Quando apresentou no Brasil a versão híbrida da primeira geração do Fusion, no final de 2010, a Ford decidiu direcionar o produto para as chamadas “vendas corporativas” – frotistas, altos executivos, etc. Já na segunda geração da versão do sedã que combina uma motorização à gasolina e outra elétrica, o foco é outro. O consumidor final de classe alta, preferencialmente os “formadores de opinião”, são o alvo do novo modelo, que chega ao mercado nacional esse mês. Altos escalões do Governo Federal e de alguns governos estaduais já confirmaram interesse. A intenção é que a boa imagem proporcionada pelas modernas tecnologias ecológicas do novo híbrido “contaminem” o restante da linha e ajudem a embalar as vendas da marca por aqui.

Segundo dados do Inmetro, o estreante faz médias de 16,8 km/l na cidade e 16,9 km/l na estrada. O que, além da classificação “A” nos critérios de consumo da entidade, rendem ao Fusion Hybrid um belíssimo marketing: é o carro mais econômico do Brasil. Em tempos onde a sustentabilidade virou lugar-comum nos discursos das empresas do setor, poder exibir um desempenho desses em suas peças publicitárias é mesmo um achado.

Ford Fusion Hybrid

O novo sedã híbrido chega ao Brasil na configuração “top” Titanium com tração dianteira, por R$ 124.900. Longe de ser barato, o valor é competitivo em relação aos outros híbridos disponíveis no país – o Toyota Prius, bem mais despojado, sai por R$ 120.830, e o Lexus CF200h sai por R$ 149 mil. E também permite ao sedã “ecologicamente correto” da Ford tentar “beliscar” consumidores das versões mais básicas das marcas de luxo alemãs – Mercedes-Benz C180, Audi A4 e BMW 320 –, todos em faixa de preços similar.

O novo Fusion Hybrid completa a linha do sedã, junto com os modelos 2.0 EcoBoost e 2.5 Flex. O grande atrativo do modelo obviamente é a motorização híbrida. No motor à combustão, a Ford continua a usar em seu híbrido o ciclo Atkinson, em vez do tradicional ciclo Otto – segundo a marca, há melhor aproveitamento da força da explosão. Em relação à geração anterior, o propulsor a gasolina sofreu um “downsizing”: era um 2.5 litros e agora é um 2.0. A redução diminuiu também a alíquota de imposto do modelo, o que ajudou a segurar o preço – quando foi lançada, em 2010, a primeira geração custava R$ 133.900.

Em termos de desempenho, a potência e o torque caíram. São 145 cv de potência e torque de 18,05 kgfm, contra 158 cv e 19 kgfm do motor 2.5 anterior. Em conjunto, trabalha o motor elétrico de 88 kW – 120 cv –, alimentado por uma bateria de íons de lítio, 23 kg mais leve que a de níquel da geração anterior – uma redução de 35% no peso. Juntas, as unidades propulsoras produzem agora uma potência máxima combinada de 190 cv. Trabalham associadas a um câmbio CVT – continuamente variável. O sistema de ar-condicionado é suprido pelo motor elétrico, para aliviar o propulsor a combustão. E o sistema Kers ainda regenera cerca de 95% da energia cinética gerada na frenagem do veículo. Na atual geração, o carro consegue chegar aos 100 km/h usando somente o motor elétrico – no modelo anterior, a partir dos 75 km/h o propulsor a combustão já entrava em ação.

Ford Fusion Hybrid

O novo Fusion Hybrid chega bem servido de equipamentos. Vem com oito airbags, ABS com EBD, sistema de entretenimento Sync, sistema MyFord Touch com GPS integrado, controles eletrônicos de tração e estabilidade, sensores de ponto cego, sensor de estacionamento e sistema de estacionamento automático Park Assist, piloto automático adaptativo, sistema de permanência em faixa, de chuva e crepuscular e ainda ar-condicionado de duas zonas, teto solar elétrico e bancos com regulagem elétrica em 10 posições e memória. Traz também um painel com informações como nível de carga da bateria do sistema híbrido, dados de consumo e indicações da eficiência da forma de conduzir.

A Ford reluta em admitir suas expectativas de vendas para a versão híbrida do novo Fusion. Mas os executivos da marca deixam escapar que o novo Hybrid talvez possa representar 10% das vendas da versão topo de linha – o que daria cerca de 40 das 400 unidades mensais do Titanium AWD vendidas atualmente. O que já seria uma evolução em relação à geração híbrida anterior, que não superou a média de uma dúzia de unidades mensais em seus dois anos e meio no mercado brasileiro. Para dar visibilidade ao produto, a Ford planeja investir em ações de marketing e “test drives”. Tudo para que os tais “formadores de opinião” possam conhecer de perto o Fusion Hybrid.

