Mais que um passo em direação a um mundo sustentável, carros “ecologicamente corretos” são produtos de imagem. Em alguns países, eles são tratados de forma “nobre” e até recebem incentivos dos governos. Em outros, como no Brasil, não são encarados como alternativa economicamente viável ao uso de combustíveis fósseis, mas ainda assim agregam valor às marcas. Caso da Ford com o Fusion Hybrid, que retornou ao país em agosto do ano passado na segunda geração do sedã. Por aqui, a versão híbrida vai no embalo das outras duas configurações do carro. Ela corresponde a 6% do share do Fusion, líder absoluto no segmento de sedãs-grandes. São apenas 65 unidades dentre as mil que o modelo emplaca de média mensalmente. Mas é um número bem expressivo para um carro que custa R$ 127.990 – R$ 30 mil a mais que o Fusion de entrada.
Visualmente, não fossem as plaquetas alusivas à versão na lateral e na traseira do sedã, seria impossível dizer que se trata de um Fusion “verde”. Isso porque a principal diferença do Fusion Hybrid em relação ao “convencional” está escondida sob o capô – e também no porta-malas. Na parte a combustão, o motor é um 2.0 litros a gasolina capaz de gerar 145 cv de potência e 18,05 kgfm de torque. A Ford continua a usar em seu híbrido o ciclo Atkinson. Neste ciclo, um pequeno retardo no fechamento das válvulas de admissão gera uma potência um pouco menor que no tradicional ciclo Otto, mas proporciona um melhor aproveitamento da força da explosão. Completa o sistema de propulsão híbrida um motor motor elétrico de 88 kW – 120 cv –, alimentado por uma bateria de íons de lítio. O conjunto produz uma potência máxima combinada de 190 cv e usa uma transmissão continuamente variável – CVT.
Para maior eficiência e “aliviar” o motor a combustão, o sistema de ar-condicionado, por exemplo, é totalmente suprido pelo propulsor elétrico. O 2.0 litros a gasolina ajuda a recarregar as baterias localizadas no porta-malas. Mas grande parte da força regenerativa vem dos freios. O Fusion Hybrid usa o chamado KERS – igual ao da Fórmula 1 –, que consegue recuperar até 95% da energia cinética gerada na frenagem do veículo e transformar em carga para as células. Atualmente, o sedã híbrido consegue chegar aos 100 km/h usando somente o motor elétrico – na geração anterior, a partir dos 75 km/h o propulsor a combustão já entrava em ação.
Como é um modelo altamente tecnológico, o Ford Fusion Hybrid traz todo arsenal eletrônico que a Ford tem a oferecer. Baseado na versão topo de linha Titanium, o sedã verde tem ar-condicionado duas zonas, teto solar, bancos com regulagem elétrica em 10 posições e memória, park assist, piloto automático adaptativo, volante multifuncional e o completo sistema My Ford Touch, que traz uma tela sensível ao toque de oito polegadas com GPS integrado, Bluetooth e entrada USB. Porém, os equipamentos de destaque são relacionados à segurança. O híbrido traz oito airbags – dois frontais, laterais, de cortina e para o joelho – tanto do motorista quanto do passageiro, controles de estabilidade e de tração, monitor de ponto cego, alerta de colisão e sistema que ajuda a manter o carro na faixa de rolamento.
Ponto a ponto
Desempenho – O Fusion Hybrid valoriza a racionalidade, inclusive na performance. Tudo acontece de forma muito calma. O propulsor elétrico é responsável por começar os “trabalhos” e quebrar a inércia. Se o motorista tiver o pé direito “pesado”, o motor a combustão aparece. Essa transição é sutil, quase imperceptível. Nesta lógica, os 190 cv do conjunto dão ao sedã médio-grande um desempenho apenas satisfatório. A transmissão eCVT também contribui para toda a suavidade de comportamento, com ganho de velocidade contínuo e gradativo. Nota 7.
Estabilidade – Apesar de graúdo, o Fusion Hybrid não é nada desajeitado. Gruda bem no chão e não entrega os limites facilmente. A calibração da suspensão privilegia o conforto. A tração da versão híbrida é dianteira, mas qualquer exagero é consertado pelos controles de estabilidade e tração. Nota 8.
