Entre as picapes compactas, a Fiat Strada sobra. Tem mais da metade das vendas no mercado brasileiro. Atrás dela vem a Volkswagen Saveiro, com cerca de 29% de “share”. O que, em números absolutos, não é nada desprezível. E enquanto a Fiat vende a ideia de versatilidade e economia, a estratégia da marca alemã sempre foi “contaminar” a linha de picapes compactas com a imagem de robustez que o Gol tem – e que lhe vale a liderança entre os hatches compactos. E a Saveiro Cross, criada em 2010 para tentar invadir a fatia de mercado criada pela Strada Adventure, é a versão que melhor expressa essa tática.
Em abril desse ano, a linha de picapes da Volkswagen foi renovada. As mudanças não alteraram o desenho do mercado, mas ampliaram a identidade entre a Saveiro e o Gol atual, apresentado em 2012. Na versão Cross, o visual alinhado ao design global da marca parece ainda mais vigoroso, com o para-choque mais encorpado e o aplique plástico metalizado na parte inferior, similar ao do Gol Rallye. As coberturas das caixas de rodas dianteiras também são em plástico, mas em um preto fosco texturizado. Já o nome “Cross”, agora está localizado sobre a nova grade do tipo colmeia com acabamento em preto brilhante e friso cromado. Mas o que chama bastante atenção na dianteira da picape são os enormes faróis de neblina, que ainda são envoltos em um anel cromado – como a capa dos retrovisores. Na traseira, a novidade é o sistema de amortecimento na tampa da caçamba, que ainda traz um adesivo preto com o nome da versão aventureira. O santantônio, que também tem função de aerofólio, possui braços laterais que se prolongam sobre as laterais da caçamba. Para amenizar as características “lameiras”, os pneus são de uso misto.
Sob o capô, um velho conhecido: o motor EA-111 de 1.6 litro – só de Brasil, ele tem 15 anos. O propulsor, que também equipa Gol e Voyage, é bicombustível e desenvolve 104 cv e 15,6 kgfm de torque quando abastecido com etanol e 101 cv e 15,2 kgfm com gasolina. A transmissão é sempre manual de cinco relações e não há a opção do câmbio automatizado. A Saveiro Cross também traz a “nova” arquitetura eletrônica que equipa outros modelos no portfólio da Volkswagen e possibilitou a adição de dispositivos e funções de conveniência e segurança. Um deles é o “Emergency Stop Signal” que, em freadas bruscas, aciona automaticamente as luzes de freios de forma intermitente, alertando os motoristas que vêm atrás. Outra é o Eco Comfort, que dá ordens ao condutor, com mensagens do tipo “ar-condicionado ligado: fechar as janelas” ou “não acionar o pedal do acelerador na partida do motor”.
Na tabela de preços, pode estar um dos motivos para a Saveiro não decolar nas vendas. Atualmente, ela parte de R$ 49.640 – com cores sólidas. A comparação com sua eterna rival Fiat Strada – que acaba de ser remodelada – na versão Adventure de cabine estendida mostra que a picape da marca italiana tem valor bem próximo. Sai por R$ 49.480, mas vem com motor 1.8 litro de 130 cv com gasolina e 132 cv de etanol e já tem computador de bordo.
Para tentar justificar a etiqueta, a Volkswagen incrementou a picape com alguns equipamentos de série, com destaque para o rack no teto, grade na janela traseira, faróis com máscara negra e luzes de neblina, freios ABS com EBD, rodas de liga leve de 15 polegadas e sensor de estacionamento. Este último, tem ligação direta com o rádio do veículo que, por meio de uma “barrinha” e alertas sonoros, indica a aproximação de obstáculos. O sistema de som traz rádio AM/FM e CD/MP3, com entrada auxiliar, USB e interface para iPod na parte frontal. Ainda há dois opcionais. O primeiro custa R$ 302 e envolve o tipo de estofamento dos bancos. Por mais R$ 1.365, o I-Trend traz computador de bordo e o som com comandos no volante.
