Se os dias dourados da economia recomeçassem hoje, levariam pelo menos dois anos para se tornarem visíveis em algum motorshow importante. O Salão de Paris, aberto no último dia 4 de outubro, traduz perfeitamente o que foram estes anos recentes 0para a indústria. Com o mercado retraído, as marcas se juntaram para reduzir os custos de novos projetos. Muitos deles, de modelos pequenos, que exigem menos investimento no desenvolvimento. Estão nesse caso Citroën C1, Peugeot 108 e Toyota Aygo, que renovaram o compartilhamento de plataforma e carroceria, iniciada na geração anterior, em 2005. A aliança Renault-Nissan e a alemã Daimler também criaram uma parceria envolvendo arquitetura e motores para a produção das novas gerações do Smart ForTwo e do Renault Twingo.

Paris, de fato, é o lugar certo para o lançamento de modelos que pretendem ter um volume de vendas grande. É o Salão que mais recebe público no mundo – até o encerramento, dia 19 de outubro, espera-se que tenha sido visto por mais de 1 milhão de visitantes. Em anos de fartura, as montadoras aproveitavam a boa plateia para exibir seus protótipos mais ousados ou seus modelos mais glamourosos. Desta vez, foram pouquíssimos de um e de outro gênero de carro. As francesas, como anfitriãs, se esforçaram um pouco mais e apresentaram conceitos como Peugeot Exalt e La Divine DS. Já os almães foram protocolares. A Mercedes-Benz exibiu o AMG GT, sucessor do SLS, e a BMW mostrou os Série 2 e 4 Cabrio e a segunda geração do X6. Nada muito impactante.

Destaques do Salão de Paris 2014

Para os brasileiros, alguns dos modelos apresentados despertam interesse, pois em breve devem estar sendo oferecidos por aqui. Casos do Ford Mustang e do Jeep Renegade. Não são exatamente inéditos, mas devem desembarcar no Brasil ano que vem. O primeiro vindo dos Estados Unidos, o segundo como fruto do início da produção da Jeep em Pernambuco. Coisa parecida pode ocorrer com o Land Rover Discovery Sport, cotado para ser produzido em Itatiaia, no Sul do Rio de Janeiro. Inéditos também são Suzuki Vitara, Volvo XC90 e Mini hatch quatro portas, que já devem aparecer no Salão de São Paulo, no final deste mês.

Principais destaques de Paris

BMW Série 2 Cabrio – Mercado de luxo não tem crise e a BMW é uma prova disso. A marca bávara foi das que mais apresentou novidades no Salão de Paris. Caso do Série 2 Cabrio, que ostenta um design bem evoluído em relação ao hatch Série 1, no qual é baseado. O menor conversível da BMW chega ao mercado europeu em fevereiro – no Brasil, deve desembarcar até o meio do ano e com preço inferior a R$ 200 mil. Os motores a gasolina vão do 2.0 turbo de 184 cv até o 3.0 twinturbo de 326 cv, que vai equipar a versão M235i. Outras novidades da BMW no Salão foram o Série 4 Cabrio e a esperadíssima segunda geração da utilitário X6.

BMW Série 2 Cabrio

Citroën C1 – Como acontecia na geração anterior, o novo subcompacto C1 compartilha a plataforma com o Peugeot 108 e com o Toyota Aygo. O modelo chega ao mercado com duas ou quatro portas, opcional de teto de lona recolhível e uma cara bem “zangada”. Os motores são modestos: 1.0 litro de 68 cv e 1.2 litro de 82 cv. Para o Salão, ele recebeu a versão conceito Urban Ride, que dá um ar aventureiro ao carrinho, com suspensão elevada e visual mais robusto.

Citroën C1

La Divine DS – As linhas do futuro DS4 estariam sendo traçadas pelo protótipo Divine. Mas com a independência da DS como uma terceira marca do Grupo PSA e a promessa de três novos modelos nos próximos anos, o La Divine pode ganhar as ruas paralelamente. Claro que com o devido realismo. O conceito apresentado tem no interior tecidos e grade dianteira com cristais Swarowski incrustados, faróis dianteiros em laser e painel central revestido com uma camada de ouro branco. O motor é o conhecido THP de quatro cilindros e 1.6 litro, mas na versão mais poderosa, com 270 cv e 33,7 kgfm de torque.

