A BMW demorou a explorar o potencial da Mini. A operação da clássica marca inglesa sob domínio alemão começou de forma bem. Em 2001 surgiu a primeira geração do hatch acompanhado no ano seguinte pelo conversível Cabrio – bem na trilha do que a Volkswagen fazia com o New Beetle. Só depois de 2006, quando o carrinho entrou na segunda geração, a BMW passou a tirar maior proveito da proposta “descolada” dos simpáticos carrinhos ingleses. Para isso, usa a base já existente e praticamente só mudar a carroceria. Nesta estratégia, já são sete variações, quatro delas lançadas nos últimos quatro anos. A mais recente deles, com certeza, é a mais peculiar. É o Paceman, um SUV com ares de cupê que chega ao país agora.
Esta sétima variação do Mini deve também ser a última da atual fase. A terceira geração do modelo deve ser iniciada, com a versão hatch, já no ano que vem. Até por chegar no fim da vida da atual linha, o Paceman é a proposta menos óbvia da gama. A própria empresa tem dificuldade de definir o modelo. Usa a estranha alcunha de Sports Activity Vehicle Compacto Premium. Marquetês à parte, o Paceman realmente não tem concorrentes diretos. A carroceria traz um misto de SUV e cupê, com direito a porte alto e caimento acentuado do teto. Nesse ponto, o Range Rover Evoque é o que mais se aproxima da idéia, mas seu apelo é muito mais para o luxo – tendência acompanhada pela etiqueta de preço –, além de ter reais atributos off-road e não sofrer de raquitismo.
A idéia da Mini é ter o Paceman como uma evolução natural dentro da gama. Como a linha já existe há 12 anos, há clientes fiéis da marca já estão em seu terceiro ou quarto Cooper. O novo carro apareceria, então, como uma escolha mais exclusiva. Algo acompanhado pelo preço e pela expectativa de vendas. O Paceman chega em versão única de acabamento por R$ 139.950 e com previsão de vender entre 30 e 40 unidades por mês dentro de um universo de quase 370 exemplares mensais da marca. Mas é nessa política de vender um pouquinho de cada nova configuração que a Mini vem crescendo ano a ano. Em 2006, quando tinha apenas as versões hatch e conversível de primeira geração, a marca vendeu 188 mil unidades no mundo todo. Em 2012, com seis variantes, foram mais de 300 mil unidades.
Pelos quase R$ 140 mil da tabela, o Paceman traz ar-condicionado digital, bancos de couro, seis airbags, controles de tração e estabilidade, sensor de ré e chuva e sistema de entretenimento com tela de 6,5 polegadas, GPS e som Harman Kardon. O conjunto mecânico é aquele que já é tradicional na linha da marca por aqui. Ou seja, motor 1.6 com turbo twin scroll – com duas saídas – com 187 cv e 24,5 kgfm. O torque, aliás, pode crescer para 26,5 kgfm quando o botão Sport é acionado ou ao pisar no acelerador até o final do curso. A transmissão é automática de seis velocidades com opções de trocas manuais na alavanca ou por borboletas atrás do volante.
Com pacote idêntico de equipamentos e trem de força, o mais tradicional Countryman custa R$ 129.950. A diferença de R$ 10 mil tem uma explicação: marketing. Afinal, até a primeira coluna, os carros são idênticos – com minúsculas modificações estéticas na grade e no para-choque. As diferenças ficam na parte posterior. Além do óbvio desenho distinto, a Mini brasileira optou por trazer o Paceman com uma configuração de assentos ligeiramente diferente. Enquanto o SUV traz um tradicional banco inteiriço, com lugar para três pessoas, o Paceman recebe duas poltronas individuais divididas por um console central. Tipo de perfurmaria que tenta explicar a existência de um carro sem muito lugar no mercado.
Ponto a ponto
Desempenho – É automático. Dirigir qualquer modelo da linha Mini traz satisfação imediata. O motor 1.6 turbo é extremamente eficiente e bem-disposto. O torque aparece em giros baixos e instiga que se acelere fundo. Os giros sobem rapidamente junto com a contagem do velocímetro digital. A aceleração de zero a 100 km/h em 7,8 segundos é até menos impressionante do que a maneira como o SUV – ou SAV – chega lá. Nota 9.
