Buscar melhorias na eficiência energética de suas frotas virou obrigação para todas as fabricantes automotivas. Se antes as discussões pairavam principalmente pela legislação ambiental mais severa, hoje, no Brasil, o papo começa a ser outro: em tempos de crise, ninguém quer empobrecer demais nas paradas pelos postos de combustíveis. A Renault tratou de melhorar a economia do Logan adotando o novo motor 1.6 SCe em suas configurações mais caras, inserindo uma dose a mais de vigor aliada ao consumo reduzido. De quebra, acentuou a competitividade do sedã compacto, que sempre apresentou uma boa relação custo/benefício frente aos seus concorrentes. Principalmente na variante com etiqueta de preço mais alta, a Dynamique.
O propulsor novo rende 118 cv e 16 kgfm de torque, um ganho considerável em comparação com o 1.6 anterior, de 106 cv e 15,5 kgfm máximos com etanol – na gasolina, eram 98 cv e 14,5 kgfm. O propulsor já está na gama do utilitário esportivo Duster e da picape Oroch e equipará também versões do Kwid, o SUV compacto global que será lançado pela marca neste mês de maio.
A sigla SCe significa "smart control efficiency" – ou controle inteligente de eficiência. Desenvolvido pela Renault Tecnologia Américas (RTA), o propulsor é fabricado no Paraná e feito em alumínio, garantindo 30 kg a menos que o anterior. Traz duplo comando de válvulas variável na admissão e injetores posicionados no cabeçote. A redução do consumo é beneficiada ainda pelo sistema ESM (Energy Smart Management), de regeneração de energia. Durante a desaceleração do carro, quando o motorista retira o pé do acelerador, o motor continua girando sem consumir combustível. O alternador automaticamente passa a recuperar energia e enviá-la à bateria, que ganha carga sem consumo de combustível. Assim, durante a aceleração, o alternador não precisa “roubar” energia do motor para enviar à bateria, já que houve a carga na desaceleração. Além disso, a bomba de óleo com vazão variável ajusta automaticamente o fluxo de óleo enviado de acordo com a rotação e a carga do motor. E o motor traz ainda sistema Start&Stopt, que desliga o propulsor automaticamente nas paradas – o que a marca promete garantir economia de até 5%.
A boa relação de custo/benefício do Logan Dynamique se dá principalmente sem qualquer pacote opcional. Com o uso cada vez mais funcional dos smartphones, centrais multimídias nem sempre são uma prioridade para quem busca alguma economia na compra de um carro zero. O sistema de som é simples, mas tem o básico dos tempos modernos: bluetooth e entrada USB. Falta um sensor de estacionamento – que só vem de fábrica junto com o sistema com tela touch MediaNav, não disponível na unidade testada. Mas esse é um item facilmente instalado nas concessionárias – em tempos de vendas baixas, qualquer possibilidade de lucro agrada os revendedores. Se bem que a Renault não tem do que reclamar: mesmo com a crise forte que assola o setor automotivo, o sedã se mantém com boas 1.603 unidades mensais nesse primeiro trimestre de 2017. São 14 a mais que as 1.591 registradas no mesmo período do ano passado.
Ponto a ponto
Desempenho – O propulsor 1.6 SCe deu um vigor extra ao sedã. Seus 118 cv de potência e 16 kgfm são mais que suficientes para entregar boa desenvoltura na cidade, com arrancadas e retomadas instigantes para a categoria em que atua. Na estrada, as ultrapassagens são feitas com ainda mais segurança. Não há sensação de falta de força e, apesar de não haver uma proposta esportiva no modelo, ele é capaz de instigar o motorista. Nota 8.
Estabilidade – O Logan Dynamique sempre teve um rodar firme e bem equilibrado – favorecido pela presença da barra estabilizadora na suspensão dianteira. Em alta velocidade e trajetos de curvas mais fechadas, a aderência do modelo ao solo se mostra correta, com rolagens de carroceria praticamente imperceptíveis. A direção é a típica da Renault, precisa e, apesar de eletro-hidráulica, um pouco mais endurecida que os concorrentes. Nota 8.
