Versões esportivas de hatches compactos sempre fizeram sucesso. Nos últimos anos, no entanto, as fabricantes caprichavam no visual agressivo e deixavam de lado a parte dinâmica dos veículos. Ao ser lançado no Brasil em 2013, o Peugeot 208 trazia uma posição de dirigir esportiva, com volante de raio reduzido e boa ergonomia. Faltava, porém, um toque de esportividade no desempenho. O anuncio da linha 2017 do hatch compacto da Peugeot trouxe o que faltava. A versão GT, inspirada na GTi, vendida na Europa, é equipada com um motor flex de imponentes 173 cv. E incorporou leves mudanças estéticas para aumentar o apelo visual do modelo.

Peugeot 208 GT

O principal dos atributos do “hot hatch” francês fica debaixo do capô. O motor é o conhecido 1.6 THP, importado da França já convertido para beber tanto etanol quanto gasolina, acoplado a um câmbio manual de seis velocidades. Segundo a Peugeot, o trem de força oferece ao compacto uma aceleração de zero a 100 km/h em apenas 7,6 segundos e velocidade máxima de 220 km/h, com etanol. A suspensão foi recalibrada, tornando-se mais firme, mas manteve a mesma altura das versões sem apelo esportivo do 208. Além do motor mais potente, o 208 GT ganhou aprimoramentos para melhorar sua condução e segurança. A direção recebeu maior precisão e calibração orientada para altas velocidades e os discos dos freios dianteiros foram reforçados e os das rodas traseiras também são sólidos. Além disso, o ESP foi calibrado para aumentar o controle em altas velocidades e curvas agressivas.

Peugeot 208 GT

Por fora, o visual do 208 GT é repleto de detalhes que realçam sua vocação esportiva. As rodas de alumínio diamantadas de 17 polegadas com pneus Michelin Pilot Sport 3 com perfil baixo – 205/45 R17 – chamam atenção logo de cara. O farol tem máscara negra e luz diurna em leds. O retrovisor e o aerofólio são pintados em preto brilhante, a saída de escapamento é cromada e dupla. Para completar, a grade dianteira também tem detalhes vermelhos. Por dentro, a essência esportiva está na costura do revestimento dos bancos e em peças como apoio de braço. O volante de dimensões reduzidas, comum à linha 208, no GT é revestido em couro e possui uma faixa de couro vermelho que faz a vez de linha guia, como em carros de corrida. As pedaleiras são em alumínio e as maçanetas e acabamento das saídas de ar são em cromo acetinado. A manopla do câmbio é de alumínio escovado.

Peugeot 208 GT

Por se tratar da versão topo de linha, o 208 GT é bem equipado de fábrica e não oferece opcionais. São seis airbags, ar-condicionado digital de duas zonas, banco do motorista com regulagem de altura, câmara de ré, central multimídia com tela sensível ao toque de sete polegadas, coluna de direção com regulagem de altura e profundidade, computador de bordo, direção elétrica, GPS, controle de cruzeiro, sensores de estacionamento dianteiro e traseiro e teto solar panorâmico. Seu maior problema é o preço: R$ 81.990. Segundo a Peugeot, a versão GT representa apenas 5% do mix de venda da linha compacta montada na fábrica de Porto Real, no Sul do estado do Rio de Janeiro.

Ponto a ponto

Desempenho – O motor 1.6 THP já é bem conhecido, mas ainda impressiona. Ele equipa 2008, 308 e 408 da própria Peugeot, além da linha DS e do C4 Lounge da Citroën. Os 24,5 kgfm de torque empurram os 1.196 kg do 208 GT com vontade. A força, quando aliada ao baixo peso do modelo, tornam o carro um legítimo hot hatch. Para atingir os 100 km/h, o modelo demora 7,6 segundos e o compacto acelera até os 222 km/h. O câmbio manual tem engates precisos, mas demasiadamente longos. Nota 9.

