A Ford foi a primeira fabricante do mundo a apostar nos molde atuais de utilitários esportivos compactos, ao construir no Brasil o EcoSport sobre a plataforma do Fiesta. Já na segunda geração do modelo, lançada em 2012, a marca deixava de lado o visual quadradão e bruto para valorizar os aspectos mais urbanos, com linhas modernas e elegantes. A concorrência, porém, veio atrás. E passou a incomodar cada vez mais a Ford, que se viu obrigada a mexer no EcoSport pela segunda vez nesta geração em julho último, promovendo uma grande reestilização. Nem tanto de visual, mas sim de conteúdo. E foi para a versão de topo Titanium que a marca reservou suas principais novidades.
O carro sofreu algumas alterações externas, mas teve o interior profundamente mexido. Recebeu ainda uma nova plataforma eletrônica, com melhorias na segurança, no entretenimento e no conforto a bordo. Controle de estabilidade com novo sistema anticapotamento, monitoramento de pressão dos pneus e grade frontal com controle ativo estão entre as mudanças, além de um novo teto solar elétrico, faróis de xênon com luz diurna de leds e acendimento automático, alerta de ponto cego, detector de tráfego perpendicular, computador de bordo com tela de 4,2" colorida no painel, câmara de ré, porta-malas com sistema inteligente de bagagem, sensor de chuva e som premium da Sony com nove alto-falantes.
Uma das principais melhorias está na central multimídia, que passou a ser a terceira geração do sistema Sync. Com tela capacitiva colorida de oito polegadas, o aparelho traz GPS, Android Auto e Apple Car Play, conexão à internet via wi-fi e comandos por voz. A chave presencial permite acionar a ignição e travar e destravar o carro. Bancos são totalmente em couro, em um tom bege que também aparece nos revestimentos das portas e na parte inferior do painel.
Outra grande diferença do EcoSport Titanium fica guardada sob o capô. O motor 2.0 litros com injeção direta herdado do sedã e do hatch Focus entrega 176 cv de potência e 22,5 kgfm. O câmbio também é outro: o automatizado de dupla embreagem e seis velocidades deixou de ser utilizado no SUV compacto, que agora recebe transmissão automática de seis marchas. Um ponto que chama a atenção de quem busca as configurações de topo do segmento, já que o trem de força é o mais potente entre os rivais diretos. O preço é mais um destaque, já que o EcoSport Titanium é vendido por R$ 95.890, menos que as configurações mais caras dos principais concorrentes.
Ponto a ponto
Desempenho – O motor 2.0 que equipa a versão Titanium do EcoSport entrega 170/176 cv com gasolina/etanol no tanque, o que resulta em uma relação peso/potência de 7,7 kg/cv. Parecem dados dignos de um desempenho empolgante, mas o torque máximo de 22,5 kgfm com etanol só aparece em 4.500 giros. O modelo se mostra ágil, é verdade. Mas, na prática, não chega a ser tão instigante quanto os números de sua ficha técnica fazem supor. Nota 8.
Estabilidade – O EcoSport se mostra bem neutro nas curvas, com rolagens de carroceria praticamente imperceptíveis. Mesmo se tratando de um utilitário esportivo, o modelo não chega a ser tão alto assim: tem 1,67 metro. Isso certamente contribui para a sensação de segurança. A direção mantém boa firmeza em velocidades altas e é difícil ver o controle eletrônico de estabilidade em ação. Nota 8.
Interatividade – A variante de topo do EcoSport traz diversos recursos que facilitam a vida a bordo, tanto para o motorista quanto para os passageiros. Caso do sensor de ponto cego, do detector de tráfego perpendicular, do sistema keyless de chave presencial – que permite acionar a ignição e travar e destravar o carro a partir de botões – e do monitor do computador de bordo, que é de de 2,5 polegadas em outras configurações, mas vai a 4,2 polegadas na Titanium, além de ganhar cores. A direção elétrica é muito leve em manobras de estacionamento e o sistema de entretenimento se destaca na questão da conectividade, com CarPlay e Android Auto. O volante também traz aletas na parte de trás para trocas manuais de marcha. Nota 9.
