Desde já há muitos anos os brasileiros já demonstravam sua paixão pelos automóveis. A Ford, primeira fabricante de veículos no Brasil, instalada em 1919, logo no primeiro ano de vida em nosso solo vendeu 2447 unidades do famoso e memorável modelo T. No seguinte ano esse número praticamente dobrou para mais de 4000 unidades. Apenas quatro anos depois esse número de vendas pulou para 24250 unidades, e por aí ano após ano a fabricante quebrava seus recordes de vendas no Brasil.

Ford PampaEm plena década de 80, próximo a uma nova reviravolta política do país, que levaria ao definitivo fim da ditadura, é apresentada ao mercado a solução automobilística econômica e versátil que os consumidores de então esperavam. Até então a Ford contava com veículos grandes pouco cômodos para movimentação e estacionamento dentro da cidade. Foi então que surgiu o Ford Pampa, a primeira picape que herdou a estrutura de um carro de passeio, o inesquecível Corcel II, que garantiu uma produção de 1,4 milhões de unidades produzidas, um dos maiores eventos de nossa indústria automobilística.

A ideia da Ford ao desenvolver e lançar o Pampa era justamente criar um veículo que fosse ao mesmo tempo de passeio, mas que fosse versátil ao ponto de auxiliar nas atividades laborais que envolviam carga de pequeno peso. Na verdade o Ford Pampa já existia, porém era demasiado grande para o novo objetivo, que era ter uma picape viável para o trânsito urbano e seus pequenos espaços para estacionar. Mesmo existindo já veículos com motor de quatro cilindros, como era o caso das F-1000, eles ainda não eram o tipo de automóvel que se adaptaria à movimentação nas capitais.

Ford Pampa - com capotaE não era só essa fabricante americana que estava de olho nesse filão, a italiana Fiat já tinha percebido essa tendência e lançado o Fiat City em 1980, qual era baseado no modelo 147. Logo em seguida, em 1982, chega ao mercado brasileiro o veículo que com este concorreria, seria a Pampa, que contava com a potência, acabamento e conforto do Corcel, e o luxo do Del Rey na versão Ghia, de luxo. A Pampa também fica na história como a única picape originada de um carro passeio com opção 4X4. A pequena camionete foi a derradeira na linha de sucessão do memorável Corcel. O modelo então tornou-se a segunda picape de pequeno porte produzida em nosso país, o que contribuiu para a assimilação do seu concorrente, o Fiorino picape da Fiat.

A picape Pampa, cujo significado do nome remete a um cavalo de corpo no todo malhado, contou com várias versões seja com cabine dupla, Ghia, S, GL e L e foi fabricada até 1997, registrando até então o incrível número de 380 mil unidades produzidas. Entre os diferenciais do Ford Pampa estão os freios, o painel completo já familiar, e o bagageiro e todo seu acabamento impecável, se considerado se tratar de um veículo de carga. Sua sucessora, Courier, nunca alcançou tal desempenho em vendas.

É inquestionável a contribuição do “pai” do Ford Pampa ao mercado automobilístico brasileiro. O advento do Corcel, lançado em 1977, foi uma das mais produtivas invenções de seu fabricante, uma vez que se desmembrou em várias versões para responder a distintas demandas e públicos da década de 80. Desse patriarca vieram o sedã de médio porte com duas portas e a perua Belina, sem comentar no notável e luxuoso Del Rey e, claro, sem esquecer a perua Scala, que seria uma Belina mais estilizada, e por fim seu último “filho” a picape Pampa.

Ford Pampa - TraseiraMas antes do Corcel II originar a picape Pampa, ele teve uma história de melhorias para que suportasse o peso de 600 kg de carga, incluindo motorista, o que demandou o alongamento do vão entre os eixos em 11 cm, para uma melhor distribuição do peso, além de ter elevada a distância do solo em 3 cm e trocando os pneus por maiores. Além disso suas molas na suspensão traseira passaram a ser semi-elípticas, mais adaptada a aguentar a pressão de carga adicional. O motor seguia sendo de quatro-cilindros de 1,6 litros, e sua tração continuava sendo dianteira, mas o câmbio de cinco estágios tinha sua própria gradação.