Estabilidade – Afastado dos limites de aderência do Mini pelo travadíssimo trânsito de São Paulo, pôde-se perceber apenas a grande precisão da direção, de baixas até em altas velocidades. Apesar de ser assistida eletricamente, a direção mantém uma ótima a comunicação com as rodas. A suspensão rígida não permite movimentos laterais da carroceira. Nota 8.
Interatividade – O Paceman não se diferencia muito dos seus companheiros de linha neste aspecto. O conta-giros fica em um mostrador redondo atrás do volante, que tem ainda um visor pequeno com velocímetro digital no miolo, luzes-espia e um outro visor na base com dados do computador de bordo. O velocímetro analógico no imenso mostrador central é mais decorativo do qualquer outra coisa. No centro é que estão as informações interessantes, como as do sistema multimídia, de configuração do carro e do GPS. O volante tem boa pegada, mas as borboletas para trocas de marcha são confusas. Em vez de ser uma para subir e outra para reduzir as marchas, ambas fazem as duas funções, puxando ou empurrando para subir ou reduzir. O sistema de entretenimento é ótimo, com controle semelhante ao do iDrive dos BMW atuais. O caimento do teto e o vidro pequeno dificultam um pouco a visibilidade traseira. Nota 8.
Consumo – No trajeto que mesclou trechos urbanos e rodoviários, o Paceman marcou média de 9,2 km/l. Número apenas aceitável. Nota 7.
Conforto – O Paceman repete uma falha comum na atual gama da Mini: é duro demais. Para compensar a altura elevada, a engenharia deixou a suspensão ainda mais rígida que a do hatch, por exemplo. Isso paga a conta na buraqueira das cidades brasileiras, quando as pancadas são passadas para o interior sem qualquer cerimônia. Os pneus 225/45 R18 runflat também não contribuem para o conforto ao rodar. O interior é espaçoso na frente, com boa dose de conforto. Atrás, são duas poltronas separadas com bons apoios laterais. A área ali é ampla, mas ocupantes de 1,80 m ficam com a cabeça raspando no teto. Nota 6.
Tecnologia – O Paceman usa a mesma base que todos seus companheiros. Ou seja, plataforma com bons níveis de rigidez torcional e espaço interno apenas razoável. O conjunto mecânico é um dos destaques. O motor 1.6 turbo é muito bem adequado à proposta do carro. Fornece ótimos níveis de desempenho com um consumo condizente. O mesmo acontece com a eficiente transmissão automática. A lista de equipamentos é até enxuta para um carro de R$ 140 mil. Nota 8.
Habitalidade – Entrar na parte traseira do Paceman é surpreendentemente fácil. As portas são maiores que as do Countryman e a altura elevada facilita o “jogo de pernas”. O contrário acontece na saída, quando é preciso cuidado para não bater a cabeça no teto. O porta-malas tem abertura ampla e facilita o posicionamento de bagagens. A capacidade de 330 litros é condizente com a proposta. Nota 7.
Acabamento – O utilitário valoriza mais o desenho interno do que um acabamento caprichado propriamente dito. O design é moderno, com destaque para o vistoso velocímetro com a tela do sistema de entretenimento incorporada. Os materiais usados são de boa qualidade, mas não chegam a ser um ponto fora da curva. Existe uma boa quantidade de plásticos rígidos, por exemplo. Algo impensável para um carro de R$ 140 mil. Nota 7.
Design – É o grande apelo do Paceman. Ao vivo, o carro impressiona ainda mais. A combinação da linha de cintura ascendente e o teto descendente cria um efeito bem interessante em um modelo deste porte. Nota 9.
Custo/benefício – Não há rivais diretos para o novo Mini. Em termos de proposta, só o Range Rover Evoque se aproxima, mas é maior, mais caro e mais completo. O Paceman fica como uma proposta alternativa para quem acha o Countryman um tanto “normal”. É um carro interessante, com bons atributos, mas um tanto caro. Nota 6.
Total – O Mini Paceman somou 75 pontos em 100 possíveis.
Primeiras impressões
São Paulo/SP – A humanidade sobreviveria ainda séculos sem sentir falta de um utilitário esportivo compacto premium urbano com carroceria cupê. Mas, por algum motivo, a Mini achou que existia espaço no mundo para um. Apesar da proposta um tanto peculiar, o Paceman tem atributos bem interessantes. A começar pelo visual. As dimensões do Paceman são compactas e combinam muito bem com a carroceria cupê. O caimento do teto, aliás, não modifica muito a usabilidade do modelo. É evidente que existe muito menos espaço na traseira do que no companheiro de linha Countryman. Mesmo assim, só adultos altos ficam desconfortáveis ali. Qualquer criança ou pessoa de estatura média não vai reclamar. Principalmente porque os bancos individuais são confortáveis e abraçam bem os corpos.