Interatividade – A versão Dynamique é a mais equipada do três volumes, com muitos comandos espalhados pela cabine. Mas decepciona a falta de sensores de estacionamento traseiros e da central multimídia com GPS MediaNav de série, por se tratar de uma configuração de topo quase na casa dos R$ 60 mil. Em compensação, limitador de velocidade e controle de velocidade de cruzeiro estão ali para ajudar os condutores com alguma dificuldade em controlar o pé direito pesado nas estradas. Nota 7.
Consumo – O Renault Logan 1.6 SCe participa do Programa de Etiquetagem do InMetro e obteve nota A no geral e na categoria. Conseguiu as marcas de 8,8/9,5 km/l com etanol na cidade/estrada e 13,0/13,8 km/l com gasolina nas mesmas condições. A presença de uma sexta marcha – o câmbio tem apenas cinco velocidades – poderia ajudar a melhorar ainda mais sua eficiência energética, já favorecida pelo sistema start/stop. Nota 9.
Conforto – O principal trunfo do Logan entre os sedãs compactos é o se espaço interno farto. Seus 2,64 metros de entre-eixos estão pouco abaixo de alguns três volumes médios. Com isso, transportar cinco adultos é fácil. A suspensão é bem calibrada para as maltratadas ruas do Brasil e ameniza os impactos sofridos pelos passageiros. Os bancos também têm boa densidade e recebem bem seus ocupantes. Nota 8.
Tecnologia – A profunda reestilização realizada em 2013 até chegou às bases do sedã. A Renault afirma que a plataforma traz 72% de novos componentes. Mas é uma arquitetura que já existe há 10 anos. O motor da versão Dynamique, no entanto, é novo e traz 12 cv a mais que o 1.6 8v que equipava a configuração antes. A lista de equipamentos é boa, mas sistema multimídia é pago à parte. Nota 7.
Habitabilidade – É fácil entrar e sair do Logan e, uma vez lá dentro, há bons espaços para guardar objetos. O porta-malas é um dos pontos fortes nesse quesito: são 510 litros de capacidade, ou seja, mais que suficiente para uma viagem em família ou compras de mês no supermercado. Nota 9.
Acabamento – A Renault é bem racional nesse quesito e destoa das outras marcas francesas que atuam no Brasil. Os materiais aparentam boa qualidade, mas não há qualquer charme ou requinte. Muitos plásticos rígidos estão espalhados em meio a um ou outro detalhe em tom prateado ou preto brilhante. Nota 5.
Design – O desenho do Logan só transmite alguma modernidade porque é logo comparado ao visual rústico e “quadradão” que marcou o modelo desde seu lançamento no Brasil, em 2007, até 2013. A verdade é que não há grandes ousadias. A configuração Dynamique traz apliques cromados no para-choque dianteiro, mas não impõe qualquer charme – apesar de ser uma versão de topo. Até as rodas de liga leve são pouco atraentes. Nota 6.
Custo/benefício – A Renault sempre apostou em preços competitivos. Na variante Dynamique, o Logan parte de R$ 57.300, um valor que o coloca em vantagem em relação à concorrência –ao se considerar a boa lista de equipamentos. Para quem não faz questão de uma central multimídia e busca uma equação – na medida do possível – mais racional, pode ser uma boa opção. Nota 7.
Total – O Renault Logan Dynamique 1.6 SCe somou 74 pontos em 100 possíveis.
Impressões ao dirigir
Força compacta
À primeira vista, o Logan Dynamique não se destaca na multidão. Ainda mais em um tom de carroceria discreto como o branco sólido da unidade avaliada. Mas basta alguns minutos de contato com o carro para perceber algumas vantagens pontuais que o sedã tem diante de alguns concorrentes. Se o exterior pouco ousado não impressiona, o mesmo não se pode dizer do farto espaço interno. Exceto pela presença de materiais simples – mas de qualidade aparente – e a falta de qualquer requinte no habitáculo, pode-se até pensar se tratar de um sedã médio. Motorista e carona não precisam se espremer para garantir boa área para as pernas dos passageiros de trás e até os mais altos se acomodam bem em qualquer assento do modelo.