Interatividade – Os vários sistemas e funções do Fusion ficam ainda mais numerosos no Hybrid. O painel de instrumentos é personalizável e pode-se priorizar informações do computador de bordo, do sistema de som, do GPS ou do próprio sistema propulsor, que mostra o uso do motor elétrico e a energia recuperada nas frenagens. Há também um “jogo” que o carro propõe, que premia o condutor que dirige economicamente com folhas verdes que “brotam” no painel. Já o completo sistema de informação e entretenimento My Ford Touch tem uso intuitivo e por ser através de toque na tela. E o volante multifuncional tem nada menos que 16 botões. Nota 9.
Consumo – No Programa Brasileiro de Etiquetagem do InMetro consta um teste do Ford Fusion Hybrid. O sedã “ecológico” norte-americano registrou médias de 16,8 km/l na cidade e 14,7 km/l na estrada. Esses números comprovam a eficiência do modelo em trajetos urbanos, onde o motor elétrico atua mais intensamente. Em relação às notas, o híbrido obteve “A” tanto em seu segmento quanto na classficação geral. Nota 10.
Conforto – Além de oferecer um ótimo comportamento dinâmico, a suspensão entrega uma boa dose de comodidade aos ocupantes. Os bancos têm boa densidade e seguram eficientemente o corpo nas curvas. O espaço interno é bem generoso para cinco passageiros, graças ao bom aproveitamento dos 2,85 metros de entre-eixos. Com o motor a gasolina em funcionamento, o ruído é repassado a cabine sem muita cerimônia - principalmente em médias e altas rotações. Nota 9.
Tecnologia – O Fusion Hybrid é uma “vitrine” para a Ford. O motor 2.0 litros a gasolina é mais potente e eficiente que o 2.5 litros da geração anterior. O sedã ainda conta com um Kers, que recupera energia nas frenagens. Como é baseado na versão topo Titanium, traz tudo que o modelo oferece, como a versão mais recente do MyFord Touch e “gadgets” como GPS integrado. Destaque também para os modernos recursos eletrônicos de segurança. Nota 10.
Habitabilidade – As portas têm um bom ângulo de abertura e, quando o carro é desligado, o banco elétrico do motorista recua para facilitar a saída e a entrada. Como é projetado para o mercado norte-americano, há bons e generosos porta-objetos no interior. Já o porta-malas é menor que outras configurações – 392 litros contra 453 litros – por causa das baterias de íons de lítio armazenadas ali. Nota 8.
Acabamento – O habitáculo do Fusion Hybrid mostra uma certa sobriedade. Os materiais em tons escuros transmitem qualidade. Volante, painéis, entorno das saídas de ar e dos porta-copos têm um detalhe metálico, delicado e de bom gosto. O revestimento em couro com pespontos dá um toque de requinte. Nota 8.
Design – Esta versão do Fusion só se diferencia visualmente pelas “badges” na lateral e na traseira com a inscrição “Hybrid”. O sedã mantém, portanto, as linhas robustas e elegantes. Na frente, a imponente grade hexagonal se compõe com os faróis alongados. O perfil tem desenho suave e aerodinâmico. Atrás, as elegantes lanternas de led se destacam. Nota 9.
Custo/benefício – O Fusion é um carro de imagem: oferece status mas não tem uma grande preocupação com a relação custo/benefício. Tanto que ele tem preço de R$ 127.990, ou R$ 30 mil acima do Fusion de entrada, e oferece pouco a mais em termos de equipamentos. Outros híbridos do mercado seguem a mesma lógica. O médio Toyota Prius sai por R$ 120.830 e o Lexus CT200h custa entre R$ 150 mil e R$ 165 mil, dependendo da versão. Nota 5.
Total – O Ford Fusion Titanium Hybrid somou 82 pontos em 100 possíveis.
