O Cruze tem um significado importante na história recente da Chevrolet no Brasil. A marca, que se manteve forte nas vendas de modelos mais pomposos e requintados – caso do Opala, Monza e Omega, por exemplo –, enfrentou um período de menos prestígio na fase final do Vectra. A situação só começou a ser revertida com a chegada do Cruze, primeiro na configuração sedã e, em seguida, na hatch, chamada de Sport6. A aceitação foi tão boa que a marca nem se preocupou em mexer demais no face-lift promovido no final do ano passado. Nos dois primeiros meses de 2015, o Cruze Sport6 vendeu 1.857 unidades, uma média de 928 por mês. Esse número rende ao modelo a segunda colocação no ranking, com 25,8% de participação. Perde apenas para o Ford Focus, com 1.241 exemplares por mês, ou 34,5% de market share. 

Nova grade e LED diurno são os destaques da versão 2015
Nova grade e LED diurno são os destaques da versão 2015 / Créditos: Reprodução

O Cruze Sport6 tem predicados que o tornam uma opção singular em sua categoria. Mas seu principal diferencial está no tamanho. O hatch tem as mesmas medidas de altura, largura e, principalmente, de entre-eixos da configuração sedã. Tem 2,68 metros, o maior entre os hatches médios. Só o comprimento é 7 centímetros menor – de 4,53 metros, contra 4,60 m. Essa particularidade garante ao modelo a funcionalidade de um três volumes, já que até seu porta-malas comporta bons 402 litros – são só 48 litros a menos que o três volumes. E o conforto ainda é favorecido por diversos “mimos” oferecidos pela configuração de topo LTZ.

Na linha 2015, o design ganhou cromados na moldura da grade dupla dianteira e luzes de led diurnas. Além disso, o cluster do farol de neblina aumentou. No perfil, a mudança ficou por conta das rodas de liga leve de 17 polegadas redesenhadas. Já na traseira, nenhuma alteração. Por dentro, o revestimento interno agora combina couro nas cores preta e marrom com acabamento pespontado.

Hatch ganhou novos modelos de rodas
Hatch ganhou novos modelos de rodas / Créditos: Reprodução

O propulsor segue o 1.8 16V com comando variável de válvulas e coletor de admissão com dois circuitos – um mais longo para melhorar o torque e um mais curto para ressaltar a potência. Ele rende 144 cv ao ser abastecido com etanol e tem torque de 18,9 kgfm a 3.800 giros. Mas o motor recebeu um novo mapeamento na linha 2015 do Cruze, que faz com que a entrada de torque seja mais forte. O acelerador eletrônico teve as reações suavizadas e o câmbio recebeu um ajuste nos atuadores que fez o tempo de troca de marchas cair de 0,8 segundo para 0,3 s e melhorou as retomadas, já que reduz de uma só vez duas ou até três marchas quando necessário. Com o avanço, de acordo com a Chevrolet, o Cruze Sport6 ficou mais econômico. Mas a marca não divulga os índices de consumo e nem participa do Programa de Etiquetagem Veicular do InMetro.

A lista de itens de conforto, segurança e entretenimento também é farta. A versão de topo do Cruze Sport6 tem airbags frontais, laterais e de cortina, controle de estabilidade e tração e isofix para a fixação de cadeiras infantis. O ar-condicionado é automático e a chave, presencial – com, inclusive, um botão que aciona o motor antes mesmo de os passageiros entrarem, o que permite climatizar o veículo à distância. O carro ainda tem sensor de chuva e crepuscular e central multimídia com câmera de ré, navegador com GPS e comandos de voz em português. Um recheio capaz de incomodar a concorrência e ajudar a a Chevrolet na batalha que a marca americana trava com a alemã Volkswagen pelo segundo lugar nas vendas de automóveis do país.

Interior da versão LTZ, mudança fica por conta da tonalidade no couro
Interior da versão LTZ, mudança fica por conta da tonalidade no couro / Créditos: Reprodução

Ponto a ponto

Desempenho – O Cruze Sport6 não exala esportividade, mas se movimenta bem com seu motor 1.8 de 144 cv e 18,9 kgfm de torque a 3.800 rpm. Porém, para se extrair um desempenho mais eficiente para retomadas, ultrapassagens e situações semelhantes, é necessário usar o propulsor em rotações mais altas. O câmbio automático de seis velocidades tem trocas suaves e reduções duplas nas retomadas mais exigentes. Nota 8.

Estabilidade – O hatch médio da Chevrolet é bem “esperto” nas curvas e dá ao condutor a sensação de estar sempre com o carro “na mão”. A direção elétrica mantém o peso sempre correto e a suspensão equilibra bem conforto e firmeza. Mesmo quando exigido, não entrega os limites com facilidade. Mas quando isso ocorre, o controle eletrônico de estabilidade age na hora certa, sem precipitações. Nota 9.