O sistema de som de série é simples, mas funcional. Traz rádio, CD player, entrada auxiliar e USB e conexão Bluetooth com uma qualidade boa para ligações sem o uso das mãos. Os controles de áudio atrás do volante não trazem bom visual, mas se mostram até práticos por manter os botões na mesma posição independentemente de como a direção está – é possível regular o som facilmente em uma curva, por exemplo. OS comandos estão todos bem posicionados – os vidros elétricos traseiros são acionados pelos ocupantes da frente na parte central do console, o que pode criar algum desconforto nas primeiras utilizações, o que é facilmente contornado pela força do hábito.
A linha 2017 trouxe um atrativo extra ao Logan Dynamique: o motor 1.6 SCe, que adicionou 12 cv máximos com etanol no tanque e 17 cv com gasolina, além de 0,5 kgfm e 1,5 kgfm de torque, com os mesmos combustíveis. Em movimento, a diferença é visível. O carro ganhou um vigor novo, com saídas de sinal, retomadas e ultrapassagens eficientes e sem qualquer sinal de falta de força. A transmissão tem bons engates, mas peca por ter apenas cinco marchas. Uma sexta velocidade poderia melhorar ainda mais os bons índices de consumo, capazes de render ao modelo nota A tanto na classificação geral quanto em sua categoria, nos testes do InMetro.
A suspensão é firme o suficiente para manter bom equilíbrio em curvas em alta velocidade, mas também ameniza o impacto dos desníveis das ruas nacionais. Para viagens longas, trunfos como controle de velocidade de cruzeiro e limitador de velocidade se destacam. Outro ponto positivo nessas ocasiões é o porta-malas de 510 litros. A capacidade de carga surpreende pelo tamanho do modelo. O Logan é mesmo o tipo de carro que parece pequeno por fora, mas surpreende por dentro.
Ficha técnica
Renault Logan Dynamique
Motor | A gasolina e etanol, dianteiro, transversal, 1.597 cm³, com quatro cilindros em linha, quatro válvulas por cilindro e comando simples no cabeçote. Acelerador eletrônico e injeção eletrônica multiponto sequencial |
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Transmissão | Câmbio manual de cinco marchas à frente e uma a ré. Tração dianteira. Não oferece controle eletrônico de tração |
Potência máxima | 115 cv com gasolina e 118 cv com etanol a 5.500 rpm |
Torque máximo | 16 kgfm com gasolina ou etanol a 4 mil rpm |
Suspensão | Dianteira do tipo MacPherson, com triângulos inferiores, amortecedores hidráulicos telescópicos com molas helicoidais e barra estabilizadora. Traseira semi-independentes, molas helicoidais e amortecedores hidráulicos telescópicos verticais com barra estabilizadora. Não oferece controle de estabilidade |
Pneus | 185/65 R15 |
Freios | Dianteiros com discos sólidos de 259 mm de diâmetro. Traseiros com tambores de 178 mm de diâmetro com direção mecânica |
Carroceria | Sedã em monobloco com quatro portas e cinco lugares. Com 4,35 metros de comprimento, 1,73 m de largura, 1,53 m de altura e 2,64 m de distância entre-eixos. Oferece airbags frontais |
Peso | 1.062 kg, em ordem de marcha |
Capacidade do porta-malas | 510 litros |
Tanque de combustível | 50 litros |
Produção | São José dos Pinhais, no Paraná |
Itens de série | Bancos com tecnologia CCT, rodas 15 polegadas em liga leve, faróis de neblina, vidros elétricos traseiros, piloto automático, limitador de velocidade, indicador de troca de marcha, sistema start/stop, comando elétrico dos retrovisores, banco rebatível 1/3 e 2/3, volante revestido em couro, airbag duplo, freios ABS com EBD, brake light, aberturas internas do porta-malas e reservatório de combustível, ar-condicionado, direção hidráulica, rádio CD/MP3/USB/Bluetooth, travas elétricas das portas, computador de bordo e desembaçador traseiro |
Preço | R$ 57.300 |
Autor: Márcio Maio (Auto Press)
Fotos: Jorge Rodrigues Jorge/CZN