La Divine DS

Fiat 500X – O 500X é o quarto modelo da família 500, depois do 500, 500 L e 500 L Living, de sete lugares. Ele é um crossover que vai substituir em algum tempo o hatch Sedici – versão da Fiat para o Suzuki SX4 – e tem o desenho bem mais harmônico e simpático que o da versão minivan 500L. É bastante improvável que seja comercializado no Brasil, pois atuaria em uma faixa de mercado em que a montadora já é bem atendida com a linha Adventure, mas outros 100 países estão na mira da marca italiana. As motorizações variam de mercado para mercado. Vai desde um 1.6 de 110 cv a gasolina, com tração dianteira e câmbio manual de 5 velocidades, passando por um 1.4 MultiAir Turbo de 140 cv e indo até um 2.4 de 184 cv – os dois últimos com versões dotadas de tração nas quatro rodas e transmissão automática de nove velocidades. Sem falar nas motorizações diesel.

Fiat 500X

Ford C-Max e Grand C-Max – Em Paris, a Ford investiu alto no mercado familiar. Apresentou de uma só vez a nova S-Max, baseada na plataforma do Fusion/Mondeo, e duas configurações de sua minivan média baseada na plataforma do Focus, C-Max e Grand C-Max, para cinco e sete lugares. A S-Max ganhou uma pitada de esportividade pela direção adaptativa – que muda a relação entre o giro de volante e roda de acordo com a velocidade – e o sistema de tração inteligente All-Wheel Drive. Já a nova geração do C-Max ganhou linhas bem elegantes, mesmo na versão alongada, e tem um prático sistema que permite a abertura da mala sem usar as mãos – basta passar o pé sob o para-choque traseiro. Tanto o S-Max quanto o C-Max contam com o motor EcoBoost 1.5 a gasolina de 150 cv, além dos propulsores diesel.

Ford C-Max

Ford Mustang – A sexta geração do Mustang já havia sido mostrada no Salão de Genebra, mas agora faz sua première francesa e chega de fato ao mercado europeu. As linhas combinam de forma harmônica as referências ao modelo clássico, de meio século atrás, com a nova identidade visual da marca, com a característica grade em trapézio invertido.  As especificações mecânicas têm detalhes destinados a agradar o consumidor local. Caso da suspensão traseira multilink e do propulsor quatro cilindros 2.3 Ecoboost, de 309 cv, com 41,7 kgfm de torque. Ele é um tanto acanhado para um “pony car” mas bem adequado para um período de crise. Obviamente, a Ford não se furtou de trazer seu motor mais robusto, o clássico V8 5.0, que rende 436 cv, com torque de 53,9 kgfm.

Ford Mustang

Jeep Renegade – O simpático utilitário-esportivo compacto da Jeep será produzido no início de 2015 em Goiana, Pernambuco. O que deu as caras no Salão de Paris foi o produzido na Itália. Ele será lançado em todos os países em que a Jeep atua, inclusive nos Estados Unidos. Pelo menos a versão para a Europa, recebeu um acabamento caprichado e um interior muito bem concebido. No Brasil ele deverá receber os motores a gasolina 1.6 e 1.8, de 117 e 132 cv, respectivamente. Na versão de topo, o Renegade terá tração integral com reduzida e por isso poderá contar com o motor Multijet Turbo 2.0 diesel, de 140 ou 170 cv. Os preços devem iniciar em torno de R$ 60 mil e ultrapassar os R$ 100 mil na versão diesel.

