Foz do Iguaçu/PR – O cuidado com o meio ambiente deixou de ser assunto para a “próxima parada” do transporte público mundial há tempos. No entanto, embora o tema seja cada vez mais recorrente nas discussões globais, no Brasil ainda há poucas soluções. Uma delas é o Hibribus, da Volvo. O ônibus, que combina um motor diesel e um elétrico com funcionamento isolado ou simultâneo, tornou-se o primeiro veículo híbrido “made in Brazil” – é produzido na unidade industrial da marca sueca em Curitiba, no Paraná. Ele tem o baixo nível de emissões de poluentes e ruídos como maiores argumentos. No entanto, enfrenta ainda algumas barreiras – entre elas, o custo inicial mais elevado.

A Volvo garante que o Hibribus consome 35% menos combustível que um veículo convencional. A explicação está no fato de até 40% do uso do ônibus ser feito em condições nas quais o motor elétrico é o único em funcionamento – parado ou em circulação sob velocidades até 20 km/h. Também chamam a atenção os números relativos às emissões de substâncias nocivas ao ambiente – até 90% menos que os equipados com motor Euro 3 e até 50% abaixo dos propulsores Euro 5. A poluição sonora também é reduzida, já que o sistema elétrico praticamente não emite ruídos.

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Apesar das dificuldades iniciais, o presidente da Volvo Buses Latin America, Luis Carlos Pimenta, assegura que a eletromobilidade não pode mais ser tratada como uma utopia para o Brasil. “Não é algo inalcançável, mas depende de uma série de requisitos para dar certo”. Por enquanto, entre as capitais, apenas Curitiba conta com o Hibribus no transporte público. A capital paranaense tem uma frota de 30 ônibus híbridos em circulação. A Volvo vendeu também cinco unidades ao Parque Nacional do Iguaçu, que vão operar no transporte dos visitantes das Cataratas na cidade de Foz do Iguaçu, também no Paraná. A ação faz parte de um conjunto de ideias da marca para familiarizar a sociedade com a tecnologia híbrida.

P – Quais são os maiores entraves para a eletromobilidade no Brasil?

Luis Carlos PimentaLuis Carlos Pimenta – A maior barreira é o pioneirismo, o fato de ser algo novo. A mobilidade elétrica é algo bastante tangível. No entanto, é preciso conseguir provar às autoridades, aos operadores e aos usuários todos os benefícios de que tanto falamos sobre o produto. Com as manifestações populares ocorridas no meio desse ano, foi iniciada uma rediscussão do transporte público em todo o país, em busca de um sistema que ofereça melhores condições de uso. E a ideia é enquadrar nossa oferta do Hibribus nessa provável renovação de equipamentos das principais cidades brasileiras. Mas tudo isso passa por difundir a tecnologia na sociedade.

P – Como a Volvo pretende aproximar o sistema híbrido do público?

Luis Carlos Pimenta – A venda dos ônibus para a Cataratas do Iguaçu S/A é um bom exemplo, mas ainda com pequeno alcance. Temos participado insistentemente junto à comunidade acadêmica de todo o país com palestras e demonstrações dos equipamentos e ainda fizemos uma caravana do Hibribus que passou por 140 cidades brasileiras. A tecnologia híbrida não é uma invenção nossa, mas queremos mostrar primeiro a versão da Volvo e depois provar que é economicamente viável, além de sustentável para o ambiente.

P – É uma tecnologia mais cara que a convencional. Como convencer o operador a investir?

Luis Carlos Pimenta – Sabendo da resistência por causa do valor mais elevado, o Governo Federal criou uma linha incentivadora, através de um financiamento especial do BNDES com taxas de juros de 2,5% ao ano, com até 12 anos para pagar e carência de 24 meses. E o que se paga a mais pode ser amortizado em até sete anos com a economia de combustível. Ou seja, o operador que adquirir o Hibribus nessas condições poderá começar a ter retorno do investimento antes mesmo de terminar de pagar pelo ônibus. Além disso, o custo operacional atual é equilibrado com o do diesel, mas ficará menor no futuro se as projeções de alta do combustível se concretizarem.

P – Isso poderia trazer benefícios para o bolso do usuário?

Luis Carlos Pimenta – No nosso país, como em qualquer outro, o transporte de pessoas é regulado por autoridades, sejam municipais ou estaduais. E são eles que têm o poder de mudar isso. Mas a lógica indica que a tendência é de redução de custos. O momento de maior consumo de combustível do ônibus é durante as arrancadas e é justamente onde o Hibribus não consome absolutamente nada, por ser tracionado pelo motor elétrico. O emprego da tecnologia resulta diretamente em menos custo de combustível. Logicamente, envolve uma série de fatores, mas, sem dúvidas, ajudaria a manter a tarifa num patamar mais justo.

P – Qual seria o impacto mais relevante da introdução dos ônibus híbridos no transporte público?

Luis Carlos Pimenta – A mensagem explícita de respeito e preservação do meio ambiente dada pela autoridade e o operador do transporte. Pouca gente se predispõe a atuar ativamente na proteção ambiental. As pessoas são passivas nesse sentido, mas não existe quem se diga contra o meio ambiente.


Autor: Michael Figueredo (Auto Press)
Fotos: Divulgação