No caminho da Volkswagen Saveiro sempre esteve a Fiat Strada. Em números: esse ano, de janeiro a outubro, a picape compacta da marca alemã vendeu pouco mais de 64 mil unidades. Desempenho muito bom, mas o problema é que a rival emplacou o dobro de veículos no mesmo período. Em setembro último, a Volkswagen apresentou a sua versão cabine dupla, para tentar diminuir o “placar” bastante adverso – mas sem porta atrás, como a principal concorrente. Os primeiros resultados mostram uma evolução do “jogo”. Antes da cabine dupla, a Saveiro registrou uma média de 6.300 carros mensais. Em outubro, primeiro mês cheio nas vendas com a nova variante, a picape chegou quase a 8.500 emplacamentos e a cabine dupla já responde por um terço dessas vendas – cerca de 2.800 veículos. E nesse crescimento, a configuração “top” Cross aparece como grande destaque. Ela acumula 1.500 unidades/mês.

Nova Saveiro Cabine Dupla
Nova Saveiro Cabine Dupla / Créditos: Reprodução

Além do espaço extra para passageiros no banco de trás, algo que também pode ajudar a atrair novos compradores para a Saveiro Cross Cabine Dupla é a lista de equipamentos. Sai de série com volante multifuncional, rodas de liga leve de 15 polegadas, faróis de neblina, rádio com MP3, Bluetooth e entradas USB e auxiliar e sensor de estacionamento traseiro. Destaque ainda para os dispositivos de segurança como controle de estabilidade, ABS off-road, que reforça os freios em terrenos sem pavimentação, sistema de assistência à frenagem, controle de tração, bloqueio eletrônico do diferencial e assistência de partida em rampa, que mantém o veículo estável por até 2 segundos depois de soltar o pedal do freio em aclives de mais de 5%.

Outro fator importante é que, ao longo de 2014, as versões topo de linha da Saveiro – Cross –, do Gol – Rallye – e mais recentemente a do Fox – Highline –, já exibem uma novidade sob o capô. Trata-se do novo motor 1.6 16V da família EA211 – a mesma do Up. Com duas válvulas a mais por cilindro em relação ao EA111, que ainda equipa as variantes Trendline e Highline da picape, o propulsor entrega 110 cv e 15,8 kgfm de torque quando abastecido com gasolina e 120 cv e 16,8 kgfm com etanol. A transmissão é sempre manual de cinco marchas.

VW Saveiro Cross
VW Saveiro Cross / Créditos: Reprodução

As versões com cabine dupla foram parte de um investimento de R$ 300 milhões da Volkswagen na fábrica de Anchieta, em São Paulo. A primeira fase do processo foi anunciada em 2013, no valor de R$ 250 milhões, para a ampliação e fabricação da nova Saveiro nas versões cabine simples e estendida. A segunda fase totalizou R$ 50 milhões adicionais na linha de montagem para a chegada da Saveiro cabine dupla e expandiu em mais 20% o total de produção. O montante é justificado nas alterações feitas no projeto para a Saveiro receber a cabine dupla. Uma delas é a elevação do teto em relação às demais configurações da linha Saveiro – alteração que fica “escondida” pelo novo rack no teto. Na Cross, são 1,72 m de largura, 1,55 m de altura – 4 cm a mais do que a Cross Cabine Estendida – e 4,51 metros de comprimento.

A Volkswagen também tentou abrir espaço no habitáculo. O espaço interno para a cabeça fica em 1,01 metro no banco dianteiro – 2,3 cm a mais do que nas configurações com cabine simples – e 94,5 cm no traseiro. O assento traseiro fica ainda em posição elevada em relação ao dianteiro em 9,5 cm. Atrás, há espaço para cinco ocupantes – cada um devidamente com seu cinto de segurança. Na Strada, são apenas quatro. Quem vai na traseira da Saveiro Cross CD ainda conta com vidros laterais basculantes, dois porta-garrafas de 500 ml, um porta-lata e até uma saída de 12V adicional. Já a caçamba tem 1,10 m de comprimento no assoalho e seu estepe fica posicionado embaixo do veículo – o que deixa livre um espaço total de 580 litros. As boas vendas da Volkswagen Saveiro Cross Cabine Dupla impressionam ainda mais quando se descobre o preço: parte de R$ 61.150 e chega a R$ 65 mil com todos os opcionais.

Traseira da Saveiro Cross
Traseira da Saveiro Cross / Créditos: Reprodução

Ponto a ponto

Desempenho – Na versão Cross, o motor 1.6 16V da família EA211 é, junto da cabine dupla, um dos destaques. O propulsor de máximos 120 cv – com etanol – tem um bom fôlego e movimenta a picape sem grandes esforços. Com 85% do torque já disponível logo a 2 mil rpm, a Saveiro embala e ganha velocidade com facilidade. Nas saídas de sinal e em trechos de subida, a picape de VW também mostra bastante vigor. Nota 8.