Ford Fusion Hybrid - Interior

Primeiras impressões

Itu/SP - Ao apertar o botão de partida, o único sinal de que o Fusion Hybrid já está ligado é uma luz verde em forma de carrinho no canto do quadro de instrumentos. Nada de ruídos ou vibrações. O termo “lúdico” é frequentemente usado para definir alguns automóveis, que buscam instigar a “porção criança” que existe em qualquer adulto. Mas poucos merecem tanto esse adjetivo quanto o Fusion Hybrid. O modo como a efetividade da propulsão elétrica é demonstrada no painel dos híbridos da Ford é inusitado. Como já ocorria no Hybrid anterior, quanto mais a eletricidade move o carro e poupa o motor a combustão, simpáticas folhinhas vão surgindo em um mostrador. O resultado lembra de forma inequívoca a “interface” dos “videogames”.

O “efeito psicológico” desse sugestivo gráfico é curioso. Depois de um certo tempo ao volante, mesmo o mais “pé pesado” dos pilotos inexoravelmente acaba aprendendo a exercitar a leveza do pé direito, só para ver a simpática folhagem “brotar” no mostrador. Ou seja, além de lúdico, o Fusion híbrido acaba sendo didático. Ensina que há outras maneiras de se divertir com um carro sem exigir que ele se comporte como um foguete. E que economizar combustível também pode ser divertido, além de racional.

Ford Fusion Hybrid - Traseira

Ludicidade, didatismo e racionalidade são atributos louváveis. Mas quem entra em um sedã como o Fusion exige também boas doses de emoção. E, dinamicamente, o sedã híbrido da Ford não faz feio. Mesmo no modo elétrico, onde agora é possível atingir até 100 km/h, acelera com vontade e sem vacilações ou “engasgadas”. E quando atinge as faixas de giro mais altas, o motor elétrico ainda complementa a ação do propulsor a gasolina, como num “booster”. A Ford fala em uma aceleração de zero a 100 km/h em 9,3 segundos. No conjunto da obra, o Fusion Hybrid se mostra um sedã confortável, equilibrado e ágil.

Detalhe do emblema Hybrid TitaniumNo decorrer das acelerações fortes e exigentes retomadas protocolares em uma avaliação dinâmica de automóvel, as folhinhas praticamente desaparecem no painel. Mas basta acionar o freio para que as ramagens voltem a surgir, mostrando que o sistema de recuperação de energia cinética aumenta a automomia do propulsor elétrico. Assim, instintivamente o motorista retoma um modo mais “civilizado” de guiar, só para ver as “danadas” se multiplicarem novamente. Ao deixar o volante do Fusion Hybrid, surge um “efeito colateral”: dirigir carros comuns perde um pouco da graça. A engenharia, o design e o marketing da Ford criaram um problema para a concorrência.

Ficha técnica:
Ford Fusion Hybrid Titanium

Motor a combustão: A gasolina dianteiro, Ciclo Atkinson, transversal, 1.999 cm³, quatro cilindros em linha, quatro válvulas por cilindro. Comando duplo de válvulas no cabeçote, com sistema variável de abertura das válvulas de admissão. Injeção eletrônica e acelerador eletrônico.

Motor elétrico: 88 kW – 120 cv –, alimentado por baterias de íons de lítio.

Transmissão: Câmbio automático continuamente variável do tipo CVT. Tração dianteira. Oferece controle eletrônico de tração.

Potência máxima combinada: 190 cv disponível; 145 cv a 6 mil rpm no motor com gasolina e 88 kW (120 cv) no motor elétrico.

Torque máximo: 18,05 kgfm a 4.250 rpm.

Diâmetro e curso: 87,5 mm x 83,1. Taxa de compressão: 12,3:1.

Motor do Ford Fusion Hybrid

Suspensão: Dianteira independente com braços longos e curtos, barra estabilizadora, amortecedores pressurizados e molas helicoidais. Traseira independente tipo multilink com barra estabilizadora, amortecedores pressurizados e molas helicoidais. Oferece controle eletrônico de estabilidade.

Freios: Discos na frente e atrás com sistema regenerativo, ABS e EBD.

Pneus: P235/45 R18

Carroceria: Sedã com quatro portas e cinco lugares. Com 4,87 metros de comprimento, 1,85 m de largura, 1,49 m de altura e 2,85 m de entre-eixos. Oferece oito airbags: dois frontais, dois laterais dianteiros, dois do tipo cortina e para os joelhos.

Peso: 1.650 kg em ordem de marcha.

Capacidade do porta-malas: 392 litros.

Tanque de combustível: 53 litros.

Produção: Hermosillo, México.

Lançamento mundial: 2012.

Itens de série: Direção elétrica, rodas de alumínio de 18 polegadas, bancos dianteiros com ajustes elétricos, freio de estacionamento elétrico, painel de instrumentos com duas telas de 4,2 polegadas, sistema de entretenimento com tela central de oito polegadas, GPS, faróis de neblina, ABS com EBD, assistente de partida em rampa, oito airbags, retrovisor interno eletrocrômico, ar-condicionado automático, sensor de estacionamento traseiro com câmera de ré e controles de estabilidade e tração.

Preço: R$ 124.900.

Ford Fusion Hybrid - Visão de cima

Autor: Luiz Humberto Monteiro Pereira (Auto Press)
Fotos do exterior: Luiz Humberto Monteiro Pereira/Carta Z Notícias e fotos do interior e motor: divulgação