No resto, o Paceman é praticamente uma reedição do Countryman. A posição de dirigir é elevada, bem diferente do hatch e do cupê, por exemplo. O desenho da cabine traz a identidade dos modelos da Mini, marcada principalmente pelo imenso velocímetro central que também abriga a tela do sistema de entretenimento. Uma das poucas melhorias é que os comandos dos vidros elétricos finalmente saíram do console central para a porta. O acabamento é correto, com encaixes precisos. Porém, com materiais de qualidade inferior ao esperável em um automóvel de R$ 140 mil.
Em movimento, o utilitário volta a mostrar seus destaques. O trem de força, já conhecido na linha por aqui, é excelente. O motor 1.6 turbo traz respostas imediatas, sem qualquer “preguiça”. O torque é abundante e em qualquer situação existe força para uma eventual ultrapassagem. A transmissão é outro ponto positivo graças às suas trocas rápidas. As borboletas para trocas manuais destoam. As duas alavancas atrás do volante reduzem e sobem as marchas em vez da solução tradicional, com uma alavanca para cada função.
O Paceman também se mostrou bem postado em curvas – parece ligeiramente melhor assentado que o Countryman. A direção permanece precisa e “durinha”, o que é ótimo para impor uma condução mais esportiva. A proposta claramente agressiva não mascara a principal falha do Paceman – e até de outros carros da Mini. Tem suspensão dura demais. Talvez em pisos perfeitos da Europa não seja um grande problema. Mas aqui, com as ruas esburacadas das cidades brasileiras, incomoda bastante. É difícil imaginar uma viagem longa, com mais de cinco horas, sem dolorosos reflexos na coluna dos ocupantes.
Ficha técnica - Mini Paceman Cooper S
Motor: A gasolina, dianteiro, transversal, 1.598 cm³, turbocompressor, quatro cilindros em linha, quatro válvulas por cilindro, cabeçote com duplo comando de válvulas com tempo de abertura variável. Injeção direta de combustível e acelerador eletrônico.
Transmissão: Câmbio manual com seis marchas à frente e uma a ré. Tração integral sob demanda. Oferece controle de tração.
Potência máxima: 187 cv a 5.500 rpm.
Aceleração de 0 a 100 km/h: 7,8 segundos.
Velocidade máxima: 212 km/h.
Torque máximo: 24,5 kgfm entre 1.600 e 5 mil rpm com overboost de 26,5 kgfm entre 1.700 e 4.500 rpm.
Diâmetro e curso: 85,8 mm X 77 mm. Taxa de compressão: 10,5:1.
Suspensão: Dianteira independente do tipo McPherson, com molas helicoidais e amortecedores pneumáticos. Traseira independente do tipo multilink com barra estabilizadora de alumínio. Controle eletrônico de estabilidade.
Pneus: 205/55 R17.
Freios: Discos ventilados nas quatro rodas. ABS, EBD, assistente de frenagem de emergência e controle de frenagem em curvas.
Carroceria: Utilitário esportivo cupê em monobloco, com duas portas e quatro lugares. Com 4,15 metros de comprimento, 1,78 m de largura, 1,52 m de altura e 2,60 m de distância entre-eixos. Airbags frontais, de cabeça e de cortina.
Peso: 1.330 kg.
Capacidade do porta-malas: 330 litros.
Tanque de combustível: 47 litros.
Produção: Graz, Áustria.
Lançamento: 2013.
Lançamento no Brasil: 2013.
Itens de série: Ar-condicionado automático, sistema multimídia com som Harman Kardon de 10 alto-falantes, GPS, tela de 6,5 polegadas e conectividade bluetooth e USB, bancos de couro, controles de tração e estabilidade, airbags frontais, laterais e de cortina, faróis bi-xenôn, volante multifuncional, rodas de liga leve de 18 polegadas, computador de bordo, sensor de chuva, luminosidade e estacionamento.
Preço: R$ 139.950.
Autor: Rodrigo Machado (Auto Press)
Fotos: Rodrigo Machado/Carta Z Notícias