A bordo de utilitários esportivos, a Peugeot parece ter reencontrado a trilha do mercado. Nos últimos anos, a marca buscou agregar a ideia de robustez à sua imagem, normalmente associada ao design e à esportividade. E deu bastante certo. Com o sucesso do SUV compacto 2008, a fabricante reforçou as características de utilitário esportivo na mudança de geração dos crossovers de seu line up. Primeiro com o lançamento do novo 3008, em 2016. Agora a estratégia se repete com a segunda geração do médio-grande 5008, apresentado na Europa ano passado e que desembarca no Brasil neste fim de março. O modelo chega apenas na versão Griffe e com duas configurações de equipamentos, a de entrada por R$ 157.490 e a mais completa, Pack, por R$ 166.490.
Estes valores não deixam o 5008 muito distante do 3008. Com o mesmo conteúdo, o SUV maior custa R$ 11.500 a mais. Um valor até razoável pela diferença de habitabilidade. Os dois usam a mesma plataforma EMP2, que por ser modular, permite que o 5008 seja 19 cm maior no comprimento, com 4,64 metros, e tenha 16 cm a mais de entre-eixos, com 2,84 m – ampliação que permite ao 5008 ter sete lugares. Na faixa de preço entre R$ 150 mil e R$ 175 mil, o confronto é com Mitsubishi Outlander, Kia Sorento e até o Toyota SW4, todos em versões 4X2 e com sete lugares.
A vantagem do novo 5008 em relação aos rivais está no conteúdo. Na versão Griffe Pack, o SUV médio-grande da Peugeot traz equipamentos bem mais sofisticados, alguns já na seguindo uma diretriz de condução semiautônoma. Caso do controle de cruzeiro adaptativo, frenagem automática de emergência, alerta de colisão, direção ativa, que interfere no volante e atua tanto com o monitor de permanência na faixa quanto com o monitor de ponto cego, farol alto automático, detector de fadiga e leitor de placas de velocidade. Além desses equipamentos, a configuração tem ainda teto solar elétrico panorâmico.
De série, o 5008 Griffe traz seis airbags, ABS e controle de estabilidade e tração. O modelo traz ainda outros recursos que acentuam o requinte do conteúdo. Faróis full led, interior em couro, bancos dianteiros elétricos com sistema de massagem no encosto, chave presencial para travamento e partida, teto solar panorâmico elétrico, câmara de ré, sensores de obstáculos dianteiro e traseiro, carregador de celular por indução, sensores de luminosidade e de chuva e sistema multimídia com tela touch e conexão com Apple CarPlay e Android Auto. Este sistema não tem GPS, mas consegue espelhar Google Maps e Waze com celulares Android.
No visual, o 5008 passou por uma grande transformação. A primeira geração trazia diversos elementos típicos de minivan e todos foram devidamente eliminados nesta segunda geração. O perfil ganhou linhas mais marcadas, bem características de SUVs, e para aliviar visualmente a coluna traseira – que é reta para acomodar a terceira fileira de bancos –, uma faixa cromada, grossa, cria uma falsa inclinação, que harmoniza todo o desenho. Na frente, a nova assinatura da marca, com uma grade trapezoidal robusta com tracejados cromados, conjunto ótico dividido por uma protuberância do para-choque. Na traseira, a lanterna com três linhas de luzes verticais, com a luz de ré e a de pisca na base.
Sob o capô, a Peugeot resolveu simplificar. O 5008 traz o mesmo motor que anima boa parte da gama da marca no Brasil, 1.6 16V THP. Como vem da França, ele bebe apenas gasolina e gera 165 cv. O câmbio é automático de seis marchas e a tração é dianteira. Com essa formulação, a Peugeot espera não só atingir um novo público, de pessoas interessadas em sete lugares, como ainda absorver parte dos consumidores que estão na fila de espera do 3008. O modelo médio vende tudo que importa mas o volume destinado ao Brasil permite uma média de apenas 220 unidades mensais. Isso explica a expectativa de emplacar 150 unidades mensais do 5008.
Ponto a ponto
Desempenho – Os 1.440 kg do 5008 exigem bastante do pequeno motor 1.6 turbo de 165 cv. O modelo acelera e retoma de forma correta, sem sobra de potência. O esforço fica evidenciado pela atuação do câmbio, que demora a reagir nas retomadas, quando o acelerador é exigido de forma mais vigorosa. A resposta nas acelerações já é mais homogênea. Nota 7.
Estabilidade – O 5008 se mostrou extremamente neutro nas poucas curvas que havia no trajeto, com rolagens de carroceria bem controladas. Nas retas, o SUV não exige correções de trajetória e nem sofre muito com ventos laterais, apenas da grande superfície lateral. O conjunto suspensivo tem desenho clássico – McPherson na frente e eixo de torção atrás – e é eficiente. Nota 8.
Interatividade – O volante pequeno, batizado de Sportdrive, facilita o controle do motorista. Nele estão os controles para o som e para o comando de voz. Por outro lado, exatamente por ser pequeno, não cabem ali os botões para o controle de cruzeiro adaptativo, que ficam em um comando satélite, escondido atrás do volante. É preciso descobrir as funções através do tato, já que é impossível de visualizar. Já a central multimídia, com tela sensível ao toque, tem uma interação bem mais direta. Nota 7.
Consumo – Segundo o InMetro, o 5008 obteve nota C no geral e na categoria, com um consumo estimado em 9,5 km/l na cidade e 12,1 na estrada, sempre com gasolina. São bons números para um modelo do segmento. Nota 7.