Todas essas melhorias no antecessor da picape Pampa, contribuiram para que especialistas reconhecessem que ela tinha desenvolvimento semelhante ao Corcel, com velocidade máxima de 148 km/h e aceleração de 0 a 100 km/h em 17,5, sendo estas as máximas alcançadas. Todos os detalhes da nova picape foram pensados e por isso a válvula equalizadora do modelo evitava que as rodas traseiras fossem travadas pelos freios, quando estavam com caçamba vazia.

Ford Pampa - 1982Mas não parava por aí a supreendente evolução do Corcel, sua descendente, Pampa, em fevereiro de 1984, viveu um salto em sua história ao receber sua versão 4x4, passando seu câmbio a ter uma caixa de transferência para a tração nas rodas traseiras, e um eixo rígido em lugar do eixo traseiro, ficando o diferencial nas extremidades dos semi-eixos. Devido ao peso extra a capacidade de carga foi reduzida para 440 kg. Mesmo agradando inicialmente por apresentar desempenho de 136 km/h e 21,68 segundos para ir de 0 a 100 km com 4x4, o novo sistema futuramente receberia reclamações pela baixa durabilidade.

Já na versão 4x2 a picape Pampa foi considerada com menor aceleração, pior estabilidade e direção mais dura e com menor capacidade de carga para os 67 cv com que contava. Essa foi a comparação feita em 1984, considerando entre esse modelo Ford e outros da mesma categoria de fabricantes como Chevrolet, VW, Fiat, quais respectivamente sejam, Chevy, Saveiro e 147 City. Nova versão é lançada em 1986, mais moderna e com melhorias, saía ao mercado a versão GL, que dava ao consumidor a opção de direção hidráulica e contava com redução nos ruídos, não obstante a dificuldade de utilização do veículo por quem tinha mais de 1,80 metro devido a escassez de espaço, apresentando também maior consumo de combustível em relação às suas concorrentes.

Mas a versão mais luxuosa do modelo ocorreu em 1987, trazendo consigo um pouco da classe e conforto do Del Rey, que teve sua produção finalizada em 1991, foi deste que a picape Pampa recebeu a grade frontal e o sofisticado painel, além dos faróis trapezoidais que já eram utilizados no Del Rey e Corcel desde 1985. Mesmo com tanto design e classe, a Pampa não registrava modernidade na direção, qual não oferecia opção fora da manual. Mais adiante, a união da Ford com a VW, que vigorou de 1986 a 1994, possibilitou o compartilhamento de tecnologia, propiciando em 1990 que o motor AP=1800 do Saveiro fosse o mesmo da Pampa, rendendo 92 cv. Mesmo passando por tantas evoluções, a Pampa só apresentou versão com injeção eletrônica em 1997, mesmo tendo encerrado sua produção em 1994. A primeira picape derivada de um carro de passeio e com opção 4x4 estava finalizando sua carreira, para dar lugar a sua sucessora, a Courier, qual nunca conseguiu até o momento superar a preferência e popularidade do Ford Pampa, seu conforto, versatilidade e capacidade.

Interior - Ford Pampa

Características técnicas do Ford Pampa 4x4 de 1984

Esse modelo contava com motor de 4 cilindros e motor de 1.6 litro, além de carburador de corpo duplo a gasolina, alcançando a potência de 62,7 cv a 5200 rpm. Seu torque era de 10,4 kgfm a 2800 rpm. Sua carroceria tinha dimensão de 4.420 mm de comprimento, 1.670 mm de largura e 1.410 mm de altura com peso de 1.104 kg. Contando também com tração integral e freios a disco sólido na dianteira e de tambores na traseira. Direção com 4 velocidades em cambio manual.

Origens

Painel - Ford pampaA picape Pampa tem como criador a importante fábrica norte americana de automóvel chamada Ford, que chegou ao Brasil em 1919, onde, a princípio, destinou seus esforços a importação de veículos. A mesma seria a primeira fábrica desse segmento no país e a segunda na américa Latina, onde já contava com uma filial na Argentina. A empresa iniciou no país com 12 funcionários e três anos a frente, em 1923, já tinha 124 empregados com produção já duplicada. O primeiro automóvel montado em solo brasileiro foi o famoso modelo T.