Estabilidade – A derivação de um carro de passeio não deixa que o 208 GT se torne um esportivo nato. Embora tenha foco em desempenho, preserva o conforto dos passageiros. O comportamento em curvas é sólido e não promove susto. A suspensão é nitidamente mais rígida que o modelo convencional, mas não resulta em total desconforto para os passageiros, apenas em um rodar mais firme. A direção elétrica é precisa tanto em baixa quanto em alta velocidade. Sua progressividade impressiona positivamente. Levíssima em manobras e com peso correto em movimento. Nota 9.

Peugeot 208 GT

Interatividade – O i-Cockpit do Peugeot 208, com o painel de instrumentos acima do volante – que é menor – e não atrás dele, sempre realçou esportividade do modelo. O volante reduzido e com a linha guia em vermelho remete aos modelos de competição e tornam o habitáculo do 208 GT instigante. O sistema de entretenimento traz tela sensível ao toque e seu uso é extremamente intuitivo. Há ainda teto panorâmico – ou seja, até os passageiros de trás conseguem ver o céu a bordo do modelo. Nota 9.

Consumo – É uma das vantagens do “downsizing” – motores pequenos e potentes. O InMetro avaliou o 208 GT. O modelo obteve médias de 8,2/12,0 km/l com etanol/gasolina na cidade e 9,5/13,8 km/l com etanol/gasolina na estrada. Esse resultado rendeu nota A em relação à categoria e B no geral. O consumo energético foi de 1,70 MJ/km. Nota 9.

Peugeot 208 GT

Conforto – O 208 é um compacto, ou seja, espaço não é mesmo o seu forte, principalmente no banco traseiro. Mas o modelo entrega a média do segmento atual: leva quatro adultos com certa dose de boa vontade e algum conforto. A suspensão é firme, mas consegue filtra as irregularidades. No entanto, sofre em asfalta muito irregular. Os bancos apoiam bem em curvas e não cansam o motorista. O teto panorâmico amplia a sensação de espaço. Nota 7.

Tecnologia – A plataforma PF1 tem boa rigidez torcional, mas não é nova. É a mesma utilizada em todos os compactos do Grupo PSA, originalmente desenvolvida em 2002 e retrabalhada em 2009, para a segunda geração do Citroën C3. A lista de equipamentos é bem generosa: há central multimídia, controle de cruzeiro, luzes diurnas de leds e seis airbags. O motor 1.6 THP não é novidade, mas ainda cumpre seu papel com louvor. Nota 8

Peugeot 208 GT

Habitalidade – Há diversos porta-objetos espalhados pela cabine, a maioria de acesso fácil. As portas não possuem um ângulo tão generoso para abrir, o que pode dificultar um pouco o movimento de entrar e sair do carro, mas que é normal em carros compactos. O porta-malas leva 285 litros, ou seja, está na média de sua categoria. Nota 7.

Acabamento – As marcas francesas sempre se vangloriaram pelo nível superior de acabamento em relação aos concorrentes. Não é diferente no 208 GT. Os plásticos têm boa qualidade e são todos extremamente agradáveis ao toque. Os encaixes são precisos e o design interior tem um charme incomum em carros de entrada de marcas generalistas no Brasil.  O couro nos bancos e volante aumentam a sensação de requinte e o teto em tecido preto realça a esportividade. Nota 9.

Peugeot 208 GT

Design – Os faróis afilados e a grade destacada carregam as características da atual identidade visual da marca francesa. O hatch consegue combinar linhas que expressam esportividade e, ao mesmo tempo, uma elegância, despertando atenção. As rodas de 17 polegadas e acabamento diamantado ajudam nisso. Nota 9.

Custo/benefício – A versão topo de linha com vocação esportiva do 208 é cara. Custa R$ 81.990 e não oferece opcionais. A Citroen oferece o DS3, que utiliza o mesmo motor, mas tem duas portas a menos e custa R$ 103.880 quando equipado similarmente. O Renault Sandero R.S. também segue a proposta de ser um carro de entrada com apelo esportivo, mas não tem o mesmo refinamento do francês, além de utilizar motor aspirado. Custa R$ 62.500, mas peca em equipamentos. Nota 7.