Impressões ao dirigir
Com seu aspecto externo estiloso e aventureiro, versão Cross da Saveiro é um modelo de lazer, bem distante da proposta de veículo de trabalho que normalmente se aplica às picapes compactas. O interior preserva o aspecto “vintage” do Gol e o painel incorpora o local onde são exibidas as mensagens do Eco Comfort. Já presente nos outros compactos da Volkswagen, o dispositivo oferece dicas didáticas e professorais sobre como economizar combustível. Depois de um certo tempo, o motorista aprende a ignorá-lo. Ou, melhor, pode desabilitar as mensagens.
Dinamicamente, a Saveiro pouco se diferencia dos carros de passeio compactos da marca. O câmbio é o mesmo de cinco marchas, com boa relação e engates quase sempre precisos. O ajuste da suspensão é correto e a picape se comporta bem nas curvas, quando elas são feitas em velocidades baixas e médias. Nas manobras sinuosas realizadas de forma mais brusca, a falta de peso sobre o eixo traseiro se faz sentir. Com a caçamba vazia, melhor mesmo é reduzir a velocidade antes de entrar nas curvas, para manter o veículo sob controle e sem sustos.
Até os 140 km/h, a picape compacta da Volks até se comporta bem nas retas, apesar do nível de ruído um tanto excessivo que invade o habitáculo. Se o motorista insistir e a reta for mesmo grande, o carro atinge os 170 km/h. Porém, acima dos 140 km/h, começa a apresentar sinais de flutuação que não recomendam que se exija tanto do veículo. Com a caçamba cheia, a nova Saveiro naturalmente se mostra bem mais estável e assentada na pista. Em trechos de off-road leve, a picape cumpre aquilo a que se propõe. Ou seja, ultrapassa poças comedidas, pedregulhos e pequenos buracos com bravura e sem acusar o golpe. Apenas o nível de ruído na cabine se eleva consideravelmente. Se a demanda por capacidade lameira vai além disso, talvez seja o caso de partir para uma picape média.
Ficha técnica
Volkswagen Saveiro Cross 1.6 CE
Motor | A gasolina e etanol, dianteiro, transversal, 1.598 cm³, quatro cilindros em linha, duas válvulas por cilindro e comando simples de válvulas no cabeçote. Injeção eletrônica multiponto sequencial e acelerador eletrônico |
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Transmissão | Câmbio manual de cinco marchas à frente e uma a ré. Tração dianteira. Não oferece controle eletrônico de tração |
Potência máxima | 101 cv com gasolina e 104 cv com etanol a 5.250 rpm |
Torque máximo | 15,4 kgfm com gasolina e 15,6 kgfm com etanol a 2.500 rpm |
Diâmetro e curso | 76,5 mm x 86,9 mm. Taxa de compressão: 12,1:1 |
Suspensão | Dianteira independente do tipo McPherson com mola helicoidal e barra estabilizadora de 20 mm. Traseira interdependente com braço longitudinal e mola helicoidal. Não oferece controle de estabilidade |
Pneus | 205/60 R15 |
Freios | Discos ventilados na frente e tambor atrás. Oferece ABS de série |
Carroceria | Picape em monobloco com cabine, duas portas e dois lugares. Com 4,52 metros de comprimento, 1,73 m de largura, 1,51 m de altura e 2,75 m de distância entre-eixos |
Peso | 1.120 kg |
Capacidade da caçamba | 734 litros |
Tanque de combustível | 55 litros |
Produção | São Bernardo do Campo, São Paulo |
Lançamento | 2010 |
Reestilização | 2013 |
Itens de série | direção hidráulica, airbag duplo, ABS, rodas de liga leve de 15 polegadas, rack no teto, grade na janela traseira e faróis duplos com máscara negra, ar-condicionado, detalhes estéticos off-road, sensor de estacionamento traseiro, faróis de neblina, capota marítima, retrovisores elétricos, pedais de alumínio e coluna de direção com ajuste de altura e profundidade |
Preço | R$ 49.640 |
Opcionais | revestimento dos bancos em Native e sistema I-Trend com computador de bordo e comandos do som no volante |
Preço completo | R$ 51.307 |
Autores: Raphael Panaro e Luiz Humberto Monteiro Pereira (Auto Press)
Fotos: Pedro Paulo Figueiredo/Carta Z Notícias