Consumo – O InMetro avaliou o Ford EcoSport 2.0 Titanium e aferiu médias de 6,1/8,3 km/l com etanol na cidade/estrada e 8,8/12,0 km/l com gasolina, nas mesmas condições. O resultado rendeu nota B na categoria e C na geral, com 2,21 MJ/km de consumo energético. Ou seja, trata-se de um SUV um tanto beberrão para os padrões atuais. Nota 6.
Conforto – A suspensão do EcoSport privilegia a estabilidade, mas não chega a comprometer tanto o conforto dos passageiros. A maioria dos desníveis das ruas brasileiras é absorvida com eficiência. O espaço interno é condizente com o segmento de SUVs compactos e os bancos recebem muito bem seus ocupantes. Nota 8.
Tecnologia – A plataforma do EcoSport é derivada da que é utilizada no Fiesta. Mesmo com as adaptações para um modelo maior, mantém a boa rigidez. O motor foi herdado do Focus, enquanto a transmissão veio do sedã médio-grande Fusion. A lista de equipamentos é boa e recheada de recursos voltados para a segurança. Nota 8.
Habitabilidade – É fácil se acomodar no modelo, já que é um pouco mais alto que um hatch ou sedã, mas não o suficiente para atrapalhar pessoas com algum tipo de limitação motora. O porta-malas, no entanto, decepciona um pouco. Apesar de o estepe ficar do lado de fora, dentro do compartimento só cabem 356 litros – mas fica plano quando os bancos traseiros estão rebatidos. No interior, há bons nichos para guardar os objetos pessoais do condutor e o teto solar de série amplia a sensação de espaço no habitáculo. Nota 8.
Acabamento – Bancos, painel, volante e console foram totalmente reformulados e o tablier ganhou uma cobertura suave ao toque. O revestimento em couro mais claro é acompanhado pelo plástico rígido da parte inferior do console central e também pelo revestimento das portas. Não há luxos, mas não decepciona. Nota 7.
Design – Antes dessa proliferação de SUVs compacto, a nova geração do EcoSport já veio com um visual moderno e limpo em 2012. Agora, as mudanças são sutis, até porque o desenho não é um grande problema para o utilitário. A grade cresceu e está mais alta, o para-choque foi mexido e o conjunto ótico dianteiro, redesenhado. Na traseira, o para-choque está mais proeminente e próximo à linha externa do estepe. O fato do estepe ficar exposto é esteticamente controverso – há quem goste e há quem ache horrível –, além de ser um atrativo para os ladrões. Mas o fato é que se fosse deslocado para o compartimento de carga, acabaria com a capacidade do porta-malas. Nota 8.
Custo/benefício – A Ford vende o EcoSport Titanium 2.0 automático por R$ 95.890. Um Honda HR-V Touring parte de R$ 107.900, um Hyundai Creta Prestige 2.0 é vendido por R$ 100.990, um Jeep Renegade Limited 1.8 custa R$ 99.990, um Chevrolet Tracker Premier chega a R$ 99.990 completo e um Renault Captur Intense 2.0 automático completo é R$ 95.150. Exceto pelo Captur, o EcoSport é o mais barato na versão de topo e é também o que esbanja mais potência entre os concorrentes. Em termos de desempenho, no entanto, há opções mais interessantes. Nota 7.
Total – O Ford EcoSport Titanium 2.0 AT somou 77 pontos em 100 possíveis.
Impressões ao dirigir
Esteticamente, o Ford EcoSport mudou pouco com a reestilização aplicada em sua linha 2018. Está mais moderno, mas com alterações sutis e que serviram para aproximar o modelo ainda mais da nova assinatura visual da marca americana. Por dentro, no entanto, a história é outra. Tudo que foi mexido mudou a maneira como o motorista se relaciona com o carro. E para melhor. Principalmente na variante topo de linha Titanium.
