Não fosse a subida do dólar, a história seria outra. A princípio, a Ford pensou em lançar a versão turbo de seu propulsor 1.0 de três cilindros em um modelo intermediário do compacto Fiesta. O planejamento incluía trazer o motor produzido em Craiova, na Romênia, com o dólar a R$ 2,20. Com a moeda norte-americana em torno de R$ 3,40, o jeito foi mudar a abordagem. O Ecoboost chega como modelo mais caro da linha, apenas na versão Titanium e na carroceria hatch, a salgados R$ 71.990.

Ford Fiesta 1.0 Ecoboost

Para justificar a magnitude do valor, a fabricante tratou de rechear o pequeno hatch. O motor 1.0 turbo – de impressionantes 125 cv de potência e 17,3 kgfm de torque –, bebe exclusivamente gasolina e só chega com acompanhamento completo: câmbio automatizado sequencial de seis marchas, sete airbags, controle de estabilidade e tração, revestimento em couro, chave presencial, rodas de liga leve aro 16 e diversas outras bossas tecnológicas. Este conteúdo, a não ser pelo propulsor em si, é exatamente o mesmo da versão Titanium 1.6 16V flex, que tem 128 cv, 15,8 kgfm e custa R$ 70.690.

Ford Fiesta 1.0 Ecoboost

Com a chegada do Ecoboost, a linha Fiesta foi reorganizada. O motor 1.5 de 112 cv sai do line up – fica restrito ao Ka – e a versão básica S deixa de existir. O novo modelo de entrada, SE, e a intermediária, SEL, são animadas pelo mesmo Sigma 1.6 16V da Titanium. Já o conteúdo da SE é idêntico ao da antiga S, com ar, direção, vidros dianteiros, trava e espelhos elétricos e sistema de som com conectividade.  As diferenças ficam no motor e no preço, ambos maiores. A linha Fiesta parte agora de R$ 51.990, R$ 2 mil acima da S. A intermediária SEL traz o conteúdo idêntico da antiga SE, por um preço também maior: R$ 58.790 com câmbio manual e R$ 64.990 com automatizado – respectivamente R$ 1.100 e R$ 2.700 a mais.

Ford Fiesta 1.0 Ecoboost

Mas a nova estrela da companhia é mesmo o motor Ecoboost 1.0. Segundo a Ford, durante o desenvolvimento foram criadas cerca de 270 patentes. O propulsor de três cilindros e 12 válvulas tem bloco em ferro fundido e cabeçote e cárter em alumínio, comando com abertura variável na admissão e no escape, injeção direta de combustível, coletor de escape integrado ao bloco e turbo com intercooler que trabalha com até 1,5 bar de pressão. Entre as soluções inovadoras estão a bomba de óleo variável, que modula a pressão dos jatos de óleo que resfriam os pistões, e a correia dentada interna de material elastômero que resiste ao contato com óleo.

Ford Fiesta 1.0 Ecoboost

Os números extraídos desse propulsor mostram que os esforços da engenharia da Ford fizeram sentido. A aceleração de zero a 100 km/h do modelo é de 9,6 segundos, contra 12,1 s do motor 1.6 16V com o mesmo câmbio automatizado. O torque se mantém no ápice de 17,3 kgfm entre 1.400 e 4.500 giros. Na parte de consumo, o Fiesta 1.0 Ecoboost também se mostra superior ao Sigma 1.6 16V. Com gasolina, ele faz, segundo o InMetro, 12 e 15,3 km/l na cidade e na rodovia. Já o Sigma faz 11,3/14,9 km/l.

Ford Fiesta 1.0 Ecoboost

A Ford quer colocar esta nova versão para brigar no topo dos chamados hatches compactos premium, que são bem equipados e têm até algum luxo. Lá estão Peugeot 208, Citroën C3, Volkswagen Fox e Hyundai HB20, todos equipados com motor 1.6 16V. Mas há ainda a intenção de tirar proveito da queda de interesse pelos hatches médios. No caso, com a esperança de que o consumidor brasileiro amplie o conceito de downsizing adotado pelos novos motores também às dimensões do carro. O que fica difícil se o preço não adotar a mesma lógica.

