Até o início deste ano, o Ford EcoSport tinha uma trajetória razoavelmente tranquila no mercado brasileiro. O modelo dividia o segmento de utilitários esportivos compactos com o Renault Duster – o mexicano Chevrolet Tracker não chega a ameaçar ninguém – e levava uma vida sossegada. Até que, nos idos de março, começaram a surgir rivais como Honda HR-V, Jeep Renegade e Peugeot 2008. Além de atraírem por serem mais novos, os recém-chegados trouxeram bastante tecnologia embarcada e preços competivivos, o que acirrou a disputa. A Ford buscou, então, pequenos bolsões no segmento que pudessem reanimar suas vendas. Foi assim que surgiram as versões SE e FreeStyle 1.6 AT, com um trem-de-força composto pelo motor 1.6 TICVT e o câmbio automatizado de dupla embreagem já usados no Fiesta.
O objetivo da fabricante foi disponibilizar um modelo recheado de eletrônica e com câmbio automático a preços mais acessíveis que os rivais. O marketing da Ford detectou que 92% dos SUVs compactos automáticos vendidos custam acima dos R$ 75 mil – inclusive porque o Peugeot 2008 é a única oferta de modelo com transmissão automática abaixo desse valor. Até agora. O EcoSport SE 1.6 AT começa em R$ 68.690 na versão com rodas de ferro – específica para vendas diretas – e R$ 71.900 com rodas de liga leve.
A versão SE já vem recheada com os equipamentos considerados mínimos no segmento: ar, direção, vidros dianteiros, travas e espelhos elétricos, farol de neblina, controle de cruzeiro, engates para cadeirinhas infantis com isofix e sistema multimídia Sync. Ele ainda herda a plataforma eletrônica do modelo com motor 2.0, que inclui controle de tração e estabilidade, assistente de partida em rampa e chave eletrônica, que permite programar a velocidade máxima do carro.
A versão mais completa do EcoSport automático de entrada é a FreeStyle, que começa em R$ 76.900. Ela adiciona vidros elétricos traseiros, que possibilitam o funcionamento do sistema de fechamento e abertura global, rodas aro 16 e sensor de estacionamento traseiro. Há ainda a FreeStyle Plus, que inclui airbags laterais e de cabeça – além dos obrigatórios frontais – e bancos de couro.
Além da eletrônica embarcada, a grande novidade do EcoSport 1.6 AT é o trem-de-força. O propulsor Sigma 1.6 16V é o mesmo que equipa a versão mais simples do modelo, a SE 1.6 manual, que rende 110/115 cv, com gasolina/etanol. Mas aqui ele tem um cabeçote de alumínio com comando de válvulas variáveis, pistão com saia grafitada, tuchos polidos, bomba de óleo variável e trabalha com óleo de menor viscosidade. Tudo isso eleva a potência para 126/131 cv – mais até que no Fiesta, onde rende 125/128 cv. Este propulsor é acompanhado por uma transmissão de dupla embreagem e seis marchas.
Com o EcoSport 1.6 AT, a Ford acredita que possa voltar a marcar presença na festa dos SUVs compactos, dominada por ela por mais de um década. Afinal, este é um raro nicho do mercado onde não há crise. De fevereiro a agosto, o segmento mais que dobrou: passou dos 4,3% dos carros emplacados no país para 9,7%. Nesse mesmo intervalo de tempo, o EcoSport ficou na mesma participação geral, em torno de 1,4%. Isso significa dizer que, em unidades vendidas, o modelo acompanhou a perda geral do mercado brasileiro, de aproximadamente 20%. Já estava mesmo na hora de reagir.
Primeiras impressões
Marcha de conforto
Bento Gonçalves/RS – Os 16 cv a mais que o EcoSport 1.6 AT tem em relação à versão 1.6 16V já seriam suficientes para animar o SUV da Ford. Mas além da potência, a entrada em cena do câmbio automatizado de dupla embreagem tornou o EcoSport ágil e bem disposto. Mais ágil até que as versões 2.0, que têm outros 16 cv a mais, mas também 40 kg adicionais. O motor Sigma Ti-VCT sobe de giro rápido e empurra o utilitário com determinação, mesmo com quatro adultos a bordo.