Estabilidade – A inserção de uma cabine maior e mais alta não alterou a boa dinâmica da Saveiro Cross. Sem mudanças no conjunto suspensivo, a picape permanece com a sensação de segurança de antes – mesmo em maiores velocidades. Não há dificuldade do modelo seguir a direção apontada. Acima dos 120 km/h é possível sentir uma pequena flutuação e a direção fica menos precisa. Nota 8.

Interatividade – Se acostumar com a Saveiro Cross é fácil e rápido. Os comandos mais importantes estão ao alcance do condutor e são de entendimento bem simples. O volante multifuncional agrega funções do rádio e do painel, fazendo o condutor ficar focado na estrada. O “co-piloto” Eco Comfort dá instruções ao condutor, com mensagens do tipo “ar-condicionado ligado: fechar as janelas” ou “não acionar o pedal do acelerador na partida do motor”. Ou seja, apesar de um tanto didático, dá dicas a quem dirige e ajuda a melhorar o consumo de combustível. Já os porta-objetos são justos, sem espaços exagerados, mas com capacidade suficiente para alojarem carteiras, chaves e telefones celulares. Nota 8.

Interior da Saveiro Cross
Interior da Saveiro Cross / Créditos: Reprodução

Consumo – O InMetro não aferiu nenhuma unidade da Volkswagen Saveiro Cross cabine dupla, com motor 1.6 16V. O computador de bordo acusou uma média de 8 km/l em trecho predominantemente urbano, com etanol. Um índice apenas aceitável para um motor 1.6. Nota 6.

Conforto – O acerto suspensivo da Saveiro Cross é bem justo para os ocupantes. Não há sacolejos e pancadas secas. Quem vai na frente também não sofre de falta de espaço. O que poderia melhorar é o apoio lateral dos bancos. Em curvas mais fechadas, o corpo escorrega. O isolamento acústico é eficiente e o ruído do motor só é ouvido em altas rotações. Nota 7.

Tecnologia – É na configuração Cross que reúne o que há de melhor na Volkswagen Saveiro. O motor 1.6 16V de 120 cv, controles eletrônicos de estabilidade e tração, freios ABS off-road, bloqueio do diferencial, sistema de som com Bluetooth, volante multifuncional e assistência de partida em rampa. Os itens podem servir tanto para quem vai usar o carro apenas para ir ao shopping ou quem realmente vai “jogar” o modelo em um “amistoso” trecho de lama. Nota 8.

Detalhe da traseira modificada
Detalhe da traseira modificada / Créditos: Reprodução

Habitabilidade – Levar cinco pessoas em uma Saveiro Cross CD não é uma alternativa das mais indicadas. Há até cintos de segurança para três passageiros traseiros, mas o espaço é reduzido. Pessoas com mais de 1,80 metro de altura vão depender bastante da boa vontade de quem se senta nos bancos dianteiros. O espaço para a cabeça é até razoável, mesmo com os bancos de trás sendo 9,5 cm mais altos que os da frente. O ocupante do meio também não terá grandes espaços para as pernas. Pelo menos quem viaja atrás tem porta-copos e tomada de 12V. E o diferencial de ser a única picape compacta que leva cinco pessoas é considerável. Ainda por cima, a caçamba ainda engole bons 580 litros. Nota 8.

Acabamento – A Saveiro Cross preserva o interior antiquado dos compactos da Volkswagen. Os plásticos se alternam entre lisos e rugosos e estão por toda parte. A unidade também não ostentava encaixes perfeitos e algumas partes do forro do habitáculo estavam descoladas. A moldura preta brilhante e o acabamento prateado do volante multifuncional ajudam no equilíbrio do interior. Nota 6.

Design – O visual da Saveiro Cross não mudou com a adição da versão com cabine dupla. O “apelo” estético aventureiro está lá com para-choques mais encorpados e caixas de rodas dianteiras em um preto fosco texturizado. O nome “Cross” está localizado sobre a grade do tipo colmeia com acabamento em preto brilhante e friso cromado. Mas o que chama bastante atenção na dianteira da picape são os enormes faróis de neblina, que ainda são envoltos em um anel cromado. Nota 7.

Visão lateral da Saveiro Cross
Visão lateral da Saveiro Cross / Créditos: Reprodução

Custo/benefício – A Volkswagen Saveiro Cross Cabine Dupla parte de R$ 61.150 e vem “quase” completa. De fora, só cores especiais ou metálicas, bancos em couro sintético e alguns itens, como espelho retrovisor interno eletrocrômico, limpador do para-brisa com temporizador e sensores de chuva e crepuscular. No total, a conta pode ultrapassar os R$ 64 mil. Não é possível apontar outro concorrente senão a Fiat Strada Adventure CD. Ela começa em R$ 60.780. A favor, o motor 1.8 litro de máximos 132 cv e a terceira porta para facilitar o acesso. Mas rádio com Bluetooth, volante multufuncional e bloqueio do diferencial são opcionais – e de série na Saveiro Cross. Com esses itens o valor chega a R$ 65 mil. Nota 5.

Total – A Volkswagen Saveiro Cross CD somou 71 pontos em 100 possíveis.