Primeiras impressões

Mogi-Guaçu/SP – A singela plaqueta prateada com os dizeres “Ecoboost” no lado direito da tampa traseira é o único item que denuncia a apimentada motorização 1.0 turbo que se esconde sob o capô do Fiesta. O que parece, à primeira vista, um contrassenso. Afinal, os números de desempenho do carrinho aparentemente mereceriam um tratamento mais ostensivo. Ele é 2,5 segundos mais rápido que o motor 1.6 16V na aceleração de zero a 100 km/h e tem torque máximo 10% maior e pleno já a 1.400 rpm. Mas a Ford optou pela discrição esportiva. E fez bem. Nem só de motor se faz um “hot hatch”.

Ford Fiesta 1.0 Ecoboost

Para começar, o Fiesta tem um acerto na programação das marchas conservador demais. O escalonamento aberto, com queda de giros acentuada entre uma marcha e outra, não instiga uma tocada mais esportiva. Além disso, para recorrer às mudanças manuais do câmbio sequencial é preciso usar um desajeitado botão comutador na lateral da alavanca de câmbio. Mesmo no modo manual, o câmbio trata de passar a marcha à frente bem antes da faixa vermelha. E só aceita reduções quando está abaixo de 3.500 rpm.

Ford Fiesta 1.0 Ecoboost

Embora não explicite fúria ou agressividade, o motor Ecoboost anima o Fiesta com extrema facilidade. Na estrada, uma leve pressão no acelerador resulta no ganho imediato de velocidade. E sem qualquer alteração no comportamento dinâmico do carro. Em ambiente rodoviário, a suspensão é macia o suficiente para garantir o conforto interno e ainda assim não permite a rolagem nas curvas. Já no autódromo – uma parte do teste foi no Velo Cittá –, o excesso de curso dos amortecedores deixa o Fiesta molengo demais.

Ford Fiesta 1.0 Ecoboost

Embora haja um excesso de plástico rígido nos revestimentos, a preocupação da Ford foi, efetivamente, tornar o convívio com o carro o mais suave e agradável possível. Isso fica nítido pelo nível de equipamento e pelo habitáculo muito bem isolado acusticamente. No interior, o modelo até ganhou detalhes que evocam algum luxo, como bancos em couro, anéis cromados em torno dos instrumentos e acabamento em preto brilhante no console do ar-condicionado digital. De qualquer forma, não cairiam mal no Fiesta Ecoboost mais alguns “parangolés” brilhosos, que emprestassem mais requinte ao compacto. 

Ficha técnica

Ford Fiesta Titanium Ecoboost

MotorGasolina, dianteiro, transversal, 999 cm³, três cilindros, quatro válvulas por cilindro, comando duplo variável no cabeçote com turbo-compressor com intercooler. Injeção direta de combustível
Potência máxima125 cv a 6 mil rpm
Torque máximo17,3 kgfm entre 1.400 e 4.500 rpm
Aceleração zero a 100 km/h9,6 segundos
Velocidade máxima195 km/h
TransmissãoAutomatizado de dupla embreagem com seis marchas à frente e uma a ré. Tração dianteira. Controle eletrônico de tração. 
SuspensãoDianteira independente do tipo McPherson. Traseira com eixo de torção autoestabilizante. Controle eletrônico de estabilidade
CarroceriaHatch em monobloco com quatro portas e cinco lugares. Com 3,96 metros de comprimento, 1,97 m de largura, 1,46 m de altura e 2,48 m de distância entre-eixos. Airbags frontais, laterais, de cabeça e de joelho para o motorista. 
FreiosDiscos ventilados na frente e a tambor atrás com ABS e assistente de partida em rampa
Pneus195/50 R16
Capacidade porta-malas281 litros
Capacidade tanque de combustível51,9 litros
ProduçãoSão Bernardo do Campo/SP. 
Itens de sérieAbertura elétrica da tampa do combustível, acendimento automático das luzes de emergência após freada brusca, alarme antifurto, faróis de neblina, freios ABS com EBD, brake-light, retrovisores externos com ajuste elétrico e indicador de direção, vidros, travas e direção elétricos. Ajuste de altura e profundidade do volante, ar-condicionado automático e digital, banco traseiro rebatível 60/40, sistema multimídia Sync 3 com rádio AM e FM, CD player e MP3, entrada USB e auxiliar, Blueetooth, comando de voz com função de telefone, AppLink, tela LCD multifuncional no painel central de 3,5 polegadas, controles de áudio no volante, revestimento em couro, sensores de luz e chuva, sensor de obstáculos dianteiro e traseiro
PreçoR$ 71.990

Autor: Eduardo Rocha (Auto Press)
Fotos: Eduardo Rocha/Carta Z Notícias e divulgação