Jeep Renegade

Lamborghini Asterion – Na mesma trilha da McLaren P1, do Porsche 918 Spyder e da LaFerrari, a Lamborghini mostrou sua versão de superesportivo híbrido. O V10 5.2 litros aspirado é combinado a três unidades elétricas e resulta em 910 cv potência. A transmissão de dupla embreagem tem sete marchas e o motor traseiro é transversal, para permitir que as baterias de lítio sejam postas ao longo do túnel central. No modo puramente elétrico, o Asterion LPI-4 910 tem autonomia de 50 km e pode chegar a 125 km/h. Usando tudo a que tem direito, a máxima é de 320 km/h, com zero a 100 km/h em 3 segundos. A arquitetura tem como base um monobloco em fibra de carbono e é “modestamente” anunciada como revolucionária. As linhas, por outro lado, são arredondadas e contrariam a personalidade clássica da Casa de Sant’Agata Bolognese, marcada por traços “entalhados”.

Lamborghini Asterion

Land Rover Discovery Sport – O efeito Evoque ultrapassou a linha Range Rover e chegou aos modelos Land Rover. No caso, a marca inglesa apresentou o Discovery Sport, sucessor do Freelander 2. O utilitário tem grandes chances de ser escolhido para sair da fábrica conjunta com a Jaguar, que está sendo levantada em Itatiaia, no Sul Fluminense – o outro seria o sedã médio Jaguar XE. Além do visual mais moderno, o Discovery ficou 15 cm maior que o Freelander – tem 4,59 metros – ganhou capacidade para sete passageiros – definido como 5+2 – e traz todos os recursos para off-road disponíveis na linha.

Land Rover Discovery Sport

Mazda MX-5 – A quarta geração do roadster japonês quebrou a tradição de trazer linhas suaves. Desta vez, ele ganhou traços mais agressivos e masculinos e um aspecto mais esportivo. O novo MX-5, que faz a estreia mundial em Paris, compartilha a plataforma com modelos da Alfa Romeo e da Fiat, mas tem evoluções que o deixou bem mais leve. Sob o longo capô, um motor 1.5 de 120 cv ou um 2.0 de 165 cv.

Mazda MX-5

Mercedes AMG GT-S – O sucessor do Mercedes-Benz SLS consegue harmonizar um desenho mais suave e equilibrado com o mesmo desempenho feroz, que sempre caracterizou os superesportivos da marca alemã. O modelo preparado pela divisão esportiva AMG é animado por um V8 biturbo central de 510 cv, desenvolvido especialmente para esta versão. Com ele, o esportivo é capaz de cumprir o zero a 100 km/h em 3,8 segundos e alcançar 310 km/h.

Mercedes AMG GT-S

Mini hatch quatro portas – A Mini não resistiu aos apelos de mercado e decidiu criar um Mini com 4 portas – definido como 5 portas pelo construtor. Com esta configuração, o simpático carrinho inglês vira praticamente um hatch de família. Em relação ao modelo de duas portas, esta nova configuração ficou 16 cm maior, com 3,98 metros. Sob o capô, três opções de motores a gasolina, já presentes no modelo atual. Um é o 1.5 de três cilindros com 102 cv, que na versão turbo chega a 136 cv de potência. O outro equipa a versão Cooper S e é um 2.0 de quatro cilindros e 192 cv. Há ainda três propulsores diesel, de 95 cv, 116 cv e 170 cv.

Mini hatch 4 portas

Volkswagen Passat Variant GTE – A Volkswagen aproveitou o face-lift da atual geração da linha Passat para exibir a versão GTE, que chega ao mercado em meados de 2015. A proposta do modelo é unir esportividade e propulsão híbrida. A alimentação é por um sistema que inclui um motor 1.4 TFSI de 156 cv de potência máxima combinada com motor elétrico com 115 cv e 40,8 kfgm de torque, que fica alojado na caixa de marchas – automatizada de seis marchas e dupla embreagem. Em conjunto, os propulsores disponibilizam 218 cv e levam o Passat Variant a 220 km/h, com aceleração de zero a 100 km/h inferior a 8 segundos. Com um tanque de 50 litros e a extensão de autonomia proporcionada pelas baterias de íons de lítio, o modelo pode rodar até mil quilômetros sem reabastecer.

