O Peugeot 208 chegou ao Brasil, em março, com o “status” lá em cima. Afinal, foi o compacto mais vendido na Europa em 2012 – com 250 mil unidades. Por aqui, as aspirações não eram tão ambiciosas, mas o 208 tem a árdua tarefa de enfrentar os outros hatches compactos com proposta mais requintada. Uma briga atualmente dominada por Ford New Fiesta, Hyundai HB20 e Citroën C3. Além disso, o compacto tinha de manter o patamar de vendas do 207 – modelo com o qual ainda convive. E mesmo com a faixa de preço elevada, o 208 vai conquistando seu espaço no mercado brasileiro. Desde o lançamento, em abril desse ano, o hatch acumula a média de 2.300 unidades/mês. O número é bem próximo dos 2.500 veículos que a Peugeot estimou na época da apresentação. E a versão topo de linha Griffe contribui, e muito, para isso. Responde por 35% da comercialização do 208 – divididos em 15% com câmbio manual e 20% com transmissão automática.
Tais números chegam perto dos 36% da intermediária Allure, que era a aposta da marca para obter metade do “mix” das vendas do 208 no Brasil. A quantidade total desse ano não chega perto da média de 11 mil unidades que o Ford Fiesta – incluindo o Rocam – vendeu até aqui ou as 10 mil do Hyundai HB20 que chegaram às ruas. Mas já permite que veja praticamente um 208 a cada quarteirão nas grandes cidades.
Em relação à Allure, a configuração Griffe eleva o nível refinamento do hatch. Por fora, pequenas mudanças. Como um friso cromado em volta da linha das janelas e as rodas que, além de crescerem de 15 para 16 polegadas, possuem um desenho diferente e escurecido. Já o tom cinza claro de alguns detalhes no interior dá lugar a uma cor grafite. O console central, com visual limpo e poucos botões, tem acabamento em black piano e deixa o hatch com um ar mais “premium”. Os bancos não possuem a opção em couro, mas a Peugeot deu atenção a eles, que na versão Griffe ganham um revestimento de melhor qualidade. A grande “sacada” foi a arrumação dos quadro de instrumentos, que fica acima do volante. Isso melhora a visualização do cluster, que de nenhuma forma é atrapalhada pelo aro do volante. Para isso, os engenheiros da Peugeot reduziram o diâmetro da peça, que se destaca no interior.
A versão Griffe traz tudo que o 208 pode oferecer. Desde a Allure, o hatch é bem equipado com central multimídia com rádio, GPS e tela de sete polegadas sensível ao toque, teto panorâmico, luzes diurnas com lâmpada, trio elétrico, computador de bordo, mas na Griffe os dispositivos ficam mais sofisticados. Destaque para o ar-condicionado duas zonas, raro de encontrar em modelos do segmento. Completam o pacote as luzes diurnas de led, sensores de estacionamento, luz e chuva, além de controle de cruzeiro disponível no volante multifuncional. O retrovisor eletrocrômico e a câmera de ré são as ausências sentidas. Com transmissão manual de cinco relações, o hatch custa R$ 51.690.
O preço é relativamente alto, mas figura na mesma tabela de concorrentes como o Fox 1.6 Highline, que, equipado a altura do 208 Griffe, chega a R$ 51 mil. O mais recente Hyundai HB20 1.6, com o sistema multimídia, parte de R$ 52.090. Outro competidor de peso é o New Fiesta Titanium, que difere em exatos R$ 200 e tem a etiqueta de R$ 51.490. O Citroën C3 1.6 Exclusive parte de R$ 49.990, mas com os opcionais chega a R$ 54.490.
Debaixo do capô, a fabricante francesa reservou o motor flex 1.6 16V para a versão Griffe – que é compartilhado com o Citroën C3. Ele rende bons 122 cv com etanol e 115 cv quando abastecido com gasolina. O trem de força é completado pela transmissão manual de cinco relações. Com o torque de 16,4 kgfm e 15,5 kgfm – com etanol e gasolina, respectivamente – o 208 Griffe é capaz de atingir os 100 km/h em 9,7 segundos, sempre com etanol. A versão “top” do 208 ainda tem a opção de ser equipado com câmbio automático de quatro marchas, o que o eleva para R$ 54.990.
