Com o passar dos anos, os consumidores de automóveis ficaram cada vez mais exigentes. Versões que antes não ofereciam o mínimo necessário para garantir o conforto de seus ocupantes – como ar-condicionado, por exemplo – foram, pouco a pouco, abolidas e só sobreviveram em projetos mais antigos. E o segmento de “carros de entrada” deixou de ter preços condizentes com essa categoria, em função dos pequenos luxos adicionados aos veículos básicos. A Renault atua nesse faixa com o Clio. O hatch da marca francesa curiosamente fez um caminho inverso: chegou ao Brasil para atacar os compactos mais requintados e, aos poucos, foi sendo “popularizado”. O resultado é que hoje, duas décadas após sua vinda ao país, o Clio é o melhor custo/benefício entre os carros de entrada do mercado nacional. Seus únicos rivais em termos de preço são de marcas chinesas que ainda lutam para conquistar a confiança dos brasileiros com a promessa de oferecer “mais por menos” – justamente a mesma premissa do Clio.
Com uma única versão disponível, o carro mais barato da Renault já sai de fábrica com carroceria de quatro portas e ar-condicionado, direção hidráulica, vidros dianteiros e travas elétricos – com comando para travamento e abertura na chave – e preparação para som. Mesmo assim, consegue ser cerca de 10% mais barato que seu concorrente mais próximo, o Fiat Palio Fire, equipado nas mesmas condições. Custa R$ 32.990, contra os R$ 36.358 pedidos pela marca italiana. As vendas podem até parecer pouco significativas, afinal foram “só” 1.244 unidades mensais ao longo de 2015. Mas, diante da crise e até da falta de variedade de versões – característica nada comum em modelos de volume –, pode-se dizer que essa quantidade é bem expressiva.
Fabricado na Argentina, o modelo vendido no Brasil ainda é feito sob a plataforma da segunda geração do Clio europeu, lançada em 1998 e encerrada em 2005 por lá. Recentemente, em 2012, passou por um face-lift que promoveu alterações para deixá-lo com visual mais próximo ao da quarta geração e, ao mesmo tempo, teve o motor 1.0 16V mexido. As mudanças fizeram-no ganhar 3 cv a mais de potência, resultando nos atuais 80 cv entregues com etanol. Mas um dos principais trunfos do Clio brasileiro é seu consumo. De acordo com o Inmetro, ele tem classificação A tanto geral quanto em sua categoria. Na cidade, por exemplo, teve média aferida pelo instituto de 13,1 km/l com gasolina no tanque.
No entanto, o modelo pode estar com os dias contados. Seu substituto, o Kwid, já foi lançado na Índia e a previsão é que chegue no Brasil entre o final deste ano e o início de 2017, com produção em São José dos Pinhais, no Paraná. Trata-se do primeiro produto da parceria entre a marca francesa e a japonesa Nissan. E que deverá receber o mesmo propulsor 1.0 litro de três cilindros que equipa o Nissan March.
Ponto a ponto
Desempenho – O motor 1.0 gera 80 cv a 5.750 rpm quando abastecido com etanol e 10,1 kgfm a 4.250 rpm. As arrancadas, ultrapassagens e retomadas mais fortes exigem uma pisada agressiva no acelerador. Acima dos 3 mil giros, o desempenho é bom para um modelo 1.0 e não se nota falta de força. Nota 7.
Estabilidade – A suspensão do Renault Clio faz um bom trabalho na hora de manter o hatch no caminho traçado pelo seu condutor. Mesmo em velocidades mais altas, as rolagens de carroceria são extremamente sutis e não há sensação de insegurança. Nota 8.
Interatividade – Descer ou subir os vidros dianteiros pode ser um pouco estranho à primeira vista para o condutor. Os botões não são posicionados lado a lado na porta esquerda, mas um na frente do outro – o que impede que, com uma única mão, o motorista abra ou feche as duas janelas ao mesmo tempo. O painel de instrumentos tem visualização boa e é bastante funcional, contando inclusive com computador de bordo. Nota 7.
Consumo – O programa brasileiro de etiquetagem classificou o hatch com conceito “A” tanto no geral quanto em sua categoria, com médias de 9,1/9,6 km/l com etanol no tanque em cidade/estrada e 13,1/14,3 km/l com gasolina nos mesmos ambientes. O consumo energético foi de 1,58 MJ/km. Nota 9.
Conforto – A densidade dos estofados é correta e a suspensão filtra os impactos do solo. O espaço, apesar das dimensões pequenas do modelo, é suficiente para que quatro pessoas viajem bem. Mas passageiros com uma estatura mais alta podem se incomodar, porque o espaço para cabeça não é tão alto e qualquer ajuste mais folgado à frente prejudica quem viaja atrás. Nota 7.
Tecnologia – Na Europa, o Clio está na quarta geração, que foi lançada no Salão de Paris de 2012. A versão sul-americana está bem longe, ainda na segunda, encerrada em 2005 por lá. A plataforma é de 1998 – é antiga, mas só um ano mais velha que a PQ24 dos Volkswagen Fox e Gol, de 1999, e dois anos mais nova que a do Palio Fire, de 1996. A relação de itens de série não é farta, mas o básico para garantir o conforto está presente: ar-condicionado, direção hidráulica, vidros e travas elétricos. Nota 6.