Volkswagen Passat Variant GTE

Peugeot 108 – A nova geração do subcompacto da Peugeot chega ao mercado com os dois propulsores de três cilindros também oferecidos no Citroën C1: 1.0 de 68 cv e 1.2 de 82 cv. O carrinho de 3,47 metros de comprimento promete uma média de consumo de 20 km/litro. Na Europa, ele custa já completo a partir de 10 mil euros – pouco mais de R$ 30 mil – e encara rivais como Fiat Panda, Hyundai i10 e Volkswagen Up, além dos dois modelos com quem compartilha a plataforma, o C1 e o Toyota Aygo.

Peugeot 108

Peugeot Exalt Concept – A não ser por algumas firulas típicas de carros-conceito, o Peugeot Exalt antecipa com clareza as linhas do futuro substituto do sedã médio-grande 508. As linhas alongadas e fluidas são bastante valorizadas pelo teto baixo, de apenas 1,31 metro de altura. O Peugeot Exalt é dotado com um sistema HYbrid4 plug-in, que gera no total de 340 cv, com tração nas quatro rodas. As dianteiras são movidas pelo propulsor 1.6 THP de 270 cv, enquanto o eixo traseiro é acionado por um motor elétrico de 50 kW motor. Dependendo do uso, o modelo pode ser conduzido no modo totalmente elétrico, totalmente a gasolina ou híbrido.

Peugeot Exalt Concept

Renault Espace – A quinta geração da minivan Espace, da Renault, ganhou um desenho moderno e aerodinâmico, que em nada lembra os típicos monovolumes de antigamente. No entanto, o modelo, que reinvindica ter inventado o segmento, em 1984 – a disputa de antiguidade é com a Dodge Caravan, do mesmo ano –, manteve o espaço interno e a capacidade de sete passageiros. O luxuoso interior ganhou um ar futurista, com linhas sinuosas e muita iluminação indireta. Sob o capô a Renault instalou dois propulsores diesel, um turbo de 130 cv, outro twinturbo de 160 cv. O motor a gasolina é também turbo, com 200 cv. O modelo ficou 250 kg mais leve que a geração anterior, o que contribuiu para que ficasse 20% mais econômico.

Renault Espace 

Renault Twingo – O Twingo já não é mais o mesmo. Nesta nova geração, a quarta, o compacto deixou de lado a vocação de monovolume e assumiu a condição de hatch subcompacto. O projeto, desenvolvido em conjunto com a Daimler, levou o motor e a tração para a traseira. O propulsor é um 0.9 litro turbo de 90 cv ou um 1.0 litro aspirado de 71 cv, ambos com três cilindros.

Renault Twingo

Smart ForTwo – A terceira geração do Smart ForTwo divide exatamente com o Renault Twingo a plataforma e os propulsores. Com seus 2,69 metros de comprimento, o modelinho urbano tem um diâmetro de giro de apenas 6,95 metros. Além do visual totalmente novo, o microcarro da marca suíça controlada pela Daimler voltou a ter uma versão ForFour, para quatro passageiros e com um comprimento total de 3,49 metros.

Smart ForTwo

Suzuki Vitara – Na quarta geração, o utilitário esportivo da Suzuki volta a se chamar simplesmente de Vitara. O modelo, que deve chegar ao Brasil no ano que vem, ganhou linhas arredondadas e modernas. Sob o capô, sempre um motor 1.6 de 120 cv. O propulsor a gasolina rende 15,9 kgfm de torque, enquanto o diesel tem mais que o dobro e chega a 32,6 kgfm.

Suzuki Vitara

Volvo XC90 – Depois de 12 anos sem uma renovação importante, surge em Paris a segunda geração do jipão sueco XC90. A demora, porém, não trouxe maiores ousadias. As linhas do utilitário esportivo são extremamente previsíveis e os motores são os mesmo que atualmente alimentam o line-up da marca. Casos dos turbo diesel com quatro cilindros e 190 cv ou cinco cilindros e 225 cv. A gasolina, a versão T5 rende 254 cv e a T6, 320 cv.

Volvo XC90


Autor: Eduardo Rocha (Auto Press)
Fotos: Eduardo Rocha/Carta Z Notícias