A forte crise no setor automotivo faz de 2015 um ano sem boas lembranças para a maior parte dos fabricantes. Mas é verdade também que marcou transformações importantes no mercado. E pode ainda trazer outras em seu encerramento. O Fiat Palio, por exemplo, que tomou a liderança nacional do Volkswagen Gol em 2014, está tecnicamente empatado com o Chevrolet Onix. As três principais marcas premium, mais uma vez, experimentaram o gosto de caminhar em direção oposta à crise. Além disso, em meio à queda crescente, um segmento ganhou fôlego: o dos utilitários compactos, que teve diversos lançamentos nos últimos 12 meses. “Somando todos os nossos modelos, crescemos 14% entre janeiro e novembro deste ano, totalizando 138.330 unidades emplacadas. Nossa previsão é fechar 2015 com crescimento aproximado de 11% em produção e vendas”, comemora Paulo Takeuchi, diretor de Relações Institucionais da Honda.

Chevrolet Onix
Chevrolet Onix / Créditos: Reprodução

O resultado da marca japonesa tem nome: HR-V. O SUV compacto foi lançado em fevereiro e em pouco tempo se tornou o utilitário esportivo mais vendido do país.

Honda HR-V
Honda HR-V / Créditos: Reprodução

Aliás, essa categoria ganhou inúmeros novos integrantes: desde a chinesa JAC, com o encorpado T6, à francesa Peugeot, com seu requintado 2008, poucas foram as fabricantes que não tentaram “beber” dessa fonte.

Peugeot 2008
Peugeot 2008 / Créditos: Reprodução

Mas só uma conseguiu êxito suficiente para quase destronar a Honda: a Jeep, com seu pernambucano Renegade. “Somos a 9ª marca com mais emplacamentos desde setembro. Temos no Brasil o melhor market share global do Renegade. Estamos entre os dez primeiros de vendas no atacado e entre os cinco primeiros no varejo há alguns meses”, enumera Sérgio Ferreira, diretor geral da Chrysler Brasil e da Jeep para América Latina.

Jeep Renegade
Jeep Renegade / Créditos: Reprodução

Diante de uma queda de 25% em vendas, não é necessário terminar o ano no azul para comemorar. Perder menos que o mercado já pode ser motivo de alívio. A retração nas vendas da Hyundai, por exemplo, representam a metade dessa perda: 12,5%. Se considerar apenas os resultados da linha HB20, produzida no país, a queda é ainda menor, de 7,6%. Com isso, a participação de mercado passou dos 7,12% registrados em 2014 para os 8,21% conquistados até o final do mês passado. “Isso é mais consequência da queda dos volumes totais dos concorrentes do que um objetivo em si para a Hyundai. A empresa tem operado em sua capacidade total de produção desde a inauguração da fábrica e não é possível, portanto, produzir mais para ganhar mercado”, analisa Maurício Jordão, gerente sênior de Relações Públicas da Hyundai Motor Brasil.

Hyundai HB20 Automatic
Hyundai HB20 Automatic / Créditos: Reprodução

Entre as marcas que têm forte representatividade no Brasil, as mais prejudicadas foram, curiosamente, as três principais no que diz respeito às vendas. É a tal história: perde mais quem tem mais a perder. A Fiat foi a mais afetada: 36,3% de queda, com 402.273 emplacamentos entre janeiro e novembro de 2015 ante aos 631.167 do mesmo período no ano passado. Em seguida neste ranking aparece a Volkswagen, com 35,3% de retração, um pouco a mais que os 32,7% da Chevrolet. A Ford não cresceu – na verdade, perdeu 13,2% de suas vendas, mas garantiu melhora em sua participação de mercado, passando dos 9,1% para 10,5%. Uma das razões para isso é a boa aceitação do hatch Ka, em seu primeiro ano cheio de vendas. “O Ka é o melhor exemplo de que o consumidor de veículos de entrada hoje está mais exigente. Além de eficiência e estilo, ele não abre mão de recursos de segurança e conectividade, como sistema Isofix para cadeiras infantis e conexão Bluetooth para celular, recursos que a linha traz de série”, defende Fernando Pfeiffer, gerente de Produto da marca norte-americana.