Ponto a ponto
Desempenho – O motor 1.6 16V faz do 208 um carro “espertinho”. Ele rende 122 cv com etanol e 115 cv com gasolina sempre a 6 mil rotações. Apesar do torque máximo – 16,4 kgfm e 15,5 kgfm com etanol e gasolina, respectivamente – só atingido a altas 4 mil rpm, o modelo tem bastante agilidade e vigor nas retomadas em trechos urbanos. Já curso longo da alavanca de câmbio atrapalha um pouco a transmissão manual da unidade testada . Fora isso, os engates são bem precisos. Nota 8.
Estabilidade – O Peugeot 208 não sente falta do controle eletrônico de estabilidade que vem de série no seu modelo francês e também é oferecido no Ford New Fiesta de topo. O hatch vai bem nas curvas e a carroceria se mantém estável. Em altas velocidades, a intervenções do condutor na trajetória não se fazem necessárias. Nota 8.
Interatividade – Olhar por cima do volante – e não por dentro do aro – para ver o cluster de instrumentos muda totalmente a percepção de interação do condutor. E no caso do 208 isso é positivo. A reorganização do espaço interno facilita e muito a vida do motorista. Os comandos vitais estão ao alcance das mãos e a vistosa central multimídia de sete polegadas sensível ao toque fica em uma posição mais elevada no painel e na linha dos olhos do motorista. O charme fica por conta do volante, que “encolheu” no diâmetro – de 37 cm no 207 para 33 cm – , mas tem ótima pegada e contribui para o visual moderno do habitáculo, além de ser multifuncional. Nota 8.
Consumo – O InMetro testou o 208 com motorização 1.6 litro. Segundo a entidade, com etanol o hatch faz 7,1 km/l na cidade e 8,9 km/l na estrada. Já com gasolina o registro foi de 10,6 km/l na cidade e 12, 9 km/l na estrada. Esses números só renderam a etiqueta “C” na categoria e “B” no geral. Nota 6.
Conforto – Para a proposta de um carro compacto, o 208 traz um bom espaço interno. A explicação passa pelo entre-eixos de 2,54 metros e o teto de vidro panorâmico, que amplifica essa percepção. Quatro adultos viajam sem apertos, mas um quinto elemento compromete o conforto dos ocupantes traseiros. A suspensão é um pouco firme e promove pequenos “sacolejos”, mas consegue absorver bem as imperfeições das ruas brasileiras. Já o isolamento acústico é impecável e o som do motor só penetra no habitáculo em giros muito altos. Nota 8.
Tecnologia – A versão testada traz o que o 208 pode oferecer de melhor. Destaque para a central multimídia com GPS integrado e tela “touch” de sete polegadas. A plataforma é recente e foi lançada junto com o carro em 2012, o que permite boa estabilidade e um bom espaço interno. Em questões de segurança o modelo traz apenas o “básico”: freios ABS com EBD e airbag duplo. Nota 8.
Habitabilidade – O 208 oferece um bom ângulo de abertura das portas e facilita a entrada e a saída do carro. Dentro, a vida é bem simples. Há espaço suficiente para as pernas e os ajustes de altura e profundidade do volante tornam simples a tarefa de achar a melhor posição de dirigir. O teto de vidro panorâmico amplia a sensação de espaço na cabine. Os porta-trecos são poucos, mas há um pequeno porta-copos no console central logo à frente da alavanca de câmbio. Já os bolsões laterais acolhem bem itens como carteiras e celulares. Nota 8.
Acabamento – Em relação a seus concorrentes, o Peugeot 208 está um passo à frente. O interior é um dos destaques do modelo. Os plásticos dominam, mas os materiais foram bem escolhidos e agradam tanto visual quanto ao tatilmente. Os encaixes não têm rebarbas aparentes e a montagem é qualificada. A quantidade reduzida de botões e comandos – uma característica dos novos carros da Peugeot – contribuem para o visual limpo do habitáculo. O diminuto volante ganhou um cromado em um dos raios. Um pequeno toque que faz diferença. Nota 9.
Design – Outro ponto forte do 208. O modelo não chega a ser um ponto fora da curva, mas é um dos carros mais agradáveis de se olhar no segmento. O visual é totalmente novo e moderno, mas não deixa de lado identidade da Peugeot, com os faróis afilados e a grade em destaque. O desenho traz linhas que dão robustez ao hatch. Nota 8.
Custo/benefício – Assim como acontece na versão Allure, o 208 Griffe se equipara em relação às configurações mais caras e completas no segmento de hatches. A configuração testada com câmbio manual custa elevados R$ 51.490, pouco menos que os R$ 52.090 do Hyundai HB20 já com o sistema multimídia. Em relação ao New Fiesta Titanium a variação é mínima com os R$ 51.690 que a Ford pede pelo seu hatch. Um patamar acima está o Citroën C3 Exclusive, que com os opcionais que já vem de série no Griffe o preço vai a R$ 54.490. Nota 6.
