Na sede do Grupo Volvo, na cidade de Gotemburgo, Olof Persson acumula as funções de CEO e presidente. E encara uma tarefa um bocado complexa: definir as estratégias da multinacional sueca em seus diversos ramos de atividades. No setor automotivo, a empresa engloba as marcas de caminhões Volvo, Renault, UD, Mack e Eicher, com sedes na Suécia, França, Japão, Estados Unidos e Índia, respectivamente. E também a produção de ônibus rodoviários e urbanos da Volvo. A divisão de automóveis Volvo Cars foi vendida em 1999 à Ford, que em 2010 a repassou à chinesa Geely. O Grupo Volvo ainda produz equipamentos de construção, carregadeiras e motores marítimos. Hoje está presente em 192 países, possui instalações industriais em 19 deles e emprega cerca de 115 mil pessoas em todo o mundo. Em visita à fábrica latino-americana da Volvo na cidade de Curitiba, o administrador de empresas sueco de 49 anos falou das perspectivas do setor de transportes. Ele é otimista em relação ao Brasil. “Em 2014, o mercado de caminhões aqui deverá crescer em relação a 2013”, acredita Olof.

Entrevista com Olof Persson, CEO e presidente do Grupo Volvo

P - Recentemente, a Volvo anunciou planos de passar atuar em novos segmentos, além dos pesados e semipesados. A empresa também já avisou que pretende lançar no Brasil uma das outras quatro marcas de caminhões que controla – Renault, UD, Mack ou Eicher. Como está esse processo?

Olof Persson - Estamos decididos a trazer uma segunda marca ao Brasil. Analisamos que isso é uma decisão pertinente e inteligente em termos de desenvolvimento do grupo dentro do mercado. Que marca será essa, quando e como isso será feito são decisões estratégicas, que ainda não podemos anunciar. Tais informações dariam vantagem competitiva à concorrência.

P - Qual é a percepção da direção do Grupo Volvo em relação ao mercado brasileiro?

Olof Persson - A Volvo produz caminhões no Brasil desde 1980. Já tivemos tempos de mercado bom e tempos de mercado ruim. Estamos comprometidos com o país dentro de uma perspectiva de longo prazo. É difícil para qualquer um prever o futuro, mas o tempo já provou que a Volvo tem flexibilidade para reagir a qualquer situação que venha a se colocar. Os investimentos que estão sendo feitos agora darão condições de atender à demanda de mercado que esperamos ter aqui dentro de cinco ou dez anos. Acreditamos que o prognóstico para o Brasil nesse período seja positivo. Não será uma linha reta ascendente. Vai subir às vezes e descer de vez em quando, mas a tendência será de crescimento. 

Olof PerssonP - Como anda a participação do Brasil dentro dos negócios do grupo?

Olof Persson - O Brasil tem sido muito importante para o Grupo Volvo, não só pelo lado dos caminhões mas também pelos ônibus. O mercado na região tem crescido bastante na área de pesados e a Volvo tem aproveitado esse crescimento. Ganhou participação nos últimos anos. E isso gerou, inclusive, um programa de investimentos na fábrica de Curitiba. Lá foi inaugurada uma das mais modernas áreas de pintura da marca no mundo, altamente automatizada. 

P - Como a Volvo avalia sua possibilidades de continuar a crescer no mercado brasileiro, que assiste à entrada de diversos novos “players”, como a holandesa DAF e as chinesas Sinotruck e MetroSchacman?

Olof Persson - Vamos continuar a cuidar da nossa vida. A meta da Volvo no Brasil continua a ser se posicionar como a líder no segmento de caminhões acima de 16 toneladas. Como o Brasil é um mercado muito grande, é compreensível que ele atraia novas marcas. Nós vemos a concorrência como uma fonte de inspiração para continuar a progredir. 

P - Na Europa, é comercializada uma linha de caminhões médios chamada de FL, que são os menores caminhões da marca Volvo. Como se posiciona essa linha no mercado europeu? Há perspectiva da sua introdução no Brasil?

Olof Persson - O Grupo Volvo procura acompanhar a segmentação do mercado em diversos produtos. E possui, dentro das cinco marcas de caminhões que controla, ofertas para todos os segmentos de transporte de cargas. A linha de caminhões médios FL existe há muitos anos na Europa, é um produto que completa a oferta da Volvo naquele segmento, que é importante no mercado europeu. Lá, a linha FL tem uma participação significativa e bastante estável há muito tempo. Mas, como já disse, não posso falar agora sobre possíveis futuros produtos para o mercado brasileiro...

P - Na década passada, a Volvo incorporou quatro outras marcas de caminhões. A empresa considera essa expansão consolidada ou avalia a aquisição de novas marcas?

Olof Persson - A fase é de consolidação das marcas que temos, que são um ativo imenso do Grupo Volvo. Atualmente cobrimos todos os segmentos do mercado de transporte rodoviário de cargas com as marcas Volvo, Renault Trucks, Mack, UD e Eicher. Atingimos esse objetivo. Agora devemos posicionar cada uma dessas marcas para que o grupo possa alcançar plenamente suas metas nos diversos mercados globais. Mas faz parte do nosso trabalho ficar atentos ao que acontece na indústria mundial...

Ônibus Hibrido Plug-In da Volvo

P - A Volvo é uma marca tradicionalmente associada à vanguarda tecnológica. Que novidades irão ganhar importância nos próximos anos?

Olof Persson - A eletrificação dos motores dos ônibus urbanos deverá crescer bastante nessa década em nível mundial. O próximo passo é a produção de ônibus híbridos plug-in, que possam ser carregados de eletricidade através de uma tomada. Esses ônibus poderão reduzir em até 80% o consumo de combustível em relação a um modelo convencional. Em 2015, esses ônibus Plug In estarão prontos para demonstração na cidade sueca de Gotemburgo, onde serão inicialmente utilizados. Os ônibus movidos a eletricidade possibilitam que sejam construídos pontos de ônibus dentro de edifícios fechados, o que cria facilidades logísticas. Essa tendência de eletrificação dos motores deve ser acompanhada também pelos caminhões menores, utilizado em circuitos urbanos. A Renault Trucks já possui caminhões com motores totalmente elétricos sendo testados na Europa. Qualquer tecnologia que tenha a ver com redução no consumo de combustíveis fósseis e nas emissões de poluentes será uma tendência inevitável nos próximos anos. A Volvo está investindo muito nessas tecnologias.

P - E a questão do preço elevado desse veículos com propulsores híbridos ou totalmente elétricos, não poderá atrapalhar sua expansão?

Olof Persson - Isso parece fazer parte de um ciclo histórico. Sempre que surge uma tecnologia nova, seu preço é elevado, o que gera alguma resistência do mercado. Com o tempo, as resistências são superadas, o mercado começa a aceitar os produtos, aumentam os volumes de vendas e, consequentemente, o preço cai. 


Autor: Luiz Humberto Monteiro Pereira (Auto Press)
Fotos: Divulgação