Os desígnios do mercado de automóveis são implacáveis. Podem tanto engordar quanto matar por inanição determinado segmento. Atualmente, a espécie dominante é a dos SUVs. E foi para este gênero que a segunda geração do Peugeot 3008 caminhou. O modelo que chega agora ao mercado brasileiro cumpre as exigências técnicas para ser classificado oficialmente como utilitário esportivo, tais como ângulos de ataque e saída, altura livre do solo e capacidade de transposição de rampa. O desenho também adotou características típicas de SUVs, com linhas mais fortes e marcadas. Na essência, no entanto, o modelo manteve as melhores características do crossover 3008 que o antecedeu: conforto, dinâmica e requinte de acabamento. Com essa conjunção, o SUV médio arrebatou o mercado europeu. Em três meses vendeu 45% do previsto para um ano – 70% acima das expectativas – e provocou uma longa fila de espera. No Brasil a coisa vai pelo mesmo caminho. O primeiro lote de importação, com 50 unidades, foi reservado via internet em menos de duas horas.

Peugeot 3008

A Peugeot projeta as vendas de 250 unidades mensais, limitadas pela capacidade das linhas de produção atenderem os pedidos. Isso representaria 25% mais que a melhor média do antigo 3008, que emplacou a média de 200 unidades mensais em 2011. O entusiasmo da marca vem principalmente por causa da nova classificação como SUV. Nessa mudança de status, a Peugeot buscou adequar o visual e abusou de linhas mais fortes, que acentuassem a nova condição do modelo. A frente forma um volume bem definido, com uma grade cromada em que e faróis recortados, divididos por saliências que se projetam do para-choque. Há ainda reforços na cor prata sob os para-choques e molduras nas caixas de roda e painéis de proteção na parte inferior das laterais. O porte do modelo é reforçado pela generosa altura livre para o solo de 22 cm. 

No aspecto mais racional, a marca se apoia na boa relação custo/benefício do pacote de equipamentos montado para o Brasil. O modelo só chega na versão Griffe com preço de R$ 135.990, preço que o coloca na briga com as versões superiores do segmento de SUVs médios, com a versão Limited do Jeep Compass e a GL do novo Hyundai Tucson. Por outro lado, é bem completo. Além dos equipamentos básicos, ele traz rodas aro 19, revestimento em couro, faróis full led, seis airbags, teto solar panorâmico, ar-condicionado automático duplo, painel de instrumentos totalmente digital, massageador nos encostos dos bancos dianteiros, chave presencial para travas e ignição e os sistemas de assistência à condução de praxe, como hill assist e controle de estabilidade e de tração.

Peugeot 3008

Nesta “evolução” de crossover para utilitário esportivo, o 3008 ganhou também em aspectos técnicos. Com a nova plataforma EMP2, o peso foi reduzido de 1.534 para 1.375 kg. Esta redução de 159 kg se reflete diretamente na eficiência energética do carro, que passa a consumir 10% menos na cidade, segundo o InMetro. O desempenho, no entanto, se manteve igual. O 3008 importado para o Brasil é animado pelo motor a gasolina THP 1.6 16V de 165 cv, com 24,5 kgfm de torque a partir de 1.400 rpm. 

Ponto a ponto

Desempenho – O Peugeot 3008 manteve o mesmo trem-de-força da primeira geração, composto por um câmbio automático de seis marchas e um motor 1.6 THP que bebe apenas gasolina. Só que o modelo lançado em 2009 tinha 156 cv, contra os atuais 165 cv. Outra diferença fundamental é que o atual ficou cerca de 10% mais leve. O resultado é uma relação peso/potência de 8,3 contra 9,8 kg/cv do antecessor. Acontece que a Peugeot usou toda esta evolução para economizar combustível – inclusive porque a performance já era bem convincente. O 3008 acelera bem e retoma ainda melhor, por conta do torque de 24,5 kgfm ser pleno já aos 1.400 giros. O zero a 100 km/h se manteve nos mesmos 8,9 segundos e a máxima passou de 202 para 206 km/h. Nota 9.