Total – O Peugeot 208 Griffe somou 77 pontos em 100 possíveis.
Impressões ao dirigir
A Peugeot conseguiu um belo resultado com o 208 em todos os aspectos. A começar pelo design, que o credencia com um dos hatches mais bonitos à venda no mercado brasileiro. O visual moderno é caracterizado pelo novo conjunto óptico na dianteira que preserva a herança da inspiração em olhos felinos. As luzes diurnas de led e a grade dianteira “flutuante” marcam a parte da frente do hatch. Na lateral, o destaque é o vinco de ponta a ponta na linha de cintura. As lanternas traseiras em forma de “garra” completam o conjunto.
E a boa impressão continua no habitáculo. Apesar da profusão de plásticos, eles são de boa qualidade e agradam ao toque. Os encaixes são esmerados e demonstram um bom processo de montagem. A posição dos instrumentos permite uma nova interação do condutor com os mostradores. É fácil se acostumar a olhar por cima do volante e lá encontrar o velocímetro, conta-giros e medidor de combustível. Outro destaque é o teto de vidro panorâmico que aumenta a sensação de espaço do interior.
Mas nem tudo é perfeito. O apoio de braço está mal-localizado. Centralizado, ele atrapalha as trocas de marchas, principalmente no engate da segunda relação. Além disso, acionar a alavanca do freio de mão demanda um certo contorcionismo quando o descanso está abaixado.
Com o 208 em movimento, tudo volta a ficar no lugar. O motor 1.6 litro de 122 cv da versão Griffe mais que empurra o hatch. Junto com o torque máximo de 16,4 kgfm com etanol, eles reforçam a sensação de esportividade do modelo. Outro acerto é a suspensão. Apesar de firme, ela garante um equilíbrio entre o conforto para os passageiros e a rigidez necessária para uma série de curvas. A direção dá respostas rápidas e o volante de tamanho reduzido mostra o charme interno do 208.
Ficha técnica
Peugeot 208 Griffe
Motor | Gasolina e etanol, dianteiro, transversal, 1.587 cm³, quatro cilindros em linha, comando simples no cabeçote, quatro válvulas por cilindro e comando variável de válvulas na admissão. Injeção eletrônica multiponto sequencial e acelerador eletrônico |
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Potência | 122 cv e 115 cv a 6 mil rpm com etanol e gasolina |
Torque | 16,4 kgfm e 15,5 kgfm a 4 mil rpm com etanol e gasolina |
Aceleração de 0 a 100 km/h | 9,7 e 10,2 com etanol e gasolina |
Diâmetro e curso | 78,5 mm X 82 mm. Taxa de compressão: 12,5:1 |
Peso | 1.153 kg (1.189 kg com câmbio automático) |
Transmissão | Manual de cinco velocidades à frente e uma a ré. Tração dianteira. Não possui controle de tração |
Suspensão | Dianteiro tipo pseudo McPherson e traseira com travessa deformável. Molas helicoidais, amortecedores hidráulicos pressurizados à gás e barra estabilizadora nos dois eixos. Não possui controle de estabilidade |
Pneus | 195/55 R16 |
Freios | Discos ventilados na frente e tambores atrás. ABS com EBD de série |
Carroceria | Hatch em monobloco com quatro portas e cinco lugares. Com 3,97 metros de comprimento, 1,70 m de largura, 1,47 m de altura e 2,54 m de distância entre-eixos. Airbag duplo frontal de série |
Capacidade do porta-malas | 318 litros |
Tanque de combustível | 55 litros |
Produção | Porto Real, Rio de Janeiro |
Lançamento na Europa | 2012 |
Lançamento no Brasil | 2013 |
Itens de série | Central multimídia com tela de sete polegadas sensível ao toque, rádio/MP3/USB/AUX/Bluetooth, volante multifuncional, vidros e retrovisores elétricos, luz diurna de led, rodas de liga leve de 16 polegadas, teto de vidro panorâmico, sensor de luminosidade e de chuva, piloto automático, ar-condicionado automático dual zone, airbag duplo, chave canivete, faróis de neblina, volante com regulagem de altura e profundidade e banco traseiro bipartido |
Preço | R$ 51.690 |
Opcional | Transmissão automática de quatro velocidades |
Preço completo | R$ 54.990 |
Autor: Raphael Panaro (Auto Press)
Fotos: Pedro Paulo Figueiredo/Carta Z Notícias