A Ford passou muitos anos na liderança entre os utilitários esportivos compactos nacionais com seu EcoSport. Quando teve sua segunda geração lançada, em 2012, seu único rival direto era o Renault Duster, o que colocava o modelo da marca norte-americana em posição bem mais confortável que a que se instaurou nos últimos anos. Com a proliferação de utilitários esportivos de tamanho semelhante no mercado nacional – a maioria deles é de projetos novos e com bom recheio tecnológico –, restou à Ford reestilizar o modelo, mas com mudanças maiores em seu conteúdo que no visual. E que colocaram a versão Freestyle 1.5 com câmbio automático pronta para rivalizar com os principais concorrentes em suas variantes intermediárias, em função da boa disposição do novo motor e da lista extensa de itens de série com preço competitivo no segmento.
A principal alteração está no trem de força, que ganhou novos motor e transmissão. O propulsor é um 1.5 litro de três cilindros com potência de 130/137 cv, com gasolina/etanol, e torque máximo de 15,6/16,2 kgfm, com os mesmos combustíveis, disponível em 4.500 giros. Já o câmbio deixou de ser automatizado de dupla embreagem para entrar em cena um automático de seis velocidades com conversor de torque.
A estrutura do SUV também sofreu modificações. Segundo a marca, a rigidez torcional subiu 5%, em função da adoção de aços especiais em pontos estratégicos, como a coluna central. Por conta do novo motor, a estrutura dianteira foi modificada e a Ford passou a utilizar um sistema de gabarito laser aplicado durante o processo de solda robotizada — até hoje só usado na construção do Mustang. O isolamento acústico também evoluiu, a partir de para-brisa acústico, manta de isolamento sob o capô e materiais fonoabsorventes mais eficientes, caso dos painéis sob os para-choques e à frente da suspensão traseira, para minimizar ruídos aerodinâmicos. A suspensão ganhou um curso 17 mm maior na dianteira e ficou mais rígida na traseira, com molas progressivas e buchas redimensionadas.
Entre os itens de série que destacam a versão intermediária Freestyle da configuração de entrada SE – a topo da gama é a Titanium –, as principais diferenças estão no ar-condicionado automático e digital, bancos com revestimento parcial em couro, rodas de liga leve de 16 polegadas – são de 15 no EcoSport mais barato – e o sistema multimídia com tela touch e compatibilidade com Apple CarPlay e Android Auto passa das 6,5 para 8 polegadas e ganha GPS e internet via wi-fi, além de transmitir imagens da câmara de ré, que vem de fábrica. Os faróis trazem ainda luzes diurnas em leds. A tela, na verdade, se assemelha ao desenho de um tablet e está mais alta em relação ao campo de visão do motorista.
Visualmente, a frente ganha uma grade maior e mais alta, assim como um para-choque esculpido e conjunto ótico renovado. Atrás, o para-choque está mais proeminente e próximo à linha externa do estepe. Por dentro, quase tudo passou por alterações. Bancos, painel, volante e console são novos, assim como o painel de informações, que tem agora uma pequena tela em TFT entre o velocímetro e o conta-giros.
Ponto a ponto
Desempenho – O novo motor 1.5 litro de três cilindros move com eficiência o EcoSport Freestyle. Seus 130/137 cv, com gasolina/etanol, são mais que suficientes para garantir vigor em trajeto rodoviário e o torque de 15,6/16,2 kgfm com os mesmos combustíveis, apesar de só aparecer mesmo em 4.500 rpm, dá boa agilidade ao SUV compacto nos trechos urbanos e também em retomadas e ultrapassagens. Principalmente quando se adota a posição “S” do câmbio automático de seis velocidades, que eleva os giros do propulsor. Nota 8.
Estabilidade – O EcoSport se mostra bem neutro nas curvas, mas isso já acontecia antes da reestilização promovida. As rolagens de carroceria são praticamente imperceptíveis. Ajuda o fato de não se tratar de um utilitário esportivo muito alto – são 1,67 metro. A direção mantém boa firmeza em velocidades altas e dispositivos de segurança, como controles eletrônicos de tração e estabilidade, estão no pacote da versão testada. Nota 8.
