acesso e ainda permite uma melhor visualização do trânsito à frente. O grande velocímetro central é confuso, mas existe um pequeno digital junto ao contagiros que compensa. O sistema de entretenimento lembra os usados nos modelos da BMW – é preciso um tempo para se acostumar. Depois de se familiarizar, no entanto, ele mostra funcionamento amistoso e muitas funções. Nota 8.

Mini Cooper S

Consumo – O InMetro não aferiu o consumo do Countryman S. Os dados do computador de bordo mostram média de 10,2 km/l em ciclo misto. Nota 8.

Conforto – A suspensão é o grande problema de todos os carros atuais da Mini. O conjunto suspensivo do Countryman é tão rígido que incomoda até em pisos lisos. Quando se passa em uma área esburacada, as pancadas parecem não ter a devida absorção pelos amortecedores de curso demasiadamente curto. Em compensação, o espaço interno difere bastante do encontrado nos outros Mini. O Countryman é amplo, com lugar para cinco adultos viajarem com bastante conforto. Os bancos de couro apoiam bem e têm a densidade correta. Nota 6.

Tecnologia – A atual geração do Mini está em vias de ser substituída. Mesmo assim, o Countryman S é um carro que traz um bom conteúdo tecnológico. O motor é excelente e se aplica muito bem à proposta do pequeno SUV. A lista de equipamentos também é completa e não deve em nada. Nota 8.

Mini Cooper S

Habitabilidade – Diferentemente de Cooper, Coupé ou Roadster, o Countryman é um carro alto e com acesso facilitado. Não é preciso se abaixar e espremer para entrar na cabine. Além disso, por ser o único carro da marca a ter quatro portas, abriga muito bem uma família maior. O bagageiro não é dos mais generosos. Mas os 350 litros são suficientes para a maioria das aplicações. Nota 8.

Acabamento – Como todo Mini atual, o Countryman S se destaca pelo visual da cabine. Tudo é bem pensado e estiloso, com bom gosto e utilidade. O acabamento em si é bom, com algumas superfícies macias ao toque e encaixes precisos. Mas nada que chegue a impressionar, para um carro de quase R$ 130 mil. Nota 7.

Design – Existem dois parâmetros para avaliar o desenho do Countryman. Quando comparado com outros SUVs, o modelo inglês se destaca graças ao estilo retrô. Dentro da linha da Mini, no entanto, é sem dúvida o modelo mais estranho e desajeitado. Parece um Cooper fora de escala. Com a ampliação da carroceria em todas as dimensões, a simpática harmonia do hatch original foi sacrificada. Nota 6.

Mini Cooper S

Custo/benefício – O Countryman fala a um público que gosta da proposta despojada do Cooper, mas precisa de mais espaço. E por ser esse “passo adiante”, é mais caro. Em comparação com outros utilitários de seu porte, o Mini também tem um custo consideravelmente elevado. A versão avaliada, a S com tração dianteira, sai por “salgados” R$ 129.500. Por outro lado, oferece uma dose de esportividade que nenhum dos concorrentes se aproxima. Nota 5.

Total – O Mini Countryman S somou 72 pontos em 100 possíveis.

Impressões ao dirigir

A sensação de chegar próximo ao Mini Countryman S é estranha. Afinal, se tem uma coisa que o utilitário inglês não é, é “mini”. Além disso, quando colocado lado-a-lado com seus companheiros de linha, também não conquista tanto pelo visual. Se do lado de fora as dimensões parecem prejudicar o SUV, por dentro a coisa muda de figura. A cabine traz o já conhecido acabamento correto e com design caprichado dos carros da Mini. Só que, diferente do Cooper, por exemplo, tem espaço interno para cinco adultos. A carroceria alta e sem muitas curvas dá ótimo espaço para cabeça e ombros de quem vai atrás. Nesse aspecto, de fato, consegue ampliar a experiência da Mini para um novo patamar.