Conforto – A suspensão do 5008 busca um equilíbrio entre estabilidade e conforto. Mas apesar da suspensão firme, os bancos são extremamente ergonômicos, todos os assentos são individuais e ainda tem massageador para os passageiros da frente. O isolamento acústico é bem eficiente e o ar-condicionado de duas zonas de temperatura esfria rapidamente o habitáculo, apesar do tamanho. A chave presencial torna muito prática a convivência com o modelo. Nota 9.
Tecnologia – A versão de topo, a Griffe Pack, traz diversos equipamentos já orientados para a condução semiautônoma, que tornam o uso do 5008 mais seguro. Além disso, a plataforma EMP2 é moderna e foi recentemente atualizada. O modelo traz também itens como controle de estabilidade e tração, seis airbags e ABS, praticamente obrigatórios no segmento. O motor THP não é novo, mas ainda está alinhado com os mais modernos presentes no mercado. Nota 8.
Habitabilidade – É o principal diferencial do 5008. O modelo leva sete passageiros, tem uma altura interna avantajada e cria um ambiente bem agradável e convidativo. No caso do recolhimento da última fileira de bancos, o porta-malas suporta 780 litros de bagagem. Nota 9.
Acabamento – A tradição da Peugeot, de acabamentos bem cuidados e de bom gosto, se mantém no 5008. A composição que mistura painéis em preto brilhoso com alumínio, cromados, tecido e couro é equilibrada, sem exageros. O console central, que concentra comandos em forma de tecla, dá personalidade ao ambiente. Nota 10.
Design – Com o 5008, a Peugeot abandona de vez uma fase pouco feliz de design, de onde surgiram as primeiras gerações do 3008 e do próprio 5008, com linha curvas e sem força na frente e traseiras sem graça. Agora, os traços são fortes e agressivos na frente, com um ângulo negativo na grade, e mais marcantes na traseira. O uso de cromados de diferentes espessuras nos vincos e nas janelas também ajuda a pontuar as linhas do carro. Nota 8.
Custo/benefício – Na tabela, o valor pedido pelo 5008 é muito próximo de rivais como Mitsubishi Outlander e Kia Sorento. A comparação de conteúdos dá vantagem ao modelo da Peugeot, mas é um segmento com preços bastante altos. Nota 7.
Total – O Peugeot 5008 obteve 80 de 100 pontos possíveis.
Primeiras impressões
Porto Feliz/SP – A peculiar configuração de painel/volante dos carros da Peugeot mudam de forma notável a relação do motorista com o automóvel. No caso do 5008, de proporções avantajadas, os elementos até ganham uma certa “folga”, mas isso não elimina o estranhamento. Afinal, o volante pequeno, com base e topo planos, induz uma postura esportiva, mas trata-se de um SUV. Em relação à estabilidade, o 5008 até responde bem a esta demanda, mas não no desempenho. O motor 1.6 turbo trabalha ali no limite – este mesmo motor está no 2008, que pesa 200 kg a menos. Ele movimenta bem o SUV, mas nenhuma sobra de potência.
Em outros aspectos, o 5008 é mais generoso. No espaço interno, nos recursos e no conforto. O controle de cruzeiro adaptativo, por exemplo, inspira uma direção calma, mais em acordo com o desempenho. O único problema é a localização do comando satélite, escondido atrás do volante. Inicialmente, o câmbio também exige familiaridade, pelo formato da manopla. Os botões no console central, inspirados em teclas de piano, também podem causar uma certa confusão, pois são muito numerosos – 13, no total. No mais, a decoração criada pelos diversos materiais empregados é de extremo bom gosto. A amplidão do habitáculo, aumentado ainda pelo teto solar na versão de topo, gera um ambiente bem agradável e relaxante. Ainda mais quando se aciona o massageador nos encostos dianteiros.
Ficha técnica
Peugeot 5008
Motor | Gasolina, dianteiro, transversal, 1.598 cm³, quatro cilindros em linha, quatro válvulas por cilindro, turbo com intercooler e comando no cabeçote variável na admissão e no escape. Injeção direta de combustível e acelerador eletrônico |
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Transmissão | Câmbio automático de seis velocidades à frente e uma a ré nas versões. Tração dianteira. Oferece controle de tração |
Potência | 165 cv a 6 mil rpm |
Torque máximo | 24,5 kgfm a 1.400 |
Aceleração 0-100 km/h | 10,5 segundos |
Velocidade máxima | 206 km/h |
Diâmetro e curso | 77 mm x 85,8 mm |
Taxa de compressão | 11,0:1 |
Suspensão | Dianteira independente do tipo McPherson e traseira semi-independente por eixo de torção. Oferece controle eletrônico de estabilidade |
Pneus | 235/50 R19 |
Freios | Discos ventilados na frente e maciços atrás. Oferece ABS com EBD |
Carroceria | Utilitário esportivo em monobloco, com quatro portas e cinco lugares. Comprimento de 4,64 metros com 1,91 m de largura, 1,65 m de altura e 2,84 m de entre-eixos. Possui airbags frontais, laterais e de cabeça de série |
Peso | 1.440 kg |
Capacidade do porta-malas | 780 litros com a terceira fileira rebatida |
Tanque de combustível | 56 litros |
Lançamento no Brasil | 2018 |
Produção | Sochaux, França |
Preço | R$ 157.490 na versão Griffe e R$ 166.490 na Griffe Pack |
Autor: Eduardo Rocha (Auto Press)
Fotos: Eduardo Rocha/CZN