Impressões ao dirigir
A combinação design e eficiência faz do Ford Fusion Hybrid um carro bastante interessante. O estilo com linhas bem definidas, capô “vincado” e a tradicional grade se aliam ao sistema de propulsão híbrida. Mas até apertar o botão de partida, o Fusion Hybrid não se distingue das outras versões 2.5 flex e 2.0 EcoBoost. Isso porque se não fosse a “luzinha” indicativa no canto do quadro de instrumentos, seria impossível notar que o carro está ligado. Tudo “culpa” do motor elétrico, o primeiro a se apresentar ao condutor. Mantendo uma certa cautela ao pressionar o pedal do acelerador, o sedã “desliza” pelas ruas sem emitir qualquer ruído. A Ford diz que ele permanece assim até os 100 km/h, mas é difícil não fazer o motor a combustão entrar em ação antes da hora.
A ideia acaba sendo manter as letras “EV” acesas no painel de instrumentos, que conta com duas telas de LCD configuráveis de acordo com a preferência de quem vai ao volante. Até quem tem o hábito de acelerações vigorosas se rende ao desafio de economia na tela, que premia o modo mais sustentável de conduzir com o grafismo de folhas que surgem ou somem de acordo com a eficiência no uso da energia do Fusion Hybrid – recurso chamado de Ecoguide.
Com esses repentes, não demora muito para o 2.0 litros de 145 cv entrar em cena. Sob influência do motor a combustão, o Fusion Hybrid não decepciona, mas mostra um comportamento calmo. “Anestesiado” pela transmissão continuamente variável sem simulação de marchas – eCVT –, o sedã não tem rompantes de aceleração. A movimentação dos 1.650 kg do carro é feita de forma suave e dócil. O velocímetro sobe gradativamente, acompanhado pelo conta-giros. A aceleração de zero a 100 km/h, segundo a Ford, é feita em corretos 9,3 segundos. Mas, no Fusion Hybrid, o interessante mesmo é o duelo pela eficiência.
Ficha técnica
Ford Fusion Titanium Hybrid
Motor | a combustão: A gasolina dianteiro, Ciclo Atkinson, transversal, 1.999 cm³, quatro cilindros em linha, quatro válvulas por cilindro. Comando duplo de válvulas no cabeçote, com sistema variável de abertura das válvulas de admissão. Injeção eletrônica e acelerador eletrônico |
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Motor elétrico | 88 kW – 120 cv –, alimentado por baterias de íons de lítio |
Transmissão | Câmbio automático continuamente variável do tipo CVT. Tração dianteira. Oferece controle eletrônico de tração |
Potência máxima | 145 cv a 6 mil rpm no motor a combustão e 88 kW ou 120 cv no motor elétrico |
Potência máxima combinada | 190 cv |
Torque máximo | 18,05 kgfm a 4.250 rpm |
Diâmetro e curso | 87,5 mm x 83,1. Taxa de compressão: 12,3:1 |
Suspensão | Dianteira independente com braços longos e curtos, barra estabilizadora, amortecedores pressurizados e molas helicoidais. Traseira independente tipo multilink com barra estabilizadora, amortecedores pressurizados e molas helicoidais. Oferece controle eletrônico de estabilidade |
Freios | Discos na frente e atrás com sistema regenerativo, ABS e EBD |
Pneus | 235/45 R18 |
Carroceria | Sedã com quatro portas e cinco lugares. Com 4,87 metros de comprimento, 1,85 m de largura, 1,49 m de altura e 2,85 m de entre-eixos. Oferece oito airbags: dois frontais, dois laterais dianteiros, dois do tipo cortina e para os joelhos |
Peso | 1.650 kg em ordem de marcha |
Capacidade do porta-malas | 392 litros |
Tanque de combustível | 53 litros |
Produção | Hermosillo, México |
Lançamento mundial | 2012 |
Itens de série | Direção elétrica, rodas de alumínio de 18 polegadas, bancos dianteiros com ajustes elétricos, freio de estacionamento elétrico, painel de instrumentos com duas telas de 4,2 polegadas, sistema de entretenimento com tela central de oito polegadas, GPS, faróis de neblina, ABS com EBD, assistente de partida em rampa, oito airbags, retrovisor interno eletrocrômico, ar-condicionado automático, sensor de estacionamento traseiro com câmera de ré e controles de estabilidade e tração |
Preço | R$ 127.990 |
Autor: Raphael Panaro (Auto Press)
Fotos: Jorge Rodrigues Jorge/Carta Z Notícias