Em movimento, o Countryman continua mantendo as premissas básicas dos outros carros da empresa. Mas com as suas particularidades. A aceleração em linha reta é excelente. O motor 1.6 turbo de 184 cv tem força e já mostra disposição em rotações baixas. Ele trabalha em harmonia com a transmissão automática de seis velocidades e dá imediata satisfação a quem pisa fundo no pedal da direita. O único porém na experiência são as borboletas para trocas de marcha atrás do volante. Ambas reduzem ou aumentam uma relação, ao serem acionadas para cima ou para baixo, em vez de servirem cada para uma função específica.

Mini Cooper S - Detalhe do emblema

Por mais que a Mini garanta que o Countryman mantenha a “sensação de kart” dos outros Mini, não é exatamente o que ocorre na prática. Aqui, as dimensões mais exageradas pagam a conta. O centro de gravidade é nitidamente mais alto e atrapalha na dinâmica. A suspensão é bastante rígida e ameniza as rolagens de carroceria. Mas, mesmo assim, o carro tende a sair de frente com frequência, principalmente quando levado ao limite – o controle de tração ajuda a manter tudo em ordem. Comparado a outros utilitários esportivos de porte semelhante, o Countryman é até mais ágil. Mas perde feio dos outros Mini.

E mesmo em desvantagem em relação à capacidade de enfrentar curvas, o utilitário mantém um dos grandes defeitos dos carros da marca. Seu conjunto suspensivo é duro demais. Os pneus tem perfil fino e amortecedores e molas parece ter sido calibrados para fornecer o máximo possível de esportividade. O resultado é um rodar desconfortável em em pavimentos mal cuidados. Que, em boa parte do país, infelizmente são maioria.

Mini Cooper S - Detalhe da Lanterna

Ficha técnica - Mini Countryman S

Motor: A gasolina, dianteiro, transversal, 1.598 cm³, turbocompressor, quatro cilindros em linha, quatro válvulas por cilindro, cabeçote com duplo comando de válvulas com tempo de abertura variável. Injeção direta de combustível e acelerador eletrônico.

Transmissão: Câmbio automático com seis marchas à frente e uma a ré. Tração dianteira. Oferece controle de tração.

Potência máxima: 187 cv a 5.500 rpm.

Aceleração de 0 a 100 km/h: 7,9 segundos.

Velocidade máxima: 210 km/h.

Torque máximo: 24,5 kgfm entre 1.600 e 5 mil rpm com overboost de 26,5 kgfm entre 1.700 e 4.500 rpm.

Diâmetro e curso: 85,8 mm X 77 mm. Taxa de compressão: 10,5:1.

Suspensão: Dianteira independente do tipo McPherson, com molas helicoidais e amortecedores pneumáticos. Traseira independente do tipo multilink com barra estabilizadora de alumínio. Controle eletrônico de estabilidade.

Pneus: 205/55 R17.

Freios: Discos ventilados nas quatro rodas. ABS, EBD, assistente de frenagem de emergência e controle de frenagem em curvas.

Carroceria: Utilitário esportivo em monobloco, com quatro portas e cinco lugares. Com 4,11 metros de comprimento, 1,79 m de largura, 1,56 m de altura e 2,60 m de distância entre-eixos. Airbags frontais, de cabeça e de cortina.

Peso: 1.335 kg.

Capacidade do porta-malas: 350 litros.

Tanque de combustível: 47 litros.

Produção: Graz, Áustria.

Itens de série: Ar-condicionado automático, sistema multimídia com som Harman Kardon de 10 alto-falantes, GPS, tela de 6,5 polegadas e conectividade bluetooth e USB, bancos de couro, controles de tração e estabilidade, airbags frontais, laterais e de cortina, faróis bi-xenôn, volante multifuncional, rodas de liga leve de 18 polegadas, computador de bordo, sensor de chuva, luminosidade e estacionamento.

Preço: R$ 129.950.

Autor: Rodrigo Machado (Auto Press)
Fotos: Pedro Paulo Figueiredo/Carta Z Notícias