Total – O Peugeot 208 GT somou 80 pontos em 100 possíveis.

Impressões ao dirigir

Rompante de fúria

No papel, a receita já é boa. Visual esportivo, motor já conhecido pelo bom desempenho e aprimoramentos para melhorar a dinâmica. A prática não decepciona. O 208 GT é o tipo do carro que todo entusiasta gosta. Pequeno, ágil, com boa qualidade de acabamento e bonito. Os aspectos internos e externos despertam o prazer em dirigir.

Peugeot 208 GT

A disposição com que o hatch acelera é impressionante. Os 173 cv e 24 kgfm de torque tornam o modelo um foguetinho de bolso. O corpo cola no banco e a sensação só não é ainda melhor por conta dos engates do câmbio que são precisos, porém longos para a tocada esportiva que o carro merece. O zero a 100 km/h cumprido em menos de 8 segundos e justifica a alcunha de ‘hot hatch’.

Em curvas, o comportamento é bastante consistente. A Peugeot manteve a altura da suspensão original, mas reajustou o conjunto. A firmeza cobra seu conforto em ruas com asfalto mais castigado, mas não compromete no conforto dos ocupantes. A progressividade da direção impressiona. Bem leve em manobras e baixa velocidade, ganha firmeza conforme o crescimento da velocidade e se torna bastante agradável em uma tocada mais esportiva, sensação ampliada pelo volante pequeno e com ótima pegada.

Peugeot 208 GT

O problema é o preço. Custa R$ 81.990, R$ 30.800 a mais que a versão de entrada do compacto francês. Com esse valor, as opções para comprar algo divertido são escassas. O Renault Sandero R.S. é mais em conta, por R$ 62.500, mas peca em nível de tecnologia e equipamentos. Já o Citroen DS3, importado da França, usa o mesmo trem de força, mas quando equipado similarmente, custa acima dos R$ 100 mil. É um dilema complexo, mas que vale a reflexão.

Ficha técnica

Peugeot 208 GT

MotorGasolina e etanol, dianteiro, transversal, 1.598 cm³, turbo com intercooler, quatro cilindros em linha, quatro válvulas por cilindro. Comando duplo de válvulas no cabeçote com sistema de variação de abertura na admissão e escape. Injeção eletrônica multiponto e acelerador eletrônico
Potência173 cv com etanol e 166 cv com gasolina a 6 mil rpm
Torque24,5 kgfm com gasolina/etanol em 1.400 rpm
TransmissãoManual de seis marchas à frente e uma a ré. Tração dianteira. Controle eletrônico de tração. 
Aceleração de zero a 100 km/h7,6 segundos
Velocidade máxima222 km/h
Diâmetro e curso77 mm X 85,8 mm
SuspensãoDianteira tipo pseudo McPherson, independente, com molas helicoidais, amortecedores hidráulicos telescópicos pressurizados à gás e barra estabilizadora. Traseira deformável, com molas helicoidais, amortecedores hidráulicos telescópicos pressurizados à gás e barra estabilizadora. Oferece controle de estabilidade
Pneus205/50 R17
Peso1.196 kg
FreiosDiscos ventilados na frente e sólidos atrás. ABS com EBD de série
CarroceriaHatch em monobloco com quatro portas e cinco lugares. Com 3,97 metros de comprimento, 1,70 m de largura, 1,47 m de altura e 2,54 m de distância entre-eixos. Airbags dianteiros, laterais e de cortina. 
Capacidade do porta-malas285 litros
Tanque de combustível55 litros
ProduçãoPorto Real, no Rio de Janeiro
PreçoR$ 81.990

Autor: Fabio Perrotta Junior (Auto Press)
Fotos: Jorge Rodrigues Jorge/CZN