Estabilidade – Em um carro alto como o 3008, era de se esperar que o controle de estabilidade invadisse a condução com uma certa frequência. Ainda mais ao encarar uma estrada sinuosa como a que vai do Rio a Petrópolis, com curvas desenhadas na época que Dom Pedro II subia a serra para escapar do calorento verão carioca. Mas não é isso que acontece. O SUV/crossover da Peugeot demora a entregar os pontos. Ele exibe um comportamento extremamente neutro, com pouquíssima rolagem de carroceira. Para isso contribuem a redução de peso, proporcionada pela nova plataforma, e o acerto preciso da suspensão, que tem desenho clássico, com McPherson da frente e eixo de torção na traseira. Nota 8.

Peugeot 3008

Interatividade – O SUV da Peugeot adotou a 2ª geração do conceito de painel que fica acima do volante, que por sua vez tem o tamanho reduzido. O chamado i-cockpit 2.0 tornou até o head up display do antigo 3008 dispensável. O painel de instrumentos em si agora é em LCD com 12,3 polegadas e quatro modos de exibição. Outra tela, touch de 8 polegadas, projeta-se no alto do console central e controla diversos recursos, como telefone, som, ar-condicionado e massageador dos encostos dos bancos dianteiros e parâmetros do carro. Logo abaixo, duas fileiras de botões dão comandos diretos a diversos recursos. Na prática, há um excesso de botões, até pela redundância de acesso às funções – um terceiro modo é pelo volante multifuncional. Um limitador é que o carro não tem GPS próprio e a tela central só projeta um navegador, no caso o Google Maps, quando conectado pelo aplicativo Android Auto. Nota 7.

Consumo – Na avaliação do InMetro, o atual 3008 obteve nova C no geral e A na categoria, com médias de 11,5 km/l na estrada e 9,2 km/l na cidade. Nada mal para um carro do porte e com o espaço interno do SUV da Peugeot. Uma boa melhora em relação ao desempenho do 3008 da primeira geração, que obteve médias de 11,1 e 8,3 km/l, respectivamente. Nota 8.

Peugeot 3008

Conforto – O SUV médio da Peugeot recebe muito bem os ocupantes. Os bancos são ergonômicos e confortáveis, sendo que os dianteiros ainda contam com massageador de encosto, com oito bolsas de ar que inflam e desinflam em várias sequências predeterminadas. A suspensão filtra bem as irregularidades e o interior é bem silencioso – o propulsor só é ouvido quando levado próximo ao limite de giros. Nota 9.

Tecnologia – A nova plataforma do Grupo PSA, EMP2, contribuiu decisivamente para que o atual 3008 emagrecesse 159 kg em relação ao antigo. No pacote Brasil, a montadora dispensou o GPS integrado ao sistema do carro, o que retirou os parâmetros de localização normalmente usados pelo computador de bordo. Em compensação, dispõe de seis airbags de série, controle de estabilidade e tração, faróis full led, sensores de luz, chuva e de obstáculos dianteiro e traseiro, chave presencial para travas e ignição, etc. O motor THP já tem alguns anos de desenvolvimento – a BMW, parceira no projeto, até o substituiu por outro mais moderno –, mas ainda é eficiente e oferece boa potência. Nota 8.

Peugeot 3008

Habitabilidade – O SUV da Peugeot tem muito a oferecer neste quesito. O espaço interno é excelente, com muita área para a cabeça, os ombros e as pernas, e o acesso ao interior é bem facilitado pela altura do veículo. Os bancos são confortáveis, o ar-condicionado bizone é rápido, apesar do tamanho do habitáculo, e o teto solar elétrico e panorâmico deixa o ambiente ainda mais agradável. A capacidade do porta-malas cresceu e agora acolhe 520 litros de bagagem. Nota 9.

Acabamento – É nesse ponto em que os carros da Peugeot mais de aproximam das marcas de luxo. O bom gosto e a qualidade começam nos materiais escolhidos para os revestimentos e alcançam cada detalhe no interior. No caso da versão trazida para o Brasil, a Griffe, a forração de bancos, volante, painel das portas e apoio de braços central é em couro com costuras aparente. No console frontal, uma faixa de tecido refina o estilo e quebra a monotonia. Todas as superfícies internas são em material emborrachado ou macios e a combinação de cromados, alumínio e black piano é muitíssimo bem dosada. Uma verdadeira aula de design. Nota 10.