Interatividade – A direção elétrica é muito leve em manobras de estacionamento e o ar-condicionado é digital e automático. Há sensor de monitoramento de pressão dos pneus e o quadro de instrumentos, apesar de simples, é funcional e objetivo. O sistema de entretenimento se destaca na questão da conectividade, com CarPlay e Android Auto, além de GPS, controles de som no volante e tela de oito polegadas. Trocas manuais de marcha podem ser feitas por aletas atrás do volante e o controle de velocidade de cruzeiro facilita a vida do motorista. Nota 8.
Consumo – O InMetro avaliou o Ford EcoSport 1.5 automático e aferiu médias de 7,1/8,9 km/l com etanol na cidade/estrada e 10,4/12,8 km/l com gasolina, nas mesmas condições. O resultado rendeu nota A na categoria e B na geral, com 1,93 MJ/km de consumo energético. Nota 8.
Conforto – A suspensão do EcoSport privilegia a estabilidade, mas não chega a comprometer tanto o conforto dos passageiros. A maioria dos desníveis das ruas brasileiras é absorvida com eficiência. O espaço interno é condizente com o segmento de SUVs compactos e os bancos recebem muito bem seus ocupantes. Nota 7.
Tecnologia – A plataforma do EcoSport é derivada da que é utilizada no Fiesta. Mesmo com as adaptações para um modelo maior, mantém a boa rigidez. O motor é novo, alinhado à proposta de downsizing, com apenas três cilindros. A transmissão é automática – a automatizada de dupla embreagem, utilizada anteriormente, saiu de cena no EcoSport – e a lista de equipamentos inclui um sistema multimídia bem completo – até acessa internet via wi-fi – e controles eletrônicos de estabilidade e tração, além de sistema anticapotamento. Nota 8.
Habitabilidade – Os utilitários esportivos compactos costumam ser mais altos e indicados para uso familiar, ou seja, já é de se esperar que entrar e sair do veículo seja mais fácil que em um hatch ou sedã e que o espaço interno seja apropriado para levar pelo menos quatro ocupantes sem apertos. O porta-malas, no entanto, decepciona um pouco. Apesar de o estepe ficar do lado de fora, dentro do compartimento só cabem 362 litros. Ou seja, é pouco mais que o que se carrega em um hatch compacto. No interior, há um total de 20 nichos, incluindo porta-copos, porta-garrafas, bolsa nas costas do encosto, etc. Nota 7.
Acabamento – Bancos, painel, volante e console foram totalmente reformulados e o tablier ganhou uma cobertura suave ao toque. Há muitos plásticos rígidos espalhados pelo interior ainda, mas todos de qualidade aparentemente superior. Não há luxos, mas não decepciona. Nota 7.
Design – Antes dessa proliferação de SUVs compacto, a nova geração do EcoSport já veio com um visual moderno e limpo em 2012. Agora, as mudanças são sutis, até porque o desenho não é um grande problema para o utilitário. A grade cresceu e está mais alta, o para-choque foi mexido e o conjunto ótico dianteiro, redesenhado. Na traseira, o para-choque está mais proeminente e próximo à linha externa do estepe. O fato do estepe ficar exposto é esteticamente controverso – há quem goste e há quem ache horrível –, além de ser um atrativo para os ladrões. Nota 8.
Custo/benefício – O EcoSport Freestyle 1.5 AT é vendido por R$ R$ 86.490, mas traz motor renovado e econômico, boa transmissão e lista de itens de série interessante tanto no que diz respeito à tecnologia quanto segurança. Na categoria em que atua, não faltam concorrentes nesta faixa de potência e com equipamentos semelhantes. A Ford tem a seu favor a tradição do modelo no segmento, tendo sido o líder de vendas nele durante anos no Brasil. Para tudo que oferece e pelo fato de ter sido reestilizado há apenas dois meses, se mostra uma opção interessante. Mas há um porém: adicionando apenas cerca de 10% a mais nessa conta, leva-se para a garagem um EcoSport Titanium, o topo da gama, com motor 2.0 de 176 cv, chave presencial, sistema de monitoramento de ponto cego com alerta de tráfego cruzado, teto solar elétrico e rodas de liga leve de 17 polegadas – as do Freestyle têm 16 polegadas. Um acréscimo pequeno perto das diferenças entre as configurações. Nota 7.