Interatividade – O Cruze LTZ tem diversos recursos que facilitam a vida a bordo. Como ar-condicionado automático, direção elétrica progressiva e visibilidade, boa tanto à frente quanto atrás, além de câmera de ré. O modelo conta sensores de chuva e crepuscular, central multimídia com GPS e a partida e o acesso ao carro são feitos a partir de botões. Nem é preciso tirar a chave do bolso. Nota 9.

Traseira não sofreu mudanças
Traseira não sofreu mudanças / Créditos: Reprodução

Consumo – A Chevrolet não participa do Programa Brasileiro de Etiquetagem Veicular do InMetro. Durante a avaliação, realizada em ciclo misto, o computador de bordo apontou a fraca média de 7,3 km/l com o tanque abastecido com gasolina. Nota 6.

Conforto – O Cruze Sport6 leva vantagem em relação aos rivais diretos nesse quesito. Principalmente pelo espaço interno, oferecido por um entre-eixos de 2,68 metros – o que chega mais próximo é o Ford Focus, com 2,65 metros. Os bancos de couro da versão recebem excelentemente quatro ocupantes. Como nos outros modelos deste segmento, um quinto elemento, dependendo da estatura, prejudica a habitabilidade dos ocupantes traseiros. O trabalho da suspensão é feito com competência e as imperfeições são bem absorvidas. O isolamento acústico funciona em rotações baixas e médias, mas o ronco que aparece a partir dos 3.500 giros mais instiga que incomoda. Nota 8.

Tecnologia – A lista de equipamentos de série do Cruze Sport6 LTZ é farta. Inclui controle eletrônico de estabilidade e tração, seis airbags, sistema de entretenimento com GPS, câmera de ré e comandos por voz, partida do motor e destravamento do carro por botão, teto solar elétrico e ar-condicionado automático. A plataforma foi inaugurada pelo próprio Cruze em 2008 e desenvolvida pela Opel, subsidiária alemã da GM. O motor Ecotec de terceira geração é o atual Família 1 da Chevrolet que roda na Europa desde 2005. Ele traz soluções modernas, como tempo de abertura de  válvulas e geometria do coletor de admissão variáveis. Nota 8.

Detalhe da luz diurna de LED
Detalhe da luz diurna de LED / Créditos: Reprodução

Habitalidade – A quantidade de porta-objetos do hatch é bem limitada. Os únicos disponíveis ficam no console central e nem são tão grandes. Já o porta-malas é bastante espaçoso e leva bons 402 litros. Ainda dá rebaixar os bancos traseiros para criar uma área de bagagem maior. Nota 7.

Acabamento – O acabamento do Cruze não chega a impressionar, principalmente por ter poucas áreas de contato macias, mas também não faz feio. O design interno é interessante, simétrico e moderno. Os materiais poderiam ser mais sofisticados, visto que se trata de uma categoria superior de veículos. Os bancos em couro preto e marrom deixam o habitáculo com uma atmosfera mais charmosa e os encaixes das peças são precisos. Nota 7.

Design – O Cruze Sport6 traz componentes já presentes na sua versão de três volumes, mas seu perfil tem um ponto que o favorece: o vidro traseiro bastante inclinado cria um caimento semelhante ao de um cupê – a rigor, ele seria um fastback, não um hatch. Faz diferença e adiciona personalidade ao modelo, algo que conta bastante em um segmento recheado de carros com design instigante. Nota 9.

Design passa sensação de robustez, mas o que os donos queriam mesmo era motor...
Design passa sensação de robustez, mas o que os donos queriam mesmo era motor... / Créditos: Reprodução

Custo/benefício – O Cruze Sport6 LTZ tem preço público sugerido de R$ 86.400. Mas as promoções em função das vendas fracas neste início de 2015 fazem o modelo ser oferecido por R$ 80.900. A Ford cobra pelo Focus Titanium Plus 2.0, com 178 cv e câmbio de dupla embreagem, R$ 93.900. Um Volkswagen Golf Highline com motor 1.4 turbo, com 140 cv e também câmbio de dupla embreagem, vai a estratosféricos R$ 98.405 se equipado à altura, enquanto a Peugeot pede R$ 80.490 pelo 308 THP, 1.6 turbo, com 165 cv e câmbio automático de seis marchas. Nota 7.

Total – O Chevrolet Cruze Sport6 LTZ somou 77 pontos em 100 possíveis.

Detalhe da lanterna traseira
Detalhe da lanterna traseira / Créditos: Reprodução

Impressões ao dirigir

O Cruze Sport6 pode até expressar a ideia de esportividade no nome. E o design com o vidro traseiro inclinado e caimento que lembra o de um cupê ajuda a transmitir essa imagem. Mas o que impressiona no carro é sua funcionalidade. O visual é moderno, mas não deixa de ser sóbrio. O espaço interno é bom e o porta-malas carrega 402 litros, capacidade que se destaca na categoria de hatches médios. São características que o aproximam tanto de um modelo jovem e despojado quanto de um carro familiar.