Habitalidade – O porta-objetos no topo do painel é bem interessante e abriga com facilidade carteira, chaves e celular. Mas, tirando ele, não há nenhum outro espaço realmente prático e útil. O porta-malas comporta 255 litros, na média do segmento. E, para o motorista, faz falta um mero ajuste de altura para o banco. Nota 6.
Acabamento – Tudo é bem simples e o interior é todo em tom preto. Há plásticos rígidos por toda a parte, mas nada muito diferente do que se vê na concorrência direta. O detalhe cromado no volante agrada. Os encaixes são precisos e os materiais aparentam boa qualidade. Nota 6.
Design – Não tem jeito. Apesar das tentativas de aproximar o modelo do visual de sua quarta geração europeia, nesse quesito o Clio denuncia que se trata de um projeto já antigo. Nota 5.
Custo/benefício – É aí que o Clio se destaca de fato. Só há uma versão para o modelo atualmente, a Expression, que já agrega quatro portas, ar, direção hidráulica e travas e vidros dianteiros elétricos. O preço é R$ 32.990. Um Fiat Palio Fire nas mesmas condições sai a R$ 36.358, enquanto um Nissan March S é R$ 39.590. Um Volkswagen Gol Special custa R$ 38.860 e o Chevrolet Onix LT, R$ 43.250. Os únicos mais baratos nas mesmas condições são os chineses Chery QQ, por R$ 31.290, e o Geely GC2, a R$29.900. Mas ambos são menores e de marcas com menos pontos de venda e oficinas no país. Entre todas as opções do segmento de entrada, o Renault Clio é a que melhor rentabiliza o que se paga. Nota 9.
Total – O novo Renault Clio somou 70 pontos em 100 possíveis.
Impressões ao dirigir
O Renault Clio é um carro que não chama atenção à primeira vista. Mas, em função do preço abaixo da concorrência, surpreende pelo que entrega. O interior é bem resolvido e se mostra maior do que aparenta por fora. O painel não fica a dever nada à concorrência e conta com tudo que é esperado de um carro, inclusive computador de bordo com informações como consumo médio, instantâneo e autonomia. Só decepciona a falta de ajuste de altura para o banco, algo que facilita a vida de motoristas mais baixos ou altos.
Em movimento, o compacto se sai bem. É claro que é preciso jogar os giros lá em cima para que ele mostre mais vigor, mas isso é normal no segmento em que atua. O torque só é entregue plenamente em 4.250 rpm, mas já a partir dos 3 mil giros o Clio responde bem às pisadas no acelerador. O isolamento acústico não é dos melhores, mas também não incomoda tanto. A suspensão, além de deixar o hatch bastante estável na maioria das situações, absorve com competência as imperfeições do asfalto. Parece bem adaptado às buraqueiras típicas das ruas brasileiras.
Ficha técnica
Renault Clio Expression
Motor | A gasolina e etanol, dianteiro, transversal, 999 cm³, com quatro cilindros em linha, quatro válvulas por cilindro e comando simples no cabeçote. Acelerador eletrônico e injeção eletrônica multiponto sequencial |
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Transmissão | Câmbio manual de cinco marchas à frente e uma a ré. Tração dianteira. Não oferece controle de tração |
Potência máxima | 80 cv e 77 cv a 5.750 rpm com etanol e gasolina. |
Aceleração 0 a 100 km/h | 13,7 e 14,3 segundos com etanol e gasolina |
Velocidade máxima | 168 e 167 km/h com etanol e gasolina. |
Torque máximo | 10,5 e 10,1 kgfm a 4.250 rpm com etanol e gasolina. |
Diâmetro e curso | 69,0 mm X 66,8 mm |
Taxa de compressão | 12,0:1 |
Suspensão | Dianteira independente do tipo McPherson com triângulos inferiores, amortecedores hidráulicos telescópicos com molas helicoidais e barra estabilizadora. Traseira com rodas semi-independentes, molas helicoidais, amortecedores hidráulicos telescópicos verticais e barra estabilizadora. Não oferece controle de estabilidade |
Freios | Discos ventilados na dianteira e tambor na traseira, com ABS. |
Pneus | 175/70 R13 |
Carroceria | Hatch em monobloco com quatro portas e quatro lugares. Com 3,81 metros de comprimento, 1,94 metro de largura, 1,42 metro de altura e 2,47 metros de entre-eixos. Airbags frontais. |
Peso | 912 kg |
Capacidade do porta-malas | 255 litros |
Tanque de combustível | 50 litros |
Produção | Santa Isabel, Argentina |
Lançamento mundial | 1990 |
Lançamento no Brasil | 1996 |
Lançamento da atual geração | 1998 |
Itens de série | ar-condicionado, vidros dianteiros e travas elétricos, indicador de troca de marcha, conta-giros com zona demarcada para economia de combustível, direção hidráulica, banco traseiro rebatível, retrovisores externos com regulagem manual interna, computador de bordo com oito funções, relógio digital, apoios de cabeça dianteiros e traseiros (2) reguláveis em altura, brake light, desembaçador do vidro traseiro, travas de segurança nas portas traseiras e pré-disposição para rádio. |
Autor: Márcio Maio (Auto Press)
Fotos: Isabel Almeida/Carta Z Notícias