Total – O Ford EcoSport Freestyle 1.5 AT somou 76 pontos em 100 possíveis.
Impressões ao dirigir
Além das aparências
Exceto pela cor azul chamativa da unidade testada, o Ford EcoSport Freestyle não mudou muito externamente, a ponto de destoar tanto da linha que era vendida até julho último. Por dentro, no entanto, parece outro carro. Alterações que afetam diretamente a relação entre o SUV e seu condutor. Desde o motor aos comandos, praticamente tudo evoluiu. A começar pelo sistema multimídia, que antes era um tanto ultrapassado e limitado.
A central de entretenimento tem tela colorida de oito polegadas, GPS, Android Auto e Apple CarPlay. É capaz, inclusive, de acessar a internet via wi-fi. A resolução é boa, o que melhora inclusive as manobras traseiras, em função da câmara de ré, de série na configuração. A ergonomia também melhorou, com bancos e volante mais agradáveis. Todos os comandos são acessados facilmente e bastam alguns minutos para se familiarizar com suas funcionalidades.
O novo motor 1.5 de três cilindros e 137 cv máximos de potência é extremamente silencioso. Seu entrosamento com o câmbio de seis velocidades é bom, mas há aletas atrás do volante para trocas manuais – indicadas principalmente em momentos reduções de marchas para ultrapassagens e retomadas. E mesmo em velocidades superiores o SUV se mantém em equilíbrio. As rolagens de carroceria são tão sutis que nem parecem existir.
Ficha técnica
Ford EcoSport Freestyle 1.5 Automático
Motor | Gasolina e etanol, dianteiro, transversal, 1.497 cm³, três cilindros em linha, comando simples no cabeçote com tempo de abertura de válvulas variável. Injeção e acelerador eletrônicos |
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Transmissão | Câmbio automático de seis marchas à frente e uma a ré com tração dianteira. Oferece controle eletrônico de tração |
Potência máxima | 130/137 cv com gasolina e etanol a 4.500 rpm |
Torque máximo | 15,6/16,2 kgfm a 4.500 rpm |
Diâmetro e curso | 84 mm X 90 mm. |
Taxa de compressão | 12,0:1 |
Suspensão | Dianteira independente do tipo McPherson, com braços inferiores, barra estabilizadora e molas com compensação de carga lateral. Traseira semi-independente com eixo de torção, amortecedores hidráulicos pressurizados com molas helicoidais. Oferece controle eletrônico de estabilidade e sistema anticapotamento |
Pneus | 205/60 R16 |
Freios | Discos ventilados na frente, tambores atrás e ABS de série com assistente de partida em rampa |
Carroceria | Utilitário esportivo em monobloco com quatro portas e cinco lugares. Com 4,23 metros de comprimento, 1,76 m de largura, 1,67 m de altura e 2,52 m de distância entre-eixos. Airbags frontais, laterais, de cortina e de joelhos para motorista de série |
Peso | 1.272 kg |
Capacidade do porta-malas | 362 litros |
Tanque de combustível | 52 litros |
Produção | Camaçari, Bahia |
Itens de série | Paddle shifts nos volantes para trocas manuais de marchas, piloto automático, central multimídia com tela de 8 polegadas com Bluetooth, duas entradas USB, GPS, câmara de ré, Apple CarPlay e Android Auto, controles de áudio no volante, painel de instrumentos com tela de 4,2 polegadas e colorida, sete airbags, sensor de monitoramento de pressão dos pneus, luzes diurnas em leds, sistema anticapotamento, controles eletrônicos de estabilidade e tração, assistente de partida em rampas, direção elétrica, ar-condicionado automático e digital, retrovisores externos com luzes de setas integradas, vidros elétricos, volante revestido em couro, bancos em couro e tecido e rodas de liga leve de 16 polegadas. |
Preços | R$ 86.490 |
Autor: Márcio Maio (Auto Press)
Fotos: Isabel Almeida/CZN