As mudanças sequenciais em modo manual apresentam um pequeno delay entre a ordem e a realização da troca. Mas é fácil se adaptar a essa demora. Basta antecipar um pouco o momento da mudança. Difícil é recorrer ao incômodo botão de trocas na lateral da alavanca de câmbio. A Ford diz que não coloca paddle shifts atrás do volante porque o consumidor usa por um tempo e depois abandona. No caso do botão, a desistência ocorreu no meio do primeiro test-drive. Com a marcha em D, o EcoSport assume um comportamento cordato. E era isso mesmo que a Ford queria oferecer: um carro que pode ser conduzido sem esforço.
Este lado mais confortável do EcoSport é favorecido ainda pelo acerto de suspensão, capaz de filtrar bem as irregularidades do piso. Por outro lado, o tratamento acústico não consegue deixar os ruídos de motor e de rolagem de fora. O acabamento em geral é razoável. Os tecidos de revestimento são corretos, mas há uma enorme quantidade de plásticos rígidos em torno dos passageiros. Nada disso era muito levado em conta exatamente por falta de referências, mas agora a régua do segmento subiu. Talvez a Ford até preferisse esperar a implementação da fase 2 da geração – que geralmente ocorre com quatro anos – para incrementá-la com o novo motor, mas foi atropelada pela necessidade de revitalizar as vendas.
Com três anos de lançado, o EcoSport de segunda geração começa a ficar com o visual um pouco cansado e ligeiramente desatualizado internamente. O sistema de conectividade impressionava em 2012, mas hoje parece tímido. Principalmente por conta do acanhado visor do Sync, sobre o console central, que tem apenas 5 polegadas – hoje, até os celulares são maiores que isso.
Ficha técnica
Ford EcoSport 1.6 AT
Motor | Gasolina e etanol, dianteiro, transversal, 1.596 cm³, quatro cilindros em linha, duplo comando no cabeçote, quatro válvulas por cilindro e comando variável de válvulas na admissão e no escape. Injeção eletrônica multiponto sequencial e acelerador eletrônico |
---|---|
Transmissão | Câmbio automatizado com dupla embreagem e mudanças sequenciais de seis marchas à frente e uma a ré com tração dianteira. Oferece controle eletrônico de tração |
Potência máxima | 126 cv e 131 cv com gasolina e etanol a 6.500 rpm |
Torque máximo | 15,4 kgfm a 4.250 rpm e 16,1 kgfm a 5.000 rpm com gasolina e etanol |
Diâmetro e curso | 79,0 mm X 81,4 mm com taxa de compressão de 12,0:1 |
Aceleração 0-100 km/h | 11,8 com etanol |
Velocidade máxima | 180 km/h limitada eletronicamente |
Suspensão | Dianteira independente do tipo McPherson, com braços inferiores, barra estabilizadora e molas com compensação de carga lateral. Traseira semi-independente com eixo de torção, amortecedores hidráulicos pressurizados com molas helicoidais. Oferece controle eletrônico de estabilidade |
Pneus | 205/65 R15 na SE e 205/60 R16 na FreeStyle |
Freios | Discos ventilados na frente, tambores atrás e ABS de série |
Carroceria | Utilitário esportivo em monobloco com quatro portas e cinco lugares. Com 4,23 metros de comprimento, 1,77 m de largura, 1,67 m de altura e 2,52 m de distância entre-eixos. Airbags frontais de série. Laterais e de cortina opcionais na versão FreeStyle |
Peso | 1.269 kg na SE e 1.274 na FreeStyle |
Capacidade do porta-malas | 362 litros |
Tanque de combustível | 52 litros |
Produção | Camaçari, Bahia |
Itens de série da versão SE | Ar-condicionado, direção, trava, espelhos e vidros dianteiros elétricos, volante com regulagem de profundidade e altura, airbag duplo, ABS com auxílio para partida em rampa, rodas de liga leve aro 16, chave programável, controle de estabilidade e tração, faróis de neblina, sistema Sync, rádio/CD/MP3/AUX/Bluetooth e câmbio automatizado de dupla embreagem seis marchas |
Preço - SE | 71.900 |
Versão FreeStyle adiciona | Vidros traseiros elétricos, fechamento e abertura de vidros e travas na chave, rodas de liga leve R16, sensor de estacionamento traseiro, carcaça dos retrovisores e rodas em cinza |
Preço - FreeStyle | R$ 76.900 |
Opcionais da versão FreeStyle | airbags laterais e de cabeça e bancos em couro |
Preço - FreeStyle completo | R$ 81.400 |
Autor: Eduardo Rocha (Auto Press)
Fotos: Eduardo Rocha/Carta Z Notícias e divulgação