O motor é competente, mas está longe de ser o mais eficiente de seu segmento.  O 1.8 de 144 cv tem soluções modernas, como o duplo comando varíavel de válvulas, que ajuda a trazer a faixa máxima de torque para rotações inferiores. Isso até deixa o carro mais amigável em grande parte das situações urbanas, mas é preciso pisar fundo para obter um desempenho mais seguro em ultrapassagens e retomadas. É acima de 3.500 giros que o Cruze Sport6 diz a que veio.

Chevrolet Cruze Sport6 LTZ 2015
Chevrolet Cruze Sport6 LTZ 2015 / Créditos: Reprodução

Suas características mecânicas propiciam uma tocada mais esportiva. E a estabilidade acompanha essa proposta. A suspensão é calibrada corretamente e segura bem o veículo nos trechos sinuosos. As rolagens de carroceria são praticamente imperceptíveis e o comportamento nas curvas é bem neutro. A direção elétrica, extremamente leve em baixas velocidades, ganha firmeza de acordo com a subida do ponteiro e sustenta a sensação de que o carro está na mão de quem conduz.

Longas viagens são prazerosas dentro do Cruze LTZ hatch. Os desníveis das ruas são bem absorvidos pela suspensão e quatro pessoas se acomodam com facilidade na cabine. Os bancos com espessura de espuma avantajada tiram um pouquinho do espaço, mas garantem conforto e personalidade ao habitáculo. Ainda mais com o revestimento em couro preto e marrom combinados. Esse detalhe, aliás, é um dos pontos fortes do acabamento. Isso porque os outros materiais de revestimento usados pecam para um carro nessa faixa de preço. O design interior é interessante, mas o excesso de plásticos rígidos não é compatível com uma versão de topo.

Hatch médio tem bom tamanho de entre-eixos
Hatch médio tem bom tamanho de entre-eixos / Créditos: Reprodução

Ficha técnica

Chevrolet Cruze Sport6 LTZ

Motor: Etanol e gasolina, dianteiro, transversal, 1.796 cm³, com quatro cilindros em linha, quatro válvulas por cilindro, duplo comando do cabeçote e comando variável nas válvulas de admissão e escape e duto de admissão de dupla geometria. Acelerador eletrônico e injeção eletrônica multiponto sequencial.
Transmissão: Câmbio automático de seis marchas à frente e uma a ré. Tração dianteira. Possui controle eletrônico de tração.
Potência máxima: 144 cv e 140 cv a 6.300 rpm com etanol e gasolina.
Aceleração 0-100 km/h: 10,2 segundos.
Velocidade máxima: 196 km/h.
Torque máximo: 18,9 kgfm e 17,8 kgfm a 3.800 rpm com etanol e gasolina.
Diâmetro e curso: 80,5 mm X 88,2 mm.
Taxa de compressão: 10,5:1.
Suspensão: Dianteira independente do tipo McPherson, com molas helicoidais, amortecedores telescópicos pressurizados e barra estabilizadora. Traseira semi-independente com eixo de torção, molas progressivas e amortecedores telescópicos pressurizados. Possui controle eletrônico de estabilidade.
Pneus: 225/50 R17.
Freios: Discos ventilados na frente e sólidos atrás. Oferece ABS com EBD.
Carroceria: Hatch em monobloco com quatro portas e cinco lugares. Com 4,53 metros de comprimento, 1,79 m de largura, 1,48 m de altura e 2,68 m de entre-eixos. Airbags frontais, laterais e de cortina.
Peso: 1.450 kg.
Capacidade do porta-malas: 402 litros.
Tanque de combustível: 60 litros.
Produção: São Caetano do Sul, São Paulo.
Lançamento mundial: 2008.
Lançamento no Brasil: 2011.
Reestilização: 2014.
Itens de série: luzes diurnas de leds, controles eletrônicos de tração e estabilidade, airbags frontais, laterais e de cortina, cinto de segurança de três pontos em todos os assentos, sistema isofix para a fixação de cadeirinhas infantis, trava interna antissequestro, ar-condicionado eletrônico, direção elétrica progressiva, retrovisor interno eletrocrômico, sistema multimídia com Bluetooth, comando por voz em português e GPS, volante multifuncional regulável em altura e profundidade, teto solar elétrico, sensor de chuva e crepuscular, câmera de ré com gráfico para o auxílio a manobras, sistema presencial de abertura das portas e botão start/stop para partida do motor.
Preço: R$ 86.400, atualmente vendido com bônus por R$ 80.900.

Motor não sofreu mudanças, continua com os mesmos 144cv (com etanol)
Motor não sofreu mudanças, continua com os mesmos 144cv (com etanol) / Créditos: Reprodução


Autor: Márcio Maio (Auto Press)
Fotos: Jorge Rodrigues Jorge/Carta Z Notícias