12º Salão Duas Rodas de São Paulo

Poucos segmentos da economia brasileira sofreram tanto os reflexos da crise financeira quanto o de motocicletas. Os números do setor dão a extensão do drama. Em 2010, foram 2,1 milhões unidades vendidas. Para 2013, a expectativa é que mal se chegue a 1,6 milhão. E enquanto os modelos de baixa cilindrada sofrem com as restrições ao crédito, a oferta de motocicletas de luxo, direcionadas a consumidores abastados, cresce e aparece. Tudo isso se tornou bastante palpável no 12º Salão as Duas Rodas, realizado entre 8 e 13 de outubro. O enxame de marcas orientais com modelos de baixo custo ficou no passado. O Centro de Convenções do Anhembi, em São Paulo, foi dominado por marcas sofisticadas e suas máquinas maravilhosas.

Além das marcas já consagradas e conhecidas no mercado – as japonesas Honda, Yamaha e Suzuki, a alemã BMW e a norte-americana Harley-Davidson –, surgiram com força marcas que até pouco tempo faziam apenas figuração no Brasil. Algumas delas foram reestruturadas e todas entraram para brigar pelo mercado. Casos das italianas MV Agusta, controlada no Brasil pela Dafra, e a Ducati, gerenciada mundialmente pela Audi.

Outra que reaparece em novos moldes é a japonesa Kawasaki, agora gerenciada pela própria matriz, e não mais através de representação comercial. E tem atuado de forma tão intensa no país que não sobraram novidades para o Salão. Apenas a versão Tourer para a bem-sucedida Ninja 1000. Todas estas fabricantes “reengenheiradas”, no entanto, já estavam oficialmente presentes no mercado brasileiro. As novidades ficam por conta da Triumph, que desembarcou oficialmente há menos de um ano, e da italiana Benelli, que hoje pertence ao grupo chinês Qianjiang, dono ainda da Keeway, que também estreou no Salão das Duas Rodas. As duas são representadas no Brasil pela Bramont, responsável pela produção dos utilitários Mahindra em Manaus.

Motos no Salão Duas RodasAlém da novata Keeway, que surge com uma grande linha de modelos pequenos, apenas as três japonesas mais tradicionais apareceram com novidades de baixa cilindrada. A Yamaha destacou a recém-lançada Fazer 150, uma espécie de “última esperança” para a marca em busca de volume comercial no Brasil. Fora isso, apresentou apenas dois modelos: a nova geração da V-Max, com motor de 1.679 cc, e a big scooter T-Max, de 530 cc. Em comum, as duas trazem preços totalmente despropositados: R$ 42.500 para a T-Max e R$ 99 mil para a muscle bike. No mais, o line-up da marca continua preguiçosamente o mesmo.

A Suzuki apostou na Inazuma, uma 250 cc que será montada em Manaus, custará em torno de R$ 15 mil e chega ao mercado apenas em 2014. Com ela, espera brigar com nakeds como Honda CB 300R, Fazer 250 e Dafra Next. A Honda, além de dar grande destaque para a nova geração da indefectível CG, apresentou sua nova família de 500 cc, que tem a pretensão de ser o modelo-base para a popularização de motocicletas de alta cilindrada.

A CB 500F chega ao mercado por R$ 22 mil e pode, de fato, funcionar como porta de entrada para modelos maiores. E nesse função, a Honda vai atuar de forma quase solitária. Enquanto isso, as motocicletas de segmentos superiores está quase enfrentando um engarrafamento. Só a inglesa Triumph trouxe sete novas motocicletas, incluindo aí novas versões. De inéditas, há a “vintage” Thruxton 900, bem no estilo cafe racer do início dos anos 1960, e a sofisticada touring Trophy  SE. Entre as italianas, a Benelli aparece com diversos modelos interessantes, com motores de três cilindros entre 900 a 1130 cc. A exceção fica para o modelo BN600, de 600 cc e quatro cilindros.

Quem também ressurge em grande estilo é a Ducati, agora como marca do Grupo Volkswagen. A proposta da marca italiana foi criar degraus mais acessíveis com os modelos de cilindrada menor, como a Hypermotard 800, Hyperestrada, Monster 796 e a linha 848 – até aqui, ela só trazia modelos de 1.200 cc. A também italiana MV Agusta seguiu esta mesma tática. Apresentou as versões menores de seus estilosos modelos já vendidos no Brasil, como a Brulale, Rivale e F3, todas com motores de 800 cc.

Com toda esta concorrência, a alemã BMW, marca que desfraldou o mercado de luxo no Brasil, já não tem mais uma vida tão fácil. Por isso mesmo resolveu estender seus esforços para segmentos inexplorados por ela. No caso, o de maxiscooter, com o modelo C600 Sport, com motor bicilíndrico de 61 cv. Além dela, a marca da Baviera apresentou apenas a versão GS Adventure para a bigtrail F 800.

A norte-americana Harley-Davidson, por sua vez, tem também uma ampla diversidade de modelos. Mas ainda assim trouxe novidades. No caso, a marca de Milwalke vem se reinventando nesses últimos anos, embarcando cada vez mais tecnológica em seus modelos. Esse é o principal objetivo do chamado Projeto Rushmore, que teve três produtos exibidos no Salão das Duas Rodas: Ultra Limited, Street Glide e Road King Classic, todas animadas com o motor Twin Cam 103, ou 1.700 cc, com cabeçote arrefecido por líquido – recurso visto como herético por muitos “harlistas”. Além de ainda contar com recursos eletrônicos, como injeção, computador, freios ABS combinados e luzes de led.