Ford Ka
Ford Ka / Créditos: Reprodução

O Ford Ka é o quinto mais emplacado no Brasil entre janeiro e novembro, com 83.421 exemplares comercializados. A título de comparação, isso é mais que a metade dos 163.569 automóveis totais vendidos pela Renault – que iniciou recentemente a comercialização de sua primeira picape no Brasil, a Duster Oroch – e bem mais que as 55.095 unidades emplacadas pela Nissan nesses 11 primeiros meses do ano. Outra marca que apresentou retração bem menor que o mercado foi a Toyota.

Renault Duster Oroch 1.6
Renault Duster Oroch 1.6 / Créditos: Reprodução

Mesmo que seu principal lançamento só tenha acontecido na reta final de 2015, com a nova geração da picape Hilux, a fabricante japonesa se destaca cada vez mais no segmento de médios. O tradicional Corolla já é o segundo sedã mais vendido do Brasil – fica atrás apenas do compacto Prisma, bem menor e mais barato, por uma diferença pequena. “Comercializamos 159.441 veículos até novembro, ou seja, caímos 8,1% em comparação com o mesmo período de 2014. Porém, o market share aumentou de 5,5% para 6,8%”, valoriza Ricardo Bastos, diretor adjunto de Relações Públicas e Governamentais da Toyota no Brasil. Dessas 159.441 unidades, 60.917 foram do Corolla – ou seja, 38,2% do total.

Toyota Hilux
Toyota Hilux / Créditos: Reprodução

Uns com pouco, outros com tanto. Se há uma categoria que não tem do que reclamar no Brasil é a de veículos premium. Pelo menos para as marcas que atuam em faixas de preço mais próximas aos modelos topo de linha das fabricantes genéricas. A BMW subiu suas vendas em 6,2%. Enquanto isso, a líder neste segmento, Mercedes-Benz, registrou um crescimento de 65,7% nos emplacamentos de carros de passeio entre janeiro e novembro de 2015, comparado ao mesmo período de 2014. “Expandimos nossa rede de concessionários de 45 para 52 pontos e, com o GLA, passamos a atuar em um segmento que antes não explorávamos”, fala Dirlei Dias, gerente sênior de Marketing e Vendas de automóveis da Mercedes-Benz do Brasil. O crossover, aliás, é um dos maiores sucessos da marca no país: responde por 35% das vendas.

Mercedes GLA 250
Mercedes GLA 250 / Créditos: Reprodução

A Audi também avançou bastante no plano de expansão traçado para o mercado brasileiro. A meta era emplacar 15 mil unidades, mas ao final de novembro já contabilizou 15.243. Um aumento de 35,8% sobre os primeiros 11 meses de 2014. Além disso, a fabricante alemã também iniciou sua produção nacional, com o A3 sedã. “O segmento premium no Brasil tem um potencial enorme. E representa hoje apenas 2% do mercado total. Esse número deve ser triplicado nos próximos cinco anos, por isso resolvemos investir na fabricação em São José dos Pinhais, no Paraná”, explica Jörg Hofmann, presidente e CEO da Audi do Brasil. Para Dirlei, da Mercedes-Benz, as perspectivas também são as melhores possíveis. “A chegada de novos modelos e a instalação de novas fábricas no país, aliadas às condições especiais de vendas e consumidores que dependem menos de linhas de crédito, fazem  com que clientes migrem dos modelos nacionais topos de linha para os importados”, avalia.

Audi A3 sedã
Audi A3 sedã / Créditos: Reprodução


Autor: Márcio Maio (Auto Press)
Fotos: Divulgação