O crescimento registrado na venda de carros de passeio e comerciais leves em 2017 – até novembro, eram 10% – foi apenas o começo. Grande parte dos profissionais do setor acredita que o atual ciclo na economia é positivo, com queda de inflação e de juros, e que o número de emplacamentos deve seguir subindo ao longo de 2018. Samir Dahas Bittar, vice-presidente da Fenabrave, entidade que reúne os revendedores de veículos, espera uma ampliação de 10% nas vendas do setor automotivo brasileiro. E não é o único que pensa assim. “Enxergamos os próximos anos de forma bastante positiva, com expectativa de crescimento do mercado total de veículos a um ritmo de 8% a 10% ao ano, chegando a uma alta de 40% nos próximos quatro anos”, almeja Pablo Di Si, presidente e CEO da Volkswagen Região América do Sul e Brasil.

BMW X2

A recuperação da indústria pôde ser vista, principalmente, no último trimestre de 2017. Ainda que um crescimento pequeno, há diversos fatores que justificam os números positivos e que, automaticamente, reforçam a teoria de que ainda há mais para crescer. “Prevemos um leve aumento nas vendas principalmente em função da maior oferta de crédito e financiamento”, destaca Antonio Baltar, diretor de Marketing, Vendas e Serviços da Ford. No entanto, ele evita indicar até onde pode chegar essa melhora. “O ano de 2018 ainda apresenta algumas incertezas e sabemos dos desafios que iremos enfrentar”, desconversa.

Volkswagen Virtus

José Vendramini, diretor comercial da Nissan, é outro que não se arrisca na hora de tentar prever, em números, como estará o mercado automotivo neste ano. Mas engrossa o coro otimista que paira sobre o setor, pelo menos nessa fase inicial. “Conforme prevíamos, a indústria automotiva começou a mostrar sinais de recuperação, ainda que em ritmo lento. E isso certamente aumentará. Esperamos ter um crescimento constante e atingir 4% da participação de mercado em um futuro próximo”, revela Vendramini, lembrando que a marca nipônica tinha 3,4% de market share no mês passado.

Citroën C4 Cactus

O discurso a respeito das motivações dos consumidores para trocarem seus veículos em 2018 é quase sempre o mesmo. Para a maior parte dos executivos das marcas, tecnologias, economia e conectividade estão entre os principais fatores de decisão na escolha por um automóvel. “Esse é um momento que nos possibilita olhar o futuro com bastante confiança, com veículos que despertam o desejo do público e tecnologia e inovação em produtos e também serviços”, avalia Pablo, da Volkswagen. E como nesse meio é importante ter amplas possibilidades de exposição dos novos produtos, Antonio Baltar, da Ford, relembra um ponto que favorece as fabricantes que atuam no Brasil em 2018. “Teremos ainda, a favor da indústria, o Salão do Automóvel de São Paulo, que promete movimentar o mercado, ser palco de inovações tecnológicas e proporcionar um retorno real de público”, frisa, confiante.

Renault Koleos

Trunfos na manga

Para incrementar suas vendas, é imprescindível que as fabricantes apostem em novidades em suas linhas. Seja com carros totalmente novos ou ampliando as versões dos já existentes. Na Volkswagen, um plano de investimentos de R$ 7 bilhões a serem aplicados até 2020 já começou, destinado à comercialização de 20 novos modelos. “O primeiro desta ofensiva foi o Polo, que chegou às concessionárias em novembro, seguido pelo sedã Virtus, que será lançado agora, em janeiro”, adianta Pablo Di Si. Mas a marca ainda deve trazer para o país a nova geração do sedã médio Jetta e também do SUV Tiguan, já com sete lugares.

Ford Mustang GT

Também em janeiro, chegará às concessionárias o novo Fiat Cronos, sedã compacto derivado do hatch Argo. A Ford não fala em lançamentos – segundo seu diretor de Marketing, por questões estratégicas. Mas a marca já começou a pré-venda no fim de 2017 de seu cupê esportivo Mustang GT, prometido há muito tempo para o país e que só terá suas primeiras entregas realizadas em março. Ainda para o primeiro trimestre do ano, a Citroën lançará o crossover C4 Cactus. Na Nissan, as apostas iniciais estarão, literalmente, na caçamba. “Vamos trazer a linha completa da Frontier, produzida em Córdoba, na Argentina”, reitera o diretor comercial da marca.

Kia Rio

Rota incerta

É grande a expectativa das marcas que vendem automóveis importados no Brasil e não têm produção nacional. Nos últimos cinco anos, elas ficaram limitadas pelas cotas estipuladas no Inovar Auto, que dava benefícios a quem produzia ou desenvolvia tecnologias no país. O Inovar Auto acabou agora em dezembro e até agora não há qualquer definição sobre o novo regime, chamado de Rota 2030. A política de desfazer tudo que o governo antecessor fez cria uma espécie de vale tudo no mercado. E empresas que apenas importam e vendem veículos, sem investimentos mais sólidos por aqui, apostam que podem se dar bem com essa desregulamentação e maximizar o lucro.

JAC T6 Picape

“Temos programado o lançamento do crossover T40 CVT para abril ou maio e, aí, brigaremos em 100% do segmento, já que por enquanto brigamos apenas em 33% dele. No segundo semestre, chegará o novo T5, que se chamará T50, já com câmbio CVT ou manual, e também o novo J6, que terá um outro nome”, informa Nicolas Habib, diretor geral da JAC Motors no Brasil. Planos que, sem o final do Inovar Auto, não seriam possíveis. “Em 2017, não vendemos tudo que poderíamos. A nossa expectativa é que, a partir do meio do ano, poderemos ter entre 850 e 900 emplacamentos mensais”, prevê Nicolas, que entrega ainda que a JAC se planeja para lançar uma picape média no país, a diesel, com bom recheio tecnológico e preço abaixo de R$ 100 mil, “entre 20% e 25% mais barata do que as outras”. E também pensa em trazer o subcompacto T20, para ser rival do Renault Kwid, como um hatch que se vende como SUV pequeno.

Nissan Frontier

A Kia também quer ampliar seu portfólio no Brasil nesta nova fase de negócios automotivos. O representante da marca coreana confirmou que o hatch e o sedã Rio, o novo Picanto, o Cadenza e o Stinger chegam em 2018. Tais lançamentos fazem a Kia projetar vendas de cerca de 20 mil veículos por aqui até o fim do ano.

Fiat Cronos

A falta de proteção a quem investe no Brasil pode desfazer em pouquíssimo tempo tudo que o Inovar Auto construiu. Marcas que investiram pesado em uma linha de montagem nacional já dão sinais de que podem dar um passo atrás, se perderem as vantagens fiscais prometidas pelo antigo programa. A Mercedes-Benz insinuou que pode interromper sua fabricação nacional. Na alemã BMW, o discurso também transparece certa insatisfação. “Por conformidades internas, não faremos comentários sobre projeções de produção e vendas. Esperamos a definição e a chegada do Rota 2030”, fala João Veloso Jr., head de Comunicação Corporativa do BMW Group Brasil.


Autor: Márcio Maio (Auto Press)
Fotos: Divulgação