Destaques do Salão das Duas Rodas 2013

Triumph Truxton 900 – A marca inglesa promete para abril a charmosíssima motocicleta retrô, com visual típico das que corriam na Ilha de Man nos anos 60. Apresentou ainda a touring Trophy e a esportiva Daytona 675, modelo menos nervoso que a 675R. Além dela, a Triumph completou a linha Tiger com o modelo Sport e ainda trouxe uma nova versão de entrada, Tiger 800, e uma nova versão de topo, Tiger Explorer XC 1.215. A nova XC, apesar de mais completa,  vai ter o mesmo preço da antiga Explorer, que teve o preço reduzido em aproximadamente 10%. Em relação aos consumidores que pagaram o preço mais alto, a marca tomou uma atitude “luxuosa”: ofereceu uma “indenização” R$ 1.500 em roupas e acessórios e um ano de garantia complementar. 

Triumph Thruxton 900

Harley-Davidson Ultra Limited – A marca norte-americana trouxe três novos modelos criados no projeto Rushmore, que busca o aprimoramento tecnológico da marca. Além disso, trouxe alguns exemplares apimentados pelo sistema CVO – de Custom Vehicle Operations ou operações de personalização de veículos. Casos da Limited e a Breakout, que têm motores de 1.800 cc, o Twin Cam 110 High Output, GPS integrado e vários outros itens de luxo.

Harley Davidson Ultra Limited

Yamaha T-Max 530 – A marca japonesa vai passar a brigar no segmento de maxiscooters, onde hoje a Suzuki Burgman 650 atua solitária. Além dela, vai importar a nova geração da clássica V-Max, agora com motor de 1.700cc. O preço de R$ 42.500 e de R$ 99 mil, respectivamente não permite, porém, vislumbrar um futuro brilhante para elas.

Yamaha T-Max 530

Benelli TNT 1130 – A marca italiana estreia no Brasil com modelos de visual arrojado, propulsor com a configuração da moda, tricilíndrica, e preço atraente. O mais barato é o modelo esportivo BN600, que tem propulsor quadricilíndrico: R$ 24.900. A bigtrail Trek Amazonas, a mais cara, também com motor 1130, a mais cara da linha, sai a R$ 56.490, pelo menos 10% a menos que motocicletas equivalentes de marcas rivais. A esportiva TNT 1130 sai a R$ 44.890.

Benelli - TNT 1130

Honda CB 500X – A marca japonesa concentrou seus esforços no lançamento da nova linha de 500 cc, composta pela CB 500F, que já está nas lojas, pela CBR 500R, que chega em dezembro, e pela nova crossover CB 500X, que só será lançada no segundo trimestre de 2014 e atraiu bastante a atenção. O estilo segue a linha “bico de pato”, adotada também pela XRE 300, e se vale do bom porte do modelo para impressionar. 

Honda CB500X

MV Agusta Rivale 800 – A fabricante italiana, controlada no Brasil pela Dafra, ampliou seus horizontes mercadológicos com a chegada dos modelos de 800 cc Rivale, Brutale e F3. Todas mantém a “pegada” esportiva da marca, considerada a “Ferrari das motocicletas”, e chegam ao mercado no segundo trimestre de 2014.

MV Agusta Rivale 800 cc

BMW C600 Sport – A marca alemã decidiu explorar novos segmentos no Brasil sem abrir mão do luxo. A maxiscooter C600 Sport deve chegar devagar, em um lote pequeno, para testar o  mercado. Outra novidade da fabricante é nova versão de topo para a F800, a GS Adventure.

BMW C600

Ducati Monster 796 – A marca italiana reaparece sob a batuta da Audi e tratou logo de ampliar o espectro de produtos com modelos de menor cilindrada – e consequentemente mais baratos. Além da Monster 796, a Ducati mostrou a Hyperestrada e a Hypermotard, com motor Testastretta de 110 cv. O lançamento das duas está previsto para janeiro de 2014.

Ducati Monster 796

Keeway Index 350 – A marca chinesa passará a ter seus modelos montados na unidade de Manaus da Bramont. Entre eles o scooter Index 350 e os scooters Target 125 e Logik 150. Além das scooters, a marca apresentou diversas motocicletas, entre trails, nakeds e até uma custom, com cilindradas entre 125 e 250 cc.

Keeway Index 350

Kawazaki Ninja 1000 Tourer – Desde que a marca passou a ser trabalhada no Brasil diretamente pela matriz japonesa, a Kawasaki não perde tempo. Cada modelo que é lançado lá fora rapidamente aparece por aqui. Por esta política, não foram reservadas maiores surpresas para o Salão das Duas Rodas. A exceção ficou com a versão Tourer da Ninja 1000. A moto ganhou uma nova roupagem, uma bolha maior e bauletos laterais.

Kawazaki Ninja 1000 Tourer

Suzuki Inazuma 250 – A marca japonesa, representada no país pela J. Toledo, limitou-se a apresentar como novidade a nova Inazuma 250. O modelo, com desenho inspirado na naked B-King, só chega ao mercado depois do Carnaval de 2014.

Suzuki Inazuma 250


Autor: Eduardo Rocha (Auto Press)
Fotos: Eduardo Rocha/Carta Z Notícias