Em 1950 acontece o primeiro processo de estampagem das carrocerias da linha Ford, e logo em seguida o país começa engatinhar no processo de nacionalização, ao serem fabricadas as primeiras cabines Pick-ups de aço em Volta Redonda.

Por influência do governo Juscelino Kubitschek, que pregava a nacionalização da produção, foi inaugurada em 1957 a manufatura da Ford no país, com 40% de peças nacionais. O primeiro veículo produzido no país foi Ford F-600. Logo em seguida, em 1958 iniciou-se a fabricação de motores da marca no Brasil, sendo o primeiro o tipo V8 Y-block de 272 polegadas cúbicas de deslocamento, 4,5 litros e 161 HP.

Ford Pampa - 1995Em 1967 ocorria o lançamento do primeiro carro da Ford no Brasil, o Ford Galaxie 500, excetuando a motorização era semelhante ao produzido nos Estados Unidos no ano anterior. Nesse mesmo ano a Ford assume a empresa Willys Overland do Brasil, ficando responsável pelo projeto do carro de médio, que na verdade era o Corcel, que viria a ser lançado em 1968, depois de inúmeras alterações. Esse teve uma nova versão em 1978, o Corcel II, que foi recorde de vendas e preferência da história da Ford Brasil. Em 1980 o modelo alcança a marca do milionésimo exemplar vendido. É também o carro de maior produção da história da Ford. Na atualidade a fabricante está em quarto lugar como uma das maiores potências do mercado automobilístico no Brasil, constituindo-se ainda, a divisão da América Latina a que mais lucra no grupo. Entre os modelos destaques da marca no momento estão o Ford Fiesta, EcoSport, Fusion, este fabricado no México.

E se você pensa que recall é invenção do século XXI, saiba que o primeiro desses procedimentos feitos no Brasil foi justamente pela primeira montadora que aqui aportou e produziu o primeiro carro em nosso solo. Sim, em 1969 a Ford chamou seus clientes para corrigir um problema de fábrica no Corcel, que envolvia o sistema de direção. A fabricante realmente foi aqui uma pioneira em vários aspectos.

Expectativas

Ford PampaNão há dúvidas que a Ford Pampa foi um sucesso na década de 80, sendo vendida até 1997, e desbancando na preferência à frente de outras, mesmo quando apresentava alguns pequenos itens em desvantagem. O fato é que o brasileiro realmente comprou a idéia de conforto e trabalho fornecido pelo modelo, principalmente quando do lançamento do modelo 4x4, uma grande inovação para picapes compactas. Após a saída da Pampa, foi lançada outra picape, a Courier, na expectativa de alcançar o sucesso de sua antecessora, porém este modelo não evoluiu e até o momento insignificantes mudanças, como a última, ocorrida em 2007, qual incluía o motor Flex 1.6. Essa inatividade do fabricante traz suspeitas e boatos que fazem acreditar que haverá um novo lançamento de picape, baseado agora, no EcoSport. Informação esta que não se pode fiar, pois o mesmo comentário surgiu quando do lançamento do Ford Ka, e como vemos foram apenas especulações que não se concretizaram. E mesmo que não esteja passando por constantes modernizações a Courier ainda tem procura pelos clientes, não se posicionando no ranking das menos vendidas no país, ficando sim nesta posição os veículos da modalidade da marca Peugeot.

Sobre o futuro da sucessora do Pampa, o Ford Courier, segundo o site da própria montadora este modelo continua até 2015, ao contrário do que ocorrerá com modelos como Ford Ka, Fiesta Rocam e provavelmente Fusion já não mais estarão em nosso meio. Refletindo essa decisão da fábrica em manter comercialmente ativo somente modelos que atendam as exigências de segurança e construção mundialmente exigidas, como airbags e freio ABS. No Brasil todos os carros deverão contar com esses itens de segurança como de série a partir de 2014, como determinação legal. Como a Ford Courier já não passa por nenhuma restilização ou modernização há muito tempo, quem sabe não vemos também em 2015 uma recauchutada no modelo para finalmente ter o prazer de nos sentirmos em uma nova versão da picape que nos remete aos bons tempos de seu saudoso ancestral Corcel. Porém para nossa aflição a Ford ainda não adiantou nada, teremos que esperar para ver. Quem viver até lá, verá!