Peugeot 3008

Design – Além de deixar no passado as linhas externas que causavam estranheza, a Peugeot adotou um aspecto mais robusto e másculo no 3008 – até para justificar a classificação de SUV que a marca quer impor ao modelo. A linha de cintura alta, com uma charmosa ondulação sobre a roda traseira, empresta um ar refinado ao modelo. Já as rodas aro 19 e o caimento da última coluna, bem inclinada, dão um visual mais esportivo ao modelo. As colunas central e traseiras são revestidas em material preto brilhante, o que provoca a sensação de ter teto flutuante. A frente é dominada pela grade com detalhes cromados e a traseira traz uma faixa, também em preto brilhante, que liga as lanternas que trazem lente fumê. Nota 9.

Custo/benefício – A Peugeot trouxe o 3008 em uma configuração única e aposta na relação custo/benefício de seu modelo. Isso porque o conteúdo, de fato, é bastante generoso, mas preço fica um pouco acima do praticado pela concorrência direta. Por R$ 135.990, ele só é mais barato que o Hyundai Tucson, que sai por iniciais R$ 138.900. Volkswagen Tiguan e Jeep Compass começam pouco abaixo dos R$ 130 mil, mas são menos equipados. Nota 7

Total – O Peugeot 3008 somou 84 pontos em 100 possíveis.

Primeiras impressões

Petrópolis/RJ – Não chega a ser um risco colocar o 3008 para encarar a serpenteante serra de Petrópolis. A primeira geração do modelo já era capaz de cumprir a tarefe sem se aperta. A nova tem ainda mais facilidade. Afinal, o modelo evoluiu acentuadamente nos aspectos mecânicos, principalmente por conta da nova plataforma modular do Grupo PSA. Graças a ela, o 3008 ficou 159 kg mais leve, ou mais de 10% do peso. E isso muda tudo. O consumo é reduzido, as retomadas melhoram, o comportamento nas retas é mais neutro e as curvas são contornadas com maior facilidade, pois a massa menor diminui a inércia lateral. Embora não seja um esportivo, dinamicamente o 3008 é impecável e o volante de tamanho reduzido até instiga a uma condução mais agressiva.

Peugeot 3008

As novas linhas deixaram o 3008 mais agradável, ao mesmo tempo que mantiveram o carro com bastante personalidade. Na antiga geração, a distinção era obtida pelo estranhamento. Agora é pela inovação e harmonia nas formas. E consegue uma boa combinação com as partes em preto brilhante, cromados e prata acetinado, como as proteções sob os para-choques e as barras sobre o teto.

Peugeot 3008

O interior manteve o requinte no acabamento e nas formas – o que é uma tradição da marca. O painel digital e a nova configuração do cockpit, com os instrumentos elevados para ser visto acima do volante, é um conceito que vai se espalhando, merecidamente, por toda a gama da marca. Os materiais de revestimentos são agradáveis e o ambiente fica ainda mais valorizado pelo teto panorâmico, que se abre sobre a cabeça dos ocupantes da frente. A Peugeot sabiamente manteve a essência do 3008, ao mesmo tempo promoveu alterações estéticas que valorizaram o modelo.

Ficha técnica

Peugeot 3008 Griffe

MotorGasolina, dianteiro, transversal, 1.598 cm³, quatro cilindros em linha, quatro válvulas por cilindro, turbo com intercooler e comando no cabeçote variável na admissão e no escape. Injeção direta de combustível e acelerador eletrônico. 
TransmissãoCâmbio automático de seis velocidades à frente e uma a ré nas versões. Tração dianteira. Oferece controle de tração
Potência165 cv a 6 mil rpm. 
Torque máximo24,5 kgfm a 1.400. 
Aceleração 0-100 km/h8,9 segundos. 
Velocidade máxima206 km/h. 
Diâmetro e curso77 mm x 85,8 mm
Taxa de compressão11,0:1. 
SuspensãoDianteira independente do tipo McPherson e traseira semi-independente por eixo de torção. Oferece controle eletrônico de estabilidade. 
Pneus235/50 R19. 
FreiosDiscos ventilados na frente e maciços atrás. Oferece ABS com EBD. 
CarroceriaUtilitário esportivo em monobloco, com quatro portas e cinco lugares. Comprimento de 4,45 metros com 1,91 m de largura, 1,63 m de altura e 2,68 m de entre-eixos. Possui airbags frontais, laterais e de cabeça de série
Peso1.375 kg. 
Capacidade do porta-malas520 litros. 
Tanque de combustível53 litros. 
Lançamento no Brasil2017. 
ProduçãoSochaux, França

Peugeot 3008

Autor: Eduardo Rocha (Auto Press)
Fotos: Eduardo Rocha/CZN