Saveiro com grade mais robusta
Saveiro com grade mais robusta / Créditos: Reprodução

Impressões ao dirigir

Prova dos cinco

A primeira impressão da Volkswagen Saveiro Cross CD não foi atrás do volante – como o de costume. A novidade da cabine dupla instiga a andar atrás. Mas a excitação pode dar lugar a uma certa frustração. A versão cabine dupla efetivamente amplia o leque de pessoas que a Saveiro Cross consegue levar. Agora, três passageiros podem viajar na parte traseira, pois há cintos de segurança para todos.

Por não ter um acesso à traseira como a Fiat Strada CD, entrar na parte de trás da Saveiro exige um certo esforço. Uma vez instalado nos bancos traseiros, a primeira sensação que aparece é de se estar mais “altinho” que os ocupantes da frente – já que o banco é 9,5 cm mais elevado. Uma situação estranha, mas que se acostuma com o tempo. Atrás, o espaço das pernas é um tanto exíguo. Dependendo do acerto de distância do passageiro da frente ou do motorista, quem vai nos lugares traseiros pode levar a pior – situação semelhante a alguns hatches compactos. Três tripulantes adultos atrás é até possível. Mas, dependendo da compleição física dos passageiros, é preciso abrir mão do conforto. Se na traseira forem apenas crianças ou adultos magros e de baixa estatura, se acomodam sem grandes problemas.

Passada a experiência no “fundão”, chegou a hora de assumir a direção. Aí a Saveiro Cross CD não decepciona. O novo motor 1.6 16V de 110/120 cv com gasolina/etanol tem bastante vigor e com a transmissão manual com engates quase sempre precisos, é possível extrair o melhor do propulsor. A “animação” em baixas rotações ainda deixa a picape “espertinha”. Outro ponto de destaque é a estabilidade. A Saveiro Cross CD não oscila muito e, em velocidades baixas e médias, as curvas são bem contornadas. Em manobras mais sinuosas, a falta de peso sobre o eixo traseiro se faz sentir. Com a caçamba vazia, melhor mesmo é reduzir a velocidade antes de entrar nas curvas, para manter o veículo sob controle e sem sustos. Exclusividade da configuração Cross, os aparatos eletrônicos – como controle de estabilidade e tração – estão lá para garantir a “ordem”.

Volkswagen Saveiro Cross Cabine Dupla
Volkswagen Saveiro Cross Cabine Dupla / Créditos: Reprodução

Ficha técnica

Volkswagen Saveiro Cross CD

Motor: Bicombustível, 1.598 cm³, dianteiro, transversal, quatro cilindros em linha, quatro válvulas por cilindro e comando variável de válvulas. Injeção multiponto sequencial e acelerador eletrônico.
Potência máxima: 110 cv e 120 cv a 5.750 rpm com gasolina e etanol.
Torque máximo: 15,8 kgfm e 16,8 kgfm a 4 mil rpm com gasolina e etanol.
Diâmetro e curso: 76,5 mm X 86,9 mm.
Taxa de compressão: 11,5:1.
Aceleração de 0 a 100 km/h: 10,6 segundos e 10,1 segundos com gasolina e etanol.
Velocidade máxima: 174 km/h e 177 km/h com gasolina e etanol no tanque.
Peso: 1.133 kg.
Transmissão: Câmbio manual de cinco marchas à frente e uma a ré. Tração dianteira. Controle eletrônico de tração.
Suspensão: Dianteira independente do tipo McPherson com barra estabilizadora. Traseira interdependente com braços longitudinais. Controle eletrônico de estabilidade.
Pneus: 205/60 R15.
Freios: Discos ventilados na frente e discos atrás. Oferece ABS com EBD de série e ABS off-road.
Carroceria: Picape compacta em monobloco com cabine dupla, duas portas e cinco lugares. Com 4,49 metros de comprimento, 1,71 m de largura, 1,55 m de altura e 2,75 m de distância entre-eixos.
Capacidade da caçamba: 580 litros.
Tanque de combustível: 55 litros.
Produção: São Bernardo do Campo, São Paulo.
Lançamento: 1982.
Lançamento da versão com cabine dupla: 2014.
Itens de série: ABS com função off-road, controle eletrônico de estabilidade, sistema de assistência à frenagem, controle de tração, bloqueio eletrônico do diferencial, assistência de partida em rampa, capota marítima e ganchos deslizantes na caçamba, rodas de liga leve de 15 polegadas, sensor de estacionamento traseiro, travamento das portas com controle remoto, rádio com CD, MP3, Bluetooth, USB e entrada auxiliar, banco do motorista com regulagem de altura, desembaçador traseiro, direção hidráulica, sinalização de frenagem de emergência, ar-condicionado, alarme, travas elétricas com controle remoto e retrovisores elétricos.
Preço: R$ 61.150
Opcionais: espelho retrovisor eletrocrômico, sensor de chuva e crepuscular, piloto automático e cores especiais amarelo e laranja.
Preço completo: R$ 64.106.

Motor da Saveiro Cross
Motor da Saveiro Cross / Créditos: Reprodução


Autor: Raphael Panaro (Auto Press)
Fotos: Jorge Rodrigues Jorge/Carta Z Notícias