De cara, o sistema multimídia já se destaca. Agora, ela tem tela colorida de oito polegadas, GPS, Android Auto e Apple CarPlay. É capaz, inclusive, de acessar a internet via wi-fi. A resolução é boa, o que melhora inclusive as manobras traseiras, em função da câmara de ré, de série na configuração. A ergonomia também melhorou, com bancos e volante mais agradáveis. Todos os comandos são acessados facilmente e bastam alguns minutos para se familiarizar com suas funcionalidades.
O motor 2.0 de 176 cv máximos de potência é bastante silencioso. E chama atenção seu bom entrosamento com a transmissão automática de seis velocidades, que deixou para trás e de vez a antiga automatizada da linha do EcoSport. Há aletas atrás do volante para trocas manuais, mas são poucas as vezes em que vale a pena interferir na “vontade” do trem de força. A estabilidade também chama atenção, já que o SUV compacto se mantém em equilíbrio mesmo quando se exige um pouco mais dele. Por outro lado, os números expressivos de sua ficha técnica não se traduzem necessariamente em um desempenho surpreendente. O zero a 100 km/h em 9,5 segundos até é interessante, mas não há o arroubo esportivo que se espera de um veículo com suas credenciais.
Ficha técnica
Ford EcoSport Titanium 2.0
| Motor | Gasolina e etanol, dianteiro, transversal, 1.999 cm³, quatro cilindros em linha, duplo comando no cabeçote, quatro válvulas por cilindro e comando variável de válvulas na admissão. Injeção direta de combustível e acelerador eletrônico |
|---|---|
| Transmissão | Câmbio automático de 6 marchas à frente e uma a ré. Tração dianteira. Oferece controle eletrônico de tração |
| Potência máxima | 170/176 cv com gasolina e etanol a 6.500 rpm |
| Torque máximo | 20,7/22,5 kgfm a 4.500 rpm |
| Diâmetro e curso | 87,5 mm X 83,1 mm com taxa de compressão de 12,0:1 |
| Suspensão | Dianteira independente do tipo McPherson, com braços inferiores, barra estabilizadora e molas com compensação de carga lateral. Traseira semi-independente com eixo de torção, amortecedores hidráulicos pressurizados com molas helicoidais. Oferece controle eletrônico de estabilidade e sistema anticapotamento |
| Pneus | 205/50 R17 |
| Freios | Discos ventilados na frente, tambores atrás e ABS de série com assistente de partida em rampa |
| Carroceria | Utilitário esportivo em monobloco com quatro portas e cinco lugares. Com 4,23 metros de comprimento, 1,76 m de largura, 1,67 m de altura e 2,52 m de distância entre-eixos. Airbags frontais, laterais, de cortina e de joelho para motorista |
| Peso | 1.359 kg |
| Capacidade do porta-malas | 356 litros |
| Tanque de combustível | 52 litros |
| Produção | Camaçari, Bahia |
| Itens de série | Paddle shifts, controle de velocidade de cruzeiro, central multimídia SYNC 3 com tela colorida de 8 polegadas, Bluetooth, duas entradas USB, GPS, câmara de ré, conectividade com CarPlay e Android Auto, controles de áudio no volante, assistência de emergência, som premium da Sony com nove alto-falantes, painel de instrumentos com tela de 4,2 polegadas colorida, acesso e partida sem chave, espelho interno eletrocrômico, sensor de chuva, sistema de monitoramento de ponto cego com alerta de tráfego cruzado, sensor de monitoramento de pressão dos pneus, luzes diurnas em leds, sistema anticapotamento, assistente de partida em rampas, direção elétrica, ar-condicionado automático e digital, retrovisores externos elétricos com pisca integrado, vidros elétricos dianteiros e traseiros, volante revestido em couro, bancos em couro, teto solar elétrico, faróis de xênon e rodas de liga leve de 17 polegadas. |
| Preço | R$ 95.890 |
Autor: Márcio Maio (Auto Press)
Fotos: Isabel Almeida/CZN